Box Set: Aerosmith – Box of Fire [1994]
Por Pablo Ribeiro
Muito antes de se tornar uma piada sem graça e manjada sobre si mesmo, o Aerosmith era uma banda legal, muito bacana mesmo. Antes de porcarias descartáveis produzidas para a MTV, baladinhas vagabundas destinadas à provocar lágrimas em adolescentes norte-americanas abobalhadas e rockinhos rasteiros superproduzidos, mas feitos nas coxas, o Aerosmith foi uma puta banda de rock, sim! Entre 1973 e 1982, o quinteto formado em 1970, em Boston (EUA), pariu sete álbums de estúdio, um par de discos ao vivo, e outro par de coletâneas. É exatamente esse material que compõe Box of Fire, lançado no penúltimo mês de 1994.
Nas bolachas de estúdio, porradas do quilate de “Make It”, “Mama Kin”, “Same Old Song and Dance”, “Lord of the Thighs” (essa uma maravilha obscura, sem dúvida entre as melhores músicas do quinteto), o cover “Train Kept a-Rollin'”, “Toys in the Attic”, “Walk This Way” (que apesar de mega exposta, é dona de um puta riff), “No More No More”, “Sweet Emotion” (e seu groove safado), “Back in the Saddle”, “Rats in the Cellar”, “Draw the Line”, e mais uma cacetada de canções memoráveis.
Mesmo baladas como “Dream On” e “Kings and Queens”, por exemplo, são anos-luz melhores do que as músicas do gênero lançadas pelos caras anos depois. Até o injustiçado Rock in a Hard Place, disco que não conta com a dupla original de guitaristas do grupo, tem excelentes momentos (“Jailbait” é um bom exemplo”).
Além dos álbums de estúdio, estão contidos o ótimo Live! Bootleg, que traz algumas das mais fortes composições do grupo até então, e as duas partes – em discos distintos – de Classics Live!, não tão boas quanto Live! Bootleg, mas ainda assim com boas performances. Fecham o combo de material oficial duas coletâneas: Greatest Hits, com as canções mais comerciais do período, e Gems, com músicas menos “acessíveis”, mas essenciais a ouvidos afeitos a uma bela pedrada roqueira, e uma versão de estúdio de “Chip Away the Stone”, até então disponível apenas como lado B de single. Completando o pacote, um EP contendo as raras “Rockin’ Pneumonia and the Boogie Woogie Flu”, “Subway” e “Circle Jerk” (as duas últimas instrumentais), um remix de “Sweet Emotion” e uma versão ao vivo, com orquestra, para “Dream On”.
Tudo isso vem acomodado em uma caixa bem bacana, com um puxador em forma de palito de fósforo. Dentro, não há livreto próprio do box, mas cada CD vem em sua caixa de acrílico, acompanhado da arte original, e encartes expandidos contendo textos e fotos. Já o EP Box of Fire vem em um envelope de papelão comum, mas que não chega a comprometer a qualidade geral do material, que abrange a melhor fase de Steven Tyler (vocais/piano), Tom Hamilton (baixo), Joey Kramer (bateria), Joe Perry (guitarras/vocais) e Brad Whitford (guitarras) – os dois últimos substituídos, no álbum Rock in a Hard Place (1982) por Jimmy Crespo e Rick Dufay.
Se a ideia é ouvir música de verdade, tocada com tesão e vontade, Box of Fire é a opção ideal para se conhecer o Aerosmith. Senão, esqueça que leu essa resenha, e vá atrás de uma das milhares de coletâneas porcas que o grupo – que teima em não se retirar da cena – cuspiu nos últimos vinte e poucos anos.
Box of Fire apresenta os seguintes álbums, na íntegra:
• Aerosmith – 1973
• Get Your Wings – 1974
• Toys in the Attic – 1975
• Rocks – 1976
• Draw the Line – 1977
• Live! Bootleg (ao vivo) – 1978
• Night in the Ruts – 1979
• Greatest Hits (coletânea) – 1980
• Rock in a Hard Place – 1982
• Classics Live I (ao vivo) – 1986
• Classics Live II (ao vivo) – 1987
• Gems (coletânea) – 1988
• Box of Fire (EP) – 1994
Essa caixa é muito boa. Além de abranger a melhor fase do Aerosmith, como bem retratado pelo Pablo, ela é essencial para aqueles que desejam conhecer um pouco do que virou o hard rock no final da década de 70. O que eu acho mais interessante é a mudança na voz de Steven Tyler. No início era bem rouca e grave, e aos poucos, ela vai afinando até virar a voz de Pato Donald que conhecemos hoje.
Valeu a dica Pablo, foi uma bela compra.
Eu já achei que o grupo soube fazer som acessível com qualidade nos anos 90. As baladas são chatas mesmo, mas o lado roqueiro eu acho muito bom, e com muitas sacadas criativas.
Já o pouco que ouvi deles dos anos 70 não me animou de me aprofundar na discografia pré-separação da banda. Acho que anos 70 tem que ter synths e hammonds pra eu gostar 🙂
Não sou do tipo de cara que rejeita baladas e músicas mais comerciais como um modus operandi. Na verdade, geralmente ocorre o contrário, pois tenho bastante simpatia por baladas bem feitas e de fácil assimilação, pois há de se ter uma boa dose de talento para compor uma música desse gênero que se destaque em meio a tantas outras. Porém, em se tratando de Aerosmith, compartilho da visão do Pablo. Acredito que até os idos de "Permanent Vacation" e "Pump" a banda manteve um equilíbrio interessante, resultando nesses belos discos, mas de "Get a Grip" em diante a coisa deu uma degringolada forte, muitas vezes caindo em exageros e baseando demais seus track lists em canções que não fazem nem sombra para os clássicos registrados nos anos 70.
O que mais me surpreendeu nessa caixa foi o caixote em si e o armazenamento dos discos. Os meus vieram todos lacrados na parte interna, e mais um lacre adicional para cada CD. O fósforo dá um baita medo de puxar e arrancar fora, mas por enquanto, das vezes que manejei o mesmo, foi ok!