Cinco Discos Para Conhecer: Live Rock 1974
Por Marcello Zapelini
Em 1974, good old rock’n’roll era sucesso absoluto nas paradas. A lista dos discos mais vendidos do ano nos EUA traz Bachman-Turner Overdrive, Bad Company, Beach Boys, Bob Dylan, Eagles, Elton John, Eric Clapton, John Lennon, Joni Mitchell, Paul McCartney And Wings, Rolling Stones… Mais ainda, alguns eventos importantes ocorreram nesse ano: o primeiro festival de Knebworth (Inglaterra), o retorno de Bob Dylan às turnês depois de oito anos, George Harrison faz sua primeira turnê solo, o California Jam reúne Black Sabbath, Deep Purple, Emerson, Lake & Palmer, Eagles (por que eu tive que nascer no país e no ano errados?)…
1974 foi marcado também pela primeira turnê de uma banda de rock exclusivamente em estádios: Crosby, Stills, Nash & Young fizeram 29 shows nos EUA (e outros dois no Canadá) entre julho e setembro, além de um na Inglaterra, no estádio de Wembley. A Tour of Americas ‘75 dos Stones é muitas vezes apontada como a primeira feita por uma banda somente em estádios, mas a primazia pertence aos quatro cavaleiros de Woodstock. Outra inovação foi testada por Dylan e The Band, que não venderam ingressos nos locais dos shows. Várias grandes bandas e cantores solo lançaram discos ao vivo em 1974; David Bowie, Lou Reed, Paul Simon, Joni Mitchell, Van Morrison, Billy Preston, Marvin Gaye, Frank Zappa & The Mothers of Invention, Rod Stewart and The Faces, West, Bruce & Laing, Fairport Convention, Mountain, Santana, Argent, Electric Light Orchestra, April Wine, Mott The Hoople e Nektar estão entre os muitos que lançaram álbuns ao vivo. E dois outros merecem um destaque especial: Jon Lord e Rick Wakeman gravaram ao vivo suas novas composições, respectivamente Windows e Journey to the Centre of the Earth – com o loiro do Yes fazendo bastante sucesso com seu lançamento, diga-se de passagem.
Diante de tantos bons lançamentos, escolher cinco seria uma tarefa bem difícil. Eu selecionei alguns dos que mais gosto dentre todos os ótimos lançamentos de álbuns ao vivo em 1974, e adicionei outros três como bonus tracks: dois deles foram gravados em 1974 e tiveram que esperar alguns anos até serem lançados oficialmente, e outro fora gravado alguns anos antes e lançado em 1974. E você, leitor(a), que discos ao vivo escolheria do ano de 1974 para esta seção?
Bob Dylan & The Band – Before the Flood [1974]
Entre 3 de janeiro e 14 de fevereiro de 1974, Bob Dylan e seus fiéis escudeiros do The Band fizeram uma turnê norte-americana, a primeira em oito anos – aliás, nesse período, Dylan se apresentara ao vivo apenas quatro vezes: no concerto em homenagem a Woody Guthrie, no Festival da Ilha de Wight de 1969, no Concert for Bangladesh de George Harrison e na Academy of Music em 31/12/1971, num dos shows gravados para o duplo ao vivo Rock of Ages, do próprio The Band. Dylan tinha, em 1973, sido atraído para a gravadora Asylum por David Geffen, que o convenceu a excursionar num sistema inédito: os fãs teriam que se inscrever para comprar os ingressos, que seriam sorteados e enviados pelo correio. Deu certo: Geffen afirmou que poderiam ter vendido mais vinte tickets para cada um efetivamente comprado pelo preço médio de US$ 9.50 (mais de sessenta dólares de hoje). Em 20 de junho de 1974 a Asylum lançou Before the Flood, um álbum duplo que veio a ser o primeiro ao vivo oficial de Bob Dylan. Quase inteiramente gravado no Los Angeles Forum, em Inglewood, já no final da turnê (a exceção é “Knockin’ on Heaven’s Door”, que foi gravada no Madison Square Garden), o álbum replicava a estrutura dos shows: Bob e The Band começam com toda a eletricidade do mundo, depois A Banda apresentava algumas músicas, Bob retornava para um set acústico solo, e depois de mais algumas músicas do The Band, a turma toda encerrava o show. O repertório explora toda a carreira de Bob, afinal, era a primeira vez que os fãs tinham um álbum dele completo gravado ao vivo; curiosamente, nenhuma música de Planet Waves, que estava sendo promovido na turnê, foi incluída no disco – nos primeiros shows, três músicas eram apresentadas, mas no final da tour apenas “Forever Young” fazia parte do setlist, e nem esta foi selecionada. Mas há coisas fantásticas como “Lay Lady Lay”, “All Along the Watchtower”, “Highways 61 Revisited”, “Like a Rolling Stone”, The Band se mostra um apoio perfeito para o bardo de Minnesota e Dylan canta com uma ênfase e energia que surpreendeu os fãs que não tiveram acesso aos shows, e das oito músicas que The Band apresenta, quatro não tinha versões ao vivo oficiais, “Up on Cripple Creek”, “I Shall Be Released”, “When You Awake” e “Endless Highway” – esta última, aliás, era inédita inclusive em versão de estúdio. Before the Flood é um álbum obrigatório para fãs de Bob Dylan, e, tendo completado 50 anos, será homenageado com uma box set contendo todas as gravações feitas oficialmente. The 1974 Live Recordings trará 431 músicas em 27 CDs, mas cobre apenas as músicas deBob; os sets do The Band não farão parte do lançamento. Já na época foi preciso fazer um acordo entre as gravadoras: os LPs eram da Asylum, as fitas cassette eram da Capitol, que lançava os álbuns do The Band. Atualmente, no entanto, sai tudo pela Sony Music, que detém o catálogo da antiga CBS, para a qual Dylan voltou – e levou os direitos dos discos consigo.
Bob Dylan (guitarra, harmônica, piano, vocais), Robbie Robertson (guitarras, vocais), Rick Danko (baixo, vocais), Levon Helm (bateria, vocais), Garth Hudson (órgão, iiano, clavinete), Richard Manuel (piano, piano elétrico, bateria, órgão, vocais)
- Most Likely You Go Your Way (And I’ll Go Mine)
- Lay Lady Lay
- Rainy Day Women #12 & 35
- Knockin’ On Heaven’s Door
- It Ain’t Me, Babe
- Ballad Of A Thin Man
- Up On Cripple Creek
- I Shall Be Released
- Endless Highway
- The Night They Drove Old Dixie Down
- Stage Fright
- Don’t Think Twice, It’s All Right
- Just Like A Woman
- It’s Alright Ma (I’m Only Bleeding)
- The Shape I’m In
- When You Awake
- The Weight
- All Along The Watchtower
- Highway 61 Revisited
- Like A Rolling Stone
- Blowin’ In The Wind
Caravan – Caravan & The New Symphonia [1974]
No dia 28 de outubro de 1973 o Caravan se apresentou no teatro Royal Drury Lane com o apoio de uma pequena orquestra, alguns backing vocals e o fiel saxofonista e flautista Jimmy Hastings (irmão de Pye, único membro da banda constante ao longo dos anos). À época formado pelos fundadores Pye Hastings (guitarra e vocal), Richard Coughlan (bateria), Dave Sinclair (teclados), e os relativamente novatos John G. Perry (baixo e vocal) e Geoff Richardson (viola), o Caravan já tinha cinco discos lançados com pouco sucesso de público (In the Land of Grey and Pink recebeu um disco de prata na Inglaterra quase cinquenta anos depois de ser lançado!), mas com boa repercussão entre os críticos. O show começara com o Caravan sozinho no palco, e após uma introdução interpretada exclusivamente pela orquestra, todos tocam juntos; no LP original, a introdução orquestral dava lugar a “Mirror for the Day”; essa música e “Virgin on the Ridiculous” foram compostas por Pye Hastings especificamente para o show. Outras duas músicas, “The Love in Your Eye” (de Waterloo Lilly) e “For Richard” (do segundo álbum, If I Could Do It All Over Again, I’d Do It All Over You). Em 2001, uma reedição em CD trouxe o show completo, apresentado na ordem original, com as três músicas interpretadas somente pela banda antes da orquestra subir ao palco, todas de For the Girls Who Grow Plump in the Night: “Memory Lain, Hugh/Headloss”, “Hoedown” e “The Dog, The Dog, He’s At It Again”. O bis traz “A Hunting We Shall Go”, também do álbum de 1973. Ou seja, não há nenhuma música de In the Land… ou do primeiro disco homônimo do grupo. O concerto é muito bonito e as versões orquestradas funcionam bem, mostrando que a banda conseguia injetar nova vida nas músicas com esses arranjos. Transformado em vocalista principal depois da saída de Richard Sinclair, Pye Hastings não compromete, ainda que sua guitarra seja pouco marcante. Mas Dave Sinclair e Geoff Richardson, musicalmente em ótima forma, garantem que o instrumental do grupo traga uma saudável dose de virtuosismo. O show não transcorreu sem dificuldades, pois os representantes da orquestra fecharam o pau com a banda por questões de pagamento, mas ninguém diria isso ao ouvir o disco, pois tudo funciona perfeitamente. Adoraria ouvir “Memory Lain, Hugh/Headloss” (minha música favorita do Caravan) em arranjo orquestral, mas infelizmente isso não ocorreu; a versão deste disco é muito boa, mas ainda prefiro a de estúdio. Por outro lado, “The Love in Your Eye”, originalmente gravada com a participação de Steve Miller nos teclados, após a primeira saída de Dave Sinclair do grupo, ficou ótima e é interessante comparar o desempenho dos dois tecladistas nessa música. “For Richard” ficou simplesmente perfeita, melhor versão da música (e eles têm muitas!). “Hoedown”, que não chamava muito a atenção na versão original, ganhou bastante energia aqui e é um destaque. O Caravan perderia o baixista Perry após o lançamento deste disco; seu substituto Mike Wedgwood estrearia num show também gravado e eventualmente lançado em 1980 na França como The Best of Caravan Live, e hoje disponível em CD como Live at Fairfield Halls 1974, cujo repertório é bem semelhante ao deste Caravan And The New Symphonia, mas sem orquestra (e sem Jimmy Hastings, aliás) – outro bom disco ao vivo do ano de 1974. Mas este é melhor e fecha com chave de ouro a fase prog do Caravan, já que a partir de 1975, com o (bom) Cunning Stunts, o grupo iria abandonar o rock progressivo e, ainda que tenha lançado alguns bons discos, nunca mais chegou ao nível dos seis primeiros álbuns.
Pye Hastings (guitarra, vocais), Richard Coughlan (bateria), Dave Sinclair (teclados), John G. Perry (baixo, vocais) , Geoff Richardson (viola)
Jimmy Hastings (saxofone, flautas)
- Introduction
- Mirror For The Day
- The Love In Your Eye
- Virgin On The Ridiculous
- For Richard
Emerson, Lake & Palmer – Welcome Back My Friends to the Show that Never Ends… Ladies and Gentlemen, Emerson, Lake & Palmer (1974)
Em 1974, Emerson, Lake & Palmer vinham de uma série de álbuns de sucesso (Tarkus liderou a parada britânica e Trilogy atingiu o 5º posto na Billboard), e seu mais recente disco Brain Salad Surgery trouxera músicas essenciais para o cânone do grupo, como “Karn Evil 9”, “Toccata” e a baladinha de Greg, “Still… You Turn Me On”. Embora tenha chegado apenas ao 11º lugar nos EUA, o álbum levou a uma turnê mundial (leia-se EUA e Europa) entre 1973 e 74, que percorreu 13 países e se encerrou após 125 shows (73 deles nos Estados Unidos). Em 10/2/1974, o grupo se apresentou no Convention Center em Anaheim, Califórnia, em que este álbum foi registrado. Embora seja um álbum triplo, Welcome Back My Friends… não traz o show completo, pois o bis com “Pictures at an Exhibition” não foi incluído nem nas reedições em CD – o que é uma pena, porque com 110 minutos, o CD duplo permitiria a inclusão da bela recriação da obra de Mussorgsky (que não foi apresentada na íntegra nessa turnê, aliás). Ainda assim, considerando o show principal, o álbum é uma boa representação, pois as músicas estão na ordem em que foram apresentadas originalmente. Não há destaques, pois o disco é uniformemente bom do primeiro ao último minuto. Após a introdução, “Hoedown” já deixa o ouvinte de queixo caído, tamanha é a velocidade de Emerson no órgão. Lake impressiona com sua voz em “Jerusalem”, e na sequência tem-se a insanidade de “Toccata”. “Tarkus” ganha quase sete minutos em relação à original, incluindo um trecho de “Epitaph”, do King Crimson; a música conclui no primeiro lado do segundo LP, levando a uma gigantesca “Take a Peeble”, que traz um segmento solo de Lake interpretando “Still… You Turn Me On” e “Lucky Man”, seguida pelo solo de piano de Emerson, até a música voltar para a conclusão. O medley com “Jeremy Bender” e “The Sheriff” traz o senso de humor da banda, divertindo os ouvintes e preparando para uma versão colossal de “Karn Evil 9” que preenche todo o terceiro LP – a música originalmente durava “apenas” 29 minutos e aqui foi espichada para mais de 35. Carl Palmer faz seu solo matador nessa música, uma das maiores obras-primas do ELP e do rock progressivo em geral. Ainda em 1974, a banda voltou à Califórnia para participar do supracitado California Jam, marcado pela disputa entre eles e o Deep Purple para ver quem encerrava o show (o ELP ganhou, mas como o show prosseguiu fora da programação, tivemos o eterno mal-humorado Blackmore destruindo não só sua guitarra e alguns amplificadores, mas também uma câmera de TV. Após este álbum, o ELP decidiu dar um tempo. Imediatamente surgiram rumores de gravações de discos-solo e do fim do grupo. Na verdade, todos estavam errados: o ELP ressurgiu em 1977 com Works, um álbum duplo com um lado para cada músico e o quarto lado com dois épicos trazendo a banda completa. Outra megaturnê se seguiu, mais um volume de Works, um álbum de estúdio muito criticado (Love Beach) e um In Concert puseram fim à carreira da banda em 1979-80. Mas em 1974 gigantes caminhavam sobre a Terra, e Emerson, Lake & Palmer estavam entre eles; pena que gigantes às vezes são confundidos com dinossauros.
Keith Emerson (piano, teclados, sintetizadores, moog), Greg Lake (baixo, vocais, guitarras, violões), Carl Palmer (bateria, percussão)
- Hoedown (Taken From Rodeo)
- Jerusalem
- Toccata (An Adaption Of Ginastera’s 1st Piano Concerto, 4th Movement)
- Tarkus
- Take A Pebble (Including Still… You Turn Me On And Lucky Man)
- Piano Improvisations (Including Friedrich Gulda’s ‘Fugue’ And Joe Sullivan’s ‘Little Rock Getaway’)
- Take A Pebble (Conclusion)
- Jeremy Bender / The Sheriff (Medley)
- Karn Evil 9 (1st Impression)
- Karn Evil 9 (2nd And 3rd Impression)
Gregg Allman – The Gregg Alman Tour (1974)
As duas tragédias que abalaram a The Allman Brothers Band (as mortes, com um ano de diferença, de Duane Allman e Berry Oakley) fizeram com que Gregg Allman repensasse seriamente sua carreira. Em 1973 ele lançou seu primeiro disco-solo, Laid Back, dois meses após a banda ter lançado Brothers and Sisters, primeiro disco integralmente gravado sem Duane (ele aparece em quase todo o Eat a Peach), que trazia apenas duas músicas com Berry. Laid Back fora gravado com vários convidados, dentre eles Chuck Leavell, Butch Trucks e Jai Johanny Johnson, da Allman Bros., os músicos da banda Cowboy (a favorita de Duane, que gravava pelo selo Capricorn), Buzz Felten (ex-guitarrista da Butterfield Blues Band), Fathead Newman (saxofonista de Ray Charles) e Cissy Houston (uma cantora fantástica que infelizmente ficou mais conhecida por ser a mãe de Whitney). Embora Laid Back tenha vendido bem, tendo chegado ao 13º lugar na Billboard, Brothers and Sisters liderara a parada – e a The Allman Brothers Band excursionou para promover o álbum. Mas, em 1974, Gregg fez uma série de shows solo, incluindo dois no Carnegie Hall e um no Capitol Theatre de Passaic (New Jersey), entre 10 e 13 de abril, que foram gravados para este álbum duplo. Ele foi acompanhado por Tommy Talton e Scott Boyer nas guitarras, Ken Tibbetts (baixo), Bill Stewart (bateria), Jai Johanny Johnson (percussão, creditado misteriosamente como “Johnny Lee Johnson”), Chuck Leavell (pianos acústico e elétrico), uma seção de metais (com Randall Bramlett tocando os solos de sax) e outra de cordas, e mais um trio de vocalistas. O álbum começa com duas boas músicas de “Laid Back”, “Don’t Mess Up With a Good Thing” e “Queen of Hearts”, e inclui duas composições gravadas pela Allman Bros., “Stand Back” (de Eat a Peach) e “Dreams”, do disco de estreia. Esta última, aliás, numa das melhores versões que ouvi dela (acho que só a de Live at Ludlow Garage é melhor, dentre todas as que conheço). No lado B do primeiro LP, Gregg cede o spotlight para Tommy Talton assumir o vocal principal em duas músicas gravadas pelo Cowboy (“Time Will Take Us” e “Where Can You Go?”), boas músicas, mas, quem compra um disco de Gregg Allman para ter músicas de outra banda? Provavelmente a mesma pessoa que compra Before the Flood do Bob Dylan e leva um monte de músicas do The Band, hehehe. Há também versões excelentes para alguns clássicos, “Turn On Your Lovelight”, “Are You Lonely For Me Baby” e “Will The Circle Be Unbroken”, tornando The Gregg Allman Tour um disco bem variado e cheio de bons momentos. Gregg Allman faria muita bobagem nos anos seguintes, como ferrar com o manager da Allman Bros. para escapar de uma condenação por posse de drogas – e com isso acabar com a banda, gravar um disco bizarro com a Cher e ser o pivô da expulsão de Dickey Betts da reformada Allman Bros. em 2000. Mas aqui ele ainda era um artista no auge de seu poder, e seu trabalho como vocalista e organista é impecável. Junte a isso uma banda extremamente competente interpretando composições muito bem arranjadas, e o resultado é um ótimo álbum ao vivo que não aparece nas listas dos melhore na sua área, mas bem que poderia.
Gregg Allman (vocais, órgão, Tommy Talton (guitarras, slide guitar), Scott Boyer (guitarras), Ken Tibbetts (baixo), Bill Stewart (bateria), Chuck Leavell (pianos acústico e elétrico), Jai Johanny Johnson (percussão, bateria)
David Brown (tenor saxofone)
Randall Bramblett (saxofone soprano, alto saxofone, saxofone em C, solos de saxofone)
Harold Williams (saxofone barítono)
Peter Eklund (trompete)
Todd Logan (trompete)
Annie Sutton (backing vocals), Erin Dickins (backing vocals), Lynn Rubin (backing vocals)
- Don’t Mess Up A Good Thing
- Queen Of Hearts
- Feel So Bad
- Stand Back
- Time Will Take Us
- Where Can You Go?
- Double Cross
- Dreams
- Are You Lonely For Me
- Turn On Your Love Light
- Oncoming Traffic
- Will The Circle Be Unbroken
Rory Gallagher – Irish Tour ’74 (1974)
Poucos major acts excursionavam pela Irlanda na primeira metade dos anos 70. Uma das exceções era um filho da Emerald Island: Rory Gallagher. Entre 28 de dezembro de 1973 e 6 de janeiro de 1974 ele fez dez shows no Ulster (a Irlanda do Norte) e na sua querida Irlanda. Depois do fim do Taste, em 1970, Rory saiu em carreira solo, lançando quatro discos de estúdio e um ao vivo entre 1971 e 73. Acompanhado por Gerry McAvoy (baixo), Lou Martin (teclados) e Rod De’Ath (bateria), Gallagher não só está em sua terra natal, como também no seu nicho ecológico: o palco. Irish Tour ‘74 traz dez faixas, sendo quatro de Tattoo, então seu último álbum de estúdio, duas de Blueprint, sendo que uma delas, “Back on My Stompin’ Ground (After Hours)” é uma jam ao vivo no estúdio em cima de uma música gravada – e só lançada na reedição em CD – para o terceiro álbum de estúdio do irlandês. “Cradle Rock” inicia os trabalhos cuspindo fogo em todas as direções, e leva à versão matadora de “I Wonder Who”, do mestre Muddy Waters, que Gallagher não tinha lançado em versão de estúdio. “Tattoo’d Lady”, outra de Tattoo, também é apresentada em versão bem superior à de estúdio, e na sequência tem-se duas outras covers inéditas até então, “Too Much Alcohol” e “As The Crow Flies”, com o primeiro LP encerrando com a maravilhosa “A Million Miles Away” – uma das minhas favoritas de toda a carreira de Rory. O segundo disco trazia “Walk on Hot Coals”, outra composição original dele que ganha muito em relação à versão de estúdio. “Who’s That Coming”, na sequência, também dá uma goleada na versão original, e o disco 2 se encerra com a já citada “Back on My Stompin’ Ground” e “Just a Little Bit”, também gravada em estúdio, e que seria lançada na reedição em CD de Tattoo. Sobre o filme, nada posso dizer, pois nunca o assisti; vídeos de Rory Gallagher nessa época mostram que o cara era um showman de primeira, não apenas um guitarrista excepcional e um cantor com bastante sentimento. Irish Tour ‘74 foi relançado em CD em 1988 e depois em 1998 (com nova capa e intitulado simplesmente Irish Tour, sem “Just a Little Bit” e com uma vinheta, “Maritime”, completando o tracklist), e por fim, para comemorar os 40 anos do disco original, em 2014, em uma box com 7 CDs trazendo os shows em Cork (que renderam a maior parte do repertório do LP duplo original), Dublin e Belfast, bem como as sessões ao vivo no estúdio em Dublin. Irish Tour ‘74 é uma obra-prima de blues rock, com um guitarrista fenomenal fazendo misérias com uma Fender Stratocaster para lá de maltratada. O mestre irlandês construiu uma discografia impecável na década de 70, e este disco é um dos seus pontos altos. A box set é a melhor versão disponível, claro; mas se você estiver procurando uma edição em CD simples, passe longe da reedição de 1998 a menos que tenha adquirido a de Tattoo.
Rory Gallagher (guitarra, vocais, harmônica), Gerry McAvoy (baixo), Lou Martin (teclados), Rod De’Ath (bateria)
- Cradle Rock
- I Wonder Who
- Tattoo’d Lady
- Too Much Alcohol
- As The Crow Flies
- A Million Miles Away
- Walk On Hot Coals
- Who’s That Coming?
- Back On My Stompin’ Ground (After Hours)
- Just A Little Bit
BONUS TRACKS
Para esta parte, decidi sugerir discos “póstumos”. Em 1974, Lou Reed tinha atingido um inesperado sucesso comercial com Rock’n’Roll Animal, gravado ao vivo no ano anterior; isso fez com que a gravadora desencavasse uma série de fitas de shows do Velvet Underground feitos em 1969, para tentar chamar a atenção do público para a primeira banda do “réptil sonâmbulo” (uma definição genial de Ezequiel Neves). E em 1982 o Deep Purple era uma memória de sucesso – e ainda iria demorar dois anos para voltar – quando a EMI decidiu lançar gravações da Mk. III feitas pela BBC. Por fim, 40 anos depois dos fatos, a caótica turnê do Crosby, Stills, Nash & Young naquele ano foi lançada numa box com três CDs e um DVD.
Velvet Underground – 1969: The Velvet Underground Live (1974)
Em 1969, o Velvet Underground era formado por Lou Reed na guitarra e vocal, Sterling Morrison na guitarra e backing vocal, Doug Yule no baixo e vocal e Mo Tucker na bateria. O Velvet Underground tivera um álbum ao vivo (Live at Max’s Kansas City) em 1972, e seu último disco (Squeeze) foi lançado em 1973 – praticamente um álbum solo de Yule, pois Reed e Morrison tinha saído e Mo fora expulsa pelo empresário. Curiosamente, a bateria nesse disco foi gravada por Ian Paice. Mas em 1974 alguns tapes gravados profissionalmente cinco anos antes em shows no Matrix (San Francisco) e em Dallas, Texas, que tinham sido entregues a Steve Sesnick, empresário do grupo à época, foram preparados para lançamento oficial. O VU fizera 101 shows e vários foram registrados pelos fãs da época com autorização da banda, mas os três que formaram 1969 … eram os únicos com qualidade. Os empresários de Lou Reed na época entraram na jogada e garantiram o lançamento pela Mercury Records, que lançou o duplo ao vivo pelo preço de um LP. O álbum saiu com 17 faixas e mais de 100 minutos, com um repertório que mescla músicas dos três primeiros discos do VU e mais algumas que seriam lançadas em Loaded ou no primeiro álbum solo de Lou. “I’m Waiting for the Man”, “Rock and Roll”, “Femme Fatale”, “Heroin”, “White Light/White Heat” (com alguns interessantes improvisos dos guitarristas) e “Pale Blue Eyes” recebem aqui versões mais cruas do que de estúdio, com Lou Reed em boa (?) voz e integrando bem sua guitarra com a de Sterling. Doug Yule é um baixista tecnicamente superior a John Cale (sem a capacidade do galês para compor, é claro, mas Lou Reed nessa época era o líder incontestável da banda), e toca órgão em algumas músicas, além de cantar (surpreendentemente bem) no lugar de Nico em “I’ll be your Mirror”. 1969 … vendeu razoavelmente bem para os padrões do Velvet Underground, e seria relançado nos anos 80 em CD em dois volumes separados; no CD 1 foi acrescentada uma segunda versão de “Heroin”, e no segundo, “I Can’t Stand It”, fazendo com que se tenha quase duas horas do grupo ao vivo. Eventualmente, uma box set (The Complete Matrix Tapes) trouxe os shows completos em 4 CDs. Interessantemente, a contracapa do álbum original traz em destaque shiny boots of leather, mas “Venus in Furs” não faz parte dele! Se você não gosta do Velvet, este álbum provavelmente não vai mudar sua opinião; mas se a turma de Lou Reed faz a sua cabeça, ele é indispensável.
Deep Purple – Live in London (1982)
O Deep Purple estava com a faca nos dentes durante a turnê de lançamento de Burn. Reenergizado após as entradas de Coverdale e Hughes, e com Blackmore chegando ao auge, o grupo fez mais de 90 shows nesse ano de 1974, além de lançar dois LPs de estúdio – até o encanto acabar e o homem de preto decidir sair no início de 1975. Na Inglaterra, o grupo agendou a gravação de um programa BBC In Concert em 22 de maio no Gaumont Theatre, em Kilburn (Londres) – e os astros se alinharam para uma performance inesquecível. Em 1980 o álbum duplo In Concert trouxera duas gravações para o mesmo programa em 1970 e 1972 e atingira boas vendagens, fazendo com que a EMI decidisse investir em mais um ao vivo, e este Live in London foi lançado em 1982. Com mais de 57 minutos de duração, o LP simples oferecia um bocado de música para o comprador (e mais um interessante encarte com fotos em preto-e-branco da banda, e um erro na capa: “Ritchie” Blackmore). Abrindo com “Burn”, naquela que é provavelmente a melhor versão ao vivo do clássico que eu conheço, o álbum trazia mais cinco músicas, sendo que apenas “Smoke on the Water” não provinha do disco que estava sendo promovido na turnê. “Might Just Take Your Life” e “Lay Down Stay Down” estão mais próximas das versões originais, mas ganham energia e peso; “Mistreated” traz um desempenho impressionante de Coverdale e Blackmore, que fazem esse blues chorar e sangrar. “Smoke on the Water” está numa versão um pouco mais acelerada, e me lembro muito bem da primeira vez que ouvi o LP: gostei muito dessa versão, o que me deixou curioso para conhecer outras músicas da Mk. II interpretadas por Coverdale e Hughes. A imensa versão de “You Fool No One” traz solos dos mestres Paice, Lord e Blackmore. Só aí já estava bom demais; mas a reedição em CD duplo trouxe uma versão gigantesca de “Space Truckin’”, com cerca de 30 minutos de duração, mostrando um arranjo um pouco diferente do clássico disponível em In Concert e Made in Japan, mostrando que a Mk. III não devia em nada à mais famosa versão da banda com Gillan e Glover. Essa edição afirma trazer o show completo, e que a banda não teria feito um bis; entretanto, o Setlist.fm traz o medley “Goin’ Down/Highway Star” listado como encore do show. A Mk. III nessa época só tinha seu desempenho ao vivo medido pelo “Made in Europe” que, embora seja bom, não se comparava com este disco, pois o coração de Blackmore não estava mais com o Purple em suas gravaçoes. Este Live in London é Deep Purple fazendo o que sempre fez de melhor, e não pode faltar na coleção de qualquer fã da banda.
Crosby, Stills, Nash & Young – CSNY 1974 (2014)
Após o lançamento do duplo Four Way Street, David Crosby, Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young seguiram seus caminhos. Crosby e Nash eventualmente voltaram a se apresentar juntos como um duo, Stephen Stills formou o (excelente) grupo Manassas com Chris Hillman (ex-Byrds e Flying Burrito Brothers), e Neil Young alcançou o estrelato com Harvest – só para jogá-lo fora com uma série de discos um tanto idiossincráticos. Mas em 1974 eles se encontraram para tentar retomar o quarteto; as gravações que fizeram para um novo LP não deram em nada, mas eles decidiram excursionar. Desesperada, a Atlantic lançou a coletânea So Far para que os fãs tivessem um LP para comprar enquanto a mídia fazia hype em torno do grupo. Durante a turnê, eles tinham o apoio de Russ Kunkel na bateria, Tim Drummond no baixo e Joe Lala na percussão. E os shows eram longos, passando das três horas de duração, aproveitando a flexibilidade de quatro cantores-compositores que conseguiam formar duos e trios sem dificuldades. Esta box traz gravações de dez shows diferentes e inclui quarenta músicas, enquanto os shows costumavam apresentar em torno de trinta; um set elétrico era seguido por um acústico, em que em algumas músicas os quatro se apresentavam solo, e tudo se encerrava com um segundo set elétrico. O DVD traz apenas oito músicas extraídas de um show em Landover e outro no Wembley Stadium em Londres. Deve-se notar também que há cinco músicas inéditas, todas de Neil Young – uma delas, “Goodbye Dick”, foi improvisada por ele quando saiu a notícia de que Richard Nixon tinha renunciado. É difícil destacar músicas neste álbum que mantém um nível altíssimo do início ao fim, mas gosto muito da versão elétrica de “Black Queen”, de “Immigration Man”, “Johnny’s Garden”, “Change Partners”, “Long May You Run”, “Old Man” e “Ohio”. Às vezes as harmonias vocais não funcionam como deveriam, às vezes uma guitarra dá uma desafinada. Mas no todo CSNY 1974 documenta uma turnê histórica, pois somente em 1989 o grupo se reuniria para seu segundo disco de estúdio (o mal-arranjado e excessivamente produzido American Dream). Os quatro tentaram gravar um disco logo depois da turnê, mas não deu certo; em 1976, tentaram de novo, mas o resultado foi Young e Stills apagarem as vozes de Crosby e Nash das fitas e colocarem nas ruas “Long May You Run”, creditado à Stills-Young Band. E à exceção da “Freedom of Speech Tour”, que rendeu o disco Deja Vu Live, o quarteto só fez shows isolados. CSNY 1974 é o testemunho definitivo de um supergrupo tentando existir apesar de seus integrantes.
Só discões nas cinco indicações oficiais. Nos bonus, curto apenas o Live in London. Durante muitos anos eu achei que o Live In London era pior que o Made in Europe, mas hoje tenho minhas duvidas. A versão de “You Fool No One” do Europe é espetacular, mas “Mistreated” no London é incrível.
Obrigado pelo comentário, Mairon! Os álbuns ao vivo de 1974 são realmente especiais, muita coisa boa acabou ficando de fora… Sobre “Live in London” e “Made in Europe”, eu prefiro o primeiro por achar que Richie Blackmore estava mais endemoninhado no show de Londres; Paice, em compensação, está melhor no disco europeu (para mim ele atingiu o auge como músico em 1975). São discaços, mas lembro que comprei o “Made in Europe” (para fazer par com o “… Japan”), e logo depois um amigo me emprestou o “… London” – e eu pensei que tinha comprado o disco errado. Mas os lançamentos posteriores dos shows que compõem o “… Europe” mostram que a banda estava no topo da montanha.
Confesso que fiquei curioso: quais discos você colocaria nessa lista de 1974?
Que postagem massa! Eu curto demais álbuns ao vivo e a sua lista está impecável, parabéns!
Difícil pensar em quais eu acrescentaria, pois não tiraria nenhum; certamente, “Ao Vivo no Maracanãzinho” do Secos & Molhados, e (ainda que não seja rock) o sublime “Marvin Gaye Live!”.
Abraços.
Obrigado pelo comentário, Marcelo!
Também gosto muito de álbuns ao vivo e por muito tempo foram minha “porta de entrada” para conhecer uma nova banda.
Ótimas sugestões! O Secos & Molhados, além de ser um registro histórico, é bom demais, e o do Marvin Gaye é provavelmente o melhor ao vivo dele (ainda que o Live at the London Palladium também seja uma obra-prima).