Parece que foi ontem (Parte 1)
Por Marco Gaspari
Faz de conta que você está lendo isto em novembro de 1966
Reputação é o que não falta a Hollywood. Até outro dia era a capital do cinema, mas hoje podemos dizer que é também a cidade dos novos grupos musicais. The Beach Boys, Sonny and Cher e The Byrds são apenas alguns dos ídolos da juventude baseados por lá. E não adianta argumentar que o grande centro roqueiro hoje em dia é Londres, porque se você olhar nas paradas de sucesso americanas vai ver que elas estão divididas entre Londres e… Hollywood!
Muitos grupos locais são apresentados todas as noites a grandes executivos de gravadora que freqüentam boates como The Trip, Whisky A Go Go, Bido Lito’s, The Brave New World e Gazzarri’s. E alguns já estão dando o que falar não só em Hollywood.
Com certeza, o mais selvagem deles atende pelo nome The Mothers e fez sua fama tocando no Whisky e no The Trip. Na verdade, eles se consideram um grupo de trabalhadores sociais que exercem sua liberdade de expressão através da música. Sua filosofia é a seguinte: “Nós, The Mothers, prometemos promover em todas as pessoas um rápido e ordeiro retorno aos valores reais”.
O conjunto é formado por Frank Zappa, guitarra solo e vocais; Ray Collins, vocais e gaita; Jim Black, bateria; Roy Strada, baixo; e Elliot Ingber, vocais e guitarra. Esses jovens consideram as pessoas em sua maioria “Plásticos” e dizem que os Plásticos não têm nenhum respeito pelas coisas importantes da vida, nenhum interesse na humanidade – não têm alma. Quando os Mothers cantam, eles cantam para os Plásticos. Um exemplo: “Take your little white plastic boots and melt them down and send them back to the shoe store…” Pois é, ouça o maravilhoso Freak Out, o primeiro LP dos Mothers lançado pela MGM, e você também vai receber o seu recado.
Outro grupo muito bacana e que está começando a fazer sucesso nas paradas americanas é o Love, um conjunto de aspecto pouco usual, daquelas que é preciso ver para descrever. Eles já têm um hit, “My Little Red Book”, mas estão prontinhos para emplacar um segundo compacto com a música “7 and 7 is”. Foram descobertos largando a maior brasa no Bido Lito’s, um clube situado bem no coração de Hollywood e seus integrantes são Bryan, Arthur, Snoopy, John e Ken. Não são pseudo-hippies nem impostores, mas pessoas reais, que acreditam que “Love is the truth”.
O Bido Lito’s também revelou o Seeds, grupo que assinou com a GNP Crescendo e já lançou seu primeiro álbum, The Seeds, e seu primeiro hit: “Pushin’ Too Hard”. Sky Saxon, Rick Aldridge, Daryll Hooper e John Savage têm sua mensagem, As Sementes Estão Crescendo, espalhadas por toda a Sunset Strip. E ninguém duvida que essas sementes ainda vão dar muitos frutos no futuro.
Falando em futuro, o Buffalo Springfield acaba de fazer seu debut no Whisky A Go Go. E não se engane, este conjunto tem tudo para ser um dos grandes. Eles assinaram com Charlie Greene e Brian Stone, os mesmos mentores de Sonny and Cher, e fazem um som como nenhum outro grupo na cidade. Neil Young, guitarra solo e vocais; Bruce Palmer, baixo; Ritchie Furay, guitarra e vocais; Dewey Martin, bateria; e o líder Steve Stills, guitarra solo e vocais, escrevem seu próprio material e têm uma incrível presença de palco. Longa vida ao Buffalo.
Para finalizar, vamos falar um pouco de Don Van Vliet ou, se preferir, Captain Beefheart. Sua Magic Band é outra que está fazendo nome nas paradas com o compacto de “Diddy Wah Diddy”. Herbie Alpert, o dono da A&M Records, foi o sortudo que assinou com o grupo. O som dos rapazes é descrito por eles como “down home Chicago – type country blues”. E quem são os rapazes? Além de Don Van Vliet nos vocais, temos Jerry Handley no baixo, P. G. Blakely na bateria e Doug Moon e Alex St. Clair nas guitarras.
E ainda tem o Grassroots, o Association… Eu diria que para cada conjunto mencionado aqui existem outros cinquenta aparecendo. Isto é Hollywood, onde você não precisa mais ser um astro da tela para fazer fama e fortuna. O que todo jovem quer agora é ser astro do disco.
Meu pensamento ao terminar de ler foi "se nos EUA o negócio já estava legal nessa época, imagina então na Inglaterra"… Aí sim, meu amigo!!! Será que rola, hein? Faltará espaço pra tanta banda boa que estava surgindo ou se formando…
Pensei o mesmo que o Diogo. Nessa época, o Beatles já era o Beatles, o Rolling Stones já era o Rolling Stones, o Yardbirds já era o Yardbirds, o Cream já era o Cream, e por ai vai
Lá em Hollywood, tava nascendo uma bandinha chamada The Doors, e claro, a The Mothers era insuperável!!! Tive o prazer de ver esses caras ao vivo, e o zappa infelizmente nao tava no palco, mas tava ali do lado, curtindo o som …
Belas lembranças desse 66 californiano que eu nao vivi pessoalmente, mas na cabeça ja revivi e muito
Não tive a pretensão de inventariar todas as bandas que surgiam, mas sim retratar a cena que efervescia na Hollywood da época. Quem tiver curiosidade, recomendo o filme "Riot on Sunset Strip", produção B de 1967 com várias bandas de garagem que tocavam por lá, como o Chocolate Watch Band e The Standels. Tem várias partes no Youtube. Esse formato "Parece que foi ontem" foi uma coluna que eu queria escrever para a poeiraZine. Por isso a limitação de espaço. Fiz dois textos pilotos, mas não foi para a frente. No entanto, acho curioso escrever do ponto de vista da época e não com a visão histórica de hoje. Peço, portanto. que perdoem a omissão de uma ou outra informação ou banda que sabemos hoje serem definitivas, mas que só com bola de cristal era possível prever então. Espero que gostem.
Aliás façam um dia uma sessão comentando de bandas como Chocolate Watchband e o The Standells. Esses últimos são autores da clássica Dirty Water. E falando no Chocolate Watchband, eles fizeram uma versão primorosa de I’m Not Like Everybody Else do The Kinks que supera a original.
Gaspa teu texto ta fantastico. É que rememorar essa decada de 60 é como entrar num galpão velho. Muitas historias!
Gostei muito do texto e da ideia, Gaspa! Mas achei o mesmo muito curto, gostaria de ter lido sobre mais bandas, pois essa ideia de escrever com a perspectiva da época, sem considerar o que veio no futuro e a "perspectiva histórica", é simplesmente genial!
Fico imaginando estar lá em Hollywood em 66 curtindo o comecinho do Buffalo Springfield, do Mothers, do Love, já ouvindo algo de Doors e Blue Cheer, de repente um espetáculo do E.P.I. com o Velvet Underground ainda com a Nico… Fora o som que vinha da Inglaterra… Ô época boa…
Só que agora ficasses na responsabilidade de dar continuidade à série.. ainda em 66, o "repórter do tempo" tem de ir a San Francisco e a Londres, no mínimo, e ano que vem (1967!)… se prepare… minha "bola de cristal" diz que muitas coisas interessantes acontecerão, tanto nos USA quanto no Reino Unido… fique ligado!
Hehe… como eu disse, essa idéia foi desenvolvida para uma coluna na poiera e lá, diferente daqui, a limitação de espaço não permitia que eu escrevesse muito. E, claro, não existe fidelidade a época alguma. Semana que vem tem outro texto da série, mas do ponto de vista de um ano totalmente diferente e um assunto nada a ver com este. Aí é que está o interessante da coisa. E fica aqui um convite para quem comprar a idéia: escreva também, já imaginou um texto do ponto de vista de quem estava acompanhando na época o surgimento do NWOBNM? Fiquem à vontade.
Ih, rapaz, criatividade a toda então…
Não sei se tenho tanta imaginação assim…
Mas, a quem se habilitar, boa diversão!
Acorda, rapaz! Você não está em 66, mas sim em 2011. E quer saber? Isso é muito bom! Por que não abandona sua caverna flower-power e vem curtir novos bons sons?
Agora, sério. Curti pakas a ideia! E pense numa cambada de banda boa só nesse textículo!