Por Micael Machado
Até que enfim! Anunciado há meses no site da gravadora na seção “próximos lançamentos”, finalmente a
Hellion Records liberou para venda a edição especial (em CD duplo) do até aqui mais recente lançamento de estúdio do Deep Purple,
Rapture of the Deep, de 2005. Lançada lá fora no mesmo ano do disco normal, a
Tour Edition do décimo oitavo disco dos ingleses finalmente ganha uma versão nacional, e, o que é melhor, com um preço bastante acessível.
Se você não conhece a banda sobre a qual estamos tratando, me desculpe a franqueza, mas está no lugar errado! Um dos mais importantes grupos da história do rock, o quinteto há anos não faz mais o típico hard rock que o consagrou (desde Burn, de 1974, para ser mais preciso), mas vem mantendo uma regularidade constante, mesmo que seus discos mais recentes não tenham o mesmo brilho do passado glorioso na década de 1970.
E é este o caso de
Rapture of the Deep. Ainda que longe do brilho da época das Marks II, III e IV (que contavam com nomes como Ritchie Blackmore, Jon Lord, Glenn Hughes, David Coverdale e Tommy Bolin), o álbum é melhor que seu antecessor, o mediano
Bananas (2003), e, dos discos gravados com Steve Morse nas guitarras, só perde para o fantástico
Purpendicular (1996). Segundo disco a contar com o renomado tecladista Don Airey no lugar do fundador (e excelente músico) Jon Lord,
Rapture traz em sua sonoridade as mesmas características já apresentadas nos outros álbuns do Purple com Morse (a saber, um som mais adulto, menos pesado, mais “balançado” e mais livre em relação aos estilos musicais), porém desta vez com composições melhores e mais bem resolvidas que as dos dois discos anteriores a ele. A sonoridade oriental da
faixa título, o clima mais europeu (AOR?) que aparece na faixa de abertura (“
Money Talks“, que lembra a sonoridade do disco
The Battle Rages On, de 1993 ), o baladão “Clearly Quite Absurd” e a balanceada “
Kiss Tomorrow Goodbye” são os destaques para mim, mas o disco tem uma regularidade constante em termos de qualidade.
A banda usa sua experiência a favor das músicas, e não do brilho individual de seus músicos, o que fica claro nas performances de Morse, Airey e Ian Paice (bateria), monstros em seus respectivos instrumentos, mas que usam seus talentos não para aparecer, mas para fazer a música brilhar. Airey, inclusive, encontra-se mais solto aqui do que em sua estreia no grupo, conseguindo encaixar mais seu estilo nas composições, apesar de às vezes emular Jon Lord com perfeição. Se Ian Gillan (vocais) já não consegue alcançar os timbres de quando tinha vinte e poucos anos, encontrou uma zona de registro bastante agradável aos ouvidos, e que não chega a descaracterizar seu estilo. E Roger Glover, nunca o meu baixista favorito, mantém o seu estilo tradicional, sem se destacar muito, mas com bastante precisão, e desta feita, até com um pouco de groove em suas linhas.
Deep Purple em 2005: Don Airey, Ian Paice, Roger Glover, Ian Gillan e Steve Morse
Esta edição especial traz de diferente a faixa “
MTV“, incluída como bônus em alguns países, e que conta com um dos melhores solos de teclado gravados pelo Purple nos últimos vinte e cinco anos. Nesta música, ainda se destaca a letra, onde Gillan reclama das rádios de classic rock que tem sempre a mesma programação, mas, quando se pensa que o vocalista vai elogiar as bandas novas, o refrão prega “não quero nem falar da MTV”, como que dizendo que a música atual nem lhe interessa (mais ou menos como pensam vários dos redatores deste blog), e “Nós estamos falando de um registro de arte”, como que a declarar: “a música dessas rádios pode ser sempre a mesma, mas ela é que é boa, e não a última novidade da semana que mês que vem estará esquecida”. Fica difícil discordar dessa declaração…
A Limited Edition ainda possui um segundo CD, contando com uma nova versão para “
Clearly Quite Absurd” (mais leve e ainda mais bonita), a excelente e meio jazzística “
Things I Never Said” (é incompreensível como esta faixa ficou fora do track list regular do álbum, pois é melhor que muitas que lá estão), a versão de estúdio de “The Well Dressed Guitar” (que já havia aparecido em alguns lançamentos ao vivo do grupo), e cinco músicas gravadas em Londres em outubro de 2005, já na turnê de promoção de
Rapture of the Deep, turnê esta que, diga-se de passagem, persiste até hoje. Além disso, pequenas alterações na parte gráfica em relação à versão original tornam ainda mais atraente este lançamento para os fãs.
Se você curte a banda e ainda não tem a versão normal deste álbum (que inclusive chegou a aparecer nos famosos “balaios” das lojas de discos), esta edição é recomendadíssima. E, se você coleciona material sobre o grupo, já deve até ter a versão importada, mas, se não tiver, está esperando o quê para adquirir a sua?
Mais do que as qualidades do disco (que são muitas), vale saudar a grande bola dentro da Hellion Records em lançar essa versão no mercado. Edições especiais com bônus e outros brindes são comuns lá fora, mas no Brasil raramente vemos estes itens (tão procurados pelos colecionadores) chegarem. Ainda mais com um preço justo e adequado como o que a gravadora está praticando nesse lançamento. Tomara que o investimento dê retorno, e que não só a Hellion mas outras gravadoras se animem a lançar outras edições especiais (como, por exemplo, a versão CD+DVD do documentário Phoenix Rising, do próprio Deep Purple, ou a versão CD+DVD do disco The Devil You Know, do Heaven And Hell, ou a versão com dois CDs e um DVD do disco solo de Slash, e tantos outros que poderiam e deveriam ser citados) aqui no nosso Brasil tropical. Cruzemos os dedos.
Track List:
CD 1:
1. Money Talks
2. Girls Like That
3. Wrong Man
4. Rapture Of The Deep
5. Clearly Quite Absurd
6. Don’t Let Go
7. Back to Back
8. Kiss Tomorrow Goodbye
9. MTV
10. Junkyard Blues
11. Bedfore Time Begin
CD 2:
1. Clearly Quite Absurd (New Version)
2. Things I Never Said
3. The Well Dressed Guitar
4. Rapture Of The Deep (Live)
5. Wrong Man (Live)
6. Highway Star (Live)
7. Smoke On The Water (Live)
8. Perfect Strangers (Live)
Eu não gosto muito desse álbum, mas não por ele ser ruim, é pq essa sonoridade moderna que o Micael destacou não me agrada. O Steve Morse não serve para ser guitarrista do Deep Purple. Até no Kansas ele fez um papel melhor. Seu estilo de tocar é muito diferente do que Blackmore e Bolin, mas enfim, é o que temos, é o que temos. Se o grupo tivesse acabado após Perfect Strangers não teria desagradado tanto fã ao redor do planeta, e meio que manchando uma carreira que podia ser das mais belas do rock, como foi nos anos 70.
Mairon, acho que "manchar" é um termo muito forte.
Pode até ser que as obras pós-84 não te agradem, mas a banda lançou muito material de ótima qualidade durante os anos seguintes.
Talvez a única mancha tenha sido em 1990, mas que pode ser facilmente ignorada no meio de tantos outros trabalhos muito acima da média.
E outra, se tivessem acabado em 1984, eu e mais uma legião de fans, jamais teríamos a chance de vê-lo ao vivo – um espetáculo impressionante.
Boa, Nathan!
o Mairon parou no tempo quando o Bolin morreu, e não consegue reconhecer os méritos do Deep Purple pós 1980… eles não são tantos quanto nos anos 70, mas existem sim. Purpendicular, por exemplo, é um dos melhores discos de toda a carreira do grupo! E canções como Anya, The Battle Rages On e outras mais…
Interessante você lembrar que só vimos o grupo ao vivo depois da volta… eu os vi pela primeira vez já sem o Blackmore, na primeira tour com o Morse… depois sem o Lord, com o Airey em seu lugar…
Engraçado hoje alguns reclamarem que eles vêm ao Brasil muito seguido! Antes assim do que nunca!
Valeu pelo comentário!
Não é questão de parar no tempo. Graças a esse retorno eu tb vi o Deep Purple, vi Ian Gillan, vi Ian Paice, só que foi um fiasco. O GIlln não canta mais nada, o Paice só no bumbo-caixa, e o maior destaque foi o Don Airey. São gigantes, são, fzem bons discos, talvez, mascontinuar fazendo shows como tem feito desde 1995 (assistam o DVD da India e vejam como Gillan não consegue mais cantar) daí não dá.
Nesse caso é preferivel se aposentar dignamente
Eu não tenho o menor problema com o morse..
acho ele um gde musico e o purpendicular é o melhor disco do purple desde 1975…..
mas concordo q o gillan não canta mais nada..
o hughes bem q podia voltar..
aí sim o purple arregaçava de novo..
o problema é q pro hughes voltar acho q o glover teria q rodar tb..
e isso acho dificil acontecer..
Nem tanto o céu, nem tanto o inferno… Fico feliz sim por ter tido a oportunidade de ter visto ao vivo esse magnífico grupo, um dos mais marcantes na história do rock, mas ao mesmo tempo não posso deixar de constatar sua decadência e o quanto sua importância foi diminuída ao longo das últimas três décadas, lançando muitos álbuns que não fazem jus ao período magnífico vivido nos anos 70.