Maravilhas do Mundo Prog: Saecula Saeculorum – Saecula Saeculorum [1996]
Por Mairon Machado
Na década de 80, o Brasil viu ser revelado um dos maiores instrumentistas de nosso país, o violinista Marcus Viana. Arranjador, compositor e talentosíssimo com o violino, Marcus nasceu em Belo Horizonte, sendo filho de um renomado maestro de Minas Gerais, Sebastião Viana, o qual foi assistente de Villa Lobos. O primeiro contato com algum instrumento foi no piano. Aos 10 anos, Marcus teve aulas no instrumento, mas não foi bem sucedido.
Quando completou 13 anos, começou a estudar violino, onde durante 12 anos, desenvolveu sua técnica, que o levou para o Conservatório Mineiro de Música. Seu mestre foi Gabor Buza, um húngaro que lhe mostrou tudo o que era necessário para ser um exímio músico. Sua alta técnica, bem como uma mudança para os Estados Unidos, em 1972, levou-o a integrar a Orquestra Sinfônica de Harvertown, onde aprendeu composição.
Em 1974, retorna para o Brasil, onde vira figurinha carimbada nos Festivais de Música Popular que ocorriam por Minas Gerais, na maioria das vezes, destacando-se como melhor instrumentista. Junto aos festivais, conhece Giácomo Lombardi (teclados, vocais), José Audísio (guitarras, vocais), Edson Plá Viegas (baixo), Juninho (baixo) e Bob Walter (bateria), formando o Saecula Saeculorum, onde toca violino, violoncelo e também canta.
Dentre os músicos do Saecula Saeculorum, Giácomo Lombardi era filho de uma família de imigranes italianos, e assim como Marcus, desde pequeno desenvolveu seu apetite por música, aprendendo diversos instrumentos com seu pai. Entre todos os instrumentos, passou a se destacar no piano, sendo que com doze anos, já dava aulas para colegas e também compunha canções, que com o passar dos anos, transformaram-se na principal fonte de renda da família Lombardi.
O encontro dos dois gênios da música nacional se deu em um grupo único, que passou a excursionar, destacando-se como um dos principais nomes do rock progressivo na épcoa, graças principalmente à técnica de seus integrantes, mas sem nunca lançar um material original.
O grupo acabou em 1977, e nunca mais se falou na banda, até que em 1996, foram encontradas algumas fitas demo, as quais foram gravadas em setembro de 1976, nos estúdios Bemol, e que acabaram sendo tratadas, mixadas e transformando-se no álbum Saecula Saeculorum. O álbum acabou não saindo em 1976 por problemas contratuais. O grupo havia sido apresentado à gravadora Time Warner, que na época, colocou o baixista Liminha (ex-Mutantes) para negociar com os mineiros. Liminha acabou não concordando com as longas suítes, e exigiu canções curtas, que pudessem atingir um sucesso comercial. Os membros do Saecula Saeculorum recusaram a oferta, e o projeto ficou engavetado por anos, enquanto o grupo rompia os laços e Marcus Viana partia para uma bem sucedida carreira ao lado do Sagrado Coração da Terra e também compondo trilhas para filmes e novelas. Já Lombardi abandonou a música nos nos 80, após algumas participações com o Sagrado Coração da Terra, fundando ao lado da irmá Roberta Navarro a marca de roupas Vide Bula, a qual foi responsável por vestir Nina Hagen e Rod Stewart na primeira edição do Rock in Rio, em 1985.
Foi então que, depois de trinta anos, em 1996, o mundo descobriu o primeiro grupo de Marcus Viana, e que através de sua maravilhosa faixa-título, indica o imenso território que o Saecula Saeculorum poderia ter conquistado. “Saecula Saeculorum” abre com os poderosos acordes de piano e violino, fazendo uma pequena melodia, a qual é imitada por cantos gregorianos. Uma intrincada sessão entre baixo, piano, violino e bateria leva a dedilhados de piano e barulhos da guitarra, e depois de batidas nos pratos, Lombardi desfila seus dedos pelo piano, começando a letra da canção em um clima bem viajante, com o dedilhado do piano e acordes do violino ao fundo.
Então, o piano dedilha novos acordes, trazendo bateria e as notas de violino, que junto com o baixo, executam um bonito tema. Walter quebra tudo, levando então pra um manhoso blues com piano, baixo e bateria, para assim, mudar a canção novamente, com um ritmo dançante feito pelos acordes de violino, acompanhado pela marcação do baixo, bateria e piano, levar a letra da canção, estourando no belo solo de guitarra, tipicamente Brasil nos nos 70. Viana solta os dedos em um solo furioso, com o arco ardendo as cordas do violino, e a letra continua, levando para uma sessão mais lenta.
O refrão é cantado sobre esse leve acompanhamento, e então, Lombardi fica sozinho, dedilhando o piano, com batidas fortes dos pratos ao fundo. O violino de Viana passeia entre as notas do piano, deixando um longo acorde de órgão trazer os vocais em latim. Violino e bateria surgem com violência, e o órgão ganha evidência. Sinos trazem os vocais em latim, e mais uma sequência de agressivas viradas de bateria e notas de violino, recheadas pelos assombrosos acordes de órgão, levando a canção para um lindo tema da guitarra acompanhado por órgão, piano e batidas nos pratos, muito similar ao tema “Soon” de “The Gates of Dellirium” (Yes), trazendo então o tema introdutório do piano e as sessões marcadas entre bateria, baixo e violino, com um pequeno solo de violino encerrando a canção com imponentes batidas na bateria ao fundo.
O resto de Saecula Saeculorum é tão maravilhoso quanto sua faixa de abertura. “Acqua Vitae“, “Eu Quero Ver o Sol” (essa com uma fantástica participação de Lombardi) e “Constelação de Aquarius” exalam virtuosismo, tecnica e muito talento dos integrantes do grupo. “Rádio no Peito” é a mais convencional das canções do álbum, mas mesmo assim, muito boa. O único pecado foi a pessima mixagem do álbum, que acaba atrapalhando na identificação dos instrumentos e, principalmente, na compreensão das letras do grupo.
Em 2007, o Saecula Saeculorum reuniu-se para uma série de concorridos shows, tendo na formação Lombardi, Audísio, Viana, Jimmy Duchowny (bateria) e Léo Araújo (baixo), que resultou em um DVD gravado na Praça do Papa, em Belo Horizonte, no ano de 2007. Atualmente, Marcus continua com seu projeto solo, e também ao lado do Sagrado Coração da Terra, deixando o nome Saecula Saeculorum gravado para a eternidade como um dos principais nomes do rock progressivo brasileiro, e que infelizmente, teve um curto período de vida.
Boa, Mairon.
Esse CD é realmente muito bom e foi uma grata surpresa quando saiu. Parece até falta de sensibilidade do Liminha, um cara tão badalado e que vinha de um grupo que também arriscou com as longas suites progressivas (estou falando do disco "OAEOZ" progressivo dos Mutantes), mas vai ver a decisão foi até motivada justamente por esse fracasso e pelo fato de que em 76 as gravadoras já estavam em outra completamente diferente.
Rapaz, faz MUITO tempo mermo que não ouço isso, e não ouvi tantas vezes, então lembro de só nada. Mas parabéns pelo tópico. Fez eu relembrar a banda, pra poder voltar a ouvir em breve, hehe.
Audisio escreveu:
Engraçado, eu pensei que essa música tema foi feita por mim e pelo Giacomo, numa tarde de sábado de 1974 na casa do baterista Mário Castelo, no bairro Sion. Mais tarde o Edinho colocou alguns elementos jazzísticos, logo depois da introdução. A guitarra participa em uníssono com violino em várias partes.
Marcos teve uma boa participação na composição da música na parte no canto gregoriano quando em umas das suas loucuras no meio da gravação disse cairia bem no clima da música para fazer a transição e voltar ao tema que é meio mozartiano claro com muita influencia do Yes, sempre fui fã do Ritchie Blackmore e do Steve Howe. OBS: O Saecula começou em 1974 comigo e o Giacomo. Marcos se juntou a nós em meados de 1975. Seu primeiro conserto conosco foi no Teatro do Colégio Santo Agostinho.
Existem outras músicas que surgiram entre 2003 até 2007 quando fizemos uma série de shows. Em breve deverão sair pela Sonhos e Sons. Muito material do Saecula está no Youtube
Pesquisando por Saecvla Saecvlorvm ou Saecula Saeculorum.
As novas e editadas versões de “Aqua Vitae” e “Constelação de Aquário” assim como “Rádio no Peito”. Se puder reproduzir em HD será melhor obtém mais frequências de som.
Ao contrário do CD original, apesar de ser gravada ao vivo está com ótima qualidade de som!
Também J.Audisio, inclusive uma homenagem ao clube da esquina que fiz com o Giacomo chamada: “Remembers”. Dá uma olhada. Gravada por nós dois. Tem também uma pequena oficina de guitarra chamada “variações em Am” e um outro pequeno vídeo tocando rock com um arquivo do Ten Years After.
Abraço José Audisio.
OBS: O Equipamento utilizado para gravação na Bemol foi
Guitarra Fender stratocaster 1974 com overdrive da Roland, Fuzz, Faser da Boss e amplificador Phelpa valvulado de 40 watts.
Utilizamos um melotron na época e um cravo eletrônico recém-lançado pela Giannini. Foi a primeira vez que Marcos utilizou um captador eletrônico adaptado para violino acústico. Foi um Barkus Berry. A parte de contrabaixo da faixa “Rádio no Peito” foi executada pelo Juninho e foi gravada numa sessão separada duas semanas antes. As demais faixas foram gravadas pelo Edson Pla Viegas, Edinho, que utilizou-se de um precision e um jazz bass, ambos da Fender.
Valeu!
Caro José. Muito obrigado por seu comentário. Irei atrás dos vídeos citados por você. Estamos agora no site consultoriadorock.com. Sinta-se a vontade para nos visitar, e novamente, muito obrigado pelas informações. Perdoe alguma injustiça ou citação errada. Tentamos fazer o melhor com o material que temos, e principalmente, destacar aqueles artistas pelos quais somos apaixonados. Abraço e sucesso