Alanis Morissette – Allianz Parque (14/11/2023)
Por Davi Pascale
Na última terça-feira (14), a cantora canadense Alanis Morissette, esteve mais uma vez no Brasil. A apresentação, a única ocorrida na América Latina, teve o intuito de celebrar os 25 anos de Jagged Little Pill, seu mais famoso álbum. Diante de um Allianz Parque lotado, a compositora fez uma apresentação sem grandes produções visuais, porém impactante.
O dia começou meio truncado. Temperatura oscilando entre um mormaço infernal e chuvas momentâneas, a iluminação do meu apartamento logo começou a oscilar. Dei uma saída na parte da manhã para uma consulta médica e ao retornar encontrei os 2 elevadores do meu prédio quebrados, me forçando a subir 13 andares de escada. Os aplicativos mostravam um trânsito pesado por conta da véspera de feriado. Decidi que não iria perder o show por nada e chamei um táxi. Afinal, os motoristas de táxi podem usar as linhas de ônibus, o que poderia facilitar minha vida para chegar ao estádio.
Não tive grandes complicações para entrar no local. Cheguei lá pouco mais de 17 horas, a abertura dos portões estava marcada para as 16h. Não sei se foram pontuais ou não, mas quando cheguei, já estavam abertos e não tinham filas enormes. Entreguei meu ingresso impresso pela internet, passei pela revista e dei um pulo na banca de merchandising. Pouquíssimos itens à venda. 2 opções de camisetas (1 preta e 1 branca), o que acabei adquirindo, 1 sacola e nada mais. Nos shows fora do Brasil, haviam várias opções de produtos como pôster, vela, gorro e até vinil autografado (algo que desejava muito), mas aqui ficamos apenas com essas opções mesmo. Uma pena…
Compra realizada, me dirigi até o meu setor. Não consegui pista premium dessa vez. Abri o site da venda de ingressos 5 minutos após o início. Lembro que até cheguei a colocá-lo no carrinho, mas quando fui pagar já estava dando esgotado. Não sei se era erro do site ou não, mas como esse show estava bem disputado, não marquei toca e alterei para a cadeira inferior. Quando cheguei ao setor, ainda não tinha muita gente. Consegui ficar em uma posição legal, com uma boa visualização do palco. Decidi ficar mais ao meio para evitar ficar levantando toda hora. Não adiantou. Me senti participando da brincadeira do banquinho. Toda hora tinha que levantar para alguém passar. Fosse vendedor, fosse fã que ficava indo e voltando, mas ok. Faz parte da brincadeira…
19:30h, as luzes se apagaram e eis que surge no telão o desenho da silhueta de uma menina com uma saia, perninhas de fora e cabelo com 2 coquezinhos. Nos falantes, o som de uma chamada de telefone. Era o início da apresentação da Pitty. A cantora soteropolitana está em uma turnê comemorativa de 20 anos de Admirável Chip Novo e foi convidada para ser o numero de abertura da Alanis. Assim que entrou a voz da Pitty conversando no telefone, o estádio veio abaixo demonstrando que a escolha foi acertada.
Na turnê atual, a cantora toca o disco na íntegra, interpreta alguns covers e finaliza a apresentação com alguns hits de seus outros álbuns. Para o show do Allianz, ela optou por tocar 9 das 11 músicas do disco aniversariante e selecionou 3 hits de seus demais trabalhos. Sendo 2 do cultuado Anacrônico e uma do polêmico Chiaroscuro.
O show seguiu a sequencia do disco. Ela entrou no palco com “Teto de Vidro”, emendando os hits “Admirável Chip Novo”, “Máscara” e “Equalize”. A plateia foi à loucura. Nas entrevistas, a artista afirmou que a turnê não teria um ar nostálgico, que seria uma versão 2023, mas honestamente achei os arranjos do novo show mais próximos ao disco do que os arranjos do show da época. Inclusive, na interpretação de “Temporal” foi utilizado sampler dos violões e da parte orquestrada para não desconfigurar a canção. Perdão, Pitty, mas não tem como não bater nostalgia.
A banda estava bem afiada e os músicos tiveram um pequeno espaço, dentro de “Memórias”, para fazer um improviso. Todos se saíram bem, mas o grande destaque ficou mesmo com a guitarra do ex-Cascadura, Martin Mendonça. O cara está tocando muito! Inclusive, em relação à banda, vale lembrar aos desinformados que houve mais uma mudança na formação. O baterista Daniel Weksler retornou ao NX Zero e a vaga ficou com o grande Jean Dolabella (Sepultura, Ego Kill Talent). O show foi excelente, a artista cantou bem e teve o público nas palmas das mãos, com direito à longos aplausos, coros com seu nome e plateia cantando aos pulmões as letras de “Equalize”, “Na Sua Estante” e “Me Adora”. Fazia tempo que não via um artista brasileiro empolgar tanto assim o público de um apresentação internacional.
O show da Pitty se encerrou às 20:35h. A cantora saiu do palco ovacionada e deixou um gostinho de quero mais. Ela diz que encerra a turnê esse ano, mas ainda tenho esperanças que ela resolva estender mais alguns meses e passe com o show completo aqui pelo ABC antes de partir para um novo projeto. Esse é um show que adoraria assistir por completo.
21:05h, as luzes apagaram-se novamente e eis que surge no telão, um filme oscilando imagens da Alanis na época de Jagged Little Pill, com quadros de programas humorísticos e programas de calouros mais atuais. Deu para entender a sacada. A ideia era demonstrar o impacto que teve o disco. O impacto sócio cultural na época batendo recordes de vendas e dialogando com a juventude. O impacto na vida e carreira de Alanis. E o impacto que teve na música. Goste você ou não da Alanis, o disco é indiscutivelmente um clássico da década de 90.
Dessa vez, ela não entrou recolhendo o microfone do chão. Dessa vez, ela entrou no palco tocando gaita, com um viusal mais roqueiro e puxando “All I Really Want” logo de cara. O setlist não seguia a ordem do álbum e depois de mandar um “Olá, Brasil. Como vocês estão? Estava morrendo de saudades”, ela emendou os hits “Hand In My Pocket”, “You Learn” e a empolgante “Right Trough You”. Não é preciso dizer que o estádio veio abaixo.
Na turnê da época, as músicas ganharam mais volume, improvisos e até novos arranjos. A própria “You Learn” tinha um arranjo totalmente diferente ao do disco. Na turnê atual, os arranjos estão mais próximos aos originais. Só teve uma exceção que vou falar mais para frente, para não estragar a surpresa. Contudo, ela teve uma sacada interessante. Ela criou interludes, onde relembrava trechos de músicas de diferentes períodos de sua carreira antes de puxar determinada canção. As mais marcantes acredito que tenham sido “Hands Clean”, “Everything” e “Sympathetic Character”.
A espera foi longa. Essa turnê era para ter ocorrido em 2020 (o álbum é de 1995), mas o projeto acabou sendo adiado por conta da pandemia, mas Alanis fez valer a espera. Na primeira parte do show, a carismática cantora interpretou todas as faixas de Jagged Little Pill e 3 músicas de Such Pretty Forks In The Road. Álbum que lançou durante essa fase de pandemia e que acabou não tendo turnê para divulgação do disco. Justo! Dentre essas, a minha preferida fica com “Ablaze”, música que a cantora escreveu em homenagem aos seus filhos.
Já o aclamado Jagged Little Pill considero impecável, portanto, é difícil colocar os momentos preferidos, mas para não ficar em cima do muro vou colocar como destaques os lados B´s “Forgiven”, “Perfect” e “Mary Jane”, onde ela usa e abusa de seus dotes vocais. Também não dá para deixa de citar os hits “Head Over Feet” e “Ironic”. Essa última contou, inclusive, com uma bonita homenagem ao saudoso baterista Taylor Hawkins no telão principal. (Para quem não conhece a história, ele foi baterista da Alanis antes de entrar no Foo Fighters e excursionou com ela na tour desse disco).
A primeira parte da apresentação se encerrou com o clássico “You Oughta Know”, com a Alanis andando de um lado para o outro e atacando a voz para cima. Em relação à sua última passagem por aqui notei 2 diferenças: ela estava explorando mais seus movimentos corporais, porém interagindo menos com o público. Não sei se ela estava nervosa, cansada (ela chegou ao país no dia do show), mas nitidamente não dá para reclamar do público. Além do lugar estar abarrotado, a plateia estava visivelmente animada.
Não demorou muito e, logo, eles retornaram ao palco. O bis iniciou-se com a faixa escondida “Your House”. A versão original foi gravada no formato acapella, mas para o show eles criaram um novo arranjo onde eles vão brincando com diferentes ritmos ao longo da canção. Não disse que tinha tido uma exceção? Olha ela aí… Quem imaginava que o show havia acabado, caiu do cavalo. Antes de ir embora, ainda tivemos a oportunidade de conferir “Uninvited”, além do hit “Thank You”.
Sempre sorridente, Alanis fez uma apresentação praticamente impecável. Banda afiada, voz em dia, sem grandes produções de palco, porém uma apresentação impactante e memorável. Visualmente, ela deu uma bela rejuvenescida. Mais magra e com o cabelo de volta à sua cor natural, era impossível não nos lembrarmos daquela garota cheia de atitude que vimos por aqui em 1996. Talvez, esteja até mais bonita agora. Numa boa… Tivemos 2 grandes shows, em uma noite bem especial que os fãs vão demorar para esquecer.
Setlist Pitty:
- Teto de Vidro
- Admirável Chip Novo
- Máscara
- Equalize
- O Lobo
- Emboscada
- Temporal
- I Wanna Be
- Semana Que Vem
- Memórias
- Na Sua Estante
- Memórias
Setlist Alanis Morissette:
- All I Really Want
- Hands In My Pocket
- Right Through You
- You Learn
- Interlude Hands Clean
- Forgiven
- Interlude Everything
- Mary Jane
- Interlude Diagnosis
- Reasons I Drink
- Head Over Feet
- Interlude So Unsexy
- Ablaze
- Interlude Nemesis
- Perfect
- Interlude Losing The Plot
- Wake Up
- Not The Doctor
- Ironic
- Interlude Sympathetic Character
- Smiling
- Interlude I Remain
- You Oughta Know
- Your House (Bis)
- Uninvited (Bis)
- Thank You (Bis)