Vários Artistas – The Bridge School Concerts Vol. 1 [1997]

Vários Artistas – The Bridge School Concerts Vol. 1 [1997]

Por Mairon Machado

Em 1986, o casal Neil e Pegi Young fundaram a The Bridge School, uma organização sem fins lucrativos que ajuda crianças com problemas físicos e de fala, incluindo paralisia cerebral. A ideia veio após o nascimento do filho do casal, Ben Young, que nasceu com a doença. Eles buscaram por escolas que auxiliassem o menino a se desenvolver, mas acabaram esbarrando e frustando-se com o que havia no geral, e assim, criaram a organização. Apoiados por diversos amigos, principalmente Jim Foreder e Dr. Marilyn Buzolich, os Young passaram a realizar uma série de concertos beneficentes para angariar fundos, os quais foram batizados de The Bridge School Concerts, e que ocorreram anualmente entre 1986 e 2016, a maioria no Shoreline Amphiteather na Califórnia (somente em 1987 o concerto não foi realizado), até que em 2017, com o divórcio do casal, os shows deixaram de ocorrer.

Em 1997, comemorando os dez anos da fundação da organização, saiu uma compilação com algumas das principais atrações que participaram dos eventos, através do CD The Bridge Concerts Vol. One. São 15 músicas no total, com vários artistas que trazem versões acústicas bem especiais e raras, e que alegram os fãs que curtem ouvir velhos clássicos de uma maneira um tanto quanto diferente (os anos das apresentações registradas acompanham o nome da faixa no track list abaixo).

Neil Young, Pegi Young e seus filhos

O CD começa com o próprio Young, empunhando violão e gaita para mandar ver em uma bela versão de “I Am a Child”, rara canção que saiu na coletânea tripla Decade. Seguimos com Tom Petty e “Shadow of a Doubt (A Complex Kid)”, orignalmente registrada no álbum Damn The Torpedoes (1979). É impressionante como o estilo de cantar de Petty lembra muito o de Bob Dylan e o destaque aqui é a velocidade do ritmo do violão. Ambas apresentações são de 1986. Da apresentação de 1988, temos a espetacular Tracy Chapman trazendo seu vozeirão e o violão para entoar uma das peças mais belas do CD, “All That You Have is Your Soul”, que viria a aparecer no ano seguinte no álbum Crossroads. Aqui, temos um dedilhado é encantador, assim como a fabulosa e emotiva interpretação da cantora, que vivia o auge de sua carreira.

O CD pula para 1995, com o The Pretenders, acompanhados da The Duke String Quartet (quarteto formado por dois violinos, viola e cello) fazendo uma animada versão de “Sense of Purpose”, do álbum Packed! (1990), mas que ficou mundialmente conhecida pela versão igualmente acústica, mas sem cordas, de The Isle of View (1995). Seguimos no mesmo ano com Beck e “It’s All In Your Mind”, faixa que é a que menos me atrae no CD. O problema na de Beck para mim é sua interpretação morosa demais. Voltamos para 1993, e a surpreendente “The Road’s My Middle Name”, um fantástico blues saído das entranhas de nada mais nada menos que Bonnie Raitt, a qual além de cantar super bem, manda ver nos riffs e arpejos de blues, acompanhada pelo baixo e vocais de Johnny Lee Schell. O solo de Ratt aqui é outro ponto muito alto do CD.

David Bowie, em apresentação de 1996

Don Henley resgata “Yes It Is” do repertório beatle, com um belo arranjo vocal ao lado dos amigos Danny Kortchmar, Timothy B. Scmit, John David Souther e Jal Winding, levando o ouvinte novamente para o ano de 1986. Já do show de 1994, surge uma das faixas que mais surpreende em todo o CD, a qual é a adaptação de “Friend of the Devil”, do Grateful Dead, que o Ministry faz. A banda, famosa por suas experimentações eletrônicas, e pais do metal industrial, surge totalmente despida, com Al Jourgensen sacudindo o violão, cantando a la Bob Dylan e mandando ver nesse veloz country rock totalmente incomum na discografia da banda. Certamente uma das melhores do disco. Os grandes Paul Simon e Art Garfunkel, acompanhados de banda, fazem uma interpretação visceral para “America”, lindíssima, retirada do show de 1993. Para quem é fã do Yes, e nunca ouviu a versão original, certamente irá se surpreender com a delicadeza vocal da dupla.

Outro ponto de ápice do CD vem com David Bowie e a fabulosa interpretação de “”Heroes””, do show de 1996, ao lado de Reeves Gabrels no violão e Gail Ann Dorsey no baixo e vocais. O interessante aqui são algumas adaptações que Bowie faz a letra original, como inserindo um trecho onde fala sobre problemas com álcool”. O grandioso Pearl Jam apresenta, também do show de 1996, “Nothingman”, de Vitalogy, numa bela versão acústica que nos remete, claro, a antológica apresentação da banda no Unpluged MTV. Já as irmãs Ann e Nancy Wilson vêm em 1993 com o projeto paralelo ao Heart, Lovemongers, fazendo uma versão fenomenal para “The Battle of Evermore”, do Led Zeppelin. Para quem se entusiasma e/ou se emociona ao ver Robert Plant chorando ao ouvir a dupla cantando “Stairway To Heaven” no famoso concerto na Kennedy Center Honors, em dezembro de 2012, ouça o que elas fazem aqui e entendam um dos motivos de por que elas foram as escolhidas para fazer tal apresentação, com Nancy, em especial, dando um show a parte no mandolin, e claro, rememorando os doces vocais de Sandy Denny, deixando para a irmã o papel de Robert Plant.

Neil, Ben, Pegi e grande elenco, em um dos concertos beneficentes

Depois do auge com as irmãs Wilson, a reta final cai um pouco, com Nils Lofgren e uma chorosa versão para “Believe”, do show de 1991, destacando a participação especial da harmônica e vocais de Neil Young, Elvis Costello e a clássica “Alison”, do show de 1990, e para levantar o ânimo da galera, Patti Smith e o mega-clássico “People Have The Power”, da apresentação de 1996. Todas as faixas são ok, mas sério, depois da trinca Bowie, Pearl Jam e Lovemongers, o CD não necessitava seguir.

Um volume 2 estava previsto, mas nunca saiu. Em 2016, a iTunes lançou um conjunto com 6 volumes com nada mais nada menos 80 canções retiradas das apresentações de 86 a 2016, mas daí já é outro tipo de prazer auditivo comparado com esse CD que facilmente você encontra em balaios e feirinhas de vendedores por um precinho especial, e que vale a pena levar para casa até para preencher aquele espaço que os colecionistas curtem de ter tudo que seu ídolo lançou.

Contra-capa do CD

Track list

1. Neil Young – I Am A Child (1986)

2. Tom Petty – Shadow Of A Doubt (A Complex Kid) (1986)

3. Tracy Chapman – All That You Have Is Your Soul (1988)

4. The Pretenders & Duke String Quartet – Sense Of Purpose (1995)

5. Beck – It’s All In Your Mind (1995)

6. Bonnie Raitt – The Road’s My Middle Name (1993)

7. Don Henley – Yes It Is (1986)

8. Ministry – Friend Of The Devil (1994)

9. Simon & Garfunkel – America (1993)

10. David Bowie – “Heroes” (1996)

11. Pearl Jam – Nothingman (1996)

12. Lovemongers – Battle Of Evermore (1993)

13. Nils Lofgren – Believe (1991)

14. Elvis Costello – Alison (1990)

15. Patti Smith – People Have A Power (1996)

8 comentários sobre “Vários Artistas – The Bridge School Concerts Vol. 1 [1997]

  1. Os Bridge Concerts quase sempre trouxeram apresentações memoráveis por serem especiais, quase sempre no formato acústico ressaltado no texto! Esta compilação conseguiu reunir um grupo de artistas muito interessante, todos destaques em seus respectivos gêneros musicais! Não conheço o CD, mas confesso que fiquei com vontade de ouvir!

    Outra iniciativa de Young que também rendeu belos registros (embora a maioria deles não tenha saído oficialmente) são os shows do Farm Aid, feitos para ajudar os pequenos produtores rurais dos EUA. Vale a pena procurar na internet shows de bandas como Pearl Jam, REM (inclusive com participação do próprio Young), Willie Nelson e muitos outros, além dos shows do próprio Young, logicamente!

  2. Então, eu descobri esse CD por conta da minha fixação de tentar ter o máximo de material do Bowie, e achei baratinho na shopee. Daí ao ouvir me surpreendi principalmente com o que dei destaque no texto, sendo Ministry, Lovemongers e a Bonnie Ratt algo que realmente me chamaram a atenção.

    Não sei se é do Farm Aid, mas tem um Record Store Day do R. E. M. com o Neil Young em vinil shaped que é um sonho de consumo na minha coleção

    Valeu pelo comentário

    1. Essa gravação do REM com o Neil Young é, pelos vídeos, de um dos Bridge School Concerts, mesmo! Saiu em compacto de 7″ exclusivo para o fã clube do REM, tem uma versão de “Country Feedback” com Young no violão de um lado, e uma versão de “Ambulance Blues” com o REM como banda de apoio do Young no outro lado. As duas não são difíceis de achar no youtube, mas ter o compacto é sonho de consumo, mesmo!

  3. Muito legal o texto, que recupera um álbum que não ouço faz tempo! Comprei-o na época do lançamento e para mim o grande destaque sempre foi a arrepiante versão de “‘Heroes'”. Só um pequeno reparo: “I Am a Child”, embora seja praticamente uma gravação solo, é originalmente do terceiro disco do Buffalo Springfield, “Last Time Around”. Vou ouvir o disco novamente agora!

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