Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Madison Square Garden
Por Marcello Zapelini
Nosso segundo artigo dedicado aos templos do rock mundial visita a Big Apple, New York, New York, para destacar alguns discos ao vivo gravados no icônico Madison Square Garden, que se apresenta no seu site oficial como a arena mais famosa do mundo. Claro que pode ser um pouco de exagero, mas sem sombra de dúvidas se trata de uma séria candidata ao título! O MSG, como o Budokan, é uma arena esportiva que hospeda shows musicais, espetáculos circenses, diversos tipos de entretenimento, parada obrigatória para toda banda ou artista solo que se preze no mundo musical, e sonho de consumo para quem está começando a ensaiar na garagem da casa dos pais. A arena atual é a quarta a receber esse nome, que homenageia o presidente James Madison, sendo que a primeira era alugada ao famoso empresário de circo P. T. Barnum, que cunhou a imortal frase “nasce um otário a cada minuto” para explicar como seus espetáculos (que incluíam filhotes de sereias das ilhas Fiji) vendiam tanto.
O quarto MSG foi inaugurado em fevereiro de 1968, e o primeiro espetáculo musical apresentado reuniu Bing Crosby e Bob Hope. Ao longo dos anos, milhares de músicos se apresentaram no MSG. Billy Joel (ele mesmo um nova-iorquino) tem na arena a sua “casa de espetáculos” em New York, mas Elton John, com 64 concertos, é o artista estrangeiro que mais se sente em casa lá. No entanto, a banda Phish, com 83 apresentações, é a recordista em shows no MSG. Um detalhe interessante: John Lennon, George Harrison, Paul McCartney e Ringo Starr se apresentaram na arena, mas os Beatles nunca tocaram lá – até mesmo porque pararam de excursionar em 1966… No caso de John, sua apresentação se resumiu a três músicas com Elton John, após ter perdido uma aposta com o pianista dos óculos
extravagantes. Mas Ringo e George se apresentaram juntos no famoso concerto para Bangladesh, com Ringo tocando posteriormente com sua All Starr Band.
Para conhecermos um pouco mais da música que rolou no Madison Square Garden, selecionei cinco álbuns, mas não resisti e incluí mais dois como bonus tracks. Curiosamente, ao preparar a lista me dei conta de que cada um desses álbuns possui algum tipo de registro em vídeo para acompanhar!. Assim sendo, Welcome to the Garden!
The Rolling Stones – Get Yer Ya-Ya’s Out [1970]
Reputadamente um dos maiores álbuns ao vivo da história, Get Yer Ya-Ya’s Out foi registrado em três shows no MSG em 27 e 28 de novembro de 1969 – mas “Love in Vain”, contrariamente ao que está na capa, foi determinada como tendo sido gravada em Baltimore no dia 26. Partes do show também podem ser vistas no filme Gimme Shelter, que documenta a turnê americana de 1969, que marcou a volta dos Rolling Stones aos palcos, bem como a estreia de Mick Taylor na guitarra, substituindo o recentemente falecido Brian Jones. O repertório se concentra nos discos mais recentes da banda até então, “Beggars Banquet” (“Stray Cat Blues”, “Sympathy for the Devil” e “Street Fighting Man”) e “Let it Bleed” (“Love in Vain”, “Midnight Rambler” e “Live With Me”), bem como os dois singles mais recentes (“Jumpin’ Jack Flash” e “Honky Tonk Women”), e se completa com dois clássicos de Chuck Berry, “Carol” e “Little Queenie” (esta última não tinha sido lançada oficialmente pelo grupo até então). Claro que houve mexidas em estúdio: Mick Jagger regravou os vocais em quase todas as músicas e os backing vocals de Keith Richards, que não tinham sido adequadamente gravados, também foram refeitos. Mas no resto, foi praticamente tudo lançado como fora tocado no show (ainda que o solo de Keith em “Jumpin’ Jack Flash” tenha sido limado – é só conferir o filme). Jagger comenta “Charlie’s good tonight” – mas na verdade a banda como um todo está perfeita. Richards e Taylor têm vários momentos de brilho, especialmente no duelo de guitarras em “Sympath for the Devil”, no solo sujo de Richards em “Carol” e no trabalho perfeito de slide de Taylor em “Love in Vain”, Charlie Watts soa perfeito e Bill Wyman, discreto como sempre, arma a base para os guitarristas e o vocalista voarem alto. O velho Ian Stewart aparece no piano, sendo ouvido sobretudo em “Carol”. Com quase 47 minutos de duração, o LP simples entregava um bocado de valor pelo dinheiro investido na compra. Em 2010, uma edição remasterizada de 40º aniversário acrescentou um segundo CD com o set acústico com “Prodigal Son” e “You Gotta Move”, bem como as antigas “I’m Free” e “Under My Thumb” e, naturalmente, “(I Can’t Get No) Satisfaction”, permitindo aos fãs ter acesso a todas as 15 musicas diferentes tocadas nos três shows. Além disso, um DVD bônus trouxe algumas cenas cortadas da edição final de “Gimme Shelter”, e um terceiro CD apresenta os números de abertura de B. B. King e Ike & Tina Turner. Os Stones se apresentaram 25 vezes no MSG, a mais recente em 2012, mas arrisco dizer que nenhum show se aproxima dos três primeiros. Get Yer Ya-Ya’s Out é a prova de que, em alguns momentos de sua carreira, The Rolling Stones fizeram jus ao título de “maior banda de rock do mundo”.
Mick Jagger (vocais), Keith Richards (guitarra, vocais), Mick Taylor (guitarras), Bill Wyman (baixo), Charlie Watts (bateria)
Ian Stewart (piano)
- Jumpin’ Jack Flash
- Carol
- Stray Cat Blues
- Love In Vain
- Midnight Rambler
- Sympathy For The Devil
- Live With Me
- Little Queenie
- Honky Tonk Women
- Street Fighting Man
Elvis Presley – Elvis As Recorded at Madison Square Garden [1972]
O quinto álbum ao vivo oficial de Elvis – e o terceiro disco do Rei em 1972! – foi gravado em 10 de junho de 1972, durante uma temporada de quatro shows no MSG entre os dias 9 e 11, os únicos que ele fez na arena em toda a sua carreira. Lançado no final do mês, o álbum ficou pronto em pouco mais de duas semanas: o “coronel” Tom Parker queria aproveitar a mídia em torno dos shows, e fez a RCA lançar o disco o mais rápido possível. Elvis ficara quase toda a década de 60 sem se apresentar ao vivo, mas entre 1969 e 71 fizera quase duzentos shows, e sua banda era composta por músicos de primeira, como o guitarrista James Burton, o baixista Jerry Scheff (que gravou L.A. Woman, último disco dos Doors originais) e o baterista Ronnie Tutt (um dos favoritos de Jerry Garcia), além de um monte de backing vocals e a Joe Malin Orchestra, conduzida pelo arranjador Joe Guercio. O repertório do álbum apresenta vinte músicas (“Teddy Bear” e “Don’t be Cruel” são apresentadas em medley), além da bombástica introdução com “Also Sprach Zarathustra”, de Elvis apresentando seus músicos, e um “End Theme” (com o apresentador informando “Elvis has left the building”), incluindo clássicos absolutos como “That’s Alright Mama”, “Hound Dog”, “All Shook Up”, “Suspicious Minds”, “Love me Tender”, “Can’t Help Falling in Love” (ninguém cantou esta música como Elvis …), “Proud Mary”, e músicas menos conhecidas como “Never Been to Spain” (sucesso com o Three Dog Night) e “For the Good Times”. Elvis estava com boa voz, o alto profissionalismo dos músicos de apoio e a boa qualidade da gravação fazem deste disco uma ótima audição para qualquer pessoa que queira saber por que ele era considerado o rei do rock. Ronnie Tutt começa sozinho com “That’s Alright Mama”, e o público vem abaixo quando Elvis aparece no palco. Daí em diante, tem-se um desfile de clássicos, alternando entre rocks, baladas, gospel e country music, mostrando a versatilidade do cantor e seus músicos. Diversão garantida! “Love me Tender” faz o público enlouquecer novamente, sendo possível ouvir os gritos quase tão alto quanto a música. No todo, o álbum permite ter uma boa ideia do que era assistir a um concerto de Elvis no começo dos anos 70. No ano seguinte, Aloha from Hawaii Via Satellite seria o álbum ao vivo mais vendido da carreira de Elvis, e em 1974 outra gravação ao vivo seria lançada; finalmente, em outubro de 1977, pouco depois da morte do cantor, Elvis in Concert foi disponibilizado, trazendo os últimos shows gravados profissionalmente de Presley, em junho daquele ano. É fácil se perder na discografia de Elvis, especialmente considerando os mais de cem lançamentos póstumos, e mesmo em termos de discos ao vivo, o álbum no Hawaii é o mais famoso. Mas Elvis as Recorded at Madison Square Garden é um excelente disco registrado nos últimos – e desiguais – anos de uma carreira sem paralelo no mundo do rock. E agora, para completar, o detalhe que faltava: o show não foi filmado profissionalmente, mas uma filmagem em Super 8 bastante razoável (que se completou com outros filmes feitos por fãs na época) foi disponibilizada pelo fã-clube oficial de Elvis em DVD.
Elvis Presley (vocais), James Burton (guitarras), John Wilkinson (guitarras), Ronnie Tutt (bateria), Jerry Scheff (baixo), Glen D. Hardin (piano), The Sweet Inspirations (Estelle Brown, Sylvia Shemwell, Myrna Smith) (backing vocals), Kathy Westmoreland (backing vocals), J.D. Sumner & The Stamps (Ed Enoch, Bill Baize, Richard Sterban, Donnie Sumner) (backing vocals), Joe Guercio (maestro), The Joe Malin Orchestra
- Introduction: Also Sprach Zarathustra (theme from 2001: A Space Odyssey)
- That’s All Right
- Proud Mary
- Never Been to Spain
- You Don’t Have to Say You Love Me
- You’ve Lost That Lovin’ Feelin’
- Polk Salad Annie
- Love Me
- All Shook Up
- Heartbreak Hotel
- Medley: (Let Me Be Your) Teddy Bear / Don’t Be Cruel
- Love Me Tender
- The Impossible Dream
- Introductions by Elvis
- Hound Dog
- Suspicious Minds
- For the Good Times
- An American Trilogy
- Funny How Time Slips Away
- I Can’t Stop Loving You
- Can’t Help Falling in Love
- End Theme
Led Zeppelin – The Song Remains the Same [1976]
Por décadas, o único álbum ao vivo oficial do Led Zeppelin foi este duplo gravado entre 27 e 29 de julho de 1973, que incluiu músicas do filme com o mesmo título. Lançado em 1976, três anos após os shows, o álbum foi, como os demais do grupo, bem-sucedido comercialmente, mas, artisticamente falando, sempre foi considerado um registro abaixo do que o Led Zeppelin era capaz de atingir nos palcos; além disso, foi criticado pelo excesso de produção, de edições e de retoques no estúdio. Mesmo Jimmy Page e Robert Plant sempre deixaram claro que a banda era melhor do que isso. Ainda assim, é difícil reclamar de The Song Remains the Same, até porque a versão definitiva (pelo menos entre as oficialmente disponibilizadas) do clássico entre os clássicos “Stairway to Heaven” está aqui. E como falar mal de um álbum que inclui “Whole Lotta Love”, “Moby Dick”, “No Quarter”, “Rock and Roll”, “The Rain Song”? Confesso que nunca me liguei muito no filme (achava um saco os segmentos dos músicos, à exceção do clima “fantasma da ópera” de John Paul Jones), mas ouvi o LP até quase furar e tive duas cópias diferentes em CD, sendo que a atual é a que acrescentou seis músicas às nove do original. A versão original em vinil trazia um livreto de oito páginas com fotos extraídas do filme, algumas mostrando a banda no palco. E basta assistir o filme para ver como a banda leva o público à loucura ao longo do show. O Led Zeppelin se apresentou diversas vezes no MSG, começando em 1970, mas nesse ano a banda estava no auge da popularidade, e The Song Remains the Same mostra isso. É difícil comentar muita coisa sobre um álbum que todo fã de rock que se preze deve ter em casa. Melhor é parar e ouvir The Song Remains the Same novamente, e tocar bateria no ar com o John Bonham em “Rock and Roll”, viajar com os teclados sombrios de Jonesy em “No Quarter” ou o teremim de Jimmy Page em “Whole Lotta Love”, fechar os olhos durante o solo de “Dazed and Confused”… E atire a primeira pedra quem nunca perguntou “2009” ao ouvir a versão de estúdio de “Stairway to Heaven”.
Robert Plant (vocais), Jimmy Page (guitarras, theremim, vocais), John Paul Jones (baixo, teclados, mellotron), John Bonham (bateria, percussão)
- Rock And Roll
- Celebration Day
- The Song Remains The Same
- The Rain Song
- Dazed And Confused
- No Quarter
- Stairway To Heaven
- Moby Dick
- Whole Lotta Love
GEORGE HARRISON – The Concert for Bangladesh [1971]
Um evento especial por muitas razões. Quando Ravi Shankar comentou com seu amigo George Harrison sobre o drama que se desenrolava na sua terra natal, o ex-Beatle reagiu organizando este concerto, ocorrido em 1º de agosto de 1971. Na verdade, foram dois shows na mesma data, reunindo Harrison, Shankar, Eric Clapton, Leon Russell, Badfinger, Ringo Starr, Billy Preston e Bob Dylan. As presenças de Clapton e Dylan, ambos afastados dos palcos, já seriam suficientes para encher o MSG, mas não se pode esquecer que o próprio George Harrison não se apresentava ao vivo há anos. O álbum triplo (acondicionado numa caixa laranja com um belo livreto de fotos) registrando o evento foi lançado em dezembro de 1971, quatro meses após o show, e liderou a parada britânica (bem como atingiu o segundo lugar na Billboard – nos EUA, recebeu o disco de ouro). A demora no lançamento do álbum frustrou bastante George, que se queixou de ter que negociar com as gravadoras dos artistas que se apresentaram para poder disponibilizar o disco. Os lucros com as vendas do álbum, dos ingressos para os shows e dos cinemas foram doados para um fundo de auxílio aos refugiados bengalis – não sem antes o empresário picareta Allen Klein ter abocanhado uma fatia… Quanto ao álbum, é uma boa chance de se ouvir Harrison ao vivo, e o guitarrista não decepciona, com um repertório bem escolhido que totaliza quase 1/3 da duração do álbum, e o próprio lado A do terceiro LP representava uma oportunidade única, já que trazia quase 20 minutos de Bob Dylan ao vivo – o bardo de Minnesota só lançaria um disco ao vivo oficial em 1974, e a menos que buscassem os piratas, tudo o que os fãs tinham de gravações ao vivo dele eram um lado B de compacto e algumas músicas registradas na Ilha de Wight e disponibilizadas em “Self Portrait”. Leon Russell, que já tinha se tornado um astro após participar do “Mad Dogs and Englishmen” de Joe Cocker, e Billy Preston, que apresentou seu sucesso “That’s the Way God Planned”, tiveram suas carreiras alavancadas pelo evento. E, claro, não se pode esquecer de um alegre Ravi Shankar, no começo do show, comentando que esperava que o público curtisse tanto a música que ia tocar quanto tinham gostado de ouvir os instrumentos indianos sendo afinados…
George Harrison (vocais, guitarras, violões, backing vocals), Ravi Shankar (sitar), Bob Dylan (vocais, violões, harmônica), Leon Russell (piano, vocais, baixo, backing vocals), Ringo Starr (bateria, vocais, tambourine), Billy Preston (órgão hammond, vocais), Eric Clapton (guitarras), Ali Akbar Khan (sarod), Alla Rakha (tabla), Kamala Chakravarty (tambura)
“The Band”
Jesse Ed Davis (guitarra)
Klaus Voormann (baixo)
Jim Keltner (bateria)
Pete Ham (violão)
Tom Evans (violão 12 cordas)
Joey Molland (violão)
Mike Gibbins (tambourine, maracas)
Don Preston (guitarras, vocais em “Jumpin’ Jack Flash”/”Young Blood” e “Bangla Desh”)
Carl Radle (baixo em “Jumpin’ Jack Flash”/”Young Blood”)
The Hollywood Horns: Jim Horn (saxofones, arranjos), Chuck Findley (trompete), Jackie Kelso (saxofones), Allan Beutler (saxofones), Lou McCreary (trombone), Ollie Mitchell (trompete),
The Soul Choir: Claudia Lennear, Joe Greene, Jeanie Greene, Marlin Greene, Dolores Hall, Don Nix, Don Preston (backing vocals, percussão)
- Introduction
- Bangla Dhun
- Wah-Wah
- My Sweet Lord
- Awaiting On You All
- That’s The Way God Planned It
- It Don’t Come Easy
- Beware Of Darkness
- Introduction Of The Band
- While My Guitar Gently Weeps
- Jumpin’ Jack Flash / Youngblood
- Here Comes The Sun
- A Hard Rain’s Gonna Fall
- It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry
- Blowin’ In The Wind
- Mr. Tambourine Man
- Just Like A Woman
- Something
- Bangla Desh
Eric Clapton & Steve Winwood – Live from Madison Square Garden [2009]
Todo mundo tem uma lista de shows que daria um braço para ter assistido. Na minha, este é um deles. Sobre Clapton, qualquer comentário é chover no molhado, mas Steve Winwood é um daqueles músicos que, tirando um breve período nos anos 80, ninguém parece lembrar – o que é uma injustiça: o sujeito é um excelente vocalista e tecladista, toca guitarra bem o suficiente para duelar com Clapton e não fazer feio (claro, ainda toca um caminhão de outros instrumentos…), e é um ótimo compositor. Live from Madison Square Garden foi registrado entre 25 e 28 de fevereiro de 2008, mas só lançado em maio do ano seguinte, e traz os nossos heróis acompanhados por Chris Stainton nos teclados, Willie Weeks no baixo e Ian Thomas na bateria. Nada de backing vocals, seções de metais, ou quaisquer intrometidos. As 21 músicas apresentadas abrangem composições que a dupla registrou na época do Blind Faith, do Traffic, de Derek & The Dominos, e de ambas as carreiras solo dos dois chefes. Há alguns petiscos inesperados, como as versões para “Low Down”, de J. J. Cale, “Them Changes”, em homenagem a Buddy Miles, então recentemente falecido, “Voodoo Chile”, de Hendrix, e, das carreiras solo dos dois músicos, “Forever Man” e “Split Decision”. Os cavalos de batalha (“Dear Mr. Fantasy”, “Can’t Find My Way Home”, “Cocaine”, “After Midnight”) também dizem presente, e cada um dos dois protagonistas tem um momento solo (Clapton em “Ramblin’ on my Mind” e Winwood em “Georgia on my Mind”). Por fim, há momentos de puro e absoluto êxtase, como quando Winwood puxa “No Face, No Name, No Number” e Clapton arregaça na guitarra em “Little Wing”. O álbum tem boa qualidade de gravação e o DVD é muito bem filmado, dando o devido destaque a quem o merece em cada música. À época, Steve Winwood não tinha nenhum álbum ao vivo registrado sob seu nome, somente como membro de outras bandas (e, inclusive, acompanhando Eric no “Rainbow Concert” de 1973) – e mesmo hoje ele só tem um disco ao vivo oficial em sua discografia, o ótimo Greatest Hits Live, enquanto Clapton já tinha lançado oito (!!!), o que já tornaria este álbum uma boa adição para qualquer discoteca, mas, independentemente disso.
Eric Clapton (guitarra, vocais), Steve Winwood (guitarra, teclados, vocais), Chris Stainton (teclados), Willie Weeks (baixo), Ian Thomas (bateria)
- Had to Cry Today
- Low Down
- Them Changes
- Forever Man
- Sleeping in the Ground
- Presence of the Lord
- Glad
- Well All Right
- Double Trouble
- Pearly Queen
- Tell the Truth
- No Face, No Name, No Number
- After Midnight
- Split Decision
- Rambling on My Mind
- Georgia on My Mind
- Little Wing
- Voodoo Chile
- Can’t Find My Way Home
- Dear Mr. Fantasy
- Cocaine
BONUS TRACKS:
Como bônus, dois álbuns celebrando eventos especiais, porque o MSG foi palco para diversos concertos especiais, sejam beneficentes, sejam comemorando datas únicas.
1) BOB DYLAN & FRIENDS – The 30th Aniversary Concert Celebration
Um evento especial como a celebração dos 30 anos de carreira de Bob Dylan só poderia ser registrado em um lugar especial. Dylan chegou em New York no começo dos anos 60, e lá se apresentou quase 150 vezes (nada mal, considerando-se que ele está chegando no 4.000º show), das quais 19 vezes no MSG; algumas dessas apresentações são memoráveis, como o concerto para Bangladesh, o show de 1975 (“Night of the Hurricane”), a apresentação com The Band em 1974, os dois shows com Tom Petty & The Heartbreakers em 1986, e este concerto de outubro de 1992, também disponível em CD e DVD. Aqui se tem uma série de medalhões, sejam velhos (Johnny Cash, Willie Nelson, The Clancy Brothers, Neil Young, Eric Clapton, Johnny Winter, Lou Reed, Roger McGuinn…), sejam jovens (Eddie Vedder, Mike McReady, Tracy Chapman e Sinead O’Connor – expulsa do palco pelas vaias da plateia após rasgar a foto do papa João Paulo II), apresentando algumas das músicas mais conhecidas de Bob Dylan e umas curiosidades (Lou Reed escolheu “Foot of Pride”, inédita até sair a primeira box das Bootleg Series em 1991). O álbum, lançado em 1993, inclui muitos destaques, como a fantástica versão de “Just Like Tom Thumbs Blues” de Neil Young, o público indo à loucura com “Rainy Day Women #12 & 35” interpretada por Tom Petty & The Heartbreakers, George Harrison superando seu stage fright durante “Absolutely Sweet Marie”, a reunião de estrelas em “My Back Pages” e, claro, o próprio set de Dylan – que confessou estar extremamente nervoso no show, por isso sua voz soa pior do que o normal. Hoje disponível com duas músicas extra, o CD/DVD que registrou aquela que ficou conhecida como “Bobfest” é indispensável para qualquer fã de Bob Dylan. É pena que não houve mais eventos como este, e confesso que é um pouco difícil assistir o show e lembrar que Johnny Winter, Tom Petty, Richie Havens, Lou Reed, Johnny e June Carter Cash, Levon Helm e Rick Danko já se foram.
2) Jethro Tull – Live at the Madison Square Garden 1978 [2009]
Este DVD/CD foi lançado em 2009, mais de trinta anos após ter sido gravado (e filmado) em New York, no segundo de uma série de três shows do Jethro Tull no Madison Square Garden, durante a turnê de divulgação de Heavy Horses. A mesma turnê gerou o primeiro disco ao vivo oficial do grupo (até então apenas o lado 3 da coletânea Living in the Past permitia ter uma ideia do que era a turma de Ian Anderson num palco), Bursting Out, majoritariamente registrado durante a turnê europeia (e atualmente disponível em versão completa, com o set list na íntegra na box set comemorativa de Heavy Horses. O CD e o DVD não trazem o show completo. A filmagem foi feita para uma transmissão na TV e, com isso, algumas músicas do DVD são apresentadas somente com áudio, ficando o vídeo propriamente dito restrito a seis das onze músicas. Mas isso é um problema menor; como os fãs do grupo já sabiam pelo show registrado em Bursting Out, o JT em 1978 era uma máquina praticamente perfeita, com Ian Anderson, Martin Barre, John Evan, David Palmer e Barriemore Barlow sendo acompanhados por Tony Williams no baixo, substituindo John Glascock, que precisara se afastar por motivos de saúde (infelizmente, o brilhante Glascock acabou falecendo pouco mais de um mês depois). Williams (um velho chapa de Anderson) é muito bom, mas John era melhor; felizmente, os demais estão muito bem, fazendo com que não se sinta tanto a sua falta. Após a introdução com “Quartet”, Martin Barre dá início aos trabalhos cuspindo fogo com “Sweet Dream”, e daí em diante há uma sucessão de clássicos como “Aqualung”, “Locomotive Breath”, “Heavy Horses”, “Songs from the Wood” (preste atenção no trecho a capella: você consegue perceber que é uma dublagem?) uma versão resumida de “Thick as a Brick”, fazendo com que se tenha mais de 78 minutos de música – a título de comparação, Bursting Out oferecia pouco mais de 93 minutos e o show completo na box set atinge quase 110 minutos. No entanto, de acordo com o Setlist.fm, apenas “Pibroch” foi apresentada no show original e cortada tanto do DVD quanto do CD. A versão de “Locomotive Breath” precisa ser ouvida/vista com atenção, pois é uma das melhores oficialmente disponibilizadas, com direito a um belo solo de piano de John Evan, Barlow arregaçando na bateria (e aí você entende por que ele foi um dos nomes cogitados para substituir John Bonham no Led Zeppelin em 1980) e Barre alucinado; mais de quinze minutos de êxtase instrumental. No cômputo geral, Live at Madison Square Garden 1978 é uma audição obrigatória para os fãs do Jethro Tull, e o DVD é, apesar de curto, muito bom. Uma nota pessoal: no início de agosto de 1988 assisti a banda em Porto Alegre, durante a turnê de divulgação de Crest of a Knave, e assisti pela primeira vez este show do MSG, pois o organizador da excursão que fizemos levou uma cópia em VHS.
“2009” = “Does anybody remember laughter?” – um errinho na edição!