Tralhas do Porão: Bubble Puppy & Demian
Por Ronaldo Rodrigues
Os protagonistas da nossa seção de tralhas sonoras vem do Texas, mais especificamente da cidade de San Antonio, uma cidade grande e importante na região. Ali, dois adolescentes – Rod Prince (guitarra e vocal) e Roy Cox (baixo) – formaram o embrião do que seria o Bubble Puppy em 1966. Os dois eram bastante talentosos assim como seus demais companheiros – Todd Porter (guitarra), Clayton Pulley (bateria) e Danny Segovia (vocal) – que se esforçavam bastante para posicionar bem a banda na concorrida cena de rock do Texas na época. Em 1968, o Bubble Puppy abriu um show do The Who na área, o que era um feito e tanto.
Pouco tempo depois desse show, o Bubble Puppy foi reformulado, com a entrada de um novo baterista e a saída do vocalista Danny Segovia. Para a bateria, um outro amigo de Rod Prince foi convidado – David Fore. A banda estava baseada em Austin e, agora convertida em quarteto estava pronta para um novo vôo. A rotina da banda envolvia curtição durante o dia e ensaios que varavam a madrugada inteira. Poucos meses depois do ingresso de David Fore, e por intermédio do cunhado deste, a banda conseguiu um contrato com um selo local chamado International Artists Records. Todos ficaram bastante empolgados e tudo acontecia muito rápido. Um show de abertura para os Chambers Brothers foi a primeira experiência do Bubble Puppy em um palco grande para uma grande audiência. Com sorte, essa ocasião não foi a única e outros bons momentos em shows grandes aconteciam.
A banda então foi para um estúdio para gravar o material que vinha tocando nos palcos. Sob a batuta de Ray Rush (que havia trabalhado com Roy Orbison), o material foi registrado no estúdio Gold Star, tendo a banda um bom grau de liberdade na escolha do repertório e dos arranjos. Esse processo aconteceu entre o fim de 1968 e início de 1969. O primeiro compacto da banda, tendo as canções “Lonely”/“Hot Smoke and Sasafrass” foi lançado ainda no fim de 68 e o lado B chegou nas paradas locais em vários estados, alcançado o número 14 da parada da Billboard. Tudo isso animou ainda mais a banda, que tinha ficado satisfeita com o resultado obtido em estúdio. “Hot Smoke” era um sucesso autenticamente rockeiro, uma música rápida e direto ao ponto.
O disco chegou ao mercado em maio de 1969, intitulado como A Gathering of Promises e estima-se que cerca de 500.000 cópias. O disco tinha o DNA da época – guitarras ardidas, harmonias vocais e aquela empolgação adolescente contagiante. A maturidade instrumental do grupo ficava bastante clara em faixas como “Todd’s Tune”, “I’ve Got to Reach You” e “Road to St. Stephens”; havia uma clara preferência por uma musicalidade mais sofisticada do que pela catarse aleatória das guitarras fuzz.
A banda abriu shows para o Steppenwolf, Spirit, The Grass Roots e Canned Heat. Apesar de todo o resultado positivo e dos esforços da gravadora, a banda tinha impressão de que a International Artists não sabia muito o que fazer para de fato capitalizar os bons resultados que a banda vinha obtendo. Especial incômodo havia com relação a contabilidade de discos e compactos vendidos. E esse foi um dos motivos do Bubble Puppy romper com a International Artists. Outras duas coisas contribuíram para essa decisão – o baixista do Steppenwolf, Nick St. Nicholas, se ofereceu para ser o manager da banda e sugeriu para a banda se mudar para a California.
Nessa época, mantendo a mesma formação de quarteto, o grupo se renomeou como Demian e ali passaram a tocar em alguns dos clubes mais descolados de Los Angeles. Não tardou para que o Demian conseguisse um novo contrato, dessa vez com a ABC Dunhill Records, que produzia tanto apostas do rock psicodélico, quanto nomes bem consolidados do rock e do blues da época. O primeiro single do Demian foi “Face in the Crowd”/”Love People”, lançado em 1970 e o lado A – um rock n’ roll empolgante e bem tocado – foi um pequeno sucesso local, mas que não chegou a arranhar as paradas oficiais.
O álbum completo seria gravado nos meses seguintes, e para tal a banda entraria no prestigiado Record Plant em LA e produzido por Bill Szymczyk (produtor do James Gang, Eagles, etc.), em sessões de madrugada. O álbum intitulado é um pequeno tesouro a ser descoberto – rock clássico na melhor acepção do termo, com guitarras cativantes, acompanhamento preciso, bons vocais e composições marcantes. O instrumental estava ainda mais azeitado do que na época do Bubble Puppy. “Windy City” tem um groove irresistível; em “Coming” as guitarras fervem pra valer; “Todd’s Tune” dá as caras novamente em uma versão melhorada e “No More Tendernesse” tem uma pegada meio parecido com esta última. “Only a Loner” encerra o álbum a mil por hora.
A coisa seguia mais ou menos na mesma toada, mas com uma escala de sucesso e reconhecimento um pouco menor do que no Texas. Na California, a concorrência de bandas era bem maior do que no Texas e também os investimentos das gravadoras eram vultuosos para manter as bandas em evidência. Na tentativa de melhorar o quadro, a ABC tentou interferir no processo de concepção do segundo álbum do Demian, mas isso acabou gerando a implosão do Demian – Todd Porter e Roy Cox se estressaram com a situação toda, dizendo que a banda não precisava de um selo e voltaram para o Texas. Rod Prince e David Fore ficaram na California tentando manter o Demian ativo (e a banda continua ativa), mas o grupo perdeu a oportunidade de atingir um público mais significativo, recolhendo-se ao underground. Em 1986, lançaram um novo disco e tiveram diversas formações capitaneadas pelos dois membros originais, tocando eventualmente até os dias de hoje.
Gosto muito do Damien! Junto com o Marcus e o Bedlam, é uma das bandas de hard e heavy que mais gosto dos anos 1970
Mas eu procurei em diversos sites o nome e informações desse disco lançado em 1986, e não encontrei nada. Você tem mais informações? Quero ir atrás de ouvir isso.
Legal, Renato! então, eu vi essa informação em uma entrevista dada pelo baterista e no Rateyourmusic.com também consta, mas como um trabalho do Bubble Puppy, não como Demian. O nome do álbum é Wheels Go Round.
Show! Esse eu tinha encontrado. Tem o “Full Album” no YouTube.
Depois vou ouvir com calma… o pouco que ouvi me parece aquele rock trilha sonora, típico dos anos 80. Me lembrou Huey Lewis rs.
Grande Abraço!