Discografias Comentadas: Manowar – Parte I
Por Leonardo Castro
A história do Manowar teve início em 1980, quando Joey DeMaio conheceu Ross The Boss na turnê Black ‘n’ Blue, que reuniu Black Sabbath e Blue Oyster Cult. Joey era técnico de baixo do Sabbath, enquanto Ross tocava na banda de abertura da turnê, o Shakin’ Street. Ao retornarem aos Estados Unidos, os dois recrutaram Carl Canedy (The Rods) e o vocalista Eric Adams, amigo de DeMaio. Após o lançamento de uma demo, Canedy saiu do grupo e foi substituído por Donnie Hamzik. Com esta formação, a banda lançou o seu disco de estréia, Battle Hymns. O primeiro capítulo de uma história repleta de sucesso e polêmica.
O disco de estréia do Manowar é um dos melhores lançamentos da cena norte-americana do início dos anos 80. Misturando a pegada rocker de Ross The Boss com a inclinação mais clássica e épica de Joey DeMaio, o grupo foi capaz de compor um conjunto de músicas fortes e vigorosas, em sintonia com a NWOBHM que explodia na Inglaterra e com a efervescente cena hard/heavy nova-iorquina, que tinha o Riot e o The Rods como principais expoentes.
Faixas como “Death Tone”, “Fast Taker” e “Shellshock” têm uma energia impressionante, lembrando o que o Judas Priest havia feito em músicas como “Delivering The Goods”. “Metal Daze” e “Manowar” se tornaram os primeiros hinos da carreira do grupo, graças aos seus refrões inesquecíveis. Mas as duas músicas que indicavam o que a banda faria no futuro eram “Dark Avenger” e “Battle Hymn”. A primeira tem um início lento e sombrio e após uma narração soberba de Orson Welles, explode em um riff acelerado e um belíssimo solo de Ross. Já “Battle Hymn” era a definição musical da palavra “épico”.
Com um andamento que lembrava uma marcha militar e uma letra sobre batalhas e guerreiros medievais, a música expandia o que o Rainbow tinha feito em “Stargazer” e o Sabbath em “Heaven And Hell”, redefinindo o que passaria a ser conhecido como heavy metal tradicional. Também é impossível não destacar a performance vocal de Eric Adams. Dono de um timbre único e de um alcance inacreditável, seu desempenho no disco atinge níveis impressionantes, principalmente nas supracitadas “Dark Avenger” e “Battle Hymn”. Em resumo, Battle Hymn é um disco bem diferente do que o Manowar faria no restante da sua carreira, mas já apresentava algumas dicas da trilha que o grupo seguiria futuramente.
O segundo disco apresentava duas mudanças em relação ao debut: a entrada do baterista Scott Columbus e um foco maior nas composições mais longas e épicas. Exceto pela faixa de abertura, a rápida e despojada “Warlord”, com sua letra exaltando a vida sobre uma Harley-Davidson, a sonoridade de Into Glory Ride transportava o ouvinte para o mundo da fantasia épica medieval, da mitologia nórdica e das histórias do Conan.
“Secret Of Steel” tem um dos melhores riffs do disco que nos leva diretamente para a Siméria. Já “Gloves Of Metal” foi escolhida para ser o primeiro videoclip da banda. A música é pesada, épica e pujante. O vídeo, no entanto, teve um resultado final de gosto duvidoso… Outro destaque é “Gates Of Valhalla”, primeira incursão da banda ao universo viking. Uma música estupenda, que certamente influenciou diversas bandas que se intitulam viking metal hoje em dia.
Apesar de todas as músicas do álbum serem bem longas, a única que se torna cansativa é “Hatred”, que tem um andamento extremamente lento e um riff para lá de repetitivo. Na sequência temos dois clássicos: “Revelation (Death’s Angel)” e “March For Revenge”. A primeira tem um riff cavalgado vigoroso e vocais absurdos de Eric Adams. A segunda, assim como “Battle Hymn”, tem uma andamento de marcha militar e uma passagem lenta emocionante no meio da música. Em Into Glory Ride, o Manowar solidificou seu próprio estilo investindo em uma sonoridade épica com letras fantasiosas e nos brindou com um punhado de clássicos.
Como seus dois discos anteriores tiveram uma recepção melhor no Reino Unido, onde a NWOBHM efervescia, do que em seu país natal, o Manowar dediciu homenagear seus fãs britânicos batizando seu terceiro disco de Hail To England. Lançado em julho de 1984, o álbum refinava o que a banda havia feito de melhor até então.
O disco abre com a magistral “Blood Of My Enemies”, épica e pesada. “Army Of The Immortals” é mais simples e direta, um típico hino heavy metal, e foi a primeira ode do grupo aos seus fiéis seguidores. A banda continuava atenta ao que acontecia ao seu redor, e o recém nascido thrash metal era uma influência clara em “Kill With Power”, uma das favoritas dos fãs nos shows do grupo. Mesmo diante de tantos clássicos, a pérola escondida do disco era a sua última faixa: “Bridge Of Death”.
A letra descreve a viagem de alguém que vendeu sua alma ao demônio até o inferno, enquanto o instrumental tem um riff primoroso e transmite os climas e emoções que a temática pede. Vale ressaltar a ótima produção do disco, mais clara e cristalina que a dos álbuns anteriores. Para muitos fãs, Hail To England é o álbum definitivo do Manowar.
Menos de seis meses após o lançamento de Hail To England, o Manowar lançava Sign Of The Hammer. E se a qualidade das músicas se manteve nos dois lançamentos, o mesmo não pode se dizer da produção do novo disco, que é bem inferior a de seu antecessor. As duas primeiras faixas, “All Men Play On 10” e “Animal” são bem diretas, ainda que a primeira seja mais cadenciada e a segunda mais rápida e animada.
Mas o primeiro destaque do disco é “Thor (The Powerhead)” que tem uma levada épica sensacional, um grande solo de Ross The Boss e uma linha de bateria interessantíssima de Scott Columbus. “Mountains”, longa e progressiva, leva o ouvinte à uma viagem nas asas de uma águia pelo topo de uma cordilheira. A viagem se interrompe com a pesadíssima faixa-título, onde o baixo de Joey Demaio e o vocal de Eric Adams se destacam.
Por fim, após o solo de baixo “Thunderpick”, há ainda “Guyana (Cult Of The Damned)”. Uma das melhores músicas do disco, onde clima épico se une à uma certa influência de música flamenca para descrever o suicídio em massa da seita do Reverendo James Warren “Jim” Jones, ocorrido em novembro de 1978. Um tema sombrio, mas que casou perfeitamente com o instrumental composto pelo grupo.
Depois de quatro lançamentos por gravadoras independentes, finalmente o Manowar lançava um disco por uma major: a Atlantic Records. Com isso, a banda teve um orçamento maior para seu quinto álbum, Fighting The World, fato que propiciou uma melhor produção, maior distribuição, além da possibilidade de contar com a arte de Ken Kelly (artista renomado que já havia trabalhado com o Rainbow e o Kiss).
O disco apresentava algumas músicas típicas do conjunto, como a pesada “Black Wind, Fire and Steel”, a épica “Holy War” e a climática “Defender”. Esta última foi composta e gravada em 1982 e contava mais uma vez com a narração de Orson Welles, falecido em 1985. Outras faixas tinham uma veia mais comercial, quase hard rock, como “Blow Your Speakers”, a faixa-título e “Carry On”, em uma tentativa de expandir o publico da banda.
Apesar de alguns fãs terem torcido o nariz para tais mudanças na época, o grupo realmente conseguiu aumentar seu alcance com o lançamento de Fighting The World. Muitas de suas músicas tornaram-se clássicos, como “Black Wind, Fire and Steel”, que até hoje costuma fechar os shows da banda, antes do tradicional bis.
Um ano após o lançamento de Fighting The World, o Manowar retornou com seu disco mais variado até então. O auto-proclamado Kings Of Metal tornou-se rapidamente um dos favoritos dos fãs, dada a quantidade de clássicos que saíram dele.
O disco abre com a pesada “Wheels Of Fire”, que flertava com o thrash metal tão em alta na época. A pegada hard rock do álbum anterior aparece na faixa-título, mas com um resultado infinitamente superior.
Na seqüência temos a primeira balada da carreira do grupo, “Heart Of Steel”, dona de uma letra forte e de uma linha de baixo inspiradíssima. “The Crown And The Ring” é outro destaque, e tem Eric Adams acompanhado por uma orquestra e um coro ao invés do instrumental da banda. O resultado foi tão bom que passou a ser o encerramento dos shows do grupo, tocada em playback após a última música. Há ainda “Blood Of The Kings”, que saúda os fãs da banda, e favorita de muitos seguidores do grupo, “Hail And Kill”, que após uma linda introdução dedilhada explode em um riff rápido e pesado, além de ter um refrão que costuma ser entoado como em um estádio de futebol nos shows da banda. Resumindo, um belíssimo álbum e provavelmente o mais indicado para quem não conhece o som do grupo.
Essa fase deles é fantástica. Só não gosto do Into Glory Ride.
CADE A SEGUNDA PARTE???????????
Aqui, Wesley: https://consultoriadorock.com/2012/07/08/discografia-comentada-manowar-parte-ii/