Dream Widow – Dream Widow [2022]

Dream Widow – Dream Widow [2022]

Por Micael Machado

The Blues Brothers (Saturday Night Live, The Blues Brothers), The Commitments (The Commitments – Loucos pela Fama), The Wonders (The Wonders – O Sonho Não Acabou), Steel Dragon (Rock Star), Stillwater (Quase Famosos), The Lone Rangers (Airheads: Os Cabeças-de-Vento), Citizen Dick (Singles: Vida de Solteiro), são todas bandas fictícias criadas para filmes de Hollywood que acabaram tendo músicas reais lançadas nas trilhas sonoras de suas respectivas películas. Algumas chegaram até a gravar discos inteiros (tocados/cantados pelos próprios atores, ou por músicos contratados para tal), outras até a sair em turnês. A Dream Widow é mais um destes casos, “surgindo” para o mundo no filme Studio 666 (no Brasil, Terror no Estúdio 666), de 2022, uma mistura de comédia com terror (ou “terrir”, como o gênero é conhecido em nosso país) protagonizada pela banda Foo Fighters, baseada em uma história criada pelo vocalista e guitarrista Dave Grohl.

Resumidamente, o roteiro do filme é o seguinte: o Foo Fighters se muda para uma mansão assombrada (sem saber que era assombrada) para gravar o que viria a ser o décimo álbum da banda. Depois de achar umas fitas de uma banda que gravou anteriormente no local (a Dream Widow – como curiosidade, a atriz que interpreta a baterista da banda é a hoje reconhecida Jenna Ortega, que participa de Wandinha, X e Beetlejuice Beetlejuice, dentre outros) e que acabou assassinada na casa (coisa que o FF também não sabe), Dave Grohl acaba possuído por uma entidade, que quer gravar uma música que vai “abrir um portal” para os demônios invadirem o mundo. Essa entidade também já havia possuído o ex-líder da Dream Widow, o cantor Greg Nole, levando-o a assassinar todos os membros do seu grupo e a se suicidar logo em seguida, antes que o disco de sua banda fosse concluído. Tomado pelo “coisa ruim”, Dave convence o resto do grupo de que o disco dos FF deve ter apenas uma música, instrumental, que no início deve ser “interminável”, depois é “reduzida” para a duração de um CD triplo, com a banda finalmente concordando em uma “versão final” que dure por volta de 45 minutos (sendo esta a tal música que abriria o tal portal). A banda passa um bom tempo do filme compondo e gravando a sua “obra prima”, mas as dificuldades do sexteto em arranjar, tocar e finalizar a canção (que, além de tudo, foi composta baseada em um acorde inexistente, o L#, ou “L sustenido”, sendo que as notas musicais são representadas apenas pelas letras de A a G) acabam “irritando” a entidade, e a partir daí acontecem diversos eventos que recomendo assistirem à película para saberem melhor do que se trata.

Dave Grohl “possuído” no filme Studio 666

Acontece que, quase ao mesmo tempo do lançamento do filme, Grohl divulgou também, nas “plataformas digitais”, o que seria o “álbum perdido” da Dream Widow, que contém oito faixas compostas e interpretadas por ele (nos vocais, baixo, guitarras e baterias), sendo que cinco delas contam com a participação do músico Jim Rota (guitarrista do Fireball Ministry) nos solos de guitarra, e outras possuem as participações de Rami Jaffee (do próprio Foo Fighters) ou de Oliver Roman (que tocou com Dave no projeto Dee Gees, além de também gravar com o The Used e o Lamb Of God, dentre outros) nos teclados. Apesar de, no filme, a Dream Widow ser citada como uma banda do começo dos anos 1990 (época em que o grunge dominava o mundo da música), a sonoridade da “banda” é basicamente um heavy metal oitentista, com ecos de thrash e death metal em faixas como “Encino” (música com um clima de Slayer antigo ao longo de sua duração de pouco mais de um minuto e meio, e onde Grohl faz uns vocais rasgados que eu nunca pensei ouvir vindos de um músico com ele) ou “March Of The Insane” (que chegou a ganhar um lyric video, e me lembra algumas coisas do Possessed), enquanto a “lentona” “Cold” possui alguns riffs bem pesados (para os padrões de uma banda como o Foo Fighters) e uma “aura” a la Celtic Frost em algumas partes.

A variada “Come All Ye Unfaithful” é uma das únicas que traz um vocal “reconhecível” por parte de Grohl (embora as linhas vocais também contem com umas partes rasgadas ali pelo meio), contrapondo a “The Sweet Abyss”, faixa mais “direta”, e que possui um refrão que remete ao Ghost, banda que Grohl já produziu (e para quem chegou a gravar partes de bateria e guitarras) no EP If You Have Ghost (chegando também, de acordo com a lenda, a se apresentar ao vivo como um dos Nameless Ghouls). Outra faixa cujo refrão me remete ao Ghost é “Angel With Severed Wings”, talvez a que tenha a sonoridade mais “moderna” no track list, e que possui um dos melhores solos de Rota ao longo do álbum. Outro destaque vai para a longa “Becoming” (com mais de sete minutos), que tem uma introdução “climática” que ultrapassa os dois minutos, para cair em um riff pesado e repetitivo que logo remete (outra vez) ao Celtic Frost (sensação aumentada pelos vocais de Grohl), e um refrão com uso de “coral” que soa bastante interessante.

Mas o grande destaque do disco é, sem sombra de dúvidas, sua canção de encerramento. “Lacrimus Dei Ebrius” é a tal “faixa interminável” que deveria “abrir o portal” e liberar o mal no mundo. Infelizmente, a versão “finalizada” desta composição instrumental não conta com os quarenta e cinco minutos insinuados pelo filme, mas “apenas” com pouco mais de dez (!) minutos de duração, onde Grohl compôs uma faixa bem diferente das demais deste disco (mais voltada ao stoner e mais “setentista” do que “oitentista”, como suas colegas de track list), com um arrastado riff inicial que remete aos melhores momentos do Black Sabbath setentista, ganhando velocidade a partir de dois minutos (sem perder a “aura” de anos 1970 que carrega), para voltar ao riff inicial, passar por uma parte que novamente remete ao death metal oitentista, e partir daí para diversas variações de velocidade e estilo musical, chegando até mesmo a possuir um trecho acústico mais perto do final. Boa parte da faixa é apresentada ao longo do filme (onde, como escrevi acima, acompanhamos a banda compondo, ensaiando e gravando a canção), mas a “versão finalizada” da música é bem melhor do que a película deixa supor, sendo ela uma das melhores composições de Dave Grohl que eu, particularmente, já ouvi.

Contracapa da versão em vinil de Dream Widow

Embora não seja um disco (ou uma “banda”) “de verdade” como outros que Grohl já lançou em sua carreira, este álbum pode, de certa forma, ser considerado uma “continuação” do projeto Probot, também idealizado pelo líder dos Foo Fighters, e que contava com vários de seus ídolos musicais em um dos melhores álbuns de heavy metal lançados neste século (ao menos para mim). O registro completo do Dream Widow ganhou uma versão especial em vinil no Record Store Day de 2022, limitada a doze mil cópias. Se você encontrar uma (ou se quiser apenas conferir as versões digitais), garanto que valerá a audição! Só fique “esperto” caso alguns fatos “sinistros” passem a ocorrer depois de ouvir “Lacrimus Dei Ebrius”. Afinal (spoiler do filme adiante), a “entidade” que possuiu Grohl ainda não terminou sua missão!

Track List (versão em vinil):

Lado A
1. Encino
2. Cold
3. March Of The Insane
4. The Sweet Abyss
5. Angel With Severed Wings

Lado B
1. Come All Ye Unfaithful
2. Becoming
3. Lacrimus Dei Ebrius

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