Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Brian May – Back To The Light [1992]
Por Mairon Machado
De outra feita, eu já apresentei nessa coluna de Discos Que Parece Que Só Eu Gosto o EP Starfleet, que Brian May lançou junto com o Van Halen. Porém, este não é o único lançamento dele que eu acredito estar nesta lista. Back to the Light também entra nesta barca.
Que Brian May sempre soube se cercar de bons músicos e ser uma espécie de Gene Simmons inglês, conseguindo lucrar um bom dinheiro com o seu passado no Queen, poucos podem duvidar. Particularmente, tenho uma certa antipatia com o guitarrista, principalmente por que não vejo com bons olhos sua vontade de seguir com o nome Queen mesmo sem Freddie Mercury e John Deacon. Porém, há muito tempo atrás, o guitarrista decidiu enveredar por uma carreira solo, e uniu forças com metade do Black Sabbath para parir seu primeiro LP. Os caras do Sabbath são nada mais nada menos que Cozy Powell (bateria), Neil Murray (baixo) e Don Airey (teclados em algumas faixas), e que na época, haviam acabado de sair da turma do bigodudo Tony Iommi, por conta do retorno da formação com Ronnie James Dio, Geezer Butler e Vinny Appice.
De 1988 a 1992, May compôs uma série de canções, que ganhou o mundo em 28 de setembro de 1992 (Reino Unido) e 2 de fevereiro de 1993 (Estados Unidos e Canadá) através de Back to the Light. No encarte, May já afirma que o homem que finalizou o álbum em 1992 é muito diferente do que o iniciou cinco anos antes, e que o fã irá ouvir uma coleção de canções feitas ao longo do tempo, sem ter muito do que o fez sucesso com o Queen, mas sim traços de um músico pequeno e inseguro (no caso, ele mesmo). Com a participação especial de Geoff Dugmore (bateria), Gary Tibbs (baixo), Mike Moran (piano, teclados), temos aqui talvez o melhor disco solo de um Queen, batendo de frente em obras como Mr. Bad Guy (Freddie Mercury, 1985) ou Fun in Space (Roger Taylor, 1981).
O álbum começa com May entoando uma canção de ninar em “The Dark”, trazendo parte da letra de “We Will Rock You” e apresentando acordes de sua Red Special que até uma formiga chapada reconhece. A vinheta, com pedaços registrados em 1980, surge pomposamente, com cordas, piano, harpa, preparando o terreno para o desenrolar do disco, então vem a faixa-título, concebida originalmente nos ensaios para The Miracle, com teclados e a voz de May, em um clima que lembra bastante faixas do álbum Made in Heaven, e com o refrão trazendo as marcantes vocalizações que consagraram o Queen, além de um solo característico de May.
“Love Token” é um hard furioso, com Powell e Murray mandando ver na cozinha, bem diferente do que poderíamos esperar de algo vindo do Queen. O ritmo lembra algumas bandas do hard americano oitentista, mas com todo o charme e elegância britânica advindas dos vocais e da guitarra de May, encerrando com o blues do piano e da guitarra, e levando para a melhor faixa do disco, “Ressurection”, um épico composto entre May, Powell e Jamie Page (não o do Led, mas do grupo australiano Black Alice), com uma pegada absurda por Powell, espancando a bateria, e de cara, com um magistral solo de May. Os vocais de May estão super agradáveis com a hardeira, e a guitarra é o centro das atenções junto com os teclados de Airey e a pancadaria de Powell. A faixa emerge por vocalizações sombrias, mas o ritmo incansável de Powell perdura ao longo de cinco minutos de tirar o fôlego. A sequência de solos de May é arrebatadora, e tudo encerra-se perfeitamente, em uma das melhores canções de toda a carreira de May.
Depois de toda a pancadaria, vem a clássica balada “Too Much Love Will Kill You”, com May ao piano elétrico e teclados, cantando uma canção que se tornou conhecida no mundo inteiro, provavelmente a mais conhecida do álbum, já que ele havia apresentado a mesma no Freddie Mercury Tribute Concert meses antes. O único diferencial é que aqui May faz um solo de violão, além de entoar alguns acordes de guitarra e da presença sutil de cordas. Fechando o lado A, “Driven By You”, uma faixa que retorna ao estilo Queen anos 80, e que poderia tranquilamente estar em qualquer álbum pós-Hot Space, contando com bons solos por May.
Teclados trazem “Nothin’ But Blue”, baladaça com a participação de John Deacon no baixo, mas bem diferente de qualquer balada Queen, mais próxima a um blues lento. “I’m Scared” é um rockzão com todas as características de May, mas com a pegada de Murray e Powell levando a canção para um clima muito bom. O refrão dá vontade de cantar junto. Falando em blues, “Lost Horizon” é um bluesaço para curtir em uma noite com @ amad@, um insinuante andamento da guitarra solando sobre os teclados, que transforma-se repentinamente para um solo encantador, com os teclados de Moran ao fundo, e um ritmo gostoso. Bela faixa!
“Let Your Heart Rule Your Head” é um folk que lembra muito “’39”, inclusive na melodia vocal, com a participação de backing vocals femininos a cargo de Suzie O’List e Gill O’Donovan, as quais também fazem os vocais da faixa-título, ao lado de Miriam Stockley e Maggie Ryder. A guitarra marca um pouco mais de presença em relação a faixa de A Night at the Opera, mas nada além. “Just One Life” é outra balada, com May acompanhado por apenas um violão e orquestrações, em uma faixa dedicada a Philip Sayer, encerrando com “Rollin’ Over”, um cover para essa ótima faixa do Small Faces, com participação de Chris Thompson nos vocais, e com muita guitarra estourando as caixas de som, fechando em alto estilo um belo disco a ser descoberto por fãs de Queen e de rock em geral.
May ainda lançou outros trabalhos em carreira solo, e também ao lado da atriz e vocalista Kerry Ellis. Porém, a participação de Murray, Powell e Airey em Back to the Light dá um poder tão grande para o mesmo que creio que este seja o seu melhor álbum lançado fora do Queen, e mesmo assim, parece que só eu gosto dele.
Track list
- The Dark
- Back To The Light
- Love Token
- Resurrection
- Too Much Love Will Kill You
- Driven By You
- Nothin’ But Blue
- I’m Scared
- Last Horizon
- Let Your Heart Rule Your Head
- Just One Life
- Rollin’ Over
É incrível como o timbre do Brian May é reconhecível….
Guitarra exclusiva criada pelo próprio dá nisso. E qual tua opinião sobre o disco Fernando? Queen/Sabbath hehee
Apesar de achar que o disco dá umas pequenas escorregadas nessas questões de timbres, com uso de drum machine em duas das melhores faixas do disco, Driven By You e Last Horizon (essa última, principalmente, por ser mais cadenciada, acaba soando muito com cara de ideia, sabe, quando o guitarrista gostou da ideia e gravou no PC, por falta de outros músicos), é um disco forte e que, apesar de relativamente diversificado em relação às músicas, mostrou um lado mais pesado do Brian May.
Outro destaque é a mescla das melhores músicas deste disco com músicas do Queen nos shows da turnê, em geral mais pesadas e de composição do próprio Brian May, como Tie Your Mother Down, Hammer to Fall, Headlong, Now I’m Here e We Will Rock You.
Acho que as tentativas de levar o Queen em banho-maria até 1997 foram justas, ainda mais que Made In Heaven é um belo disco, mas sou obrigado a dar razão pro John Deacon… penso sobre a qualidade do material e do artista solo que possivelmente perdemos por essa dificuldade do Brian May em desapegar do Queen.
Mesmo o Roger Taylor, que também embarcou nessas turnês recentes, lança, de tempos em tempos, algum disco solo, que nem é o caso do Outsider, que até turnê tá ganhando (com direito a Tenement Funster no setlist).
Mas, fechando o parênteses, Back To The Light é um belo disco sim. Vale a audição, sem dúvidas.
Concordo fortemente meu caro. John Deacon é o mais sensato na história toda. Abração e obrigado pelo comentário