Lacuna Coil – Delirium [2016]

Lacuna Coil – Delirium [2016]

Por André Kaminski

Em geral, quando pego de escrever uma resenha, costumo escolher discos que gosto e tento apresentar aos leitores que não o conhecem como uma forma de apresentar suas qualidades ao público-alvo de determinada banda. Todavia, tirando os test drives que volta e meia fazemos por aqui, de vez em quando também escrevo a respeito de discos em que os ouvi pela primeira vez e posto minhas impressões por aqui, normalmente de bandas que eu já gosto.

Creio que eu seja um dos pouquíssimos apreciadores do chamado “gothic metal” aqui no site. Seja entre nós os colaboradores ou mesmo entre os nossos leitores. Mas é aquele negócio de que sempre é bom retomar bandas e gêneros dos quais gostamos após muito tempo sem escrever nada a respeito. E como nosso site sempre nos permitiu esta liberdade, volto a fazer neste texto.

O Lacuna Coil é uma banda já mais antiga dentro desse cenário, surgida em 1997 no início do “boom” de bandas do gênero ali na metade dos anos 90. Vinda da Itália, eles provavelmente tenham sido os primeiros neste país a adotar uma sonoridade do estilo, que já estava entrando em alta no Reino Unido, Alemanha e países nórdicos. Seguindo a fama de bandas como Theatre of Tragedy e Tristania, eles lançaram uma trinca de álbuns no final dos anos 90 e início dos anos 2000 que impressionaram muitos fãs do estilo. O último dessa tríade, o conhecido disco do girassol Comalies [2002] foi então bastante elogiado por diversas revistas especializadas do metal.

Porém nessa mesma época, surgiu o fenômeno Evanescence que arrebanhou um monte de gente com suas temáticas dark/melancólicas, apesar da sonoridade ser bem mais comercial. E naquela época, havia uma porção de adolescentes que estavam naquela vibe emo-dark, e a banda acabou lançando os ruins Karmacode [2006] e Shallow Life [2009] aparentemente mirando essa turma como público-alvo. O resultado foram vendas expressivas, shows lotados e fama, mas o pessoal das antigas simplesmente torceu o pescoço e eu praticamente não escutei mais muita coisa deles após este período. Então, para verificar como anda a sonoridade da banda após este tempo todo ausente, peguei este Delirium. Dos integrantes das antigas, o trio Cristina Scabbia (vocais), Andrea Ferro (vocais) e Marco Coti Zelati (baixo, teclado e neste disco também gravou as guitarras) seguem firmes. A bateria foi gravado pelo norte-americano Ryan Folden (que já não integra mais a banda).

Marco Coti Zelati (baixo, teclado e guitarras), Cristina Scabbia (vocal), Ryan Folden (bateria) e Andrea Ferro (vocal).

Inicio o disco e ouço umas guitarras pesadas e velocidade, o que é um bom sinal. Ainda sinto uns toques e batidas do metal alternativo em “The House of Shame”, mas OK, tá tranquilo. Não tenho expectativas altas, mas pelo menos quero poder reconhecer um pouco dos ótimos discos antigos. O que reparo é que Scabbia agora está aparentemente mais confiante em relação aos usos de sua voz. Ela varia do lírico ao limpo com tanta naturalidade que nem se percebe esta mudança se não ficarmos atentos. Me impressiono já no início da segunda canção “Broken Things”, com uma pegada um tanto metalcore do instrumental e da voz de Andrea Ferro. Porém, no decorrer da canção, pude sentir ecos e um reconhecimento do bom e velho Coil de antigamente. Tudo soa moderno e parece sempre ter uma influência de outros estilos em meio ao seu som, mas a princípio, me agrada mais do que ouvi nos já citados Karmacode e Shallow Life.

Já a faixa título “Delirium” segue de maneira mais tradicional do gothic metal com as vozes de Cristina e Andrea se alternando, com este último preferindo um vocal mais limpo. Cristina se destaca aqui fazendo alternando o uso da voz limpa e lírica do qual estou gostando bastante até o momento.

“Blood Tears, Dust” representa o primeiro ponto baixo do disco para mim. Essa coisa meio industrial dos teclados junto a Andrea fazendo vocal rasgado não me fisgou. “Downfall” segue sendo o que seria a primeira semi-balada. E eu gostei bastante, a faixa que mais gostei dessas cinco primeiras. Cristina a canta de maneira muito doce e Andrea reforça com backings bem legais. Há também um solo de guitarra de destaque do convidado Myles Kennedy (Alter Bridge) o primeiro que realmente chama a atenção para si.

Após duas canções razoáveis, chega o single “Ghost in the Mist”. Com teclados proeminentes e um dedilhado rápido de guitarra, a música me agrada bastante e tem mesmo cara de single para apresentar e resumir o disco. Também tem sido muito tocada nas apresentações ao vivo. “My Demons” inicia como se fosse uma balada com o teclado configurado para órgão, mas a música logo dá uma reviravolta e segue como as canções midtempo anteriores. Uma pena, eu preferia que continuasse como balada. As duas canções que finalizam o disco são “Claustrophobia” e “Ultima Ratio”, sem muito destaque e soando parecidas com as anteriores.

O saldo geral foi um disco mediano com algumas boas faixas, mas não o suficiente para me chamar de volta de vez à banda. Talvez o maior problema é que eles ainda usam a mesma afinação das guitarras desde sempre, o que depois de um tempo se torna enjoativo. Tudo bem que só conheço eles que usam este tipo de som e dá de reconhecer seu instrumental de longe de qualquer banda que se preste a tocar o estilo. Mas o que vejo é que manter sempre o mesmo tom de guitarra misturando com outros estilos como o alternativo, industrial e o metalcore não é o suficiente para dar mais variedade à sua discografia.

Entretanto, não tenho o que reclamar dos vocais. Cristina e Andrea variam bastante e cantam muito. São e sempre serão os destaques da banda, sem dúvida nenhuma.

Eles atualmente são a banda ativa com o maior séquito de fãs do estilo gothic/alternative metal, acredito eu. Tentaram há uns anos regravarem um de seus álbuns mais aclamados Comalies, talvez tentando ressuscitar o gothic metal além daquela coisa de comemorarem os 20 anos de lançamento do disco. Pelas resenhas, como era de se esperar de qualquer regravação, ninguém gostou. É inegável que essas mudanças de sonoridade atraíram novos fãs. Porém, o que tenho notado, é que esses novos fãs acabam se tornando “velhos fãs” ao conhecerem seus primeiros discos. E o coro por um “retorno às origens” se intensifica.

Tracklist

  1. The House of Shame
  2. Broken Things
  3. Delirium
  4. Blood, Tears, Dust
  5. Downfall
  6. Take Me Home
  7. You Love Me ‘Cause I Hate You
  8. Ghost in the Mist
  9. My Demons
  10. Claustrophobia
  11. Ultima Ratio

Um comentário em “Lacuna Coil – Delirium [2016]

  1. Caramba, André Kaminski, “gothic metal” não é a minha praia, nem sei como as ondas batem, mas seu texto está tão interessante que… Bom, lá vamos nós, né… Obrigado por compartilhar, vejamos o que teremos aqui.

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