Por Marco Gaspari
Fã é uma espécie perigosa. Até mesmo letal.
Quando Mark Chapman foi preso após o assassinato de Lennon, foram encontradas entre seus pertences de viagem várias fitas cassetes com músicas de Todd Rundgren, coisa que o artista só ficou sabendo tempos depois ao ver fotos do assassino vestindo uma de suas camisetas. Mark também era obcecado por Todd, a ponto de fazer várias comparações entre ele e John Lennon. Caso não fosse pego logo após assassinar John, quem sabe não teríamos o primeiro caso de um serial killer do rock.
Não que isso tenha deixado algum tipo de trauma em Todd Rundgren. Se tivesse, ele com certeza não teria inventado o Toddstock anos depois. Explico: em junho de 2008, morando no Hawaí e tendo acabado de lançar um disco, Arena, Todd resolveu comemorar seu sexagésimo aniversário convidando os fãs para ir à sua casa ouvir um show da sua banda como uma forma de promover o disco. Vieram trezentos, um número pequeno, mas considerável se levarmos em conta que cada um deles se locomoveu de alguma parte do mundo até o Havaí, compareceu ao show caseiro e passou uma semana no local, em plena comunhão, só para demonstrar seu afeto pelo artista. Tirando as caravanas deadheads, não conheço muitos casos de fidelidade tão explícita assim.
Mas não pensem que é fácil ser fã de Todd Rundgren. Primeiro que é preciso fatiá-lo em vários pedaços e escolher qual parte a gente gosta mais. Se é o adolescente americano fanático pela invasão inglesa e que criou a banda Nazz só para prestar tributo aos súditos da rainha. Ou se é o roqueiro que se reinventou vários anos depois criando a banda Utopia e distribuindo um dos hard rocks mais inteligentes que o gênero AOR já conheceu, com shows carregados daquela tecnologia que tanto definiu esse tipo de música. Ou talvez o artista technopop que ele se revelou diversas vezes nos últimos anos.
Da minha parte, prefiro a fatia que cobre do seu primeiro disco solo, Runt, de 1970, até a criação do Utopia. Fase em que sedimentou sua fama de mestre do pop de três minutos e que teve seu auge em 1972, no Lp Something/Anything. Disco fantástico, do qual três lados (era duplo) ele gravou e produziu sozinho e um quarto lado foi capturado ao vivo com uma banda. Esse disco, e o sucesso arrasador da faixa “I Saw The Light”, fizeram com que durante muitos anos ele carregasse consigo a fama de one-man-band Beatles.
Tudo muito bonito e consagrador, mas nem por isso Todd quis repetir a fórmula no disco seguinte. A Wizard, A True Star é um dos artefatos mais malucos do rock, com todos os ingredientes para se tornar uma espécie de suicídio para uma carreira até então muito consistente. Hoje é um disco cult, mas na época em que saiu poucos entenderam sua mistura grandiloquente de dadaísmo e psicodelia. O disco afrontava os ouvidos até mesmo fisicamente, já que Todd resolveu exceder os limites de tempo de um Lp comum e espremeu os sulcos ao máximo para poder atingir os quase 56 minutos que precisava, mesmo que isso conscientemente tenha comprometido a qualidade do som. Bom, conscientemente é forma de dizer, já que nessa época ele estava compondo sob efeitos de doses cavalares de LSD e do estimulante Ritalin. De toda forma, é o disco dele de que mais gosto e eu não trocaria 10 segundos de Wizard por muito bom mocismo prog da época.
Mas os fãs de Rundgren não se contam apenas nos ouvintes. Vários músicos e bandas devem parte de seu sucesso à sensibilidade de sua produção. Ele já produzia o Nazz e foi o engenheiro de som do disco Stage Fright, do grupo The Band. Também produziu o terceiro disco do Badfinger, Straight Up (junto com George Harrison); Halfnelson, do Sparks; We’re An American Band, do Grand Funk Railroad; Mother’s Pride, do Fanny e L, do Steve Hillage. Produziu Cheap Trick, The Tubes, Patti Smith (Wave), Rick Derringer, Hall & Oates, The Psychedelic Furs, Bad Religion e a obra prima Skylarking, do XTC, entre vários outros. Mas duas produções suas valem a pena comentar. Uma foi a estréia do New York Dolls, quase uma missão impossível, já que não é qualquer produtor que consegue manter Johnny Thunders e Cia. no mesmo estúdio, ao mesmo tempo, gravando a mesma coisa, mesmo quando esse estúdio é também habitado por dezenas de groupies, jornalistas musicais de plantão e toneladas de drogas e bebidas. Outra produção notável foi a do disco Bat Out Of Hell, do Meat Loaf, um cara tipo porcão do rock e que ninguém dava um pedaço de bacon torrado por ele. Para não me alongar muito, os números do álbum dizem tudo: 43 milhões de cópias vendidas, 200 mil todo ano até 2010, quinto álbum mais vendido de todos os tempos e 14 vezes disco de platina. Só com os royalties que ganhou, Todd pode ficar numa boa por anos seguidos.
Bat Out Of Hell foi lançado em 1977, mesmo ano em que nasceu Liv Rundgren, que a mãe Bebe Buell disse ser filha de Todd e que anos mais tarde acabaria revelando ser, na realidade, filha de Steven Tyler, do Aerosmith. Mas encerrar um texto falando de Liv Tyler é roubar no jogo, não é mesmo?
Toddstock
Esse é o primeiro texto do Gaspari aqui na Consutoria que eu li em menos de 5 minutos….rs
Esse é o primeiro texto do Gaspari aqui na Consutoria que eu li em menos de 5 minutos….rs [2]
E gostei, apesar de nunca ter 'tomado' Todd Rundgren. O interessante é que um amigo meu vem me sugerindo ouvir o Utopia faz uns dias já, mas com o texto fiquei interessado foi no A Wizard, a True Star! hehe
Tem um outro disco duplo do Rundgren, chamado simplesmente Todd, que também vale muito a pena. Ele completa a trilogia Something Anything/Wizard/Todd, para mim a melhor fase dele. Nessa época Todd lançava até 3 discos por ano e estava no auge de sua capacidade criativa. É também sua fase mocinha, com arranjos glam e cabelo colorido. O Utopia é uma bela banda, mas já avança para rock de Arena. Nos links eu coloquei uma música desse grupo muito legal, de quase 16 minutos. Os músicos do Utopia serviram de banda de apoio na gravação do Bat Out of Hell, do Meat Loaf, junto com alguns músicos da E. Street Band. Aliás, esse disco é uma espécie de resposta ao sucesso do Born to Run, do Sprinsgsteen. Combinaram letras de rapaz da cidade angustiado, no estilo do Bruce (mas cheia de trocadilhos bobos, afinal não é fácil ser The Boss) e acrescentaram aquela sonoridade épica. Acertaram na veia e o disco vendeu horrores.
esse texto me prendeu
Conheço o Todd no Nazz (e acho fantástico) e o primeiro trampo do Utopia, que tem uma sonzeira progressiva de primeirissima, como a música The Ikon e 30 e tantos minutos de viagem sonora!
É claro seu talento como compositor e tino para a produção musical. Essa entre-safra dele não conheço e vou procurar ir atrás…valeu a dica, mestre!
Abraço!!
Ronaldo
Conheço uma ou duas canções solo de Todd, mas estou um pouco mais acostumado com seu trabalho como produtor. Seu comentário a respeito da comparação com Bruce Springsteen foi pertinente, Marco, e eu, em especial vejo "Bat Out of Hell" como uma expansão de um dos versos mais marcantes da música "Born to Run": I wanna die with you Wendy in the streets tonight in an everlasting kiss… Bom, se é que alguém me entende, hehehe…
Bat Out Of Hell merecia um artigo só dele. É um disco muito interessante e cheio de histórias de bastidores. Jim Steinman, o compositor das músicas, sempre negou a cópia, admitindo no máximo uma certa influência do Bruce. Mas mesmo o Todd racha o bico nas entrevistas, dizendo que o disco todo, inclusive a produção, foi pensado como uma forma de "sacanear" a fórmula de sucesso de Springsteen.
Todd Rundgren e o Utopia não são nada ruins, pelo que ouvi dos videos, mas curti de fato foi o Nazz! Muito bacana!
Tudo isso foge um pouco das minhas áreas de interesse, mas vou conferir material dos três momentos.
Perdão, Kate Beckinsale, mas não vou poder ir para a cama com você. Não me leve a mal, mas é que você foge um pouco da minha área de interesse no momento. Prometo que vou conferir algum material seu mais tarde…
Ah, esses filósofos fanfarrões!!!!
HAHAHAHAHA
Não mistura as coisas! xD
Esse é o primeiro texto do Gaspari aqui na Consutoria que eu li em menos de 5 minutos….rs [2]
O sucesso de Todd Rudgren como produtor de Bat out of Hell tb se equivale em We're an American Band. Eu não gosto da carreira do Todd, e vejo muito da sua mão nos álbuns que o Gaspa citou como produtor. Talvez por isso eu não consigo ouvir o We're an american band com tanto prazer.
E a sacangem da Liv Tyler é uma sacanagem pra lá de quente, heheheh