Eduardo Marcolino – Solitude [2022]
Por Ronaldo Rodrigues
O guitarrista Eduardo Marcolino, de Niterói – RJ, já é um nome bem conhecido no meio da música instrumental de orientação progressiva. Ao longo de mais uma década, ele liderou o grupo Anxtron, que lançou dois álbuns – o primeiro, Brainstorm (2013) e o segundo Jellyfish (2017) – de competente fusion/prog instrumental e acumulou centenas de apresentações ao vivo.
Atualmente radicado em São Paulo, o guitarrista tem feito incursões como artista solo mantendo e ampliando a experiência prévia com o Anxtron. Em 2019, duas músicas foram lançadas em um compacto chamado Recorded in Texas – “Farewell” e “Skies”. São duas músicas curtas que revelam a grande elegância do guitarrista na execução, e particularmente na capacidade de condensar ideias realmente eficientes, em um estilo marcado justamente pelo oposto – a técnica fria em longos desperdícios de notas musicais.
Agora em 2022, Eduardo Marcolino traz um EP com 4 músicas, batizado de Solitude, e gravado com o apoio de seu antigo colega Gabriel Aquino, tecladista do Anxtron. A bela capa foi desenvolvida por Paulo Grua e o EP tem um detalhe curioso – todas as 4 músicas tem menos de 4 minutos. Isso reforça a tese exposta anteriormente – tudo é tratado com eficiência, o recado das músicas é dado de forma direta, sem grandes firulas. A economia de tempo das músicas mostra a grande preocupação de Eduardo como compositor e arranjador de mostrar bem a que veio com eficácia, no meio de um cotidiano urgente e da velocidade dos meios de comunicação. Tratando especificamente das músicas, a abertura do EP se dá com “MMXX”, que tem um tema forte dobrado entre as guitarras (há mais de uma camada gravada, em perfeita harmonia) e os teclados emulando um interessante arranjo de cordas. O interlúdio central da faixa traz bends expressivos e frases espertas de guitarra, que já logo trazem de volta o empolgante tema principal da música, finalizado por um belo cruzamento de guitarras sobrepostas.
“Brighter Days” tem a verve do AOR oitentista, uma seara na qual Eduardo tem bastante intimidade. O riff inicial é claramente oitentista, mas pontuado por variações de ritmo e andamento que aproximam a faixa de uma abordagem mais moderna do rock progressivo, com um clima mais reflexivo, sob o qual Eduardo entrega mais um belo solo de guitarra. “The Wind” é mais viajante e não tem bateria; um lindo dedilhado pontua os serenos acordes de teclado, na qual Eduardo vai sorrateiramente tecendo seu solo de guitarra. Tanto a base quanto os solos de “The Wind” tem timbres realmente admiráveis que não se ouvem em qualquer lugar por aí. O fechamento do EP já é mais folk/rock, no qual violão acústico e guitarra vão se alternando entre temas e solos memoráveis. A vibração rítmica do violão é pausada e substituída por um solitário acorde de piano, no qual Eduardo e sua guitarra vão se despedindo do ouvinte.
Não há desculpa para não ouvir Solitude – é um trabalho de grande qualidade, ótimo nível musical, curto e nada enfadonho, que tende a agradar um público bem mais amplo que apenas os afeitos por discos solos de guitarristas. O trabalho, bem como o compacto anteriormente citado, está disponível nas principais plataformas de streaming.
Consultoria do Rock, obrigado pela resenha e parabéns por abrirem esse espaço pra artistas independentes. Abraços!