Review Exclusivo: Dream Theater (Porto Alegre, 24 de agosto de 2012)

Review Exclusivo: Dream Theater (Porto Alegre, 24 de agosto de 2012)
Por Micael Machado
Fotos por Lú Ruzzarin Basso

A expectativa para assistir ao Dream Theater sem Mike Portnoy era enorme de minha parte. Sua bateria técnica e intrincada foi um dos motivos que fizeram com que me apaixonasse pelo grupo. No show que assisti em 2010, no mesmo Pepsi On Stage, sua presença foi fundamental. Seu substituto, o “novato” Mike Mangini, mandou muito bem em estúdio (no álbum mais recente da banda, A Dramatic Turn of Events, de 2011), e, pelos bootlegs que tive a oportunidade de ouvir, tudo prometia correr bem. Mas, e quanto à presença de palco da nova formação? Seria a mesma coisa?
Antes do espetáculo principal, o guitarrista Magnus Wichmann e o baixista Gustavo Strapazon (ambos do grupo gaúcho Scelerata) fizeram uma curta apresentação de quinze minutos onde, com o auxílio de uma bateria pré-gravada, interpretaram duas canções instrumentais (as quais infelizmente não reconheci) e um medley com grandes sucessos de bandas como Rush, Pink Floyd, Deep Purple e Queen. Principalmente este último conseguiu uma excelente resposta por parte do público, e a técnica da dupla chamou bastante a atenção, e serviu muito bem como um aperitivo para a atração maior da noite.
Uma das coisas que o Dream Theater perdeu com a saída de Portnoy foi a capacidade de variar o set list noite após noite. Para esta turnê sul-americana (que passou por Colômbia, Argentina – onde gravaram dois shows para um futuro DVD – e Chile, com outras quatro datas marcadas no Brasil além desta), o grupo preparou dois repertórios diferentes. Um excelente e outro apenas mediano (na minha opinião, é claro). Pela ordem de alternância, Porto Alegre seria brindada com o segundo, mas sempre restava uma esperança de mudança.
O quarteto de instrumentistas do Dream Theater
Com um atraso de apenas dez minutos, a intro “Dream is Collapsing” (acompanhada de um vídeo com uma animação onde os membros do grupo eram os personagens principais) começou a rolar no sistema de som e “Bridges in the Sky” iniciou os trabalhos, como nos outros shows da turnê. Logo ficava claro que não era a mesma banda que eu havia visto dois anos atrás. Como o novo baterista não chama os holofotes para si (o que ocorria com Portnoy), estes acabam indo para o vocalista James LaBrie que assume bem a função de realizar a conexão entre a banda e o público, mas continua a se ausentar do palco nos trechos instrumentais mais longos, como sempre fez em sua carreira. Nestes momentos, com o baixista John Myung e o guitarrista John Petrucci parados como estátuas, Mangini concentrado em sua enorme e impressionante bateria, e Jordan Rudess girando seu teclado para lá e para cá, a parte de performance do grupo cai muito (coisa que antes era compensada pela intensa presença de palco do antigo baterista). Apesar da diferença estar em apenas um membro do grupo, esta é notável, e chega a causar um certo incômodo. O grupo parecia menos espontâneo em cena, mais preocupado em tocar do que em ‘agitar”.
Mesmo com a maldita “inclusão digital”, que quase não me deixa ver o palco devido ao enorme número de celulares e máquinas filmadoras jogados na minha frente, percebi que o público os recebeu com empolgação. A noite prometia! Mas “These Walls” comprovou que o set list “mediano” havia sido o selecionado para a data, e, com o perdão da expressão, ao constatar tal fato eu simplesmente broxei. Perdi o pique e o tesão de participar do show. Acabei virando um mero espectador. A música foi recebida com empolgação, até agitei bastante, mas a opção à ela era “6:00” (que me agradaria muito mais).
Outra música do disco novo, “Build Me Up, Break Me Down”, foi seguida pela clássica “Caught in a Web”, outra música importantíssima, cuja opção era “The Root of All Evil”, parte da chamada “Twelve Steps Suite”. E, bem, eu gosto muito de “Web”, mas nunca presenciei ao vivo nenhuma parte da suíte (uma das melhores coisas que o DT já gravou). Sendo assim, não foi nesta canção que o grupo conseguiu restaurar minha animação e a escolha da linda balada “This is the Life” como sequência não ajudou muito. Seus quase oito minutos, logo no início do show, não eram bem do que eu precisava. Nem a continuação com “Lost Not Forgotten”, mais uma música nova.
Jordan Rudess, James LaBrie e Mike Mangini
Com palavras muito elogiosas proferidas por LaBrie, foi anunciado o solo de Mike Mangini, que durou mais de oito minutos. O cara toca muito, mostrou uma técnica absurda e não nos deixou sentir muitas saudades de seu antecessor em termos musicais durante toda a noite. Mas ele não é um entertainer como Portnoy. Apesar de fazer algumas caretas divertidas e sorrir como se fosse muito fácil tocar tudo aquilo, falta um componente que o antigo baterista tinha de sobra: carisma! Sua simples presença na bateria chamava a atenção do público para si, coisa que Mangini ainda não consegue. Ele é um excelente músico para uma banda de rock comum, mas o Dream Theater é muito mais do que isso.
Mas o meu bode com o solo passou logo nos primeiros acordes de “A Fortune in Lies“, para mim o primeiro “momento” da noite. A música, pinçada do disco de estreia do grupo (When Dream and Day Unite, de 1989), é um dos maiores destaques daquele álbum. Parecia que grande parte do público não a conhecia, o que fez com que eu pudesse curti-la sem ter de dividir a audição com os gritos e os celulares. Além disso, eu tinha em mente que ela pertencia ao outro set list (o que não era verdade), o que me fez ter esperanças de que a ordem das músicas pudesse sofrer uma alteração dali em diante. Ledo engano.
O solo de Rudess que veio na sequência foi muito mais simples do que o de 2010. Desta vez, este excepcional músico (que passou a ser o meu favorito da banda após a partida de Portnoy) não tocou Ipod, não duelou com o seu avatar no telão nem demonstrou sua destreza e habilidade em solos velozes e distorcidos como fez dois anos atrás. Apenas limitou-se a um curto e emotivo tema com o efeito “piano” do teclado, o qual foi seguido por “Wait for Sleep”. Uma inusitada e incomum escolha (gravada originalmente no essencial Images and Words), interpretada apenas pelo piano de Jordan e a voz de LaBrie. Com a adição de Myung, “Far From Heaven” também foi interpretada neste esquema intimista, sendo muito bem recebida pela calorosa plateia, mas não chegou a me emocionar o suficiente.
James LaBrie e seu chapeuzinho
A nova “Outcry” e outro curto solo ao piano feito por Rudess precederam mais um grande momento do show, na forma da bela “Surrounded“, onde LaBrie até usou um chapeuzinho igual ao do personagem da capa do disco novo. Na sequência veio “On the Backs of Angels”, a primeira faixa de A Dramatic Turn of Events que ouvi. Ela ainda é a minha favorita deste disco, soando muito bem ao vivo e tendo uma calorosa recepção por parte do público.
Tinha muita expectativa para saber como soariam ao vivo “War Inside My Head” e “The Test that Stumped Them All” fora do contexto da suíte “Six Degrees of Inner Turbulence”. As duas foram destaques nesta noite, principalmente a segunda, com seu começo extremamente técnico, executado com perfeição pelos músicos. Estava curioso para saber como seriam feitos os backing vocals presentes na versão de estúdio. A solução encontrada pela banda foi usarem uma decepcionante gravação (assim como ocorreu em outras partes do show), o que não chegou a prejudicar a audição nem a diminuir a empolgação do pessoal.
James LaBrie, Mike Mangini e John Petrucci
Se “The Test…” trouxe o peso ao primeiro plano, sua sequência foi pura emoção. “The Spirit Carries On” é uma das minhas composições favoritas do Dream Theater. Não sei explicar porque ela “bate” tão forte em mim. Precedida por um longo e emotivo solo de Petrucci, além de um belo discurso de LaBrie, foi possivelmente o ponto alto da noite. Eu havia chorado ao assistir esta música em 2010. Agora, dois anos depois, chorei de novo. Não há como resistir a esta melodia e a esta letra. Melhor nem tentar…
O encerramento do show veio com “Breaking All Illusions”, a faixa mais longa do novo álbum, mas longe de ser uma das melhores. Sem a mesma qualidade de outras músicas usadas para encerramento em turnês anteriores, seus mais de doze minutos demoraram a passar, embora muita gente tenha se divertido durante sua execução.
Jordan Rudess, John Myung, John Petrucci e Mike Mangini
O quinteto deixou o palco, mas todos sabiam que voltariam para o bis. E mais uma decepção veio na forma de “Pull Me Under“, a selecionada para encerrar os trabalhos. Está certo que esta foi a primeira música do grupo que ouvi, é uma das minhas favoritas e é um dos maiores clássicos da banda. Mas a opção era “Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper”, e esta é a “Smoke On The Water” do Dream Theater, na minha opinião. Queria muito tê-la assistido na íntegra pela primeira vez (em 2010, apenas sua parte final foi tocada, em um medley com a própria “Pull Me Under”). Infelizmente, não foi desta vez. Claro que todo o público recebeu a escolhida muito bem e todos (eu inclusive) agitaram e muito. Eu preferia ter curtido “Metropolis”, mas fazer o quê?
No geral, foi um bom show, prejudicado pelo repertório escolhido, com muitas canções do disco novo (oito no total), que são interessantes e tal, mas ainda são muito “novas”, sem o mesmo apelo e importância que outras músicas do repertório do grupo (mesmo de discos mais recentes, como Systematic Chaos ou Black Clouds & Silver Linings, dois dos meus favoritos). Para mim, a única justificativa para incluir tantas canções de A Dramatic Turn of Events é fazer com que  Mike  Mangini se sinta à vontade em sua primeira turnê mundial com o grupo, tocando músicas que já interpretou em estúdio e que, na teoria, conhece melhor do que o repertório antigo da banda. Além disso, me parece que o grupo ainda busca um entrosamento maior com seu novo baterista. Quando este vier (o que só o tempo trará), e a banda puder ter mais opções para montar seu repertório ao vivo, o Dream Theater poderá voltar a ser o gigante que já foi um dia. Por enquanto, é apenas um interessante live act. O que, para um grupo como este, é muito pouco.
Final da apresentação

Set-list:

01. Dream Is Collapsing (Intro)
02. Bridges in the Sky 
03. These Walls 
04. Build Me Up, Break Me Down 
05. Caught in a Web 
06. This is the Life 
07. Lost Not Forgotten 
08. Solo de Mike Mangini
09. A Fortune in Lies 
10. Solo de Jordan Rudess / Wait for Sleep 
11. Far from Heaven 
12. Outcry 
13. Intro por Jordan Rudess / Surrounded 
14. On the Backs of Angels 
15. War Inside My Head 
16. The Test that Stumped Them All 
17. Solo de John Petrucci
18. The Spirit Carries On 
19. Breaking All Illusions 

Encore:

20. Pull Me Under

Um comentário em “Review Exclusivo: Dream Theater (Porto Alegre, 24 de agosto de 2012)

  1. “solo de Mike Mangini, que durou mais de oito minutos”

    É algo que está se tornando maçante de ver. O cara detonando na bateria, mandando ver, e a gurizada conversando, como se não tivesse nada acontecendo no palco …

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