Edu Falaschi – Vera Cruz [2021]
Por Anderson Godinho
Dentre importantes lançamentos dentro do escopo do Power Metal, tais quais Timo Tolkki’s Avalon, Helloween, Powerwolf ou Sabaton, aqui no Brasil, temos Edu Falaschi como um dos mais esperados. Após a bem sucedida turnê do álbum ao vivo Temple of Shadows in Concert o artista mergulha de cabeça em sua carreira solo. Desde 2020 teasers da gravação de Vera Cruz pipocam em importantes mídias sociais tais como os canais de Aquiles Priester, que apareceu gravando suas passagens, ou Thiago Bianchi mostrando os bastidores da produção, e mesmo o próprio Edu aparecendo em reportagens e entrevistas: estavam criadas as expectativas.
Antes de abordar Vera Cruz é importante trazer alguns fatos sobre o artista. Foi notório que a saída do Angra causou uma série de problemas para Edu Falaschi. Ele mesmo admite em inúmeras entrevistas que foi muito complicado passar pelos problemas em sua voz (que teve um diagnóstico tardio), bem como os problemas psicológicos decorrentes disso, além de mágoas pessoais para superar até conseguir se reposicionar no cenário musical novamente. Nesse meio tempo uma intermitente carreira com o Almah não ganha o fôlego necessário perante os fãs. A reação de Edu surge justamente com o já citado Temple Of Shadows in Concert. Foi o “All Win” do artista e deu certo.
Após o sucesso do referido ‘ao vivo’, que o colocou em evidência novamente, vem ao público Vera Cruz, seu primeiro álbum solo de inéditas (pelo menos usando a alcunha Edu Falaschi). O álbum é ambientado nos idos de 1500, na chegada dos portugueses às terras ameríndias e retrata os dilemas do personagem Jorge, bem como, a profecia que carrega. Isso tudo fica claro na introdução de dois minutos. Aos adoradores do metal melódico spoiller de espadas batendo! Feita a introdução, entra “Ancestry” mostrando qual é a proposta do play. Velocidade desde a cozinha com Priester, em sua habitual forma, acompanhado por Raphael Dafras, até as guitarras casadas de Diogo Mafra e Roberto Barros que imprimem, com primazia, técnicas de encher os ouvidos. Essa música com certeza é um dos destaques do material e apresenta um somatório de elementos desde orquestração, corais, instrumental e, principalmente, um Edu mostrando que está em forma e disposto. Na mesma pegada a já conhecida (vazada antes do lançamento) “Sea of Uncertanties” apresenta um pouco mais de melodia frente à velocidade, porém segue uma linha parecida e cativa desde o começo.
Na sequência, a primeira balada do álbum “Skies in Your Eyes”. Bem cadenciada, com uma levada tranquila no violão e com boas ambientações de teclado apresenta um ar de esperança e renovação é daquelas baladas que te deixam pra cima. Ao terminar emenda com uma mudança nos caminhos da história com “Frol de la Mar”, que na realidade funciona como introdução para “Crosses”. Esta sim recoloca o álbum na pegada power metal novamente, soa muito competente com guitarras dobradas, variações muito eficazes na bateria e um refrão interessante, não deve se tornar um clássico mas mantem o nível alto, bem alto. Logo após, temos a épica de 9 minutos e meio: “Land Ahoy”. São inúmeros elementos que se cruzam desde percussão, instrumento de sopro, violão, corais além de sonorizações indígenas e de música popular brasileira. É uma música muito bem construída e conduzida, que não comete excessos mesmo com essa infinidade de possibilidades, muito bonita.
Nessas alturas, as expectativas estão sendo preenchidas e é possível perceber que Edu faz um grande apanhado da sua carreira, é notório, e comentarei mais na sequência final. O material possui 12 faixas (considerando introdução e ambientações), porém não se torna algo maçante, pois, mesmo as músicas menos marcantes completam muito bem o álbum. Feitas as considerações, vamos para “Fire with Fire” que com uma dose extra nas orquestrações e uma linha melódica que casa perfeitamente com uma estrutura percussiva bem desenvolvida acaba nos conquistando facilmente. Com certeza fara muito bem na dinâmica ao vivo. Eis que então surge “Mirror of Delusion” dando um novo fôlego ao álbum. Um dos melhores refrãos de todo o material, se não o melhor. As guitarras entre duelos e variações, entre acústico e elétrico, a música ainda apresenta ótimas passagens sinfônicas com muita congruência, bela harmonia que encaminha o álbum para a boa “Bonfire of the Vanities” a segunda balada do play que ao contrário da primeira apresenta suas armas com melodia e um peso maior do que a primeira. A bonita música traz uma sensação diferente de “Skies in Your Eyes”, parece estar atrelada a esperança de dias melhores o que é demonstrado pelas passagens de teclado e um solo de guitarra cativante.
Entrando na parte final, que venham os convidados: “Face of the Storm” traz o consagrado Max Cavaleira em uma música pesada e rápida (o que não surpreende, obviamente). Para quem curte metal nacional vai lembrar de cara a fase atual do Noturnall (aquele mesmo do co-produtor Thiago Bianchi, coincidência?). Porém, o tom épico e contextualizado continuam ali. Ainda temos uma batalha (sim, com sons de batalha e tudo mais) se desenrolando no meio a uma levada forte promovida por Aquiles Priester que se atraca no surdo. Por fim, para coroar a proposta e o ótimo disco, temos a cereja do bolo: “Rainha do Luar”, trazendo a bela voz de Elba Ramalho, bem como um sentimento de saudade. Belíssima música! Belíssimo trabalho!
O material contou com uma produção impecável realizada pelo próprio Edu em conjunto com Roberto Barros e Thiago Bianchi. Já a masterização e mixagem ocorreu pelas mãos de Denis Ward importante nome da cena (Angra, Primal Fear, Tesla, Unisonic, etc). Cabe ressaltar também o trabalho completo de merchandise que vai de assessórios simples até uma completa gama de mídias: CD, K7, Vinil, ampla distribuição em plataformas de streaming, enfim, tudo como deve ser em um grande lançamento. Temos ainda Pablo Greg na orquestração e Fabio Caldeira no conceito desenvolvido para a história.
Ao final do material um sentimento de nostalgia por um lado e outro de alegria e esperança me ocorre. Em relação à nostalgia, não quis expor ao longo do texto, mas as referências ao Angra estão por toda a parte e não a toa é possível encontrar muitas pessoas chamando o disco de Temple of Shadows 2 tanto de modo pejorativo, quando positivo. Ao meu ver isso é natural, pois, músicas como “Rainha do Luar”, “Ancestry”, “Skies in Your Eyes” são muito próximas do que fora desenvolvido em ToS. Temos ainda elementos do Rebirth e Aurora Consurgens como em “Fire with Fire” ou “Bonfire of the Vanities” e, mesmo referências às fases anteriores a ele no Angra, como Angel’s Cry (Land Ahoy) e Holy Land (Mirror of Delusion) só para mencionar algumas.
Aos que criticam e chamam de pura cópia, cabe ressaltar que existem elementos novos como as guitarras que fogem completamente ao que fora desenvolvido pela dupla do Angra na fase em que Edu era o front man da banda. Além disso, a presença da percussão é muito mais marcante bem como as orquestrações pendendo para uma power metal mais clássico. Ainda vale mencionar o trabalho de teclado destacado de Fabio Laguna que ganham mais espaço. Agora, consideremos algumas situações: dois membros muito marcantes da história do Angra estão juntos, a carreira do Edu fora alavancada a partir do que realizou com o Angra e, ainda, sua carreira no Almah não se aproximava de fato ao que o tornou um grande vocalista, era e tinha cara de ‘projeto paralelo’, portanto, é natural que ele buscasse recomeçar de onde teve mais sucesso e onde melhor se encontrou como artista.
Por fim, o Edu Falaschi está, finalmente, retomando sua carreira do ponto em que a perdeu lá atrás, trouxe toda carga acumulada nesse trabalho, bem como muita gana, autoconfiança e experiência. Quem sabe uma vez consolidado começa a imprimir novos capítulos, por sua vez, mais diversos? É uma aposta que, no meu ponto de vista, vale a pena.
Track list
- Burden
- The Ancestry
- Sea Of Uncertainties
- Skies In Your Eyes
- Frol De La Mar
- Crosses
- Land Ahoy
- Fire With Fire
- Mirror Of Delusion
- Bonfire Of The Vanities
- Face Of The Storm
- Rainha Do Luar
É natural que a gente identifique elementos do Angra no trabalho do Edu. Afinal ele também era o compositor de muita coisa da sua ex-banda. Acho que o que pegou mesmo nas comparações é a temática muito próxima do que foi apresentado em Holy Land. Também achei algumas passagens muito exageradas, principalmente de guitarras. Não sei como ficará isso tudo ao vivo.
Opa, fala Fernando. Pois é, concordo contigo. Pegaram um feeling DragonForce da vida. Eu gostei, na real mas vamos ver essa futura turnê aí. Estarei lá hehe.
Pior que eu acho o DragonForce CHATÍSSIMO!!!!
Comprei o box para mim. O único senão é que o box poderia ter um material mais resistente, né? Mas, tirando isso, sem reclamações. O CD é muito bom. O CD está com uma puta produção, a caneca é bem legal… Agora, estou na espera do meu vinil e na expectativa para que lancem o DVD ao vivo dele por aqui.
Então, esse que comprou é o da pré venda? Eu acabei não mencionando ele diretamente pois vi apenas nos canais do Edu. Vi que agora tem uma espécie de combo, mas não é a mesma caixa da pré venda.
Sim, eu comprei na pré-venda. O box já está esgotado. Agora só o CD simples com slipcase. A edição do box é aquela do digibook. Essa edição acompanha um DVD com o making of. Fora isso, vem no box: camiseta, caneca e um card autografado pelo Edu. É bem bacana.