Discografia Comentada: Janis Joplin

Discografia Comentada: Janis Joplin

Por Mairon Machado

Uma das maiores vozes que o mundo já ouviu, teve sua morte completando quarenta e dois anos no último dia 04 de outubro. Estamos falando de Janis Lyn Joplin, mundialmente conhecida como Janis Joplin. A americana de Port Arthur, Texas, teve uma meteórica carreira musical entre 1964, quando perambulava por bares da Califórnia em busca de dinheiro, sexo, drogas e emoções baratas, até a fatal noite de 04 de outubro, quando morreu por overdose de heroína com álcool, no auge de sua carreira solo e prestes a lançar seu segundo álbum.

Nesse período, Janis lançou dois álbuns como membro do grupo Big Brother & The Holding Company (que teve sua discografia comentada aqui no blog) e um álbum solo apenas, mas deixando um carisma reconhecido até os dias de hoje.

Sua Discografia aumentou após sua morte, com diversos álbuns ao vivo e coletâneas. Aqui, vamos tratar do único álbum lançado por Janis em carreira solo quando viva e de três álbuns póstumos, os quais apresentam canções inéditas.  


 I Got Dem ‘Ol Kosmic Blues, Again Mama! [1969]

Após sair da Big Brother, Janis e a gravadora Columbia montaram uma super banda, e partiram aos estúdios para registrar um dos melhores discos da história da música. Misturando soul, funk, blues e rock’n’roll, I Got Dem ‘Ol Kosmic Blues, Again Mama! é uma aula de emoção e inspiração, a começar pela maravilhosa capa, flagrando Janis em cima do palco em um agito que somente ela conseguia exalar de seu corpo.

Janis livra-se do som característico de San Francisco, experimentando novas direções e comprovando aquilo que todos haviam visto (e ouvido) quando ela era apenas uma cantora no Big Brother: na verdade, ELA era verdadeira estrela. Abrindo com o suingue de “Try (Just a Little Bit Harder)”, Janis e a Kosmic Blues Band desfilam por pérolas mágicas da música, com lindas baladas (“Maybe”, “Little Girl Blue” e a arrepiante versão para “To Love Somebody“, original do Bee Gees), uma estonteante sessão instrumental na introdução da dançante “As Good As You’ve Been to This World“, com um espetáculo a parte do naipe de metais, e blues alucinantes (“One Good Man” e “Work Me Lord”).

Janis supera-se em “Kosmic Blues“, uma das mais emocionantes gravações da carreira da cantora, se não a maior, com uma estupenda reta final que arranca o fôlego de qualquer ouvinte. Musicalmente, o melhor disco da carreira da cantora. Em termos de interpretação, a vocalista estava preparando-se para chegar no ápice da carreira. Uma pena que a Kosmic Blues acabou pouco depois, mas deixou um legado venerado por todos os admiradores do estilo. Não a toa, ganhou disco de ouro dois meses depois de lançamento, e rapidamente ganhou platina, com mais de um milhão de cópias vendidas. O relançamento em CD apresentou a inédita “Dear Landlord” e mais versões em Woodstock para “Summertime” e “Piece of My Heart”.


Pearl [1970]

Lançado três meses depois da morte da cantora, Pearl é a despedida perfeita que um artista poderia deixar para os seus fãs. Não que alguém se conforme com a morte de Janis, mas o que ela faz nesse álbum é simplesmente de cair o queixo.

Nele estão os maiores clássicos da carreira de Janis, no caso “Me & Bobby McGee” e “Mercedes Benz”, mas honestamente, Pearl é muito mais que isso. Acompanhada de uma nova banda, a Full Tilt Boogie Band, Janis transborda emoção, destacando o fantástico miado inicial de “Cry Baby“, e é isso mesmo, uma gata no cio, sendo penetrada ferozmente por seu parceiro, em um uivo alucinante.

Mas não para por aí. “Get It While You Can”, “My Baby” e “Trust Me” mantém a linha de baladas suaves, mas dessa vez sem peregrinar por diversos estilos, parecendo basicamente uma única canção quando ouvidas em sequência. “A Woman Left Lonely” é uma competente rival para “Kosmic Blues”, sendo impossível não se emocionar com o soberano crescimento da canção até o seu final. Mas não pense que somente de baladas vive o LP.  

“Half Moon” e “Buried Alive in the Blues” (essa última uma faixa instrumental) destacam a competência instrumental da Full Tilt Boogie Band, outra grande banda a acompanhar a divindade de Janis, e “Move Over” é uma pancada hard para metaleiro nenhum botar defeito. Sem comparações, assim como seu antecessor é essencial na prateleira, e com certeza, o auge das interpretações emocionantes de Janis. Quatro platinas em menos de dois meses, acabou sendo (e é até hoje) o álbum mais vendido da cantora, que infelizmente, não pode aproveitar desse sucesso.


Janis [1975]

Com a missão de manter o nome de Janis ainda aceso (e arrecadar um pouco mais de dinheiro para a gravadora CBS), em 1975 foi lançada a coletânea dupla Janis. No primeiro LP, canções dos dois álbuns solos da cantora, algumas gravadas ao vivo na Alemanha e no Canadá, tendo a Kosmic Blues Band como banda de acompanhamento, além de “Piece of My Heart” retirada de Cheap Thrills (do Big Brother & The Holding Company) e duas pequenas entrevistas com Janis, complementando o que ficou catalogado como Trilha Sonora do filme Janis, lançado no mesmo ano.

No segundo LP, uma jóia raríssima. Janis aparece no início de carreira, entre 1963 e 1965, quando ela cantava pelos bares de Austin, no Texas, ora sozinha, ora acompanhada pela Dick Oxtot Jazz Band. São dezessete canções, a maioria delas covers, que revelam uma Janis Joplin com a voz ainda sendo moldada, tímida, mas já arrancando aplausos dos privilegiados de verem ela em ação tão nova.

Destacar alguma canção entre todas é complicado, mas vale a pena citar as primeiras composições de Janis em seu início de carreira, no caso “What Good Can Drinkin’ Do” (primeira canção que ela gravou em um estúdio, nunca lançada oficialmente), “No Reason for Livin'”, “Mary Jane” e “Daddy, Daddy, Daddy”.

São todas jazz e blues inspíradíssimos, e prefiro apenas deixar ao ouvinte a curiosidade de encontrar Janis e seu violão (ou o pequeno quarteto de jazz) fazendo uma música simples, humilde e, como toda a carreira dela, carregada de emoção. “Trouble in Mind” chegou a sair em uma coletânea lançada no Brasil anos depois, e talvez seja a mais conhecida  dos fãs em geral. Disco de Ouro nos Estados Unidos, e uma bela recordação aos fãs!


Farewell Song [1983]

De novo a Columbia decidiu ganhar mais um dinheiro em cima do nome de Janis (lembrando que ela era a gravadora da Big Brother & The Holding Company), e assim, lançou mais uma coletânea de inéditas em 1983. Mas não pense que essa coletânea é um simples caça-níqueis. Pelo contrário, é outra grande obra com a voz da americana.

Com canções tendo a participação de cada uma das bandas que acompanharam Janis, Farewell Song apresenta um interessante material de canções até então desconhecidas para os fãs de Janis, a maioria delas, cinco das nove, canções que ficaram de fora de Cheap Thrills (pensado originalmente para ser lançado no formato duplo).

Entre as seis canções, temos a psicodélica “Harry”, a dupla gospel “Amazing Grace / Hi-Hell Snakers”, a totalmente flower-power “Magic of Love” e as agitadas “Catch Me Daddy” (conhecida dos fãs da Big Brother & The Holding Company pelo nome de “Comin’ Home”) e “Farewell Song”. Complementam o álbum as pancadas “Raise Your Hand” (com a Kosmic Blues Band arrasando ao vivo), a linda “One Night Stand”, ao lado da Paul Butterfield Blues Band, “Tell Mama” (uma obra prima com a Full Tilt Boogie Band), e o blues choroso de “Misery’ N”, gema da carreira da Big Brother que os fãs só conheceram nesse ótimo LP, que se não está no nível dos discos solos, faz jus a carreira dessa que foi (e ainda é) a maior cantora que o mundo já ouviu.

Janis Joplin faleceu, mas deixou um legado belíssimo para a história da música. Existem diversas coletâneas a disposição no mercado, muitas delas explorando o período com a Big Brother & The Holding Company. Dentro da Discografia Solo, temos ainda o essencial In Concert (1972), que destaca o famoso show da Full Tilt Boogie Band na turnê Canadian Festival Express em 1970, que atravessou o Canadá dentro de um trem, ao lado da Grateful Dead e da The Band. 

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