Ramones – Pleasant Dreams (The New York Mixes) [2023]

Ramones – Pleasant Dreams (The New York Mixes) [2023]

 

Por Micael Machado

No começo de 1981, quando se reuniram para gravar o seu sexto álbum, que viria a ser lançado em julho daquele ano com o nome de Pleasant Dreams, os Ramones eram uma banda despedaçada e sem união entre seus membros. O “fracasso comercial” de sua tentativa de chegar ao estrelato no ano anterior com o álbum End of the Century, produzido pelo lendário Phil Spector (que, de fato, atingiu os maiores postos nas paradas musicais que a banda já conseguiu, mas não altos o suficiente para os desejos da banda) agravou ainda mais os conflitos entre os membros da banda, a ponto de Johnny (guitarrista) e Dee Dee (baixista – o grupo, caso alguém não saiba, era completado à época por Joey nos vocais e Marky na bateria, todos usando, logicamente, o sobrenome Ramone), parceiros de composição desde o início do grupo, chegarem ao ponto de não se falarem mais entre si, o que dirá sentarem-se para comporem juntos. Com uma orientação muito mais pop do que nos registros anteriores (considerada por alguns como culpa do produtor escolhido pela gravadora, o britânico Graham Gouldman, ex-integrante do 10CC), Pleasant Dreams acabou sendo o primeiro registro do grupo a contar com créditos individuais na criação das canções, e também não conseguiu o tão almejado sucesso comercial, ficando ainda abaixo do disco anterior nas paradas de sucesso (segundo a wikipedia, atingindo o número 58 na parada da billboard americana, e não figurando nas paradas inglesas), mas foi, ao longo do tempo, angariando simpatia dos fãs, e, se “The KKK Took My Baby Away” será sempre a faixa mais lembrada deste registro, os devotos mais leiais dos brothers nova-iorquinos sempre terão faixas como “We Want The Airwaves” ou “She’s A Sensation” em um lugar especial dentre as suas favoritas neste álbum…

A aceitação do disco por parte das fãs parece ter mesmo mudado desde o lançamento, ao ponto do tradicional Record Store Day (procure no google sobre ele, caso não saiba) deste 2023 lançar no mercado uma nova versão do disco, chamada de Pleasant Dreams (The New York Mixes). Conta a história (e o encarte da edição expandida do disco original, lançada pela Rhino em 2002) que a banda se reuniu com o produtor em Nova Iorque por “duas ou três semanas” para registrar as faixas básicas, com Joey e Graham embarcando depois para a Inglaterra, onde o disco foi finalizado com a gravação dos vocais “completos”, além da adição de backing vocals, e alguns “adornos” como teclados (citados no encarte da referida edição da Rhino como tocados por Dick Emerson, mas que a wikipedia identifica como sendo Vic Emerson, ex-membro de bandas como Mandalaband e Sad Café) e percussão (esta a cargo de Dave Hassell, sobre o qual a wikipedia não me deu maiores informações). Esta edição do RSD traria, portanto, a “versão crua” do disco, ou, como cita o adesivo grudado na edição do vinil, a versão “Works-In-Progress”, ou “trabalhos em andamento”, da obra. Mas, além da capa (que agora ostenta uma foto da banda, foto esta que já havia aparecido na edição expandida, vale mencionar), do encarte mais simples (sem as letras, e com a foto presente na contracapa original agora ampliada) e do vinil ser na cor amarela (e eu sempre acho legal vinis coloridos), o que há de tão diferente assim? Vale a pena comprar esta edição do RSD de Pleasant Dreams?

A capa original de Pleasant Dreams

Bem, você nem precisa ser tão fã quanto eu dos “manos” para ter razões de sobra para adquirir esta nova versão. A chance de ouvir novas versões de conhecidas (e, supostamente, apreciadas) faixas do grupo já fala por si só a qualquer colecionador da banda, e o fato de o vinil trazer ainda três faixas “inéditas” em vinil (falaremos mais sobre elas adiante) torna mais que obrigatória a aquisição da bolachona. Não que as músicas da versão original estejam tão diferentes assim: tirando muitos dos backing vocals da versão final, e a ausência dos teclados (mais notadamente em faixas como a citada “We Want The Airwaves”, em “7-11”, onde o vocal de Joey também parece diferente, como se fosse apenas um “rascunho” da versão presente no disco original, ou ainda na nova versão de “Touring” apresentada aqui) e da percussão (esta mais percebida na parte mais lenta após o primeiro refrão de “It’s Not My Place (In the 9 to 5 World)”, que aqui perdeu o subtítulo e também o solo de guitarra na mesma parte), pouca diferença há na maioria das faixas presentes nesta “versão americana” do álbum… “She’s A Sensation” tem aqui um final abrupto, sem as repetições das vocalizações de Joey presentes na versão “oficial” lançada originalmente, e em “All’s Quiet On The Eastern Front” a voz de Joey sobre os versos de Dee Dee ao final da canção parece estar mais alta nesta versão do que no registro original (aqui, cabe um comentário que é mais uma percepção do que um fato: se, no refrão desta canção, Joey e Dee alternam-se nos versos, a forma como Joey canta cada frase das estrofes principais sempre me deu a impressão de serem dois vocalistas cantando cada um o seu verso, como em um dueto, também nestas estrofes. A versão desta edição me ressaltou ainda mais esta sensação, me parecendo que o produtor conseguiu, no resultado final, juntar o que talvez sejam gravações diferentes das linhas de voz de uma maneira mais “orgânica” do que a pré-produção permitiu, com a coisa toda soando mais “crua” aqui, como, normalmente, acaba acontecendo nestes casos). No restante das canções, as principais diferenças estão nos detalhes de pós produção acrescidos á versão final e inexistentes aqui, os quais, para os admiradores de longo tempo da obra, terão uma diferença marcante, mas que, para os ouvintes casuais ou àqueles não tão “íntimos” assim do disco original, talvez passem despercebidos, para ser bem sincero…

As três músicas “inéditas” são um caso à parte: todas já haviam aparecido na forma de demos na edição expandida de 2002, mas, aqui, aparecem em versões melhor gravadas, com uma sonoridade mais “profissional” e ajustada, como se percebe bem em “Sleeping Troubles”. “I Can’t Get You Out Of My Mind” (que seria regravada, posteriormente, e incluída no track list de Brain Drain, disco de 1989, sem o “I” do título) não soa tão diferente assim da demo já lançada, e “Touring” (que apareceria em uma nova versão anos depois no disco Mondo Bizarro, de 1992), como citei, aparece aqui sem os teclados e muitos dos backings presentes na versão da Rhino. Uma ausência notável é “Come On Now”, que, apesar de ter demos presentes em bootlegs da banda que retratam essa época, acabou ficando de fora da seleção desta edição do RSD, por motivos que fogem ao meu conhecimento (assim como não entendi o motivo de mais faixas presentes na edição expandida, ou mesmo de outras demos registradas para o disco, como “I Wasn’t Looking For Love”, até hoje sem uma versão “oficial”, não terem sido incluídas nesta edição, ainda que a mesma virasse um disco duplo por causa destes acréscimos).

Contracapa de Pleasant Dreams (The New York Mixes)

Resumindo, esta nova edição de Pleasant Dreams traz versões “alternativas”, mas nem tão diferentes assim, para um disco controverso e considerado “mediano” por muitos, mas registrado pela melhor banda que já passou por este planeta. Se esta definição for suficiente para atiçar a sua curiosidade em ouvir este lançamento, pode se jogar sem medo. A diversão é garantida.

Track List:

Lado 1:

1. We Want the Airwaves

2. All’s Quiet on the Eastern Front

3. The KKK Took My Baby Away

4. Don’t Go

5. You Sound Like You’re Sick

6. It’s Not My Place

7. I Can’t Get You Out of My Mind

Lado 2:

1. She’s a Sensation

2. 7-11

3. You Didn’t Mean Anything to Me

4. Sleeping Troubles

5. This Business is Killing Me

6. Sitting In My Room

7. Touring

6 comentários sobre “Ramones – Pleasant Dreams (The New York Mixes) [2023]

  1. Pleasent Dreams é realmente um disco subestimado, no entanto, não deixa de ter um lugar no coração de vários fãs (inclusive do meu). A fase pop dos Ramones só realçam as influências deles e isso transforma esse lado específico da discografia deles algo mais rico, e não fazem eles serem apenas músicos do velho punk, mas músicos que têm alma e podem em seus trabalhos, explorar novas sonoridades (sem se afastar totalmente da sonoridade de outrora e muito menos menosprezá-la, pelo contrário, a reverenciando) e demonstrando que são uma banda completa. Hey Ho, Let’s Go!

  2. Aliás, há como acessar esse material online para ouvir? Não sei se ficou restrito ao lançamento físico e se lançaram digitalmente.

    1. Rein, ao que sei, saiu apenas em vinil, por causa do RSD. Mas existe uma versão “ripada” do vinil no youtube, é fácil de achar!

      Acredito que, daqui a pouco tempo, devem lançar também em CD e nas principais plataformas, como outros lançamentos do RSD… mas, por enquanto, só em vinil, salvo engano.

  3. Valeu pelo elogio, José! Eu recomendo bastante a aquisição! Depois coloque aqui o que achou do disco!

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