Deep Purple – Whoosh!! [2020]
Por Anderson Godinho
Deep Purple é a banda que, junto com Led Zeppelin, Black Sabbath, Queen e Gary Glitter(!!?), foi apresentada pelo meu pai. É interessante pois numa época de k7s e CDs piratas (ele mexia com informática, para minha alegria) consegui me deparar com coisas mágicas como o Machine Head e o Made in Japan. Por isso que a cada lançamento do Deep Purple é impossível não dar um frio na pança.
Bom, após a decepção em Bananas, que foi além da música: tenho até hoje o ingresso do festival Kaiser Rock que nunca ocorreu, em Curitiba, pois (pasmem!) uma juíza (vizinha do nobre bairro) resolveu que a Pedreira Paulo Leminski não era lugar para shows. Essa sequência de frustrações foi amenizada em Now What?!, e tornou-se um sorriso com a turnê do Infinite. Foi na turnê do Infinite que finalmente consegui assistir a banda. Obviamente, devorei o álbum e confesso que ele ganhou um lugar no meu coração. Agora, vale destacar alguns elementos que me dei conta apenas no show: O Deep Purple envelheceu e é uma das poucas bandas de ‘senhores’ que assumiu isso! Este fato é fundamental para que possamos celebrar o fato de estarem na ativa!
Mas e o Whoosh!? Coloco ele na prateleira logo abaixo do Infinite. Nesses dois álbuns parece que a banda encontrou minério no meio de tanta rocha de baixo valor que vem lá dos tempos de Bananas e Rapture of the Deep. Esse álbum consegue ser mais coerente que o Now What?! entretanto menos conciso que o Infinite. Não seguindo a ordem das músicas, vejamos os porquês.
O começo empolga, “Throw My Bones” soa estranhamente animada, quase boba com seu riff um tanto funkeado. Só aos 50 segundos é que ela vai ganhar fôlego e cativar. Sua agitação inicial se torna uma harmonia entre Morse e Don Airey, talvez o maior trunfo deste Deep Purple atual. Coisa que presenciei ao vivo na turnê anterior: teclado e guitarra assumindo um protagonismo, mas, que diferentemente dos anos 60-70, está no limiar do “levar nas costas”. Ainda vale a pena destacar Glover que consegue não deixar a música cair nos momentos menos agitados. Não foi à toa que escolheram ‘Throw My Bones’ como primeiro single do álbum, e reparando nos detalhes da pra perceber que a banda propõe ‘Whoosh!’ como uma continuidade do trabalho anterior. Fica claro pela sonoridade e pelo ambiente criado.
Ainda nessa pegada, a literal “Drop the Weapon” mantém a estrutura, mas não tem o mesmo felling, segue a receita da primeira perdendo carisma no caminho apesar do peso e da letra extremamente atual e relevante. Pulando para “Nothing at All”, temos um dos pontos altos. O riff dessa música é muito bonito, regrado de momentos em que o teclado e a guitarra caminham juntos e em destaque, para depois se confrontarem em belos duelos. É um som mais cadenciado que possui solos lindos, momentos instrumentais e alguns coros interessantes. É a obra mais bonita com certeza.
Outro destaque é a sombria “Step by Step”, que mostra Airey dando uma aula de hard rock. Um baita som! Chama a atenção, ainda, que essa música traz elementos doom. Não me assustaria ouvir um Ghost ou um Lucifer regravar esse som algum dia. Muito boa. Com essa característica também é possível colocar “The Power of the Moon”, que destaca bem o baixo na produção do clima mais progressivo da música. Comete o pecado de demorar muito para mostrar as caras e só no quarto final empolga pra valer.
Por fim chegamos a “Man Alive” que é “A” música deste álbum. Meus caros, com vocês: Deep Purple. Está tudo ali! A banda toda, o que você aprendeu e ouviu nos clássicos da banda estão nessa música! É fechar os olhos e deixar rolar. Se “Nothing at All” é a mais bonita, “Man Alive” é a mais pesada. Todos os instrumentos têm algum momento só seu. O tique-taque entre os storytellers de Gillan são hipnóticos, o teclado e a guitarra desta vez estão mais reconhecíveis como sendo os aclamados tons, distorções, ritmos comuns à banda! Nos interstícios, o baixo se destaca mantendo uma atmosfera ideal praticamente sozinho. Essa música merece ser single (e o é) e ser tocada ao vivo por um bom tempo.
Com o grande ‘último momento’ em “Man Alive”, creio ser interessante comentar brevemente as demais, mas considerando que ao menos 3 ou 4 delas poderiam ter sido deixadas para outro momento, o fato de estarem ali nas entranhas do play faz com que se perca a concisão e deixa algumas das boas ideias apresentadas dispersas demais. “No Need to Shout” é quase uma homenagem ao início da banda, traz um hard rock de bom gosto. É animada, rápida e tem seu peso. Curta e grossa. Na mesma linha temos “The Long Way Round”, que me fez pensar no som do The Who dos finais dos anos 1970. Soam distantes das anteriormente comentadas, mas encaixam no álbum. “We’re the Same in the Dark” chega leve, suave, com uma letra que poderia ser facilmente encontrada nos plays do AC/DC. Aqui destaco a cozinha que segura a música.
Esse trio acima dá a impressão de ter surgido em uma jam entre Paice e Glover e que os demais foram entrando depois. Essa pegada Rock and Roll aparece também em “What the What” e no dispensável bônus “Dancing in My Sleep”. Para fechar o álbum eles foram até o seu início, no Shades of Deep Purple, para buscar a instrumental “And the Adress” em uma versão mais moderna muito competente.
O disco recebeu diversos formatos de lançamento, e eu destaco o box que traz como bônus 3 LPs coloridos (roxo, transparente e vermelho translúcido) em 10″, com o show batizado Infinite Live Recordings Vol 2, que foi gravado ao vivo na Jeunesse Arena do Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 2017, e cujas capas individuais formam o astronauta da capa de Whoosh!, LP duplo com o track list completo de Whoosh!, camiseta, DVD com a apresentação no Live At Hellfest, também de 2017, e três art-prints que remetem a capa do álbum
Whoosh! é um bom álbum que nos presenteia com belas melodias, traz coisas não muito comuns, entretanto, muito boas. Peca em rechear demais, o que poderia ser ótimo, com músicas comuns e dispensáveis. Comentei antes que Morse e Airey dão as cartas e de fato dão, mas não vejo os demais sendo carregados. Óbvio que Gillan, e percebam que não falei dele ainda, não é mais o mesmo! No recente show com que introduzi o texto ele saía a cada 2 músicas, com o palco armado para facilitar seu lado, o que não prejudicou o show. Porém, meus caros, ainda é ele ali! Dá pra sentir a vibração e a qualidade. Arrisco dizer que esse álbum sem os excessos seria mais do que bom e inauguraria uma fase mais sombria da banda. Quem sabe mais para frente? Vai haver mais para frente? Seria “And the Adress” um prelúdio do fim? O inicio e o fim se encontrando infinitamente? Não sabemos, mas percebo que o mais importante nesse momento é aproveitar ao máximo, pois quando perceber……. Whoosh…..!
Bônus! Vale muito a pena assistir aos clipes dos singles na sequência de lançamento, e experimentar essa coisa incomum que eles trouxeram para a banda: uma história contada em mais de uma música e que traz uma relação existencial entre um personagem que vem do espaço trazendo a noção holística entre humanidade e ambiente. Porém, ao presenciar as escalas locais da existência questiona e sofre com tudo que se passa por aqui. Existência, violência, ambiente, poluição, ego quem diria? Com certeza este trabalho será utilizado em aulas de Geografia e Biologia por aí.
Track list
- Throw My Bones
- Drop The Weapon
- We’re All The Same In The Dark
- Nothing At All
- No Need To Shout
- Step By Step
- What The What
- The Long Way Round
- The Power Of The Moon
- Remission Possible
- Man Alive
- And The Address
- Dancing In My Sleep
Legal ver uma crítica do “Whoosh!”, apesar de eu discordar da maioria dos pontos de vista do autor. Tudo bem, são questões de opinião. Para mim, “Bananas” é o segundo melhor disco desde a entrada de Steve Morse (só perde para o monumental “Purpendicular”). “Now what?!” se salva basicamente por “Vincent Price” e “All the time in the world”. Já o “Infinite”, nem isso. Acho legalzinho, no máximo. E aqui neste último lançamento, “Dancing in my sleep” é simplesmente a melhor música do disco. Realmente não parece tanto uma música do Purple, com sua levada pop que lembra coisas antigas do Glover, como em “Mask”. Talvez por isso muitos fãs não gostem. Dispensável mesmo é o remake de “And the adress”, que não acrescenta nada à versão de 68.
Olá Fernando. Realmente, “And the Address” não acrescenta, mas gostei do que o Anderson falou. Será que não é o alerta do fim? Não tem muita lenha pra queimar o Purple né?
Olá, Mairon. Sim, estão todos acima dos 70 anos. Talvez Morse e Airey sejam pouquinha coisa mais jovens. Gillan e Glover têm 75 cada um, Paice tem 72. Claro que idade é uma coisa relativa, mas enfim. Eles chegaram a acenar uma possível aposentadoria. A turnê do “Infinite” se chamava “Last world tour”. O lançamento de “Whoosh!” foi uma grata surpresa, pensei que eles não voltariam ao estúdio. Alguém arrisca o palpite de um novo disco? Abraço.
Em tempos de pandemia, talvez tenha ficado mais fácil compor. O problema é a vontade de lançar material inédito, com vendas tão pífias, e as audições em spotifys da vida serem muito baixas para rock.
Olá Fernando, realmente divergimos, mas obrigado pelo comentário e opiniões. Seria bom conversar ouvindo e qm sabe tomando uma kkkk. Lembro de quando lançaram o ‘Bananas’ que num primeiro momento eu curti, mas depois de alguns anos fui pegar novamente e não desceu muito bem. Já o ‘Infinite’ achei um baita disco (considerando o momento atual deles, claro) um trabalho de teclados muito bom, melodias bem pensadas. Agr nesse álbum, achei ‘Dancing in my sleep’ deslocada demais, entra naquela ideia da falta de coesão que coloquei no texto, talvez com mais uma ou duas músicas seguindo essa linha em detrimento de otras o impacto na mudança de sonoridade ficasse menor. Mesmo assim é realmente fora do que penso quando me falam ‘Deep Purple’. Abraço.
Seria ótimo falar de Deep Purple tomando umas. Quem sabe uma hora dessas?
Acho que o que ocorreu com “Bananas” foi parecido com o que ocorreu com “Purpendicular”: a entrada de um novo membro (Morse em 94, Airey em 2003) deu uma renovada no modo de composição da banda, sem perder o estilo clássico. Gosto muito de “Haunted”, “Pictures of Innocence”, “Walk on”, “Razzel Dazzel” (repare que, no “Whoosh!”, o refrão de “Drop the weapon” é praticamente um “plágio” do refrão dessa última) e gosto muito do contratempo no riff de “Bananas” e dos excelentes solos de Airey e Morse.
Talvez eu deva ouvir o “Infinite” de novo. Confesso que só ouvi umas duas vezes, e talvez não tenha percebido algumas coisas. Abraço.
Mairon, quando vc diz “as audições em spotifys da vida serem muito baixas para rock” você está se referindo à quantidade de ouvintes? Abraço!
Eu vi eles falando sobre estarem ‘entrosados’ e tal, acho que essa questão de mudança no line up faz sentido pra caramba mesmo. Vou dar uma escutada nesses trabalhos e aproveitar que está fresco os últimos três. Fazer esses paralelos que comentou. Legal!
Estou ouvindo Infinite hoje. Depois a gente bate mais bola. Abraço.