Consultoria Recomenda: Lançamentos de 2023 que “ninguém” vai ouvir
Editado por André Kaminski
Tema escolhido por Fernando Bueno
Com Anderson Godinho, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno, Líbia Brígido, Mairon Machado e Marcello Zappelini
Nós que fazemos da música uma parte importante das nossas vidas costumamos ir à fundo nos estilos que gostamos e volta e meia algum disco ou banda mais desconhecidos aparecem nas nossas audições. Muitas vezes encontramos material com qualidade acima da média e ficamos com aquela sensação de que pouca gente vai ouvir aquilo e que a banda poderia ter uma melhor sorte. E tentar mudar essa história talvez seja um dos nossos papéis aqui no site. Quando propus o tema “Ninguém Vai Ouvir” aos meus amigos consultores a ideia foi que eles indicassem bandas ou disco que eles consideram que pouca gente iria ouvir sem que alguém trouxesse isso à tona. Talvez a melhor definição do tema fosse “Ninguém Iria Ouvir”, acreditando que temos um alcance bom para que mais pessoas conheçam os trabalhos indicados. Na verdade, esse tema pode até virar uma coluna fixa todos os anos, quem sabe? E estava valendo de tudo, uma banda bastante underground, estreantes e até mesmo bandas já muito bem estabelecidas, mas que hoje estejam longe do radar da grande maioria. Obviamente nem todos os discos indicados aqui abaixo vai agradar todo mundo, mas se pelo menos um for do agrado de alguém já fizemos nossa parte. Deixe nos comentários o que mais gostou e indique também um disco aos nossos leitores. (Fernando Bueno)
*Daniel Benedetti mandou sua recomendação, mas seu pc pifou e seus textos se perderam.
Walk With Titans – Olympian Dystopia
Por Fernando Bueno
Um amigo que mora no Canadá me mandou o link desse disco no Spotify dizendo que tinha gostado e que eu também iria gostar. O Walking With Titans é uma banda de power metal que lembra muito o Stratovarius, muito por conta da voz de Jonathan Vezina, que sem exageros entrega o que todo fã do estilo espera. Em algumas passagens podemos lembrar de Rhapsody e até mesmo o Angra. Mas ficam longe de ser uma mera cópia dessas bandas, apenas são referências mesmo. O curioso é que depois que fui atrás para ouvir e saber mais sobre o grupo descobri que um brasileiro até mesmo participou do disco como convidado, o guitarrista Renato Osório que durante alguns anos foi o guitarrista do Hibria e do Scelerata. A banda trata de temas relacionados aos gregos o que me fez lembar de outra banda canadense, o Ex Deo, que usa os temas romanos para todas as suas músicas. O estilo estava bastante saturado para mim e eu dificilmente estava ouvindo algo além das bandas que eu já gostava mesmo, mas o Walk With Titans conseguiu fazer eu abrir uma exceção.
Anderson: Os canadenses do Walking with Titans apresentam um Power Metal com elementos do que o estilo tem de melhor, não inventam moda. Um bom vocalista, que no geral não tenta ser novo Kiske ou Kotipelto. Todavia, as vezes arrisca uns agudos que soam bem forçados. Nota 7,5! Gostei bastante da velocidade das músicas, o que é uma constante no álbum. Mesmo que existam músicas mais melódicas ou com passagens mais lentas, a regra é pau na máquina…bpm alto. As melodias também me agradaram bastante, não tem nenhuma música que eu tenha achado ruim. A temática épica grega também é bem acertada para mim, é um dos temas de histórica clássica que, particularmente, mais me chamam atenção. Sucesso. No instrumental achei a banda criativa dentro do possível (uma vez que é um gênero musical muito bem explorado). Aquele tecladinho estilo The Black Halo do Kamelot ou Visions do Stratovarius não engana ninguém, uma cozinha bem consistente também é bem audível no álbum. As guitarras achei no ponto certo: quando precisa ser técnico cumprem perfeitamente, quando é pra deixar fluir sem querer aparecer, também o fazem. Bom material, altamente recomendável.
André: Outro disco de power metal, mas cuja pegada é daquelas mais velozes do estilo, com muito bumbo duplo e tudo mais. Fui pesquisar para ver se Timo Kotipelto tinha gravado os vocais aqui. Não é ele, mas um de seus clones. Porém, isso não é ruim, visto que ele é um de meus vocalistas preferidos de power metal. Ter a voz igual a dele é um mérito. E quanto ao disco, dá-lhe bateria hiperveloz aqui, agudos ali, teclados épicos cá, guitarras rápidas acolá e baixo inaudível enterrado em algum canto da mixagem. E ainda assim, um álbum muito bom.
Davi: Coloquei esse disco para tocar sem saber muito o que esperar e me deparei com uma banda típica de power metal. Os músicos são excelentes, onde colocaria como destaque o baterista Nikko Cyr, o guitarrista solo Louis Jacques e, especialmente, o vocalista Jonathan Vézina, cujo trabalho vocal me remeteu bastante ao Timo Kotipelto (Stratovarius). Aliás, a sonoridade da banda me remete bastante ao Stratovarius e esse, para mim, é o grande problema desse disco. Não que eu não goste do Stratovarius, longe disso, é uma banda que curto bastante, mas se esses caras quiserem crescer na cena terão que buscar um diferencial. O disco é bacaninha, as músicas são bem construídas, mas falta um pouco de personalidade. Momentos preferidos: “Gods of the Pantheon” e “Herakles”.
Líbia: Por enquanto vou ficar em falta com esse.
Mairon: Esses canadenses criaram um álbum baseado na mitologia grega, contando a história de nomes como Hércules, Euridice, entre outros. O guitarrista Louis Jacques é um monstro, com solos velozes e complexos (o que ele faz em “Seven Against Thebes” é inacreditável), e gostei do vocal Jonathan Vézina, por vezes me lembrando o saudoso Andre Matos. Eu curti o som da banda até um certo momento, sendo as minhas preferidas “Final Dawn”, “Herakles”, . Porém, acho que os teclados não combinaram com o peso power/hard metal que é produzido pelo quinteto, o que faz com que diversas músicas tornem-se maçantes de se ouvir aquele timbre chato de teclados. Sorte que Louis Jacques acaba salvando Olympian Dystopia de se tornar uma tragédia grega!
Marcello: Álbum de uma banda canadense que me era completamente desconhecida até aparecer nessa lista – e que, se não fosse pela escolha de um consultor, provavelmente não conheceria de jeito nenhum. O quinteto tem em Jonathan Vezina um excelente vocalista, e instrumentalmente se mostra bem afiado, com bom trabalho de guitarras e uma cozinha segura e pesada na medida certa. As músicas se inspiram na mitologia grega, o que me agradou bastante. Adorei “Edge of Time”, “Final Dawn”, “As Titans Fall”, todas rápidas, pesadas na medida certa e bem elaboradas, mas as músicas são uniformemente atraentes, lembrando o Stratovarius em seus melhores momentos, e certamente vão agradar os fãs de power metal. “Gift of Fire” conta com a colaboração de um certo Osorio que eu – e possivelmente você que está lendo – não tenho ideia de quem seja. Por fim, destaco que a banda deixou o melhor para o final, pois “Eurydice” me pegou logo de cara, lembrando um pouco o Iron Maiden. Este álbum me deixou uma boa impressão; certamente voltarei a este “Olympian Dystopia” com prazer, e vou buscar mais coisas da banda.
DragonHeart – The Dragonheart’s Tale
Por Anderson Godinho
Depois de alguns bons anos parado sem mostrar nada novo e se quer dar sinal de vida, eis que o DragonHeart se recoloca no mapa do metal nacional. Para quem não conhece trata-se de uma banda que surge no final dos anos 1990 e que segue a cartilha do Power Metal super clássico. Sem medo de ser feliz eles demonstram abertamente o valor que dão à Grave Digger, Running Wild e velharedos dessa época primordial do estilo. Particularmente esse é o álbum que mais curti da banda, já conhecia eles do passado, mas não batia muito com o estilo clássico deles. A banda mudou praticamente todos os seus membros, mas os que entraram são muito bons, inclusive ao vivo. O pecado da banda, atualmente na minha humilde opinião, é justamente o vocal que poderia ter alguém dedicado exclusivamente para tal, o Eduardo Marques da conta no estúdio, mas ao vivo ele fica preso na divisão com uma das guitarras. Não prejudica, mas falta algo. Sobre o álbum em si, gostei muito, produção impecável, sonoridade que honra a história da banda e o estilo. São três atos distintos sendo a primeira parte a maior. Destacaria, pra ser econômico três músicas: “The Devil Is By My Side” com um refrão bem forte e uma cadência poderosa que marca bem o som e dita o bate cabeça; “Ghost Of The Storm” com a participação de Henning Basse – Metalium, e que já trabalhou com Gamma Ray, Épica, Doro, Kamelot entre outros – que foi single antes do lançamento e ajudou a divulgar o retorno da banda pelas mídias sociais; e, a última “Early Days”, bem épica. Todos os instrumentos tem vez ao longo do disco, muitas belas melodias e a questão de ter um tema central, quase um RPG (cartilha do Power Metal, lembra?), no melhor estilo metal espadinha (sem ser pejorativo). Um ótimo lançamento para quem curte o estilo no modo raiz.
André: Nunca havia ouvido falar dos curitibanos do DragonHeart. Me surpreendeu saber que eles existem desde 1997 e que já haviam gravado quatro discos, sendo este o quinto. Dá para se dizer que lembram o Helloween oitentista e o Gamma Ray nas partes mais rápidas e tem aquele quê de Blind Guardian e Rhapsody of Fire nas partes mais lentas. Como eu gosto de power metal, o disco me agrada. Guitarras e melodias legais e um vocal competente. Novidade é zero por aqui em termos de estilo, mas se você curte as bandas citadas acima, pode ir sem medo neste disco aqui.
Davi: Pelo que andei lendo, parece que esse é o álbum que marca o retorno do grupo. Honestamente, não conhecia o trabalho deles. Sendo assim, não tem como eu fazer um comparativo com os trabalhos anteriores. Em relação à esse disco em especial, senti bastante influência de heavy metal alemão. O trabalho vocal e as partes mais rápidas me soam como Gamma Ray, as partes mais acústicas me remetem à Blind Guardian. Há ainda influências de Accept e Running Wild. Gostei do disco dos caras. Achei o trabalho bem feito. Bons músicos, umas composições bacanas. Certamente vou procurar mais alguma coisa deles para ouvir. Faixas preferidas: “Under The Black Flag” e “Eric, The Red”.
Fernando: Essa mistura de power metal com histórias medievais nunca vai acabar. Não conhecia o som do DragonHeart (só eu me incomodo com essa letra maiúscula no meio da palavra?), mas já tinha visto alguma coisa deles por aí. Não sei se foi impressão, mas me pareceu que o vocalista Eduardo Marques se contém bastante nos tons mais altos, deixando tudo um pouco mais fácil de assimilação e menos enjoativo. Quase todas as faixas possuem uma vinheta de introdução o que me fez lembrar o clássico Nightfall in the Middle Earth. Já consumi muito desse tipo de metal, mas faz tempo que não vou muito atrás de coisas novas. Ouço sempre praticamente as mesmas bandas que eu ouvia antes.
Líbia: Bom pessoal, infelizmente não consegui ouvir o álbum o suficiente para compartilhar minha opinião.
Mairon: Power Metal na veia, e por incrível que pareça, Made in Brazil. Este é o quinto disco dos caras, marcando o retorno do vocalista e gutiarrista Eduardo Marques. São 15 faixas (com 4 interlúdos incluídos) em uma obra dividida em três atos, contando uma narrativa fantasiosa com influências medievais, sobre lendas deste período. Curti bastante faixas do primeiro ato, destacando “Ghost of Storm” e “Under the Black Flag”. O segundo ato possui apenas duas músicas, e é mais pesado do que power, destacando “Westgate Battlefield”. Por fim, o terceiro ato é uma mistura dos dois anteriores, onde gostei mais de “The Devil Is By My Side” e a paulada “Plague Maker”, forte candidata a melhor de todo este belo disco recomendado por aqui. Boa audição!
Marcello: Novo álbum da banda curitibana de power metal, uma daquelas de quem ouvi falar e nunca tinha ido atrás para conhecer. Pesquisando na Internet fiquei bem surpreso com o quanto a veterana banda é apreciada pelos fãs do estilo. Após a vinheta de abertura, as guitarras de Marco Caporasso e Eduardo Marques dão o tom do disco na faixa-título; Thiago Mussi e Felipe Mata, ambos bons músicos, completam a formação no baixo e bateria. Daí em diante o que se tem é um belo trabalho de metal, com bastante variedade, vinhetas, experimentação com instrumentos pouco convencionais para o estilo, em suma, um disco muito bem produzido e próprio para fazer bater cabeça com gosto (eu já não posso mais fazer isso sem correr o risco de contundir o pescoço, hehehe). Não sou muito capacitado para falar da banda, tampouco do cenário power brasileiro, mas o álbum é muito bom e gostei bastante de “Under the Black Flag”, da empolgante “Barbarian Armada”, das rápidas “Westgate Battlefield” (minha favorita) e “Plaguemaker”, e do encerramento com “Early Days”. Apenas as vinhetas, na minha opinião, não acrescentam muito. Mas como também não atrapalham, a nota de The Dragonheart’s Tales é surpreendentemente elevada para um disco de um estilo que não está exatamente no topo da lista dos meus favoritos.
Kinetic Element – Chasing the Lesser Light
Por André Kaminski
Um dos discos mais legais que ouvi esse ano e forte candidato a entrar em meu top 10 de Melhores de 2023. Na veia de Emerson, Lake & Palmer e Yes, aqui você terá um monte de passagens progressivas bem intrincadas e longos solos em que todos os instrumentistas têm o seu momento de destaque. Claro que o vocalista St. John Coleman está bem longe de soar como um Jon Anderson, mas vocais para mim sempre foram o que menos importei, e nas bandas progressivas menos ainda. As letras são temáticas e falam da vontade da humanidade para com a conquista espacial. Um desejo bem anos 70 logo após as missões Apollo da NASA. Recomendo uma audição à todos que curtem esse esse estilo de prog do qual é um de meus favoritos.
Anderson: Com uma temática de exploração espacial esse álbum se divide em cinco músicas apenas, porém, com algumas passando dos 15 minutos. Você ouvirá teclados, sintetizadores, órgão, boas passagens de baixo, obviamente muita guitarra. Tem um ar bem sinfônico, mas, que as vezes é um pouco cansativo e com algumas quebras que prejudicam um pouco a sequência das músicas e a imersão do ouvinte. Novamente não vou me estender muito aqui, deixo para os especialistas em progressivo uma análise mais detalhada, com referências e comparações melhores. Como opinião de quem não é um aficionado por progressivo, não recomendaria esse álbum. Acho que a temática Xuxa vindo do espaço se encaixa melhor aqui…
Davi: Assim que olhei para a capa desse disco, pensei: “esse deve ser um álbum de rock progressivo”. E não é que eu acertei? A jogada dos caras é fazer um prog bem setentista, com ênfase no trabalho de teclado. Embora o instrumento seja o maior destaque do álbum, o timbre dele me incomoda um pouco. Acho a sonoridade um pouco clean demais. Outro ponto negativo fica por conta do trabalho vocal. Não pelas linhas vocais em si, elas são bem construídas (inclusive a linha vocal da faixa-título, me lembra bastante o Yes, banda que adoro), mas o cara simplesmente não me convence. As composições oscilam um pouco. Algumas são muito boas, como é o caso da já citada faixa-título e de “Door to Forever”. Outras são um pouco sonsas, como é o caso de “First Stage” ou “Radio Silence”. No geral, acho um disco bom, mas não espetacular.
Fernando: Há um tempo venho fuçando bandas de progressivo, principalmente as chamadas de neo-prog e não cheguei perto do Kinetic Element. Realmente é impossível conhecer tudo. Não sei se eu estou sendo parcial, mas lembrou muito o Spock’s Beard, principalmente essa nova fase – na verdade, nem tão nova assim – sem Neal Morse. Porém eu achei a voz de St. John Coleman um pouco irritante em alguns momentos (ouçam ali pelos 7 minutos da faixa título) e isso me tirou um pouco da vibe do disco. Quando ele canta em tons médios fica tudo bem, as músicas são legais, o problema é quando ele arrisca os agudos.
Líbia: Sem comentários para esse lançamento também, infelizmente não sobrou tempo para digeri-lo.
Mairon: Desconhecia totalmente essa banda americana. Os caras me lembraram muito os gaúchos do Apocalyse, com uma sonoridades bastante calcada no progressivo britânico, mas com teclados mais modernosos, e vocais não tão atraentes quanto o de nomes como David Gilmour ou Jon Anderson. É um álbum conceitual, baseado em histórias dos desejos dos homens em viajar pelo espaço. Há momentos onde parece que estamos ouvindo o bom e velho Genesis ou Emerson, Lake & Palmer, vide alguns trechos da longa faixa-título e de “Door To Forever”, e daí a coisa empolga. Mas creio que a banda peca mesmo é nos vocais, que soam muito cansativos por vezes. Faixa que mais me agradou foi “First Stage”, não por acaso aquela onde os vocais conseguem se sair bem aos meus ouvidos. De qualquer forma, legal saber que há bandas gravando algo nesse estilo ainda hoje.
Marcello: Outra banda que não conhecia, e que tive que ir buscar informações pela Internet para saber de quem se tratava. O grupo americano está listado no ProgArchives como neo prog, e este seu quarto álbum de estúdio é descrito como conceitual e dedicado às pessoas que trabalharam nas missões Apollo; é daqueles discos que é bom ouvir com as letras à mão. O instrumental é muito bom (com destaque absoluto para os teclados de Mike Visaggio, cujos timbres remetem aos tempos áureos do progressivo nos anos 70), as músicas são bem construídas e têm um agradável sabor de progressivo clássico, mas os vocais de St. John Coleman não me agradaram, para ser honesto. A faixa-título, com quase vinte minutos, é o destaque absoluto do disco, com boas variações de ritmo, guitarras e teclados se alternando para captar nossa atenção, mas vocais aquém da capacidade do grupo – ainda bem que a música tem vários trechos instrumentais. “First Stage” e “Radio Silence”, as faixas mais curtas, são um pouco inferiores; quando as músicas ultrapassam os dez minutos, a banda está, com o perdão do trocadilho, no seu elemento. “We Can’t Forget” traz o guitarrista Peter Matuchniak com grande destaque, e o solo de órgão de Visaggio me encheu de nostalgia. O encerramento com “Door to Forever” traz ecos de Steve Howe nas guitarras de Matuchniak, e, curiosamente, os vocais de Coleman estão melhores aqui do que no resto do álbum, tornando a música a minha segunda favorita. No final das contas, teria gostado mais deste “Chasing the Lesser Light” se ele fosse instrumental; eles deviam ter feito como no último disco do Porcupine Tree e incluído as versões instrumentais das músicas.
Hurricanes – Hurricanes
Por Davi Pascale
Descobri essa banda totalmente por acaso. Estava navegando no meu Facebook, quando vi uma galera comentando que a banda que tinha sido número de abertura no show do Black Crowes era excelente. Imediatamente fui atrás do nome da banda e de algo para ouvir. Acabei me deparando com 2 clipes no Youtube e foi o suficiente para chamar a minha atenção. A banda aposta em um rock n roll, influenciado por blues, com uma aura bem setentista. E, de boa, os caras não ficam nada a dever para os gringos. Os grandes destaques do grupo são o guitarrista Leo Mayer e o vocalista Rodrigo Cezimbra. Escute “The Bird´s Gone”, “Thunder In The Storms”, “Flower” ou “Purple Clouds” e tente ficar indiferente. Discaço!
Anderson: Ao ver a redundância do nome da banda e álbum, me soou clichê e fui deixando esse pro final. Contudo, foi uma das melhores experiências da lista. Os caras do Hurricanes incorporam o melhor do rock n roll, blues, Southern rock e afins dos anos 1970. O som é tão natural e espontâneo que nem passou pela minha cabeça que eram conterrâneos, não que as bandas daqui não sejam qualificadas (claro que não!), mas me pareceram nativos dos EUA. Isso indica que, ao meu ver, os caras fizeram um trabalho extremamente fiel às origens do estilo. Ao pesquisar um pouco creio que tenha a ver com a forma como eles realizaram as gravações: presencialmente (como antigamente) e com instrumentos clássicos – old school! Voltando ao som, se você curte Deep Purple, Led Zeppelin e pitadas de Blackberry Smoke irá com se apaixonar pelo material. Até nas letras da pra pegar aquela aura psicodélica do movimento Hippie, com várias menções a elementos da natureza em sons bem trabalhados hora mais rápidos e hora mais lentos e extensos. Vai entrar na minha lista de bandas que acompanho, com certeza.
André: Aqui temos uma mistura de blues rock com algumas coisinhas de hard, jazz e clássico. Um disco bem legal, uns backing vocals femininos bem feitos, um baixo que lembra bastante o jazz sessentista e uma sonoridade geral bem de resgate principalmente dos anos 60 com as vantagens da produção de hoje em dia. As canções que mais gostei foram “Devil’s Deal” e “Flowers”. Bacana, singelo e agradável.
Fernando: Dificil não relacionar o Hurricanes de cara com o Led Zeppelin e The Black Crowes. Também foi difícil conseguir informações sobre a banda pois vários outros Hurricanes ou variações desse nome estão por aí. No fim consegui descobrir que se trata de uma banda brasileira, gaúcha para ser mais exato, com Rodrigo Cezimbra nos vocais, Guilherme Moraes na bateria, Henrique Cezarino no baixo e Léo Mayer nas guitarras e produção. Porém o som é muito fácil de gostar, as músicas são redondinhas, bastante bom gosto nos timbres e na mistura entre a sonoridade setentista com o som atual. O disco tem pouco mais de 30 minutos e eles conseguem deixar o ouvinte com vontade de ouvir mais. Muito bom!
Líbia: Uma boa surpresa! Apesar da sonoridade possuir um tom contemporâneo, tem os dois pés no coração blues rock dos anos 70. “How do you love?” é uma faixa muito inspirada, tem um inicio jazzístico maravilhoso, logo após há várias nuances do rock and roll com direito a um lindo solo de guitarra e gaita. A banda entregou muita qualidade em vários quesitos em seu primeiro álbum, sem esquecer da produção caprichada. Fiquei sabendo que este era um sonho distante e, com muito esforço e apoio, finalmente foi lançado este álbum autointitulado. Maravilhosa recomendação.
Mairon: Assim como quase toda esta lista, desconhecia os rapazes que me causaram várias surpresas. Não há pudor algum em entregar as referências e inspirações. Stones surge na base acústica de “Flowers”, Pink Floyd no riff a la “Have A Cigar” de “Thunder In the Storm”, uma linda balada bluesy, Johnny Winter com The Allman Brothers Band no blues de “How Do You Love?”, e os slides zeppelianos de “The Bird’s Gone”. Faixas como “Devil’s Deal”, (que trecho jazzístico fantástico), “Purple Clouds”, “Waiting” e “Weary Hearted Blues” mostram uma similaridade com o que o Greta Van Fleet vem fazendo, resgatando a sonoridade anos 70 mas com toques modernos, e o sotaque do vocal acaba entregando a maior surpresa de todas: o pessoal é brasileiro!! Bom saber que algo nessa linha está sendo feito por aqui. Bela obra!
Marcello: Procurei um bocado e não consegui encontrar o disco… Já tinha enviado as outras resenhas quando o Mairon mandou um link, e aí só deu tempo de ouvir duas vezes, mas não de procurar mais informações sobre a banda – só achei uma resenha no site da 89 FM, onde descobri que é o disco de estreia da banda brasileira, produzido pelo próprio guitarrista Leo Mayer. O disco é curtinho, oito músicas em pouco mais de 33 minutos, e soa como um álbum dos anos 70 trazido para o século XXI. Boas guitarras, teclados pouco intrusivos, baixo e bateria pesados na medida certa e bons vocais, com um som que lembra um pouquinho Black Crowes (para quem abriram shows recentemente) dos dois primeiros álbuns, mas sem soar como cópia ou plágio. Tudo começa com a pesada e animada “The Bird’s Gone”, mais pesada e com um órgão para lá de setentista. “Purple Clouds” soa como um Led Crowes, pois o vocalista canta com alguns maneirismos que lembram Robert Plant, ao passo que as guitarras remetem a Rich Robinson e quem quer que esteja tocando guitarra com ele. O solo de slide guitar é muito legal nessa música! A baladinha “Flowers” não me chamou muito a atenção (não é ruim, mas também não se destacou). “Devil’s Deal” também coloca a slide guitar no centro das atenções, mantendo o astral elevado. A introdução de “How Do You Love” me fez lembrar de “How Many More Times”, do primeiro álbum do Led Zeppelin, e “Weary Hearted Blues” diminuiu novamente o peso, com um ritmo bluesy bem atraente. Bom disco, despretensioso, que remete ao passado mais glorioso da história do rock. Oh we won’t give in, let’s go living in the past!
Mythra – Temples of Madness
Por Líbia Brígido
Provavelmente em alguma prateleira de loja de discos “Temples of Madness” chamaria minha atenção primeiramente pela capa feita pelo artista Roberto Toderico. Nela percebemos a seu fascínio pelas culturas antigas, pelo terror e como ambientação de Nápoles, cidade natal do artista, é de grande inspiração. Tudo isso caiu muito bem para esse mais recente lançamento da MYTHRA, banda formada pouco antes do termo “New Wave of British Heavy Metal” ser mencionado, sendo uma das bandas que deram origem ao rico movimento. O lançamento do EP “Death & Destiny” em 1979 foi o suficiente para a banda não ser esquecida pelos fãs e colecionadores amantes das bandas de heavy metal inglesas. Isso impulsionou a banda a retornar muitos anos depois, em 2015. Em“Temples of Madness” a banda realmente se inspirou em suas próprias origens, manteve a sua essência. E ao colocar no leitor de CD pela primeira vez as faixas são surpreendentes mesmo nos levando à época de origem da banda, nos levando a uma conexão com as músicas e a banda. A excelente produção nos proporciona a ouvir os excelentes riffs, faixas empolgantes e a excelente faixa-título “Temples of Madness”. Recomendo muito esse CD na coleção.
Anderson: Se você não consegue entender o que significa New Wave of British Heavy Metal ouvindo os clássicos e misturando as ideias, ouve isso aqui que vai te dar um resumo completo. Vai achar Saxon, Iron Maiden e Judas Priest clássicos, entre outros. Aliás a banda tem origem no NWOBHM, nasce nos anos 1970 mas morre nos anos 1980. Voltam para valer apenas por volta de 2015 trazendo uma sonoridade absolutamente clássica e a cara da NWOBHM. Gostei particularmente de Split te Veil um pouco mais rápida e com uma pegada mais sombria na sua dinâmica; “Failure of Fortune” com seus riffs super simples também é um destaque legal; e, por fim, acredito que a faixa título, que começa lenta e é a mais longa do álbum, é a mais legal. Tem variações interessantes e reflete bem o estilo. É um bom álbum, nada de especial em um álbum curto com músicas também curtas, porém agradável de ouvir do começo ao fim. Tinha espaço para algo mais grandioso e essa seria a única ‘crítica’.
André: Não uso Spotify e não consegui encontrá-lo em nenhum outro lugar online. Uma pena, queria muito ouvir este disco.
Davi: Procurei, procurei, procurei, mas não consegui encontrar o álbum para ouvir. Encontrei o primeiro disco e um EP intitulado Death and Destiny. Desse aqui, tudo que encontrei foi um vídeo com um dos integrantes anunciando o álbum e trechos de algumas composições que estariam no disco. Assim como o Tanith, os caras apostam em uma sonoridade NWOBHM, mas aparentemente eles usam uma mixagem um pouco mais moderna, possuem mais de peso e um cantor melhor. O pouco que ouvi, achei interessante, mas não encontrei o tanto de conteúdo que preciso para poder formular um comentário mais aprofundado.
Fernando: Opa!!! Aqui é minha praia! A NWOBHM é uma das coisas que eu mais me interesso e o Mythra é uma daquelas bandas que só quem fuçou realmente conhece pois no fim das contas no período temporal que colocamos o surgimento, desenvolvimento e fim do movimento eles não chegaram a lançar um álbum completo de fato. Inclusive o EP de 1979, The Death & Destiny, faz parte da minha wishlist há tempos.
Mairon: Heavy Metal tradicional de uma das bandas da NWOBHM, e que ainda segue na ativa, mesmo tendo ficado afastada dos holofotes durante muito tempo. Este é somente o terceiro CD dos caras, e é daqueles que qualquer fã do estilo irá curtir. Os vocais de Kev Mcguire não tem a força de um Bruce Dickinson, ou um carisma de Biff Byford, mas agradam bastante, principalmente em “Dangerous “, “Prophecy”, “Stabbed in the Back” e “Wild and Free”. Destaques para os riffs de “Failure of the Fortune”, “Split the Veil”, “The Reaper”, e melhores faixas ficam para a ótima faixa-título, com sua bela introdução dedilhada, e a pesada e trabalhada “Vertigo”, com um refrão que fica grudado na cabeça. Boa obra!
Marcello: Uma banda antiga, dos primórdios da New Wave of British Heavy Metal, mais uma ilustre desconhecida para mim, que pelo que pude apurar gravou bem pouco naquela época e sumiu para depois retornar. O grupo faz um heavy clássico, que lembra bastante aquela cena britânica do começo dos anos 80, e as duas primeiras músicas (“Stabbed in the Back” e “Split the Veil”), para mim, estabelecem o tom do disco, com guitarras pesadas e bons vocais, e músicas pesadas, diretas e normalmente curtas, que não deixam a energia cair ao longo do álbum. O encerramento com “Wild and Free” mostra que a banda foi bem fiel à proposta que fez para o disco, encerrando uma coleção de doze boas músicas. O nível do disco é bem uniforme, tornando difícil destacar alguma outra composição em especial, mas a faixa-título é mais longa do que o resto, e generosa com o ouvinte; nela o vocalista Kev McGuire ganha destaque adicional e John Roach brilha na guitarra solo. “Temple of Madness” é um bom disco, e o Mythra surpreendeu-me positivamente. Mas gostaria de ter tido a oportunidade de ouvir mais vezes para poder falar melhor do disco.
Moon Coven – Sun King
Por Mairon Machado
Estes suecos surgiram para mím através daquelas indicações do youtube que você acaba não percebendo que surgiu, e segue ouvindo. É o segundo disco da banda que ouvi (o outro é o também seminal Slumber Wood), mas aqui, o quarteto está mandando ver. Os riffzões de baixo e guitarra, com uma distorção fodida, e uma bateria mais que pesada, fazem da abertura com “Wicked Words In Gold They Wrote” uma faixa para sairmos empunhando air guitar pela sala. Isso segue incondicionalmente impactante em “Behold the Serpent”, “The Lost Color” e “The Yawning Wild”, faixas para colocar a sala abaixo, e estourar os alto-falantes. O peso segue demolindo a casa através de “Seeing Stone”, mas nem só de peso vive Sun King. Afinal, não há como não se encantar com os solos de ” Below The Black Grow” e “Sun King”. O melhor fica para “Guilded Apple”, uma amostra grátis do que o Black Sabbath foi para quem só quer ouvir novidades no streaming. O Moon Coven tem tudo para ser uma das grandes bandas dessa década, tomara que continuem lançando discos tão bons quanto esse.
Anderson: Na hora que comecei a ouvir pulou na minha cara Jane’s Addiction. Nem lembrava mais desses caras, mas ficaram registrado lá na fonte, fizeram um estrago. Acredito que não seja a comparação correta a se fazer, porém para mim foi isso que veio. De qualquer modo, pra quem curte um som pesado, sujo e direto vai ser feliz com o Moon Coven. Gostei bastante e irei atrás dessa banda com certeza. Bem na realidade trata-se de um stoner dos bons, algumas passagens que lembram bandas mais clássicas de heavy metal como solos gritantes e relativamente simples, aquela bateria seca com bastante prato soando sem parar, alguns efeitos e passagens duradouras um tanto quanto doom. O destaque é mais o conjunto, apesar do baixo estar bem forte e distinto nas músicas. É um mergulho no caos e quando você percebe, acabou o disco. Muito bom!
André: Banda sueca de stoner desconhecida para mim. Eu gosto do estilo, achei o vocal mais agudo à la Ozzy Osbourne interessante, mas de forma geral o disco me passou meio batido sem algum riff ou passagem de destaque. A principal influência é o Sabbath. Dá de ouvir tranquilo, mas falta um pouco mais de capricho em criar ganchos marcantes.
Davi: O Moon Coven é uma banda daquilo que se convencionou chamar de stoner doom. Todas as características do gênero estão aqui presentes: os riffs pesados e arrastados, a bateria esmurrada, as linhas vocais oras melancólicas, oras gritadas em uma vibe meia Ozzy anos 70. Aliás, a influência de Black Sabbath se faz presente em diversos momentos. Também se faz presente umas pitadas de rock psicodélico. Ainda que o som deles não seja exatamente original, o trabalho é bem feito. Os caras são, indiscutivelmente, bons músicos. Colocaria como destaque do álbum, as faixas: “Wicked Words In Gold They Wrote”, “Behold The Serpent” e “Guilded Apple”. Vale uma audição.
Fernando: O stoner rock (ou stoner metal) é um estilo que eu tenho um pouco de preguiça. Depois de um tempo me parece que as músicas ficam todas iguais como também fica a impressão de que a qualquer momento as bandas vão enfiar um riff do Black Sabbath no meio da música para fazer uma referência. E não foi o Moon Coven que me fez mudar de ideia. Apesar de alguns bons momentos aqui e outros acolá, no geral é mais do mesmo que eu comentei acima.
Líbia: Sempre que ouço algo tão atual e bom como o “Sun King” da Moon Coven, me pergunto de onde tiraram esse papo de que o rock ou metal morreram. Esse lenga-lenga não passa de uma preguiça de procurar as novidades. A sugestão desse tema realmente foi excelente para nos mostrar quantos álbuns de qualidade foram lançados nesse ano. As bandas que surgiram na última década mais voltadas ao Stoner Metal tem enriquecido muito nossos repertórios, e provavelmente “Seeing Stone” fará parte de certos dias para desopilar a mente. A faixa-título “Sun King” tem os melhores momentos do álbum. A Ripple Music realmente tem um catálogo incrível, principalmente dessa seara, e esse lançamento é mais um dos bons.
Marcello: Banda sueca que se enquadra na minha categoria de grupos do qual ouvi falar – ou li a respeito – e nunca tinha tido a chance de ouvir a música. O estilo musical é descrito como stoner, doom, psychedelic, e outras coisas que não estão no meu radar. O disco começa com as guitarras pegando fogo, e o baixo soando como uma terceira guitarra, até que os vocais entram – um pouco abafados na mixagem para meu gosto, em “Wicked Words in Gold They Wrote”. Daí em diante, tem-se um desfile de canções extremamente bem feitas, mais ou menos no mesmo padrão da abertura – mas não se trata de um disco monótono, porque o bom trabalho instrumental e o baixo carregado de fuzz não deixam espaço para isso. A faixa título é um dos principais destaques, com a bateria levando a um trecho de guitarras gêmeas muito bem realizado. O final com “Death Shine Light on Life” (uma curta instrumental) e “The Lost Color” é muito interessante, e eu ainda destacaria “Gilden Apple”. Em alguns momentos as músicas me lembraram o Black Sabbath original com Ozzy, o que sempre me será uma influência bem-vinda. No todo, achei um bom disco, ainda que deva ser ouvido quando você estiver na mesma sintonia mental que o quarteto.
Tanith – Voyage
Por Marcello Zappelini
Segundo álbum da banda de hard rock americana, “Voyage” traz o Tanith como um trio (ainda que com o apoio de Andee Blacksugar nas guitarras), formado pelos fundadores Russ Tippins (guitarra/vocais), Cindy Maynard (baixo/vocais) e Keith Robinson (bateria). O Tanith tem sido descrito como tendo influências de bandas como Blue Öyster Cult, Thin Lizzy, Heart e até Fleetwood Mac (nos vocais). Cheguei a esse álbum por indicação de um amigo meu, que me falou da banda por conta da interação entre vocais masculinos e femininos, e gostei o bastante para ir atrás do primeiro álbum (o bom “In Another Time”, de 2019, que contava com Charles Newton nas guitarras). O álbum tem um emocionante sabor de rock da década de 70, e mostra a evolução da banda, especialmente nos vocais de Cindy Maynard, que me parecem mais suaves no primeiro álbum e aqui têm mais variação. Há várias músicas interessantes para destacar, desde a abertura com “Snow Tiger” ao encerramento com “Never Look Back”, passando por “Seven Moons (Galantia Pt. 2)”, que completa uma trilogia com duas faixas do primeiro disco [“Citadel (Galantia Pt. 1)” e “Wing of the Owl (Galantia Pt. 3)”], “Adrasteia” (que destaca as guitarras de Tippins), “Mother of Exile” (belo trabalho vocal de Cindy) e “Olympus by Dawn”. Um disco bastante agradável, com boas músicas, um belo instrumental, mas que infelizmente não tem jeito de grande sucesso, nem de lista de “melhores do ano”, mas que me faz esperar não só que o Tanith continue, como ainda por cima não demore quatro anos para lançar o próximo.
Anderson: Aqui um Heavy Metal clássico, daqueles bem clássicos estilo NWOBHM. Porém ao contrário do que aconteceu com o Walking with Titans e seu Power Metal manjado, aqui tive mais resistência em aceitar a mesmice. A primeira parte foi entediante e apenas na segunda metade do álbum que começou a descer legal. Creio que uma nova audição possa mudar algumas opiniões. O vocal compartilhado entre Russ Tippins (vocal/guitarra) e Cindy Maynard (vocal/baixo) soou interessante positivamente. Russ tem um timbre que me remeteu ao Klaus Meine (Scorpions), enquanto a forma como modula a voz e o estilo de cantar de Cindy me remeteu imediatamente a ótima Johanna Sadonis (Lucifer). Claro que largadas devidas as proporções, apenas algumas referências. Aliás, atentando à sonoridade poderia citar o início do Black Sabbath e Blue Öyster Cult, muita coisa dos anos 70 está nesse material.
André: Me surpreendi com este excelente disco. Não conhecia o Tanith e me deparei com um heavy metal tradicional mas que pinça algumas coisinhas também de hard rock setentista tipo Uriah Heep e até um tiquinho de space rock em algumas passagens de teclado. Tanto Cindy quanto Russ são ótimos vocalistas e além disso, a moça também toca muito bem o seu baixo, bem audível em todas as canções da banda. Uma pena que como o disco não tem nenhuma faixa daquelas mais “radio-friendly”, a banda vai passar batido nos motores de pesquisa do youtube e spotify. Um disco forte candidato a entrar na minha lista de Melhores do Ano.
Davi: O Tanith é uma banda muito bem falada entre os amantes do metal, mas sinto dizer, a impressão que tenho é que isso somente ocorre por se tratar de um projeto do guitarrista Russ Tippins (Satan). Sejamos francos. A ideia de fazer um hard/heavy setentista com uma aura NWOBHM é ótima, mas o resultado é bem fraquinho. As composições não cativam, o trabalho de contrabaixo é fraquérrimo, os trabalhos vocais (tanto os de Russ, quanto os da contrabaixista Cindy Mainard) também são fraquérrimos. As faixas menos piores acredito que sejam “Seven Moods (Galantia Pt2)” e a quase plágio do Iron Maiden, “Snow Tiger”. O trabalho de guitarra realmente é muito bom, mas é a única coisa que escapa nesse disco.
Fernando: Essa banda eu conheço também. Gostei do In Another Time, de 2019, mas acabei esquecendo da banda já que desde então não tinha saído mais nada. Para quem acompanha algumas bandas da NWOBHM é obrigação conhecer Russ Tippins por conta de bandas importantes como Satan, Blind Fury e Tysondog. O interessante é esse dueto de vozes suaves tanto de Tippins quanto da baixista Cindy Maynard. Tippins não cantava em suas bandas mais conhecidas, mas pegou gosto quando manteve a Russ Tippins Eletric Band, ali no início dos da década passada e faz o trabalho muito com bastante mérito. Não espere nada de inovador, mas tenha certeza de que eles entregam algo redondinho, bem feito e bastante satisfatório. Banda nova com integrantes experientes tem dessas vantagens.
Líbia: Já na “Snow Tiger” já senti as raízes do metal americano, algo que me lembrou as passagens de Manilla Road e Ashbury por exemplo. Não conhecia, e fiquei feliz em ouvir, me identifiquei muito. Chegando na “Falling Wizard” já estava entregue a banda, já fazendo planos para ouvir na próxima viagem de carro. Essa faixa é bem inspirada, começa com um coro, os riffs são enérgicos e a cozinha com um tempero ótimo lá da casa do Rush. Eu realmente adorei esse álbum! Daqueles que falamos “Pow, isso é bom demais!” no meio das músicas. Obrigada por esse indicação.
Mairon: Mais uma banda americana por aqui, fazendo um Metal interessante, misturando diversos elementos e com belas harmonias vocais no duo feminino/masculino. O som é bem comum na maior parte das faixas, vide “Falling Wizard”, “Flame”, ” Mother of Exile”, “Never Look Back” e “Olympus by Dawn”, mas curti a mistura de violões e muito peso de “Seven Moons (Galantia Pt. 2)” e “Snow Tiger”, o riff de “Architects of Time” e as divisões vocais da veloz “Adrasteia”, melhor do disco. Legalzinho!
Hawkwind – The Future Never Waits
Por Daniel Benedetti
Anderson: Sempre comento que esse tipo de música não é muito minha praia o que faz com que me sinta um pouco deslocado em comentar. Logo, não irei me alongar uma vez que tem muita gente mais competente por aqui e que vão detalhar o material. Um som progressivo que, ao meu ver, conversa bastante com outros gêneros como o jazz e muitas vezes vai ao limite do estilo (se é que há um limite para o rock progressivo). A base do som, como a própria capa ilustra bem, são os anos 1970 e encontrar passagens que lembram grandes expoentes do estilo não é incomum. Agora, a importância que o teclado e o sintetizador possuem para esse álbum é algo evidente. Não se trata só de ambientação, ou protagonismo em algumas passagens, é parte substancial das músicas. Por vezes, no entanto, algumas sequências de bateria e rupturas, eu diria dramáticas (negativamente), nas músicas dão um nó na cabeça. Minha impressão final é confusa, as vezes parecia que a nave da Xuxa ia pousar na minha sacada e os caras sairiam da névoa tocando os sons… Não é minha praia.
André: A banda é bem conhecida, mas eles lançam tantos discos que mesmo assim um desses aqui pode passar batido. Incrível como o incansável Dave Brock, já com seus 82 anos, ainda segue compondo (junto aos seus companheiros) e liderando uma das bandas referência quando se trata de space rock. E a banda segue em alto nível. “They Are So Easily Distracted” é longa e tem um solo de sax e piano bem requintado unindo àqueles sintetizadores fazendo atmosferas espaciais como de costume. Outra que também gostei foi “Outside of Time”, com um instrumental mais “ambient” e um ar meio natureba que me agradou bastante na mistura com o sintetizador espacial. Estou longe de ter escutado metade do que a banda já lançou, mas tudo o que ouvi eu gostei. E este disco inclui-se nesta categoria.
Davi: O Hawkind faz parte daquele hall de bandas que seguem na ativa tendo apenas o nome e 1 integrante original. O integrante, nesse case, é Dave Brock, no auge de seus 82 anos. De fato, acho muito bacana quando a pessoa envelhece fazendo o que gosta. O problema é quando a arte envelhece com a pessoa e esse é o caso aqui. Ok, o trabalho de guitarra é bem feito. A (insuportável) “They Are So Easily Distracted”, por exemplo, tem um solo bem bonito, mas convenhamos, o disco é bem chato. Inúmeros samplers, trabalho vocal morto (teve momentos em “Rama” e “The End”, que eu achei que ele fosse dormir, eu estava quase), arranjos sem vida, experimentações sem pé, nem cabeça. Para não dizer que não se salva nada, os 3 minutos finais de “The Beginning” são muito bonitos, mas é só isso mesmo.
Fernando: Não sabia que o Hawkwind ainda estava na ativa. Não conheço a fundo a carreira da banda, até porque a quantidade de disco é enorme e fiquei somente naqueles discos ali da primeira metade dos anos 70. Realmente, se não fosse o tema da matéria, esse seria definitivamente um disco que eu não iria ouvir por conta própria mesmo! Como disse não acompanhei a banda ao longo das décadas portanto não sei se o estilo do disco em questão foi mantido ao longo de todo esse tempo, mas me pareceu uma banda tentando emular a fase de ouro de sua história e isso não é uma crítica, ou um demérito.
Líbia: Esse álbum me fez bem, estava em uns dias acelerados e pouco saborosos, e “The Future Never Waits” me levou a outro planeta, estava precisando. Conheço pouco do Hawkwind, e essa experiência musical vai ficar marcada. Quem não entende muito do prog (eu me incluo nisso) vai achar esquisito no início, igual quando conhecemos alguém e não temos tantas expectativas. Começa com a faixa título com efeitos sonoros e espaciais e quando finalmente chega na “The End” o álbum já mostra completamente seu potencial. É um disco com uma variedade ótima de sons com uma riqueza e tanto de jazz, porém minha favorita por enquanto é a enérgica “Rama ( The Prophecy)”. Muito bom vivenciar esse lançamento.
Mairon: Este disco não foi apenas quem o indicou que ouviu. Das poucas coisas de 2023 que parei para apreciar, The Future Never Waits esteve entre elas. Apenas Dave Brock continua na ativa desde a fundação do grupo no final dos anos 60, mas ele mantém as geniasi passagens exploratórias de músicas incompreendidas (eu mesmo demorei muito tempo para decifrar os enigmas que são as obras do grupo) em alta. Os grandes destaques desse disco sem dúvidas são os mais de dez minutos da faixa-título, com uma mescla de sintetizadores, percussões e teclados extremamente envolventes, e a igualmente com mais de dez minutos ” They’re So Easily Distracted”, com várias mudanças no protagonismo do instrumento central, onde um saxofone divinamente encantador e uma guitarra suave, mas igualmente encantadora, dão um espetáculo a parte. Mas há mais neste que é o 36° (!) disco de estúdio dos britânicos. As viagens instrumentais seguem em “Adous Huxley”, com uma linda passagem de piano e sintetizadores, ou s delirantes notas de guitarra em “USB1”. Por outro lado, faixas vocais se fazem presente de forma bastante modernas, vide “Outside of Time” e “Rama (The Prophecy)”. “I’m Learning To Live Today”, lembra os tempos de clássicos como DoReMi FaSol LaTiDo ou Hall of the Mountain Grill, O rock simplório, quase punk, de “The End” chega a ser hilário de se ouvir advindo de uma banda tão conhecida por suas técnicas musicais avançadas. Único deslize, mas muito pequeno, para o fim do disco, com “The Beginning” e “Trapped In This Modern Age”, alegrinhas demais para um disco que poderia figurar facilmente nas listas de Melhores de 2023.
Marcello: E a turma de Dave Brock continua por aí, com mais de 50 álbuns de estúdio ou ao vivo lançados, dezenas de formações diferentes e muita doideira pelo caminho. “The Future Never Waits” continua a saga do Hawkwind e seu space-rock para quem quiser acompanhar. Brock e o guitarrista/tecladista Magnus Martin são responsáveis pela composição das músicas, algumas contando com a participação dos demais integrantes da banda (que inclui também Richard Chadwick na bateria, Doug McKinnon no baixo e Tim “Tightpaulsandra” Lewis nos teclados e eletrônicos em geral). A faixa título apresenta dez minutos instrumentais altamente viajantes, e os tradicionais riffs de guitarra de Dave Brock puxam a faixa seguinte, “The End”. “They’re So Easily Distracted” é outra música viajante, que prende a atenção do ouvinte com saxofones sampleados (saudades do grande Nik Turner…), e mostra que a banda ainda tem muita lenha para queimar. Outras três músicas do disco ultrapassam os oito minutos de duração, provando que o Hawkwind continua não dando a mínima para a cena musical que circula por aí e se concentra em fazer aquilo que os fãs mais apreciam; “Trapped in this modern age”, apesar do título, está aí para provar. Já “Outside of Time” é uma das melhores músicas neste “The Future Never Waits”, e a que me fez voltar mais vezes ao álbum. A última vez que tinha ouvido um disco novo da banda em seu lançamento fora o (bom, diga-se de passagem) “Blood of the Earth”. No final das contas, acabei concluindo que o Hawkwind evoluiu, mas continua o mesmo de décadas atrás. Ainda bem.
Como sempre, foi muito bom participar dessa seção para conhecer bandas que de outra forma não teria contato. Mas dessa vez pelo menos consegui acertar dois dos responsáveis pela indicação, um dos discos eu tinha fortes suspeitas, mas num deles errei feio!! O disco do Kinetic Element pensei que viria de outra fonte…
Eu também curto uns progs loucos, Marcello. 😀
Vou indicar alguns discos:
All Traps on Earth
This Winter Machine – Kites
Vou indicar o novo disco do Saxon, que vai sair no ano que vem: “Hell, Fire and Damnation”. Certamente NINGUÉM vai ouvir esse álbum, e também não vou!