The Eric Gales Band – The Eric Gales Band [1991]
Por Amancio Paladino
Costumo dizer que os anos noventa foram fracos em termos de produções musicais que realmente tocassem meu coração do que os anos oitenta. Foi uma espécie de idade das trevas, tempos onde meus ídolos sumiram ou se apagaram. O zeitgeist por vir estava muito bem expresso por Cazuza em sua música “Ideologia”: “Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder…”. Mas no meio dessa desolação noventista pela qual passei, algumas pérolas acabaram surgindo em meu caminho.
Foi em 1995 que conheci de forma inusitada uma excelente banda. A história foi mais ou menos essa:
Naquela época, o álbum X Factor do Iron Maiden tinha acabado de sair e eu estava visivelmente abalado com a qualidade do trabalho. As músicas eram boas, mas faltava algo que eu não conseguia explicar. Em busca de algum tipo de luz, me reuni com vários colegas na casa de um amigo e levei o novo trabalho do Maiden para ser ouvido e comentado…
Eugene Gales e Hubert Crawford (acima); Eric Gales (abaixo) |
Após muitas conversas, o dono da casa acabou me mostrando um CD que tinha comprado sem saber muito bem do que se tratava, numa loja do centro de São Paulo, na galeria do Rock. Foi comprado por impulso, junto com quatro CDs do Judas Priest, depois que o vendedor recomendou: “Olha, esse cara é praticamente o novo Jimi Hendrix! Pode levar, o cara toca guitarra desde que nasceu…”
Ele colocou o CD pra rodar e a reação foi unânime: “Que som animal!”.
Tratava-se da The Eric Gales Band, fundada pelo guitarrista Eric Gales em 1990 junto com seu irmão Eugene no baixo mais o baterista Hubert Crawford.
Eric começou a tocar guitarra aos quatro anos de idade. Sob tutela de seus irmãos mais velhos, Eugene e Manuel, aprendeu os estilos de Jimi Hendrix, Albert King e B.B. King. Em 1985 o garoto prodígio, como passou a ser conhecido, iniciou sua carreira participando de concursos de blues em conjunto com seu irmão Eugene. Eric apesar de destro, toca uma guitarra com as cordas invertidas, pois foi assim que ele aprendeu desde cedo ao brincar com as guitarras de seu irmão mais velho, que é canhoto.
Com seu vocal “a la Hendrix” e sua técnica incomum, Eric foi capaz de criar uma obra prima em seu primeiro disco, intitulado também The Eric Gales Band, em 1991.
O disco tem uma temática espiritual nas suas letras, mas em nada está relacionado com movimentos ou religiões. O maior sucesso do disco foi “Sign of The Storm”, que chegou ao nono lugar nas paradas dos EUA. Com uma pegada pesadíssima na guitarra, o vocal de Eric faz jus a grandiosidade da música. A instrumental High Ansiety também é excelente, com um maravilhoso solo e uma bateria impecáveis.
Eric Gales |
Na prática todas as músicas são excelentes e o disco foi muito bem produzido. É notável a influência de Hendrix sobre Gales, mas também é notável como ele conseguiu superar o Mestre, criando seu próprio estilo com uma pegada blues perfeita. Realmente o álbum é uma peça que todo colecionador deve ter em sua prateleira. Não só por que foi uma luz que surgiu numa época de trevas, mas por que é o registro do debut de um artista de grande qualidade.
Mas… Ficou a pergunta. E daí? O que essa banda tinha a ver com o Maiden? E meu amigo respondeu dizendo: “O X-factor é bom, mas o que falta de verdade é o sangue novo de um garoto como o Gales, assim como foi o sangue do Bruce no começo dos anos 80”.
Contra-capa de The Eric Gales Band |
Track list
1. Ressurrection
2. No One Else
3. Sign of the Storm
4. High Anxiety
5. Fed Up With You
6. Place And Time / World For Ransom
7. Nothing To Lose
8. Give And Take
9. Changes In Emotion
10. Piece of My Soul
Boa dica, Amancio, pode crer que vou correr atrás. Tive o prazer de ver Hubert "H-Bomb" Crawford tocando ao lado do fantástico Mark Farner e sua performance foi excelente, fazendo jus às linhas registradas por Don Brewer no Grand Funk Railroad.
Lembro da crítica da revista Bizz quando saiu esse disco, dizendo que Gales era o novo Hendrix… sempre ouvi elogios ao disco, mas nunca procurei ouvir. Acho que agora vou me animar a ir atrás.
E o que houve com a carreira do cara? Sumiu do mapa?
Ele ainda toca por ai, está na ativa. Mas o mais legal é que quando lançou esse trabalho ele tinha apenas 16 anos! Um prodígio!