Na Caverna da Consultoria: Marcello Zappellini

Na Caverna da Consultoria: Marcello Zappellini

Por Mairon Machado

O Na Caverna da Consultoria deste mês viaja para a Ilha da Magia, onde fomos conhecer a lindíssima coleção de Marcello Zappelllini. O professor de Floripa mostra que também tem conhecimento vasto sobre música, principalmente no rock clássico, e ainda, traz aos leitores da Consultoria uma gama de raridades de nomes como Grateful Dead e The Rolling Stones. Separe vários babadores e prepare-se para belas imagens.


Ola Marcello, tudo certo? Bem –vindo à Consultoria do Rock. Por favor, apresente-se aos leitores e obrigado por compartilhar sua paixão pela música conosco.

Eu que agradeço pela oportunidade de falar um pouco sobre a minha relação com a música! Meu nome é Marcello Zappellini, sou professor universitário em Florianópolis, leciono na Esag, da universidade estadual de Santa Catarina, nos cursos de Ciências Econômicas e de mestrado em Administração.

Estante principal (acima) e fileira de trás (abaixo)

O que vem de cara à sua mente sobre suas primeiras lembranças do começo de sua paixão pela música?

Eu tenho três irmãos: um irmão e uma irmã mais velhos, e uma mais nova. E eu me lembro muito bem de, com 6-7 anos de idade, passar as tardes ouvindo Rolling Stones com minha irmã mais velha – que eu adoro até hoje – e do meu irmão ouvindo Deep Purple, Black Sabbath, Led Zeppelin, Emerson Lake & Palmer, Pink Floyd, Nazareth… Só coisa boa! Muitas músicas eu nem sabia de quem eram, mas anos depois, ouvindo-as com amigos, eu reconheci. Mas, por anos, rock para mim era só Rolling Stones, meus amigos curtiam outras bandas e eu só os Stones. Só depois dos 15 anos que comecei a ouvir mais coisas, mais bandas – mas sempre concentrado no pessoal dos anos 60 e 70. Minha irmã mais nova também gosta de música, e adora U2 – banda que ela conheceu por minha causa. Então, acho que na família todo mundo cada um passou o bastão para o outro.

Como é constituída sua coleção? Quais as mídias predominantes em suas prateleiras e os números por favor?

Minha coleção é basicamente formada por CD – devo ter em torno de uns 3.300 títulos diferentes. Ainda tenho alguns vinis que guardei porque eram raros ou muito queridos, como um The Kids Are Alright, do The Who, com o livro de fotos e os envelopes em relevo, o Turn Off the Lights do Bernie Tormé em vinil branco, e outras guloseimas. Mas no total devo ter uns 30 LPs, cheguei a ter mais de 600. Em fita cassete não tenho nada, e em DVD devo ter uns 100 títulos. E dentre os CDs, tenho muitas boxes – adoro box sets desde que comprei Crossroads do Eric Clapton, ainda em vinil (depois vendi e comprei em CD).

A esmagadora maioria da minha coleção é formada por discos de rock dos anos 70 de bandas americanas e inglesas, sobretudo. Em seguida vêm os do rock sessentista, e em proporção bem menor, tenho dos anos 80 em diante. Tenho coleções “quase completas” de muita gente – Rolling Stones, Beatles, The Who, The Byrds, Grateful Dead, Deep Purple, Led Zeppelin, Uriah Heep, Black Sabbath, Jethro Tull, Emerson Lake & Palmer, Van Der Graaf Generator, U2, Black Crowes, Gov’t Mule, Pink Floyd, Yes, Moody Blues, Bob Dylan… Mas também tenho bastante coisa de blues e jazz – Miles Davis, John Coltrane, Chet Baker, Muddy Waters, B. B. King. Você não vai encontrar nada de música clássica – nunca tive cabeça para isso – e de MPB só tenho dois discos do Tom Jobim.

Raridades em vinil

Quais as suas rotinas e “manias” relacionadas com a sua coleção?

Em primeiro lugar, eu gosto de organizar a coleção alfabeticamente, de acordo com o nome do artista, e, dentro disso, em ordem cronológica; quando eu me encarno numa banda, gosto de ouvir tudo o que tenho dela em sequência, para ter bem aquela ideia de evolução do trabalho do grupo. Em segundo lugar, eu gosto de ouvir o disco inteiro – raramente ouço apenas algumas músicas e pulo as outras. Em terceiro lugar, eu gosto de memorizar onde está cada disco; posso até esquecer em que disco está a música que procuro, mas se eu sei qual é, vou direto nele nas prateleiras. Por fim, eu não sou muito fã de ouvir no computador: se escuto uma vez e gosto, ouço mais uma ou duas vezes, e se continuo gostando, vou atrás dela para comprar. Para um colecionador, é sempre uma emoção diferente você pegar um CD novo, tirar o plástico, abrir o livreto, botar para tocar pela primeira vez.

O que a música significa para você?

Música, para mim, é uma necessidade, como o ar, a água e a comida. Nem que seja no carro, tenho que ouvir alguma música todo dia, porque ela me transporta para algum lugar distante e especial. Ela me ajuda a me concentrar, porque sempre gostei de ouvir enquanto leio e estudo – e são duas atividades que preciso desempenhar o tempo todo, sendo professor. Além disso, ela é uma forma de aproximação: parece que a gente sempre encontra alguém que gosta do mesmo grupo ou artista que você, e aí tem um assunto para conversar. Quando tiro um tempo para só ouvir música, sem fazer mais nada, gosto de me imaginar assistindo ao show em que ela foi gravada, ou acompanhando no estúdio – já me imaginei sentado entre muitos músicos diferentes gravando suas obras-primas.

Box sets

Qual o primeiro disco que comprou e por que? Você ainda o tem?

O primeiro disco que comprei foi o LP Still Life, dos Rolling Stones, que foi um presente para a minha irmã. Eu tenho em CD numa edição australiana que acho que é pirata, pois tem oito músicas a mais e a qualidade do encarte não é muito boa. Aquele LP minha irmã guardou por anos, até que se mudou e não teve espaço para seus discos de vinil. Para mim mesmo, o primeiro LP foi o Let it Bleed, dos Rolling Stones, que pensei que tinha guardado, mas não tenho mais – estou agora no segundo CD, porque o primeiro estraguei acidentalmente, então comprei uma edição japonesa muito legal.

Qual o seu artista favorito?

Tive alguns favoritos por fases… Comecei com verdadeira adoração pelos Rolling Stones, depois tive uma fase em que o Deep Purple era minha banda favorita, depois o Uriah Heep. Mais recentemente, passei por uma fase de verdadeira adoração pelo Fairport Convention e pelo Miles Davis, e hoje em dia acho que há um “empate técnico” entre os Rolling Stones e o Grateful Dead. Os Stones estarão sempre no meu coração, mas o Dead se tornou o que eu mais coloco para ouvir atualmente.

Discografia oficial do Grateful Dead

Qual sua fase preferida das bandas?

Dos Stones é fácil: é o período entre 1968 e 1974, do Beggars Banquet até o It’s Only Rock’n’Roll. No caso do Grateful Dead, é mais difícil porque acho que toda a carreira deles tem coisa boa, especialmente nos discos ao vivo, mas arriscaria dizer que seria primeira fase, com o Pigpen na banda, e a estenderia até 1973, pelo menos: American Beauty e Live/Dead sempre estiveram na minha lista de favoritos, mas mais recentemente tenho encarado com outros olhos – ou seria ouvido com outras orelhas? – o Wake of the Flood, que está subindo muito no meu conceito, e está me fazendo reavaliar os outros discos da fase com Keith e Donna Godchaux.

O que há no som do Grateful Dead que o diferencia das demais bandas?

Em primeiro lugar, tem o fato de que a banda nunca repetia um show em termos de repertório: eles fizeram mais de 2400 concertos, e os set-lists disponíveis sempre têm algo de diferente. Em segundo lugar, eu apontaria o fato de que a mesma música pode tomar rumos bem diferentes de um show para outro: o ritmo pode ser acelerado, pode ser reduzido, os solos de guitarra do Jerry Garcia mudam de uma versão para outra. Por fim, tem outras bandas que improvisam no palco – King Crimson é a que me vem à mente como um bom exemplo – mas poucas elevaram o improviso no rock às mesmas alturas que os grandes mestres do jazz atingiam.

Boxes limitadas do Grateful Dead

A banda possui inúmeros momentos históricos ao longo de sua carreira, como a apresentação no Egito e os diversos shows com longas horas de duração. O que você considera que fez da banda um ícone tão carismático tanto musicalmente quanto visualmente.

Acho que o Grateful Dead conseguiu estabelecer uma conexão com seus fãs que a maioria das bandas nem sonha em alcançar. Eles tinham fãs que os seguiam por todos os lugares, assistiam todos os shows que podiam – e trocavam fitas piratas entre si; além disso, nos anos 80, eles “legalizaram a pirataria”, disponibilizando canais da mesa de som para quem quisesse gravar os shows. Se você pega o Internet Archive, por exemplo, tem milhares de gravações de shows do Grateful Dead para quem quiser baixar nos vários formatos. E uma coisa que acho bem legal: várias pessoas que disponibilizam essas gravações as retiram da Internet quando são lançadas oficialmente. O Grateful Dead nunca vendeu milhões de cópias; eles eram feios e esquisitos, não tinham presença cênica, não elaboravam muito o visual dos palcos, e não apareciam muito na TV. Mas quem gostava deles assistia os shows, comprava as camisetas, assinava a revista do fã-clube. E os Deadheads, pelo que leio, eram uma verdadeira família, unida pelo amor à banda. O fato de que a banda usava praticamente as mesmas roupas que os fãs e envelheceu junto com eles, sem mudar de visual, ajuda também!

Qual o disco mais raro que você tem? E qual o “arroz de festa?

Tenho algumas raridades: alguns volumes da coleção Dave’s Picks do Grateful Dead você não encontra nem no E-Bay. Algumas boxes da banda, lançados em edição limitada, também não são mais encontradas a não ser de segunda mão e a um preço elevadíssimo. Aquele vinil branco do Bernie Tormé era edição limitada, acho que não tem muitos por aí. Tenho um CD pirata do The Who em Woodstock que tinha sido produzido em 500 cópias, mas hoje se encontra facilmente por aí. Tenho o terceiro disco do Alice in Chains com caixinha roxa e verde-limão, que também não se encontra mais por aí. Tenho o disco do Blind Faith em versão com duas bônus, que foi recolhida porque não eram gravações da banda, e sim material solo do Rick Grech. Tem a box The Vintage Years, do Wishbone Ash, que saiu em edição bem limitada e esgotou rapidamente. São discos que nunca vi na coleção de ninguém…

“Arroz de festa” acho que não tenho; meu gosto musical nunca foi dos mais populares. Os discos que tenho que são mais comuns nas coleções que conheço são o Back in Black do AC/DC, o Paris do Supertramp, o Metallica, o A Night at the Opera do Queen, o quarto disco do Led Zeppelin, The Wall e Dark Side of the Moon do Pink Floyd, os discos do Iron Maiden…

 

Daves Picks, com primeira fila tendo os CDs bônus raros (acima); Discos arroz de festa (abaixo)

O que você faz questão de apresentar para quem vai visita-lo em termos musicais? E qual aquela obra que você gosta de apreciar sozinho?

Depende muito da pessoa, eu tento ver do que a pessoa gosta para colocar algo. Mas tem alguns que são fáceis. Eu me lembro de ter tocado Demons and Wizards, ainda em vinil, para várias pessoas – e todas elas compraram o LP! Ainda é a minha escolha para quem não conhece e manifesta interesse. Mas um disco que tenho feito questão de apresentar para quem me visita é o Argus, do Wishbone Ash, que nunca deixa de agradar a todos.

Bob Dylan, Fairport Convention, Grateful Dead e Frank Zappa são artistas que normalmente gosto de ouvir sozinho. O Dylan eu prefiro ouvir sozinho porque gosto de prestar atenção nas letras e nem todo mundo gosta da voz dele. Fairport e o Dead são bandas que a maioria das pessoas, quando ouve pela primeira vez, não gosta muito, então evito tocá-los para os outros. Já o Zappa, por sua vez, é bizarro demais para a maioria dos ouvidos, então prefiro ouvir sozinho – mas confesso que faz tempo que não ouço os discos que tenho dele.

Qual a maior quantidade de itens que você comprou de uma vez só?

Cheguei a comprar dez CDs de uma vez só em algumas ocasiões, mas não mais do que isso. Mesmo encomendando pela Internet, nunca cheguei a comprar muitos títulos de uma vez só, acho que o máximo é oito. Falando assim, parece muito para várias pessoas, mas vejo nas entrevistas anteriores que tem pessoas que compraram vinte, trinta títulos de uma vez só. Se considerar a quantidade de CDs numa box, então a do Wishbone Ash e algumas do Grateful Dead têm mais de vinte discos e seriam o maior número de discos comprados de uma vez só.

Coleção dos Rolling Stones

Você chegou a pegar a mudança de LP para CD? Se sim, o que você pode contar aos leitores mais jovens sobre esse período?

Sim, peguei esta fase. Alguns amigos meus compraram CD player antes de mim, e eu ficava maravilhado com a pureza do som. O vinil brasileiro sempre teve muitos problemas de fabricação e prensagem, então mesmo discos novos tinham estalos ou chiados, mas o CD não tinha esse problema. Minha irmã comprou um system (acho que da Gradiente) com CD player em 1991, e na loja deram a ela algumas opções de CD para escolher como brinde, e ela optou pelo Wish You Were Here do Pink Floyd. Nossa, a gente quase furou o disquinho de tanto ouvir. Eu não me lembro qual foi o primeiro CD que comprei, mas naquele mesmo ano eu adquiri o “Catfish Rising” do Jethro Tull e o “Metallica” – o Black Album – importados, custaram uma nota para mim, e os tenho até hoje, junto com dois discos que comprei numa promoção das Americanas – Afterburner, do ZZ Top, e Rides Again, da James Gang. São os mais antigos que me lembro de ter comprado. Minha irmã caçula, que tinha ido para a Disney como presente pelos seus 15 anos, trouxe-me Rock of Ages, do The Band, Flying in a Blue Dream, do Joe Satriani, e Who’s Next, do The Who. São os mais antigos que me lembro.

O período de transição foi complicado, porque o CD custava muito caro no Brasil, e não era muito fácil de obter em Florianópolis, onde sempre morei. Por isso, durante algum tempo, eu comprei bastante vinil – e como tinha um sebo excelente, comprei vários LPs antigos. A maioria acabei substituindo depois por CD. Outro problema, mas esse sempre foi recorrente no Brasil: muitos lançamentos bons não tinham edição aqui, e os CDs que me interessavam eram difíceis de achar, como mencionei, até que duas lojas locais começaram a vender CD importado. Aí a minha coleção deu um salto quantitativo! Posteriormente, o CD barateou, inclusive o importado, e eu fui ampliando a coleção. Mas guardei os vinis por muito tempo, até que não tinha mais onde mantê-los – e até hoje não tenho nenhum aparelho para tocá-los. Presenteei uma amiga que queria montar um mural, e escolheu os discos pela beleza das capas, e dois outros amigos que escolheram os seus favoritos, porque ainda tinham o aparelho.

Você já se desfez de algum disco e se arrependeu depois? Qual?

Sim. No final de 1985, eu comprei Live After Death, do Iron Maiden, e ouvi tantas vezes que acabei enjoando! Uns dois anos depois, um amigo meu se queixou que não conseguia encontrar o LP, e eu vendi para ele. Depois comprei o CD e fiquei me perguntando por que tinha ficado tanto tempo sem!

Coleção dos Stones (acima) e os que começaram tudo (abaixo)

Você costuma ir a muitos shows? Quais os mais marcantes positiva e negativamente?

Morar em Florianópolis faz com que, na maioria das vezes, para assistir um show, eu tenha que viajar. Assim, fui muito a Porto Alegre e algumas vezes a Curitiba e São Paulo para assistir. Meus shows mais marcantes:

Rolling Stones no Maracanã, em 1995: primeira vez que assistia a banda ao vivo, fui com dois amigos. Quando terminou, comentei com eles: agora posso morrer feliz, já vi os Stones ao vivo;

Jethro Tull no Gigantinho em 1988: o primeiro show que viajei para assistir, o único que assisti deles;

Uriah Heep em Curitiba em 2014: fui com irmão, cunhada e esposa para um clubinho minúsculo. Assisti a banda tocar quase do meu lado!

Crosby, Stills & Nash em Belo Horizonte, em 2012: quase três horas de show com uma banda sensacional e Crosby cantando como se tivesse 25 anos de idade. Sensacional!

Há um show que me traz boas e más memórias: Rolling Stones na Praça da Apoteose em 1998; a boa (ótima) é Dylan cantando “Like a Rolling Stone” com eles, a má era um Ronnie Wood emburrado, que tocava sentado, às vezes de costas para o público, porque suas pinturas tinham sido criticadas na imprensa brasileira; faltou profissionalismo para o velho Woody!

A memória negativa para mim fica por conta de um show do Glenn Hughes, aqui em Florianópolis, num bar bem famoso na época, mas com uma acústica muito ruim. Já tinha visto ele antes e o show tinha sido sensacional, mas dessa vez não funcionou. E uma que não chega a ser uma memória ruim: assisti o Kiss, também em Floripa, mas comprei o ingresso errado e não consegui ver muita coisa, fiquei na lateral e não vi quase nada do palco. O show foi bom, mas não vi direito, só ouvi… E não dá para perder o visual num show do Kiss.

E quais os artistas que você teve contato que você mais curtiu de trocar uma ideia?

Nunca tive contato pessoal com nenhum… As oportunidades nunca apareceram nesse sentido, então não tive a chance de conversar com nenhum dos meus músicos favoritos. Naquele show do Uriah Heep, acho que teria conseguido conversar com o Dave Rimmer, se tivesse surgido a oportunidade; eu estava bem perto dele.

Boxes do UFO

Como você faz para se atualizar sobre música?

Durante muito tempo eu lia revistas especializadas, mas atualmente eu me informo via Internet. Tem vários sites que eu sigo: aqui no Brasil tem a própria Consultoria, tem o Collector’s Room, o Tenho Mais Discos Que Amigos!, e no exterior gosto muito do Second Disc, do Ultimate Classic Rock, do Louder, do ProgArchives. E sigo muitos dos meus favoritos no Instagram (não uso mais Facebook), o que sempre ajuda a se atualizar. Gosto muito de ler, então adoro ler livros sobre meus músicos favoritos; recentemente terminei de ler a autobiografia do Roger Daltrey, que recomendo muito.

Qual sua opinião sobre o atual mercado fonográfico e sobre o consumo de música nos dias atuais?

O mercado fonográfico, em especial o brasileiro, parece-me num beco sem saída; muitos lançamentos e reedições não chegam aqui, e quando chegam é em edições muito limitadas, e se você perde a chance, vai acabar tendo que cair no importado – que é muito caro!! As pessoas preferem a comodidade de ouvir no celular, coisa que eu faço o mínimo possível; particularmente, não gosto muito de ouvir música na Internet, normalmente ouço música em CD. Reconheço que é mais cômodo ouvir música pelo Spotify, por exemplo, mas não é minha escolha. É uma pena que muita gente só esteja ouvindo a música e não conheça as capas, os encartes… Essa é uma emoção do colecionador que muitas pessoas não experimentam.

Coleção do Bob Dylan

Quais os dez melhores discos da década de 60?

Pedir isso para um sujeito que adora fazer listas é até sacanagem – eu tenho uma lista dos meus 500 discos favoritos, por exemplo. O problema é que volta e meia ela muda. Mas, vamos lá para os meus favoritos atuais

Let it Bleed – Rolling Stones

Beggar’s Banquet – Rolling Stones

Revolver – The Beatles

Blonde on Blonde – Bob Dylan

Live/Dead – Grateful Dead

A Salty Dog – Procol Harum

Abbey Road – The Beatles

Truth – Jeff Beck

Electric Ladyland – Jimi Hendrix

Crosby, Stills & Nash – Crosby, Stills & Nash

Quais os dez melhores discos da década de 70?

Machine Head – Deep Purple

American Beauty – Grateful Dead

Sticky Fingers – The Rolling Stones

Argus – Wishbone Ash

Paranoid – Black Sabbath

Demons and Wizards – Uriah Heep

Who’s Next – The Who

Europe ’72 – Grateful Dead

Exile on Main Street – Rolling Stones

Physical Grafitti – Led Zeppelin

Bob Dylan Bootleg Series

Quais os dez melhores discos da década de 80?

Tatto You – Rolling Stones

Back in Black – AC/DC

The Number of the Beast – Iron Maiden

In the Dark – Grateful Dead

Heaven and Hell – Black Sabbath

The Joshua Tree – U2

Love – The Cult

Holy Diver – Dio

Crusader – Saxon

Now and Zen – Robert Plant

Quais os dez melhores discos da década de 90?

Aqui já começa a ficar mais difícil para mim, mas tem coisa boa para citar:

Sea of Light – Uriah Heep

Ten – Pearl Jam

Time Out of Mind – Bob Dylan

Dirt – Alice in Chains

Voodoo Lounge – Rolling Stones

The Southern Harmony and Musical Companion – Black Crowes

Psalm 69 – Ministry

Sweet Oblivion – Screaming Trees

Purpendicular – Deep Purple

Mexican Moon – Concrete Blonde

Boxes do Black Sabbath

Quais os dez melhores discos da década de 2000?

The Devil You Know – Heaven and Hell

Back to Black – Amy Winehouse

Fear of a Blank Planet – Porcupine Tree

War Paint – Black Crowes

The Power to Believe – King Crimson

Prairie Wind – Neil Young

Black Holes and Revelation – Muse

Love and Theft – Bob Dylan

A Bigger Bang – Rolling Stones

Present – Van Der Graaf Generator

Quais os dez melhores discos da década passada?

The Next Day – David Bowie

Black Country Communion – Black Country Communion

Lady in Gold – Blues Pills

13 – Black Sabbath

Now What!? – Deep Purple

Lightning Bolt – Pearl Jam

Don’t Explain – Beth Hart & Joe Bonamassa

El Camino – Black Keys

Blue Horizon – Wishbone Ash

Drones – Muse

Box limitado do Wishbone Ash

Quais os dez discos que você levaria para uma ilha deserta?

Eu acho que só levaria um disco de cada banda, então seria:

American Beauty – Grateful Dead

Made in Japan – Deep Purple

Let it Bleed – Rolling Stones

Argus – Wishbone Ash

Paranoid – Black Sabbath

Demons and Wizards – Uriah Heep

Physical Graffiti – Led Zeppelin

Blood on the Tracks – Bob Dylan

Who’s Next – The Who

Yessongs – Yes

Quais suas últimas aquisições?

Comprei dois ao vivo do WIihbone Ash (Glasgow 77 e Portsmouth 80), que vi à venda e não conhecia; como os shows dessas turnês que eu já ouvi são uniformemente bons, decidi adquirir. Também comprei o Moontan do Golden Earring, que já gostava bastante, mas não tinha o CD.

Últimas aquisições

Indique três lojas/sites para os colecionadores continuarem a aumentar suas coleções, e o porquê das mesmas.

Aqui em Florianópolis tem uma loja bem legal que é a Roots Records, que foi responsável por muita coisa da minha coleção. Vale a pena conhecer, porque tem discos novos, usados, algumas raridades e, para quem tem o aparelho, um bom acervo de LPs. Tenho comprado bastante pelo Mercado Livre; se você pesquisa bem encontra coisa muito boa a preços aceitáveis – às vezes parece que o vendedor não tem consciência da preciosidade que tem em mãos. Também gosto muito da CDPoint, loja virtual que tem um excelente acervo de discos importados, e nunca me deixou na mão; às vezes os preços são meio altos, os prazos de entrega são meio demorados, mas é boa opção.

Que bandas atuais você indica para nossos leitores conhecerem?

Eu meio que parei no tempo. Ainda estou muito preso aos anos 60 e 70. Bandas que estão na ativa e surgiram neste século e eu gostei bastante são o Blues Pills, o Greta Van Fleet e o Winery Dogs. Só banda com som de antiga…

Indique três discos que mudaram sua vida, e conte o porquê?

Gimme Shelter, coletânea dos Rolling Stones, que minha irmã comprou do meu irmão e é minha memória mais antiga na música. Ele começou a jornada. Tenho uma edição pirata francesa dele!

Made in Japan, do Deep Purple. Matei a aula de Educação Física na escola para comprar, e levei uma bronca porque minha mãe descobriu. Depois tomei uma bronca do meu irmão por ter comprado esse disco e não ter falado para ele!

Discos que mudaram a vida do entrevistado

American Beauty, do Grateful Dead. Já tinha comprado outros discos deles, mas nenhum tinha me transformado num fã da banda. E este me fez pensar: “um dia ainda terei todos os discos deles”. Nunca vou chegar nisso, mas posso continuar tentando…

A sua coleção tem fim? Chegará um dia onde você vai olhar e dizer “tenho todos os álbuns que preciso” ou isso não existe para nenhum colecionador?

Acho que um colecionador tem alguns limites possíveis: ficar sem dinheiro, ficar sem ter onde ouvir, ficar sem espaço em casa. Aí a coleção acaba; mas se for pensar bem, não tem fim nunca, porque você conhece algo novo, gosta e vai atrás, e acaba sacrificando alguma coisa. Lançamentos de arquivo sempre aumentam sua coleção. Acho que quem realmente gosta de colecionar sempre acaba ampliando os horizontes. Eu adoro Stones e o Dead, como falei, mas não tenho os discos solo dos integrantes, por exemplo.

Conte para nós algo curioso que você passou ou vivenciou relacionado com um item de sua coleção, ou um artista que você teve contato, enfim, algo que aconteceu por conta da sua paixão pela música

Uma vez eu comprei quatro dos cinco últimos números de uma rifa que um amigo estava vendendo para ajudar na formatura do irmão dele. O prêmio era um lote de LPs; saiu exatamente o único número que não comprei porque não tinha dinheiro! Meu amigo depois me vendeu alguns dos LPs do lote porque ele já tinha. Dá para acreditar no meu azar?

Muito obrigar por participar de nossa Caverna. Fique à vontade, este espaço é seu.

Mais uma vez, eu que agradeço a oportunidade! Quem ouve rock acaba virando colecionador, seja de LP, CD ou MP3, FLAC, ALAC, qualquer formato… Se você está em dúvida se começa a colecionar ou não, leia as outras entrevistas da “Caverna” – você vai acabar se inspirando. No mais, ainda que digam o contrário, Neil Young tinha razão: rock’n’roll will never die.

12 comentários sobre “Na Caverna da Consultoria: Marcello Zappellini

  1. Belíssima coleção, principalmente do Dead que é um dos preferidos por aqui tb. Fiquei impressionado com os seus box da banda e os raríssimos Dave’s Picks, são lindos. Eu tenho os box Sunshine Daydream, The Golden Road e Beyond Description, esses últimos são basicamente a discografia de estúdio com alguns clássicos ao vivo. Ambos com uma qualidade excelente por sinal. Eu particularmente adoro a fase dos anos 70 e 80 tanto qto a primeira fase que geralmente é a mais reverenciada, álbuns como Wake of the Flood, From the Mars Hotel, Blues for Allah e Terrapin Station são todos clássicos maravilhosos. Enfim, parabéns pela coleção e entrevista.

    1. Obrigado, Tiago! A Golden Road e a Beyond Description eram meus sonhos de consumo, mas acabou sendo mais fácil comprar os discos individualmente! As boxes do Dead são verdadeiras obras-primas!!

  2. Coleção fantástica. Babei em cada uma das imagens. Esse box do Wishbone Ash é daqueles tesouros que eu sonho em ter. Essa série Dave’s Picks é espetacular, e cara, os boxes do Sabbath!!!! Tudo incrível. Valeu Marcello, parabéns pela coleção

    1. Sou o irmão do Marcello e um dos “culpados” pelo gosto musical. Parabéns pela coleção. Realmente tem peças fantásticas.

      1. Brother na área!! Um dos responsáveis por dar o “pontapé inicial” na minha jornada na música!

    2. Caramba…antes de ler a entrevista fui olhas as fotos e de cara o que me chamou a atenção foi esse box do Wishbone Ash… Aí ele comenta que ele é raro e fiquei desanimado.

      1. Pois é, Fernando… Lembro que vi o anúncio da box, e comprei em pré-venda – demorou seis meses para sair e mais um para chegar aqui. Foram 2500 unidades, às vezes me pego imaginando quantas vieram para o Brasil!

      2. Marcello, por ser professor vc tem contato com um monte de gente diferente. Vc chegou a falar da sua coleção para os alunos em algum momento? Eles sabem desse seu outro lado? hehehehe. E se sim, qual é o retorno e nível de interesse que eles tem sobre isso?

    3. Obrigado, Mairon! Para mim o box do Wishbone Ash é um modelo a ser seguido!! É pena que não consegui continuar a Dave’s Picks, estava enfrentando muitos problemas com a entrega pelos correios, mas um dia consigo o resto, nem que seja pelo EBay.

  3. Fernando, já dei aula com camiseta do Motorhead debaixo da jaqueta, hehehe… A maioria dos alunos não sabe desse lado, e quando descobre acha estranho! E sempre aparece alguém que curte bastante e se interessa; recentemente tive uma boa conversa sobre o Iron Maiden com um aluno da Universidade!

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