Maravilhas do Mundo Prog: Triumph – City [1977]
Por Mairon Machado
Foi nessa atmosfera dominada pelo Rush que nasceu outro grande trio canadense, o Triumph. Formado em 1975 no bairro de Mississauga, Ontario, sua história começou quando o office-boy Richard Gordon “Rick” Emmett (guitarra e vocais), conheceu “Gil” Moore (bateria e vocais) e Michael “Mike” Levine (baixo).
Depois de um ano fazendo shows e compondo, o grupo lançou Rock & Roll Machine no final de 1977, e nele registraram uma peça seminal e fantástica, que apesar de pertencer a um grupo não ligado ao rock progressivo, possui toda a sonoridade, imponência e precisão do gênero, sendo assim legitimamente merecedora do título de maravilha prog. O nome dessa pequena suíte: “City”.
Dividida em três partes, “City” é uma avassaladora canção, com dois terços como instrumental, mostrando o talento de Rik Emmet na guitarra e no violão. Ela abre com “War March”, inspirada no “Bolero” de Ravel, em uma melodia apreensiva, começando com os sintetizadores e com barulhos de ondas no mar. Gil executa o tema de “Bolero” na caixa, com acompanhamento de Levine, para Rik começar um solo repleto de distorção. O volume das batidas vai crescendo, assim como a faixa de inspiração, e a guitarra faz as batidas na mesma cadência da bateria.
O solo ganha mais vigor com a entrada do órgão, enquanto o volume do tema aumenta, encerrando a primeira parte em diversas viradas de Gil, chegando em “El Duende Aconizante”, onde o tema central da peça clássica “Asturias” (de Isaac Albeniz) é relembrado. Rik comanda o violão em uma belíssima sessão flamenca, esbanjando dedilhados rápidos e virtuosismo com um acompanhamento sensacional, em uma levada rápida e contagiante. O solo de Rik é muito veloz, e é complicado entender como ele executa as notas com tanta rapidez em um violão de cordas de aço.
Rik canta muito, e o tema de “War March” abre espaço para um dos mais lindos solos que Rik compôs. Com notas muito lentas, ele preenche a canção como um recheio de uma trufa, emocionando e arrancando arrepios para cada pequena escala extraída de suas cordas. A canção ganha velocidade, entrando em uma sequência de terças menores, onde Rik encerra a letra, acompanhado por mais um solo de guitarra, terminando essa maravilha com acordes de órgão e uma forte batida nos pratos.
“City” saiu apenas na versão canadense de Rock & Roll Machine, já que nos Estados Unidos o álbum foi lançado como sendo uma mescla dele mesmo com seu antecessor. Nessa segunda edição, que saiu inclusive com uma capa totalmente diferente, “Blinding Light Show / Moonchild” ocupou o lugar de “City”. O erro permaneceu também na versão europeia, e somente com a chegada do CD, esses países tiveram a oportunidade de conhecer a maravilha dessa semana.
Depois de Rock & Roll Machine, o Triumph lançou Just a Game, que já trazia a sonoridade que marcaria a banda, com refrões grudentos, riffs clássicos e belíssimas participações individuais de cada um dos membros, fazendo do nome Triumph o principal rival (em vendas e em seguidores) do Rush. O flerte com o progressivo só viria aparecer novamente, de forma muito encolhida, no álbum Thunder Seven (1984), mas sem alcançar a glória do que foi registrado em “City”.
O grupo acabou depois de muitas brigas, principalmente entre Rik e Gil, deixando um legado de dez discos, milhares de fãs e hinos essenciais para o rock.
Não consegui encontrar para ouvir a faixa que é tema da coluna, mas em se tratando de Triumph, baseado no que já conheço a respeito do grupo, sei que posso endossar as palavras do Mairon… a banda é competentíssima, e Rik é um guitarrista fantástico, antecipado em relação à enxurrada de guitar heroes extremamente técnicos que surgiriam nos anos 80.
Excelente som!!
Abraço!
Agora sim! Que bela canção! Como se já não bastasse o acento espanhol impresso por Rik no violão, seu longo solo melódico mais para o final da faixa é bom demais!