Yngwie Malmsteen – Blue Lightning (2019)
Por Davi Pascale
Yngwie Malmsteen lança novo disco. Blue Lightning vem causando discussões acaloradas sobre ideia do álbum, trabalho vocal e interpretação do músico. O novo trabalho, contudo, agradará seus velhos seguidores. Bora lá entender toda a confusão e saber o que se deve esperar, de fato, do novo CD.
Goste ou não de sua persona, é preciso reconhecer que Yngwie Malmsteen foi um dos músicos que conseguiram inovar o instrumento. O fato de ter suas principais influências na música clássica, e não no rock, fez com que pensasse o instrumento de um modo diferente. Lembro quando o Kiss foi induzido ao Rock n Holl Hall Of Fame, ao falar sobre Ace Frehley, o baixista Gene Simmons declarou: “This iconic guitar player has been imitated but never equaled by generations of guitar players around the world”. No bom e velho português: “Esse guitarrista icônico tem sido imitado por diferentes gerações de guitarristas em todo o mundo, mas nunca foi igualado”. O mesmo podemos dizer sobre Malmsteen. Por mais que o ataquem, ele indicou um novo caminho, muitos seguiram e ninguém o ultrapassou.
Uma das razões de muitos não gostarem de admitir sua admiração pelo músico sueco deve-se ao fato da sua fama de arrogante. O rapaz nunca fez questão de agradar ninguém. Nem repórteres, nem fãs, nem os músicos que o acompanham, nem os demais grupos que topa na estrada. Seu lema é: “Una-se à mim ou caia fora”. Se o cara não é de sua geração e você não sabe de quem estou falando, basta saber que comparado à ele, personalidades como os irmãos Gallagher tornam-se os ursinhos carinhosos.
Seus ataques de estrelismo, oras provocam raiva, oras risadas histéricas, mas não há como negar que seu espírito difícil foi determinante em sua trajetória. Foi graças ao fato de querer conquistar o mundo que, aos 18 anos de idade, conseguiu que sua demo caísse nas mãos de Mark Varney (colaborador da Guitar Player e dono da gravadora Shrapnel Music). Foi graças à sua confiança exacerbada que o garoto prodígio pediu as contas do Alcatrazz, no momento em que a banda crescia, e fundou sua própria banda, Rising Force. E foi exatamente aí que sua carreira decolou.
Sua carreira conseguiu um grande destaque durante toda a década de 80 e 90. Nesse meio tempo, ajudou a destacar inúmeros músicos e criou álbuns que certamente tinham lugar cativo na coleção dos headbangers. Era difícil encontrar algum fã de música pesada que não tivesse o LP de Rising Force, Trilogy ou Live in Lenningrad em sua discoteca particular. Hoje, o músico não possui o mesmo prestígio que tinha nessa época. Difícil explicar o porquê, mas acredito que o fato de não conseguir manter uma formação estável por muito tempo e ter criado trabalhos pouco inspirados nos últimos anos tenham ajudado.
Muitos se disseram surpresos quando Yngwie declarou que todos os trabalhos vocais de Blue Lightning seriam registrados por ele próprio. Eu, não. Muitos se disseram surpresos pela escolha do repertório privilegiando o blues. Eu também não. Esse novo trabalho não é muito diferente do álbum de covers que lançou lá pela metade dos anos 90, o (ótimo) Inspiration. Muitas referências se mantêm, inclusive. Deep Purple, Rainbow, Jimi Hendrix… Quem acompanhou suas primeiras passagens no Brasil, no saudoso Olympia, pôde ver o músico puxando um som com uma levada blues e arriscando alguns versos no microfone. Para quem conhece seu trabalho de perto, nenhuma novidade.
Claro, Malmsteen não têm a mesma extensão dos cantores que trabalharam para ele. É óbvio que ele é incapaz de atingir as notas de Mark Boals, Michael Vescera, Ripper Owens… Se inventar de assumir o microfone nos shows, o negócio complica, mas para um projeto como esse, sua voz funciona bem. O cara tem um bom timbre, é afinado, e soube escolher canções que combinassem com seu estilo. O trabalho vocal ficou bem satisfatório.
Há algo que vale ser ressaltado. Yngwie Malmsteen nunca foi de inovações. Uma das críticas que sempre fazem à ele é de que o músico teria parado no tempo, que teria virado um clone de si próprio. O lance é que ele faz parte daquele hall de personalidades que não saem de seu território. Criou seu estilo de tocar, seu estilo de compor e se manteve fiel à ele por toda a eternidade. Ou seja, quando você compra um álbum do Malmsteen, você já sabe o que esperar.
E justamente por ser um músico que não gosta de sair da casinha, o ouvinte não deve esperar que mergulhe nas técnicas do blues. A ideia é a mesma do Inspiration. Pegou musicas que gostava de ouvir ou tocar e registrou no álbum trazendo a canção para dentro de seu estilo. Ou seja, o álbum é pesado e os solos continuam, sim, sendo executados na velocidade da luz. Se você espera ouvi-lo soando como BB King, nem perca seu tempo. Acredito que o marketing do ‘álbum de blues do Yngwie Malmsteen’ não tenha sido dos mais inteligentes, mas sigamos…
Sabendo que o Malmsteen iria encarar um projeto do tipo, já era esperado canções do repertório de Hendrix e Blackmore. Desses, as escolhidas foram “Foxy Lady”, “Purple Haze”, “Smoke On The Water” e “Demon´s Eye”. As versões do Hendrix ficaram bem legais e como o repertório do Hendrix chama a ideia de improviso, o fato de optar por fazer solos totalmente distintos e até mesmo modificar as clássicas introduções acaba jogando a seu favor. Do lado do Deep Purple, achei a versão de “Demon´s Eye” mortal. Certamente, uma das melhores do CD. “Smoke On The Water”, por outro lado, por mais que eu goste da canção, não regravaria. Acho uma música manjada demais, mas, claro, está bem interpretada.
Justamente, por ser um musico que não é mais garoto, não devemos esperar covers de artistas modernos. Os artistas optados, todos levam a alcunha de clássico. Houve algumas surpresas no sentido de não imaginarmos o Malmsteen tocando um som deles. Se um cara como ele anuncia um álbum de covers, a última coisa que vou esperar é que grave algo dos Rolling Stones, por exemplo, mas ele o fez. Achei legal a ousadia, embora não tenha curtido o arranjo que criou para “Paint It Black”. Usou uma palhetada mais rápida na ponte, bateria com bumbo duplo quase todo o tempo. Legal a criatividade, mas achei que não soou tão bem aos meus ouvidos. Outras grandes surpresas foram as releituras de “Blue Jean Blues” do ZZ Top e de “Forever Man”, uma canção da fase pop do Eric Clapton. A versão que criou para a canção de ZZ Top ficou absurda. Outro dos grandes momentos do álbum. Já a versão de Clapton, divertida apenas. Algo que me chamou a atenção foi sua releitura de “While My Guitar Gently Weeps”, dos Beatles. Modificou bastante o arranjo. Fez uma levada mais quadradinha na bateria. Os solos, como de se esperar, extremamente velozes, mas o resultado final ficou interessante. Também gostei bastante do trabalho de voz que fez nessa faixa.
Há espaço ainda para 4 composições inéditas. 2 instrumentais e 2 cantadas. Particularmente, não colocaria “1911 Strut” e “Peace, Please” no álbum. Não que considere as faixas ruins, são a cara dele, mas acho que fogem da proposta do álbum. Teria guardado para o próximo trabalho. Dentre as 2, “Peace, Please” é minha favorita. “Sun Up Top´s Down” já tem uma levada mais bluesy. Na letra, Malmsteen fala sobre como é passear pelas ruas de Miami dirigindo suas Ferraris (chupa, 2Pac!), mas a mais legal de todas mesmo, ainda que careça de um refrão mais forte, é a faixa título, responsável por abrir o CD. Canção bem inspirada no Rainbow, o riff inicial é fantástico.
Blue Lightning é, na verdade, seu trabalho mais forte em anos. Ou seja, os fãs de Yngwie Malmsteen, ouvirão com os olhinhos brilhando e a boca salivando. O problema é o marketing que está sendo realizado em torno do álbum. Com isso, muita gente está pegando o disco para ouvir esperando o músico sair de seu território comum quando a ideia é exatamente a oposta. Ele não está caindo de cabeça no blues. Ele selecionou canções de rock, calcadas no blues, e trouxe para sua linguagem musical. Ou seja; se você nunca foi com a cara dele e está querendo ouvir porque curte blues, caia fora. Se você é fã do músico e está ansioso para ver o que cara aprontou, vá com tudo.
Faixas:
- Blue Lightning
- Foxey Lady
- Demon´s Eye
- 1911 Strut
- Blue Jean Blues
- Purple Haze
- While My Guitar Gently Weeps
- Sun´s Up To Top´s Down
- Peace, Please
- Paint It Black
- Smoke On The Water
- Forever Man
No disco anterior que ele aparecia cantando em algumas faixas, achei a voz dele bem fraca. Ouvindo agora, pelo jeito, deram uma ajeitada melhor no estúdio, soando pelo menos sem comprometer.
Mas na parte instrumental, não tem o que questionar: ele continua em grande fase.
Ele já tinha gravado algumas dessas músicas em outro album de covers…Seriam as mesmas versões ?
No Inspiration acho que só tem Demons Eye, mas é outra versão. Era o Joe Lynn Turner quem cantava, inclusive. Tem algumas músicas que já tinha visto ele tocando em shows ou com o G3, mas aqui é tudo feito em estúdio. Tudo gravado agora…
Fazer um cover de uma música que ele mesmo já tinha gravado? PQP!!! Que falta de criatividade. O Deep Purple tem centenas de músicas. Poderia ter escolhido qualquer outra. O mesmo para Smoke on the Water…cara…até banda cover já tem vergonha de tocar ela.
Ainda não ouvi o disco, mas fiquei com menos vontade…
Fernando,
O Malmsteen deixou de ser criativo já tem uns 15 anos hehehe
Mas o disco está bem legal. Vale a pena ouvir…
Stairway To Heaven,Rock Roll All Night e Smoke On The Water são tão manjadas quanto cerveja em boteco.
Bem, isso é verdade. Comentei no texto, inclusive, que acho Smoke On The Water manjada demais. De todo modo, gostei do disco.