Review Exclusivo: Robert Plant (Porto Alegre, 29 de outubro de 2012)

Review Exclusivo: Robert Plant (Porto Alegre, 29 de outubro de 2012)

Por Mairon Machado
Fotos por Fábio Codevilla (Itapema FM)
O Ginásio Gigantinho, patrimônio do Sport Club Internacional e maior ginásio particular do Brasil, foi palco na última segunda-feira de mais uma grande atração na capital gaúcha. Afinal, nas últimas semanas, Porto Alegre voltou a ser uma estação obrigatória na rota das turnês internacionais de grandes nomes do pop rock, e dessa vez, o vocalista Robert Plant deixou suas marcas para os milhares de fãs que lotaram o Ginásio Gigantinho na chuvosa noite de 29 de outubro.
Acompanhado da The Sensational Space Shifters, a qual é formada por Juldeh Camara (ritti, kologo, talking drum e vocais), Justin Adams (guitarra, bendir, vocais), John Baggott (teclados), Liam “Skin” Tyson (guitarra, vocais), Dave Smith (bateria, percussão) e Billy Fuller (baixo, vocais), Plant trouxe toda sua experiência de mais de quarenta anos nos palcos, apresentando sua famosa voz (apesar de sem os mesmos agudos) recheadas de “Baby!”, “Oh Yeah!” e “Love”, além dos famosos improvisos que marcaram época quando à frente do Led Zeppelin no final da década de 60 e todos os anos 70.
Renato Borghetti e banda, no palco de Robert Plant
O espetáculo musical começou as 20:30 horas, quando para surpresa geral, um artista folclórico do Rio Grande do Sul subiu ao palco para interpretar canções típicas do estado. O acordionista Renato Borghetti (conhecido também como Borghettinho), fez um show emocionante de pouco mais de meia hora, apresentando clássicos do cancioneiro gaúcho como “Mercedita” e “Felicidade”, além de uma jazzística versão para “Asa Branca” (Luiz Gonzaga), a qual ele chamou de “forró”, apesar da canção ser um baião. Acompanhado de baixo, violão e do excelente músico Pedrinho Figueiredo, esse último tocando flauta, saxofone e clarinete, Borghetti agradeceu por ter sido o escolhido para representar o estado, e agradou em sua participação, com destaque claro para o virtuosismo exalado por Pedrinho em complicadas linhas de flauta e saxofone. 
Depois da boa e surpreendente apresentação do músico gaúcho, era a vez de Plant assumir o posto dos holofotes centrais. Pontualmente as 21:30, ele e a The Sensational Space Shifters subiram no simples palco montado para uma plateia alucinada, que aproveitou e viajou durante a interpretação de “Tin Pan Valley”, canção do álbum Mighty Rearranger, lançado por Plant em 2005 e que foi o principal álbum apresentado no show, com cinco canções no total. Na sequência, “Another Tribe” (outra de Mighty Rearranger) destacou Juldeh Camara e seus estranhos instrumentos africanos, o ritt (um violino de apenas uma corda) e o kologo (uma espécie de banjo).
Robert Plant em momento intimista de seu show
A terceira canção fez o Gigantinho urrar. Nada mais que uma adaptação para a clássica “Friends”, clássico gravado pelo Led Zeppelin em III (1970), que em pouco lembrou a versão original, assim como “Spoonful”, a qual, para quem se acostumou a ouvir com o Cream, em nada lembrava a versão do ex-grupo de Eric Clapton.
Nesse momento, já era perceptível que o show seria uma sequência do que Plant tem feito nos últimos anos, que é misturar elementos africanos, árabes e orientais com o rock ‘n’ roll. Por vezes, os improvisos chegaram a soar maçantes, principalmente as vocalizações em africano feitas por Juldeh, mas é inegável que o carisma de Plant diante de uma plateia continua intacto. Os quase doze mil participantes do evento puderam conferir que a capacidade de improvisar de Plant é imbatível, principalmente durante a releitura para a quase irreconhecível (se não fosse a letra) “Black Dog”.
Outro ponto de destaque vai para o guitarrista Justin Adams, que além de tocar muito, agita e participa ativamente do show, hora chamando a plateia para bater palmas no ritmo das canções, hora pulando feito um doido no palco. A plateia, aliás, permaneceu embasbacada durante boa parte do show, seguindo o que Plant ordenava como se fosse uma orquestra regida por seu maestro, acompanhando as canções mais desconhecidas com palmas e cantando os clássicos Zeppelianos a plenos pulmões.
Plant e a Sensational Space Shifters
Da carreira solo de Plant, vieram ainda “Somebody Knocking”, a bela “All the King Horses” (um dos momentos mais bonitos e especiais da noite para este que vos escreve) e “The Enchanter”, todas de Mighty Rearranger, além de “Fixing to Die” (do álbum Dreamland, de 2005), e, do Led, foram apresentadas novas e modificadas versões para “Bron-Y-Aur Stomp” (a única a ficar próxima ao original), “Four Sticks”, “Ramble On” (na qual o Gigantinho tremeu durante bons minutos) e “Whole Lotta Love” (outra em que as estruturas do Ginásio mostraram-se bastante sólidas, tamanho o agito da plateia), e que, relembrando as apresentações do Zeppelin de Chumbo, Plant incrementou com releituras para “Who Do You Love”, “Steal Away” e “Burn My Body”.
Plant e grupo deixaram o palco com a plateia na mão, e voltaram fazendo agradecimentos vários para o Brasil e para o povo brasileiro. Em um momento de humildade, pediu carinhosamente para o público cantar o “Parabéns a Você” em português, para homenagear a um amigo seu que completará sessenta anos no início de novembro, e foi bonito ver os gaúchos cantando a canção sem recorrer à bairrismos como em outros shows. Outro fato que vale ser destacado da plateia é que, apesar de existente, a maldita inclusão digital estava de forma enxugada, com os presentes querendo muito mais assistir ao show do que tentar capturar um registro do mesmo (que está disponível para download no site oficial do cantor).
Depois do “Parabéns a Você” (registrado em vídeo por Plant), as lágrimas brotaram dos olhos de quase todos os presentes durante a linda versão para “Going to California”, muito fiel ao original, e o espetáculo encerrou após duas horas de apresentação com uma pesadíssima versão para “Rock and Roll”, com todos dançando e cantando um dos principais clássicos da carreira do Led.
Muitos desententidos, aliás, comentaram a ausência de canções como “Kashmir”, “Stairway to Heaven” ou “All My Love”, mostrando que realmente estão por fora do que Plant fez desde 1980. Como fã de sua carreira solo, gostaria de ter ouvido clássicos como “Big Log”, “In the Mood”, “Tall Cool One”, “Tie Die on the Highway” ou “If We’re a Carpenter”, mas tudo bem, ver e ouvir Plant ao vivo e a cores, com seus rebolados intactos, a levantada de perna ainda sendo feita e os gritos histéricos que influenciaram uma geração de cantores anos depois dele foi o suficiente para ter valido a noite.

Set list
1. Tin Pan Valley
2. Another Tribe
3. Friends 
4. Spoonful
5. Somebody Knocking
6. Black Dog
7. All The King Horses
8. Bron-y-aur Stomp
9. The Enchanter
10 Four Sticks
11 Ramble On
12 Fixing To Die
13 Whole Lotta Love (interpolating Who Do You Love, Steal Away e Bury My Body) 
Bis
14 Going To California
15 Rock and Roll 

8 comentários sobre “Review Exclusivo: Robert Plant (Porto Alegre, 29 de outubro de 2012)

  1. Embora tenha faltado Gallows Pole, que Plant tocou em outros shows, foi um grande espetáculo! Quem esperava algo diferente, certamente não conhece a carreira solo desse mitológico cantor, principalmente neste século. Achei o show bastante parecido com o DVD do Soundstage gravado em 2005 com a Strange Sensation (da qual só o baterista não está neste "novo" grupo), mas a participação de Camara, apesar de muito "viajante" em certos momentos, foi um grande diferencial!

    E Plant ainda canta muito, dando aula em muita gente que não se adapta à sua idade e ainda tenta cantar como quando era garotinho…

    Gostei bastante da resenha!

  2. Quero dar um agradecimento mais que especial ao meu irmão Micael e minha adorável companheira, Bianca, por terem divido comigo esse momento espetacular na noite do dia 29. Grande show, e um carisma fantástico exalado pelos poros de Plant em cima do palco. Na companhia de ambos, o show tornou-se melhor ainda, e a Bianca foi responsável pelo melhor momento do show, ao ouvir comigo "All the King Horses" com todo carinho! Obrigado mesmo à vocês por essa noite inesquecível!

  3. Ao final do show ainda tive a honra de rever meu velho e grande amigo Lucas! Muito massa falar contigo meu caro. Um forte abraço para ti tb. Somente o rock para unir pessoas como tu!

  4. Fui nesse show, de pista Premium. A junção de world music que o Plant faz em sua carreira solo não me agrada em muitos momentos, mas só de testemunhar de perto uma performance do maior vocalista de rock de todos os tempos, já foi a glória!
    Me lembro ainda, no final do show, de estar negociando a compra de uma camiseta, dos camelôs, e bem na hora veio a polícia e o vendedor saiu correndo com a sacola de produtos. Resultado: fiquei com a camiseta na mão, sem pagar nada… só me restou levar como lembrança!

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