Discografias Comentadas: Fleetwood Mac [Parte III]
Por Marcello Zapelini
A década de maior sucesso do Fleetwood Mac chegava ao fim. Os cinco músicos iriam, pela primeira vez na história, repetir uma formação por três discos consecutivos! Mal sabiam eles que as coisas não seriam muito fáceis. A terceira parte da Discografia Comentada do Fleetwood Mac abrange mais de 40 anos de história, marcada por sucessos, problemas, uma volta por cima, e pela dificuldade de manter a banda coesa.
Tusk [1979]
As sessões de gravação de Tusk duraram quase um ano, e foram capitaneadas por Lindsey Buckingham (a ponto de ele receber crédito à parte na produção, assinada pelo grupo e pela dupla Ken Caillat e Richard Dashut), que gravou parte das músicas praticamente a solo em seu estúdio caseiro, com overdubs dos demais. Mas três delas (“The Ledge”, “Save me a Place” e “That’s Enough for Me”) são gravações solo com Lindsey tocando todos os instrumentos. O álbum duplo custou aproximadamente US$ 1,4 milhão (dólares de 1979!!) para ser gravado, e, de acordo com Mick, quase o mesmo tanto em cocaína. Tusk apresenta vinte músicas em mais de 70 minutos, nove das quais escritas por Lindsey. Christine compôs outras seis e Stevie, mais cinco. Em minha opinião, as duas garotas deram um show no guitarrista, pois suas músicas são melhores do que as dele! Buckingham estava preocupado com a ascensão da new wave; o movimento punk não prejudicara a banda, mas, para ele, a nova sonoridade de bandas como Talking Heads, The Cars, Blondie e semelhantes significava um desafio a grupos antigos como o seu, e por isso ele queria ser criativo, diferente, inventivo. Mick Fleetwood confiou no taco e deu-lhe liberdade. Mas, e quanto às músicas? Vou colocar os destaques para mim: “Over and Over”, de Christine, abre o disco com uma balada melodiosa e cativante. A faixa título, de Buckingham, deriva de uma vinheta instrumental que abria os shows da turnê de Rumours, e traz a banda da University of Southern California; no clip da música, gravado em um estádio, Mick e Christine carregam um John McVie impresso em cartão em tamanho natural (o baixista tinha saído para velejar e aproveitar as férias), e Stevie dá um show à parte com uma baliza. A vocalista estava inspirada, pois “Sisters of the Moon”, “Angel” e “Storms” estão entre as melhores músicas do álbum. “Never Forget” e “Never Make me Cry”, de Christine, também se destacam. Já Lindsey vai do genial (a faixa-título) ao ridículo (“What Makes You Feel You’re the One?”), passando pelo simplesmente tolo (“Not That Funny”); no geral, o guitarrista se destaca por “Walk a Thin Line” e “Save me a Place”. Por fim, menciona-se a presença de Peter Green na guitarra em “Brown Eyes”, de Christine, mas seu trabalho passa quase desapercebido e a música é a mais fraca dentre as da tecladista. Embora tenha vendido respeitáveis quatro milhões de cópias só nos EUA, o relativo fracasso comercial de Tusk (4º lugar nos EUA, mas 1º na Inglaterra) abalou um pouco o Mac (ainda que, vendido a preço cheio, o álbum tenha gerado lucros para todos); a crítica, inicialmente dividida em relação ao álbum, posteriormente iria considerá-lo um dos melhores discos do grupo, perdendo apenas para Rumours.
Para promovê-lo, a banda embarcou em uma turnê mundial de cerca de um ano de duração, que renderia o seu primeiro disco ao vivo oficial. A nota cômica: Mick encomendou um balão em formato de pinguim que deveria sobrevoar o público nos shows. Num desses shows, o pinguim se recusava a decolar, e o pai de Mick, que estava no backstage, perguntou ao filho se ele sabia que pinguins não voam…
Fleetwood Mac Live [1980]
O álbum duplo traz 18 músicas extraídas de 11 shows diferentes, e, embora esteja associado à turnê de Tusk, a versão para “Don’t Let Me Down Again”, do LP Buckingham Nicks, foi gravada na turnê de Fleetwood Mac em 1975; “Dreams” e “Don’t Stop” foram gravadas no soundcheck do show de Paris, e três músicas, “Fireflies”, “One More Night” e “The Farmer’s Daughter”, de Brian Wilson, em uma performance intimista para amigos e roadies no Santa Monica Civic Auditorium em março de 1980. No todo, o disco traz quatro músicas não lançadas pelo Mac anteriormente. Em 2021, Live recebeu uma edição Super Deluxe com um terceiro CD contendo 14 músicas adicionais gravadas ao vivo entre 1977 e 1982, mais as demos de Christine e Stevie para “One More Night” e “Fireflies” (que também aparece em versão remixada), bem como o LP duplo original devidamente remasterizado.
Live mostra que essa formação do Fleetwood Mac, apesar dos excessos (Mick e Stevie estavam consumindo cocaína em escala industrial!), estava muito bem integrada e sabia como apresentar um bom show. “Monday Morning”, “Dreams”, “Oh Well”, “Landslide”, “Rhiannon”, “Go Your Own Way”, “Don’t Stop”, todas aparecem em versões que rivalizam em qualidade com as originais de estúdio. No meu ponto de vista, “Not That Funny”, que já não era lá essas coisas em Tusk, é a nota destoante. Por outro lado, Buckingham dá um show em “I’m So Afraid” e mostra-se à altura da herança de Peter Green na versão de “Oh Well”, Stevie emociona mais uma vez em “Landslide”, acompanhada somente por Lindsey no violão, além de mostrar toda a potência de sua voz na coda de “Rhiannon”, e a harmonia vocal da banda é perfeita em “The Farmer’s Daughter”. Christine, John e Mick são seguros como sempre, mantendo a banda em alto nível. O álbum recebeu disco de ouro tanto na Inglaterra quanto nos EUA já no lançamento, mas a performance comercial não foi lá essas coisas, se considerarmos sucessos avassaladores quanto o disco de 1975 e Rumours.
Após mais de 100 shows em um ano, a banda estava esgotada e Live deu aos músicos um descanso merecido. Mick Fleetwood viajou para Gana para gravar com músicos africanos, o que rendeu seu álbum solo The Visitor. Lindsey Buckingham também gravou seu primeiro disco-solo, Law and Order, que atingiu o 32º lugar na parada americana, tendo participações de Christine e Mick em duas músicas (mas de resto, o guitarrista gravou quase todos os instrumentos). Stevie Nicks foi a mais bem-sucedida: lançou Bella Donna, que liderou a parada americana e se manteve nos charts por três anos. O álbum conta com vários músicos conhecidos, e tem as participações de Tom Petty & The Heartbreakers e Don Henley.
Mirage [1982]
O Fleetwood Mac reapareceria em 1982 com este álbum; Lindsey e Stevie, que estavam mais focados em suas carreiras solo, concordaram que valeria a pena gravar o quarto álbum de estúdio dessa formação. Pesou o fato de que o velho chefe Mick Fleetwood estava passando por dificuldades financeiras, causadas pelo estilo extravagante de vida e pelas despesas com a gravação de seu comercialmente fracassado álbum solo. Mirage seguiu a tradição de não apresentar a banda completa na capa, que traz Christine, Lindsey e Stevie – Mick e John aparecem apenas na contracapa. O disco, bem mais comercial que Tusk, é para mim o mais fraco que da formação clássica, especialmente porque lhe falta a espontaneidade de Tusk e as melodias são menos atraentes do que as do álbum de 75 e de Rumours. Stevie Nicks escreveu três músicas para o disco, “Gypsy” (a melhor do álbum, na minha opinião, com um riff insistente e belo vocal da cigana/feiticeira Nicks), a delicada “That’s Alright” e “Straight Back”, todas boas músicas, indicando que mais uma vez a vocalista estava inspirada nesse período. Christine escreveu a bela faixa de abertura, “Love in Store”, bem como “Only Over You” (outra balada pop certeira), a animada “Hold Me” e “Wish You Were Here”, parceria com Collin Allen (ex-integrante dos Bluesbreakers e do Stone The Crows). Lindsey foi responsável pelas outras cinco, destacando-se em “Can’t Go Back” (em que sua voz soa bem diferente), “Book of Love” e “Eyes of the World” (ambas com bons solos no final). O álbum foi remasterizado e relançado em versão Deluxe em 2016, com três CDs, um DVD-audio e um LP; apesar das minhas críticas a Mirage, essa edição é muito boa, pois o disco com outtakes e versões alternativas acrescenta muito ao original e o terceiro CD, gravado ao vivo no Los Angeles Forum em 1982, é excelente – apesar de a voz de Stevie não estar das melhores. Mirage foi outro grande sucesso, como atestam o 1º lugar nos EUA e o 5º na parada britânica.
Como Stevie e Lindsey queriam retomar suas carreiras solo, a banda fez apenas 32 shows nos EUA ao longo de dois meses, dois dos quais foram filmados e lançados em VHS. No entanto, o vídeo traz pouco mais de 60% dos shows, que duravam em torno de 135 minutos. Ainda assim, é válido para quem quer um registro dessa formação do Mac em seus tempos dourados; esgotado por décadas, o vídeo seria lançado em DVD somente no Brasil no começo do século XXI, em edição pirata e, posteriormente, no resto do mundo. A banda entrou em um longo hiato, interrompido somente em 1987.
Christine lançou em 1984 seu homônimo disco-solo, que atingiu algum sucesso (26º lugar nos EUA) e conta com as participações especiais de Steve Winwood nos teclados e vocais em algumas músicas (além de coautor de “Ask Anybody”), Eric Clapton (guitarra solo em “The Challenge”), bem como de Lindsey e Mick; Stevie saiu-se com “The Wild Heart” (5º lugar nos EUA) em 1983 e “Rock a Little” (12º na parada americana), com direito a turnês solo para divulgá-los. Lindsey gravou Go Insane em 1984, tocando praticamente todos os instrumentos sozinho, mas acabou sendo o menos bem-sucedido dos três, atingindo apenas o 45º lugar nos EUA. Em 1983, Mick lançou I’m Not Me, creditado ao Mick Fleetwood’s Zoo, que contava com Billy Burnette, que viria a integrar o Fleetwood Mac, e incluindo participações especiais de Christine e Lindsey.
Tango in the Night [1987]
De acordo com Mick Fleetwood, Tango in the Night é uma espécie de presente de despedida de Lindsey. Embora já estivesse totalmente direcionado para sua carreira solo, o músico pediu aos velhos colegas de banda para que se juntassem para a gravação de um novo LP, o quinto disco de estúdio da formação de maior sucesso de sua história. E o resultado foi mais um álbum de sucesso, como atesta o 7º lugar na parada da Billboard e a liderança da britânica (mais de três milhões de cópias vendidas nos EUA e 2,4 milhões na Inglaterra). O álbum demorou 18 meses para ser gravado, entre 1985 e seu lançamento, tendo eventualmente começado como o terceiro disco-solo de Lindsey. Stevie Nicks estava particularmente desinteressada do projeto e revelou em entrevista que não estava motivada, ainda que tivesse enviado demos para os colegas. Tendo passado um período na clínica de Betty Ford para se livrar do vício em cocaína, ela gravou boa parte de seus vocais alcoolizada, o que fez com que Lindsey apagasse várias de suas contribuições. Ainda assim, a moça assinou a melhor música do disco: “Seven Wonders”, uma verdadeira pérola, com um vocal que passa do suave ao enfático e um arranjo instrumental bem elaborado. Minha segunda preferida do disco, a tensa “Big Love”, é a faixa de abertura, escrita por Lindsey; na sequência, a terceira melhor música, “Everywhere”, outra baladinha pop certeira de Christine. Nesse momento o fã está em êxtase – mas o que vem a seguir não segura o nível das três primeiras, embora esteja longe de ruim na maior parte. A percussão eletrônica de Buckingham em “Caroline” nos lembra que o disco é de 1987, e afunda uma música que já não era muito atraente de cara. Tango in the Night, outra de Lindsey, também é prejudicada pelo excesso de eletrônica no arranjo, mas traz um bom solo de guitarra. A parceria entre ele e Christine funciona em “Mystified”, doce balada que encerra o lado A do disco. A tecladista assina “Little Lies”, que seria o single de maior sucesso do álbum, e traz um belo arranjo vocal. Na sequência, “Family Man”, de Buckingham, outro single que, embora tenha feito menos sucesso, é outra boa música que gruda nos ouvidos. Nas demais músicas, temos Stevie narrando sua experiência na rehab em “Welcome to the Room, Sara” e, posteriormente, em “When I See You Again”, uma de suas músicas mais fracas na época do Mac, teve seu vocal “construído” por Buckingham a partir de múltiplos takes, já que ele não se satisfazia com nenhuma versão completa. Christine assina mais duas em parceria com Lindsey, “Isn’t it Midnight” (com guitarras surpreendentemente pesadas) e “You and I Part II”.
Lindsey não quis sair em turnê, deixando a banda logo depois do lançamento do disco (o que levou a um quebra-pau com Stevie, felizmente controlado pelos outros três); para seu lugar, Mick Fleetwood chamou dois novos guitarristas e vocalistas, Billy Burnette (ritmo) e Rick Vito (solo). O sexteto saiu em turnê e, em 1988, foi lançado um Greatest Hits, com repertório concentrado no período 1975 e 1987, mais duas músicas inéditas de Christine e Stevie, marcando a estreia em estúdio da nova formação. A coletânea fez grande sucesso, vendendo mais de 8 milhões de cópias só nos EUA. Em 2017, uma Deluxe Edition foi lançada, com o álbum original em CD e LP, mais um CD de outtakes e versões alternativas, e o terceiro dedicado a remixes; o pacote, considerado mais fraco que as edições anteriores, é completado com o DVD com o áudio do disco original mais os videoclipes da época.
Behind the Mask [1990]
O único album de estúdio completo com o sexteto que estreara em Greatest Hits marca a saída de Stevie Nicks. A cantora percebeu que faria melhor sem os colegas e se concentrasse em sua carreira solo. Rick Vito também caiu fora. Behind the Mask é considerado um dos discos mais fracos da carreira do Mac – mas pessoalmente não acho tão ruim assim – e mostra que o som que acompanhava a banda desde 1975 demandava a presença do obsessivo e perfeccionista Lindsey Buckingham – que aparece ao violão na faixa-título. O disco abre bem, pois “Skies the Limit”, de Christine McVie, é uma composição agradável e bem construída, com um solo melodioso de Vito. “Love is Dangerous”, parceria entre Stevie e Vito, traz os dois autores nos vocais e é até pesada para os padrões do Mac; com Vito na slide guitar, a música é um destaque. Mas, na sequência, a irritante “In the Back of my Mind” é uma das piores coisas que o grupo gravou na sua longa história. O dueto entre Billy e Christine em “Do You Know” é simpático, mas abaixo do que ela fizera em discos anteriores com Lindsey. “Save Me” e “Affairs of the Heart”, respectivamente de Christine e Stevie, são boas músicas, mas, novamente, a dupla fizera coisa muito melhor! A country “When the Sun Goes Down”, parceria entre Vito e Burnette, é outra música muito fraca que merece ficar sepultada no esquecimento. Felizmente, logo na sequência vem a faixa-título, de Christine, que é provavelmente a melhor música do álbum, e eleva muito o padrão de qualidade do álbum. Mas, daí em diante, “Freedom”, composição de Stevie e Mike Campbell (do Tom Petty & The Heartbreakers – e futuro membro do próprio Fleetwood Mac), é a única música que realmente merece destaque, pois “Stand on the Rocks” é um rock meio sem sal e “Hard Feelings” é uma balada para lá de ordinária. A parceria entre Stevie e Rick Vito, “The Second Time”, encerra o álbum; embora agradável, é pouco marcante e o vocal de Stevie está aquém de sua capacidade. No balanço, pode-se dizer que “Behind the Mask” é um disco razoável, melhor do que muita gente acha, mas ainda assim muito abaixo dos discos anteriores. Billy Burnette e Rick Vito se mostram bons músicos e vocalistas, e o segundo é de fato um guitarrista de talento; John e Mick são elegantes e discretos como sempre, enquanto Christine e Stevie precisavam de mais espaço, e a produção de Greg Ladanyi faz sentir saudade de Lindsey. Mas a banda como um todo estava desabando, e a saída de Stevie seria um golpe quase fatal para as pretensões do grupo.
Em 1992 Mick Fleetwood organizou a box set The Chain, que traz um panorama geral da carreira do grupo em quatro CDs (incluindo algumas raridades e músicas novas) e publicou um livro com a história da banda que completava 25 anos. Stevie Nicks não gostou nem um pouco da forma como foi retratada no livro, mas, de todo modo, juntou-se a Mick, John, Christine e Lindsey para tocar no baile inaugural do primeiro mandato de Bill Clinton em 1993, que usara “Don’t Stop” como música-tema de sua campanha. Os fãs ficaram animados, mas a esperada reunião não ocorreu. Em vez disso, o que se teve foi uma nova mudança de formação.
Time [1995]
Em 1995, o CD duplo Live at the BBC trouxe de volta o Fleetwood Mac blueseiro dos primeiros anos, trazendo várias músicas que não constam dos discos oficiais do grupo – vale a pena ir atrás. Enquanto isso, desde 1994, a banda excursionava com nova formação, que incluiu os eternos John e Mick, o razoavelmente veterano Billy Burnette e dois novos recrutas, Dave Mason (ex-Traffic) e Bekka Bramlett (filha de Delaney & Bonnie). Christine McVie tinha se retirado do grupo – mas acabou gravando boa parte do novo disco, Time. A tecladista e vocalista, aliás, não planejava participar do disco, tanto que suas músicas foram gravadas à parte e não trazem Billy Burnette e Dave Mason, com as guitarras tocadas pelo músico de estúdio Michael Thompson; ela só apareceu por exigência da Warner, que ameaçou não lançar o disco se ela não estivesse presente. Essa formação (Mick, John, Billy, Dave e Bekka) fez duas turnês, em 1994 e 1995 – antes do lançamento do álbum, e logo se despedaçou. Em sua autobiografia, Mick Fleetwood afirma que a presença de Dave Mason foi determinada não só por ser um bom músico e compositor, mas também porque se acreditava que ele controlaria a difícil Bekka Bramlett – já que era amigo de seus pais e a conhecia desde a infância. A cantora, aliás, é a vocalista principal em apenas quatro músicas, além de fazer dueto com Billy Burnette na faixa de abertura, a boa “Talkin’ to my Heart”. E Mason acabou decepcionando, porque, de acordo com Mick, ele estava interessado apenas em fazer sua parte, sem se envolver nos problemas da banda. Considerado quase unanimemente como a pior coisa que o Fleetwood Mac lançou, “Time” é um disco fraco, sem sal, com Dave Mason soando deslocado, Bekka Bramlett tentando substituir a insubstituível Stevie Nicks – e se mostrando uma boa cantora, diga-se de passagem – e, para completar, tem-se Christine bastante desconfortável, contribuindo com músicas muito aquém de sua capacidade. Billy Burnette se esforça, como na abertura, mas não consegue elevar o nível do disco, e John e Mick fazem o seu de sempre, sem se destacarem. Dave Mason compôs “Blow by Blow”, uma das poucas músicas que se destacam no disco, mas falta-lhe potência vocal para que a canção realize seu potencial. Bekka teria sido uma escolha melhor para o vocal solo. Ela brilha em “Nothing Without You”, mas, apesar de Lindsey Buckingham nos backing vocals, a música não chama muito a atenção; em “Dreamin’ the Dream”, Bekka tenta soar como Stevie, sem conseguir. “Sooner or Later”, de Christine, e “I Wonder Why”, de Mason, são boas músicas, mas não estão à altura do Fleetwood Mac. Já “I Got it in For You”, de Billy, é um bom rock que mostra que o guitarrista harmonizava bem com Bekka, o que contribuiu para os dois gravarem juntos em 1997. O album se encerra com Mick declamando a letra em “These Strange Times”. Mick Fleetwood admitiria que a banda era talentosa – mas não deveria ter excursionado ou gravado como Fleetwood Mac. Ele provavelmente confiou no nome para vender o album e os shows, mas não conseguiu nem uma coisa nem outra – até porque, ao vivo, Bekka não cantava a maioria das músicas que Stevie compusera, porque sabia que sua antecessora era insubstituível para os fãs. “Time” é o tipo do disco que os envolvidos preferem esquecer. Dave Mason retornou à sua carreira solo, enquanto Bekka e Billy gravariam um disco juntos. Aí aconteceu o que os fãs sonhavam.
The Dance [1997]
Gravado ao vivo para a MTV em maio de 1997, este álbum traz a formação clássica de volta – com direito a todo mundo junto na capa pela primeira vez! The Dance é uma excelente mostra de tudo o que fez o Fleetwood Mac ser uma das bandas de maior sucesso do mundo após 1975, com qualidade sonora cristalina. O disco é acompanhado por um DVD muito bem produzido e de grande sucesso, que traz quatro músicas adicionais em relação às dezoito do CD). O quinto colocado na lista dos álbuns ao vivo mais vendidos de todos os tempos é um verdadeiro “greatest hits live”, trazendo “The Chain”, “Dreams”, “Say You Love Me” (com direito a um raro backing vocal de John McVie), “Rhiannon”, “You Make Loving Fun”, “Big Love” e “Landslide”, bem como “Tusk” e “Don’t Stop”, gravadas com a participação da USC Marching Band (os músicos não são muito audíveis, mas no video dá para vê-los fazendo a maior festa no palco). Algumas músicas são registradas em versões acústicas, com “Big Love” se transformando em uma gravação solo, pois Lindsey canta sozinho ao violão. Para completar, “The Dance” traz quatro músicas novas: “Bleed to Love Her” (que receberia versão de estúdio em “Say You Will”) e “My Little Demon”, de Lindsey Buckingham, “Temporary One”, de Christine McVie e “Sweet Girl”, de Stevie Nicks – cuja demo apareceria no ano seguinte na box dedicada ao trabalho da cantora, “Enchanted”. Assistindo ao DVD, a gente percebe o quanto Mick Fleetwood estava feliz; no final com “Don’t Stop”, os músicos vão um a um deixando o palco enquanto a banda da USC continua tocando, e Mick é o último a sair. A turnê subsequente foi um grande sucesso, mas a banda não tinha mais Christine que, tomada por um medo paranoico de voar, preferiu sair do grupo e se aposentar. No entanto, ela ainda iria voltar ao Mac.
Em 2002, a coletânea The Very Best of Fleetwood Mac seria lançada em duas versões: CD simples (Inglaterra) e duplo (EUA); no Brasil, interessantemente, as duas versões seriam disponibilizadas. A americana é a melhor, com algumas músicas raras e a presença das duas músicas novas do Greatest Hits de 1988 e um das inéditas da box “The Chain”, além de algumas músicas já conhecidas em versões de singles ou editadas, bem como a versão ao vivo de “Go Insane”, só disponível no DVD The Dance. Por outro lado, a britânica inclui três músicas da fase blues. Embora não tenha nenhuma música do período 1970-74, esta foi por muito tempo a melhor coletânea disponível do Mac.
Say You Will [2003]
Sem Christine, o grupo lançou em 2003 seu último álbum de estúdio até o momento. Gravado ao longo de diversas sessões entre 1995 e 1997 e 2001-2002, Say You Will trouxe 18 músicas ao longo de quase 76 minutos. Embora Buckingham tenha tocado a maior parte dos teclados, vários músicos convidados – e a própria Christine McVie – contribuem nesse campo. O disco foi mais um grande sucesso para a banda, tendo atingido o 6º lugar na Inglaterra e o 3º nos EUA, e teve uma edição especial lançada com um CD extra com quatro músicas adicionais, uma delas uma cover para “Love Minus Zero/No Limit”, de Bob Dylan. Lindsey Buckingham e Stevie Nicks são os únicos membros da banda creditados com composições, ainda que, em alguns casos, em parceria com outras pessoas, e cada um assina nove músicas. O álbum padece de um problema relativamente comum a outros discos lançados nos anos 90 e 2000: tem músicas demais. Na época do vinil, Say You Will teria sido um álbum duplo – e a maioria dos álbuns duplos teria rendido ótimos LPs simples… O disco começa com as boas “What’s the World Coming To” e “Murrow Turning Over His Grave”, ambas de Lindsey; “Illume (9-11)” é a primeira de Stevie, mas é bem mais fraca, diferentemente de “Throw Down”, que traz a cantora em plena forma. “Miranda” e “Come”, de Lindsey, dão destaque para sua guitarra, o que é sempre bem-vindo, especialmente no longo solo da segunda – um dos melhores de sua carreira. Mas o excesso de produção às vezes prejudica: a faixa-título é uma daquelas baladinhas doces de Stevie, mas, no meu ponto de vista, não precisava do coral infantil ao final, e a boa “Peacekeeper” é prejudicada por um riff insistente que irrita ao entrar justamente no belo refrão. “Smile at You” traz Stevie fazendo o que faz de melhor, falando de mais um relacionamento fracassado. “Steal Your Heart Away” e “Bleed to Love Her” são outras boas composições de Lindsey. Das últimas quatro músicas, apenas “Destiny Rules”, de Stevie, se destaca.
A turnê de lançamento renderia um combo CD+DVD ao vivo, Live in Boston. Retirado de um show televisionado pela PBS, Live in Boston traz 24 músicas no DVD duplo, quase todas de Stevie e Lindsey (as exceções são “The Chain”, “Don’t Stop” e “World Turning”), mas apenas dez no CD. Nunca assisti ao DVD, mas o CD é bom – ainda que, com menos de uma hora de duração, seja um tanto incompleto, e a qualidade de gravação esteja bem aquém dos lançamentos ao vivo oficiais anteriores. Fleetwood, McVie, Buckingham e Nicks são acompanhados por Neale Heywood e Carlos Ríos nas guitarras, Brett Tuggle nos teclados e guitarra, Steve Hinkov na bateria e Taku Hirano na percussão, além das vocalistas Jana Anderson e Sharon Celani. Os destaques são “Come”, do disco anterior, “Stand Back”, do segundo disco-solo de Stevie (com direito a solo de Mick na percussão), e as sempre boas “Landslide” e “I’m So Afraid”. A voz de Stevie envelheceu, mas continua agradavelmente peculiar – e Lindsey dá mais destaque para sua habilidade na guitarra. John e Mick continuam uma das melhores seções rítmicas da história, e os músicos adicionais mostram serviço.
Após Say You Will, a banda faria algumas turnês, e entre 2014 e 2015 o quinteto clássico excursionaria pela última vez. Posteriormente, com o quarteto de Say You Will, Extended Play seria lançado em 2013, exclusivamente em meio digital, contendo quatro músicas. “Sad Angel”, “It Takes Time” e “Miss Fantasy” foram escritas por Lindsey, e “Without You”, por Stevie. Três das músicas não acrescentam muito à história do Fleetwood Mac, mas também não comprometem; Buckingham domina o EP, uma vez que canta em dueto com Stevie na música que ela escreveu, e em “It Takes Time” (a melhor de todas) mostra talento ao piano numa bela balada que está em paralelo com o que ele fez de melhor em toda a sua vida. Posteriormente, sem Stevie, os outros quatro gravariam em 2017 o álbum Buckingham McVie, que chegou ao 5º lugar na Inglaterra (onde recebeu disco de prata) e 17º nos EUA; de acordo com entrevistas da época, simplesmente não parecia correto aos músicos lançar as gravações como um disco do Fleetwood Mac se Stevie não participava. Lindsey compôs cinco músicas para o album, Christine, mais duas, e três são creditadas aos dois; os vocais são divididos meio a meio, com Christine assumindo o microfone nas três músicas em coautoria. Embora seja um bom disco, é impossível não sentir falta de Stevie e suas composições; de todo modo, para mim os destaques são “Red Sun”, “Love is Here to Stay” e “Game of Pretend”, linda balada que mostra que Christine, aos 74 anos, tinha a mesma voz da juventude.
Em 2018, Lindsey Buckingham foi demitido (nas suas palavras) ou saiu (de acordo com Mick Fleetwood), e, para seu lugar, foram convidados Neil Finn (ex-Crowded House) para a guitarra rítmica e vocal, e Mike Campbell para a guitarra solo. Essa formação não gravou nada em estúdio, tendo feito apenas shows. No mesmo ano, 50 Years – Don’t Stop foi lançada em CD simples ou triplo, tornando-se a única coletânea a cobrir toda a carreira do grupo até “Extended Play”. O lançamento mais recente é a box set The Alternate Collection, trazendo versões alternativas para as músicas dos cinco discos lançados pela formação clássica, entre 1975 e 1987.
Em 2022, infelizmente Christine, a Songbird, veio a falecer aos 79 anos de idade, deixando a dúvida: haverá Fleetwood Mac novamente? A banda não acabou oficialmente, mas por enquanto não anunciou nem shows, nem músicas novas. Tudo o que existe atualmente são rumores…
Bonus Tracks
Line-ups:
• 1967: Green, Fleetwood, Brunning
• 1967: Green, Fleetwood, J. McVie
• 1968: “Fleetwood Mac” e “Mr. Wonderful” – Green, Fleetwood, J. McVie, Spencer
• 1969: “Blues Jam at Chess” e “Then Play On” – Green, Fleetwood, J. McVie, Spencer, Kirwan
• 1970: “Kiln House” – Fleetwood, J. McVie, Spencer, Kirwan
• 1971-72: “Future Games” e “Bare Trees” – Fleetwood, J. McVie, Kirwan, C. McVie, Welch
• 1973: “Penguin” – Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Welch, Weston, Walker
• 1974: “Mystery to Me” – Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Welch, Weston
• 1974: Bogus Fleetwood Mac/Fake Fleetwood Mac – Elmer Gantry (vocal), Kirby Gregory (guitarra), Paul Martinez (baixo), John (ou Dave) Wilkinson (teclados) e Craig Collinge (bateria)
• 1974: “Heroes Are Hard to Find” – Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Welch
• 1975-1987/1997/2014-2016: “Fleetwood Mac (White Album)”, “Rumours”, “Tusk”, “Live”, “Mirage”, “Tango in the Night”, “The Dance” – Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Buckingham, Nicks
• 1988-1992: “Behind the Mask – Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Nicks, Burnette, Vito
• 1994-1995: “Time” – Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Burnette, Mason, Bramlett
• 1998- 2013: “Say You Will” e “Extended Play” – Fleetwood, J. McVie, Buckingham, Nicks
• 2018-2022: Fleetwood, J. McVie, C. McVie, Nicks, Finn, Campbell
Do Pior para o Melhor:
Time
Behind the Mask
Kiln House
Mr. Wonderful
Penguin
Say You Will
Mirage
Heroes are Hard to Find
Future Games
Tango in the Night
Bare Trees
Tusk
Mystery to Me
Then Play On
Fleetwood Mac (1975)
Fleetwood Mac (1968)
Rumours