Review Exclusivo: Planet Hemp (Porto Alegre, 29 de setembro de 2012)
Por Micael Machado
Marcado para iniciar as 23 horas, faltavam dez minutos para a meia noite quando a Da Guedes, lenda do rap e do hip hop porto-alegrense, subiu ao palco para fazer a abertura da noite. O hip hop é um dos estilos da sonoridade do Planet Hemp, mas não é o único, e um show de quarenta minutos do estilo realmente é algo que não me agrada muito. O público aceitou-os muito bem, inclusive com muita gente cantando as letras junto ao grupo, mas, para mim, só não foi mais insuportável porque os caras realmente têm talento em seu estilo. Além disso, a música “Peleia”, que a rádio Ipanema FM divulgou muito no começo dos anos 2000, é uma excelente composição, e outros hits como “Bem Nessa”, “Dr. Destino” e o cover para “Esse é o meu Compromisso”, da Ultramen, foram ovacionados pela galera. Eu não gostei, mas fui a minoria.
A sequência com “Dig Dig Dig (Hempa)” mostrou que o disco não seria executado na íntegra, ou pelo menos não na mesma ordem da gravação. Na verdade, o Planet, de forma muito interessante, tocou as músicas (quase) em ordem cronológica, dividindo o show em três “atos”, um para cada disco de estúdio de grupo. Assim, no primeiro ato, foram interpretadas as músicas de Usuário, com destaque maior para “Fazendo a Cabeça”, “Futuro do País” (com muito peso) e a surpreendente “Bala Perdida”. O foco ficou nas músicas mais hardcore, e o pessoal abriu enormes rodas de pogo no meio do Pepsi. Impressionante!
O “segundo ato” trouxe as músicas de Os Cães Ladram mas a Caravana não Para, de 1997. Este é um disco mais focado no hip hop, tendo até alguns toques de samba, como “Hip Hop Rio” e “Nega do Cabelo Duro” nos lembraram. Mas hits como “Zerovinteum”, “Queimando Tudo” e “Quem Tem Seda?” (do terceiro disco, mas curiosamente executada neste ato, assim como “Gorilla Grip”) fizeram a galera cantar e dançar ainda mais que as músicas do primeiro ato, além do hardcore ter tido espaço com “Seus Amigos” e “100% Hardcore”, onde D2 se jogou na plateia, levando alguns bons minutos para conseguir voltar ao palco. Ainda teve tempo para um curtíssimo solo do porto-alegrense Pedrinho antes de “Adoled (The Ocean)”, outra que cativou a todos.
O show continuava, e chegávamos ao terceiro ato, com as músicas de A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, de 2000. “Ex-quadrilha da Fumaça” e “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga” iniciaram os trabalhos, sendo seguidas por mais três músicas do mesmo disco, além de “A Culpa É de Quem?”, de Usuário. “Samba Makossa” foi uma bela homenagem a Chico Science (como eles já fazem há tempos), e “Mantenha o Respeito” (de quem todos sentiram falta no primeiro ato) encerrou a noite em alto estilo.
Ao final de “Mantenha o Respeito”, o grupo permaneceu no palco sob os pedidos de “mais um, mais um” do pessoal. D2 disse que não tinham programado mais nada, “eram vinte e sete músicas e só, pessoal” (na verdade, foram vinte e seis), e “só se tocarmos tudo de novo” disse, se jogando ao chão ao ouvir o uníssono “yeah” do pessoal, fingindo estar muito cansado (algo que acredito que estava mesmo, pois já havia declarado que “não dá para tocar só hardcore o tempo todo não” antes de “Stab”). Como Rafael havia “ido ao banheiro”, como ele disse, tocaram diversos trechos de músicas já executadas antes apenas com baixo, bateria e os beat-boxes executados por B-Negão. Com a volta do guitarrista, repetiram “Mary Jane” e “Dig Dig Dig (Hempa)”, encerrando de vez uma noite memorável para o público gaúcho.
Se o Planet Hemp passar por sua cidade nesta turnê, não perca a oportunidade de assisti-los. A satisfação será garantida!
“Represento o hip hop, o pesadelo do pop, não tá ligado na missão? Foda-se!”
Set list:
Primeiro ato: o usuário e a luta pela legalização da maconha
1. Intro (Não Compre Plante)
2. Legalize já
3. Dig Dig Dig (Hempa)
4. Planet Hemp
5. Fazendo a Cabeça
6. Futuro do País
7. Phunky Buddha
8. Mary Jane
9. Bala Perdida
Segundo ato: os cães ladram mas a caravana não para
10. Zerovinteum
11. Queimando Tudo
12. Quem Tem Seda?
13. Gorilla Grip
14. Seus Amigos
15. Nega do Cabelo Duro
16. Hip Hop Rio
17. Adoled (The Ocean)
18. 100% Hardcore
Terceiro ato: a invasão do sagaz homem fumaça
19. Ex-quadrilha da Fumaça
20. Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga
21. Stab
22. Contexto
23. Procedência C.D.
24. A Culpa É de Quem?
25. Samba Makossa
26. Mantenha o Respeito
Bis
27. Trechos de diversas músicas
28. Mary Jane
29. Dig Dig Dig (Hempa)
Não curto a banda, mas não sou burro, cego ou surdo de negar a importância que o Planet Hemp teve durante sua primeira encarnação, basta ter observado a grande mobilização ocorrida quando a apresentação foi anunciada. Boa resenha, Micael.