Consultoria Recomenda: Álbuns tributo
Por André Kaminski
Tema escolhido por Diogo Bizotto
Com Davi Pascale, Fernando Bueno, Mairon Machado, Marco Gaspari, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo
Uma pena termos perdido os outros textos do Consultoria Recomenda (e consequentemente todos os meus textos, visto que entrei no site em 2014). Mas de minha parte não irei desistir e irei com a seção até o fim. Cá estamos nós trazendo novas velhas pérolas (ou não) da música e contribuindo com nossos comentários e opiniões sobre o vasto mundo do rock (e de outros estilos que apreciamos).
Como diria o Capachão, o nosso vitaminado, idolatrado, incomensurável, salve salve chefinho Diogo Bizonho foi o contemplado desta vez (para a ira de alguns consultores que me acusam, injustamente, de roubar no sorteio ♥). O tema escolhido são os discos tributo, aqueles em que vários artistas prestam homenagem a uma banda com versões diferentes de seus maiores sucessos. E aqui estão as nossas sugestões. Curtiram ou não? Opine nos comentários!
*Devido a problemas pessoais, o colaborador Fernando Bueno não pôde enviar seus comentários.
Yes – Tales from Yesterday [1995]
Por André Kaminski
Foi um pouco difícil para mim, mas optei por este belo tributo ao Yes. Compreendo que para muitos o Yes é “intributável” visto que só a banda mesmo para executar com perfeição as suas excelentes composições, mas creio que este disco traz um sabor diferente à músicas como “Roundabout” por Robert Berry e a lindíssima versão de Annie Haslam e do próprio Steve Howe para “Turn of the Century”. Na época que recomendei este disco – antes do nosso site cair – Chris Squire estava vivo e pouco depois seria diagnosticado com a leucemia que o levou deste mundo. Fica aqui as minhas condolências e também como uma homenagem a um dos melhores baixistas que o progressivo produziu.
Davi: Mais um que já tinha na minha coleção. Se a idéia de realizar um tributo ao Yes já é considerada ousada por si só, imagina realizar um sem a obrigação de interpretar as faixas exatamente como foram concebidas e trazer entre os convidados músicos que fazem parte da historia do grupo homenageado? É exatamente isso o que temos aqui. Novas leituras para velhos clássicos do rock progressivo. Entre os artistas participantes, temos desde grupos claramente influenciados pelo trabalho do Yes, como Enchant e Magellan, até músicos que fizeram parte da história da banda, como Patrick Moraz e o sempre genial Steve Howe. “Roundabout”, “Siberian Kahtru”, “Release, Release”, “Southside Of The Sky” e “Starship Trooper” ficaram espetaculares. A bola fora fica por conta da interpretação sem sal do Magellan para “Don´t Kill The Whale”. Eles não mataram a baleia, mas certeza que ela ficou tristonha com o resultado.
Diogo: Em se tratando de uma banda com a complexidade do Yes, penso ser difícil que um tributo faça total jus à sua trajetória, mas Tales from Yesterday foi uma bela surpresa. Entre artistas que adicionaram um interessante “tempero” às originais e outros que foram bastante fiéis, o saldo é muito positivo. Abordando os primeiros, dou os parabéns a Robert Berry por atualizar “Roundabout” de forma a respeitar a canção e mesmo assim indicar um novo caminho. Melhor faixa do álbum. “Don’t Kill the Whale”, da qual nem gosto tanto, também recebeu um tratamento diferenciado e ganhou ótimo fôlego. “Astral Traveler”, em uma versão instrumental com o próprio Peter Banks, primeiro guitarrista do grupo, é outra que gerou bom resultado. Entre as versões próximas às originais, que são maioria, um predomínio de bons resultados, então limito-me a citar o desconhecido (para mim) Enchant, que mandou muito bem em “Changes”. Ah, não dá pra ficar sem mencionar a interpretação sempre bela de Annie Haslam em “Turn of the Century”. Ótima escolha.
Mairon: Para quem é um fã de Yes que nem eu, a curiosidade de ouvir suas músicas favoritas interpretadas por alguém que não é o artista que a concebeu é algo que ao mesmo tempo intriga mas incomoda, e confesso que foi com esse sentimento que passei por Tales from Yesterday. Os artistas que homenageiam a maior banda progressiva do rock britânico contém artistas que pertenciam ao selo Magna Carta, que na minha opinião, fizeram um trabalho de ruim para regular, onde a pior apresentação fica por Robert Berry na tinhosa e desnecessária revisão para “Roundabout”, assim como Magellan, que detonou “Don’t Kill the Whale”, infelizmente, com um arranjo moderno que nada agrega de valor para essa boa canção de Tormato (1979). Cairo (“South Side of the Sky”), World Trade (“Wonderous Stories”) e Enchant (“Changes”) não inventaram nos arranjos, e acabaram trazendo um sorriso para este que vos escreve, sendo que o Enchant saiu-se muito bem ao apresentar uma das melhores canções da era Trevor Rabin. O grupo Shadow Gallery manteve o arranjo da fenomenal “Release, Release”, mas vou te dizer, o vocalista dessa banda é a versão original do que deu origem ao Massacration. Que voz chata heinhô! Stanley Snail (“Siberian Khatru”) fez algo parecido com o original, porém, trazendo uma renovada sessão instrumental central, muito diferente da versão registrada em Close to the Edge, a qual, se não ficou melhor que o registro de 1972, também não ficou devendo muito, assim como a pesada versão do Jeronimo Road para a bela “Starship Trooper”, que perdeu todo o charme do trabalho feito originalmente por Steve Howe durante “Disillusion” e “Würm”, com os teclados fazendo o que a guitarra e o violão faziam lá no The Yes Album (1971), mas não ficou de todo ruim. Os renomados Steve Morse e Annie Haslam dão as caras, com o primeiro fazendo uma fiel revisão para as super-clássicas peças musicais “Mood for a Day” e “The Clap”, enquanto a segunda, ao lado do incrível Steve Howe, faz misérias na emocionante “Turn of the Century”, com a vocalista do Renaissance trazendo seu timbre impecável e o guitarrista original do Yes tendo uma performance como sempre perfeita. Aliás, as participações de ex-Yes não fica só para Howe (que na época do lançamento, em 1995, estava fora do grupo), mas também para o tecladista Patrick Moraz e o guitarrista Peter Banks, com o primeiro mostrando todo seu talento na revisão para “Soon”, nota a parte PERFEITA (!!!), e o segundo revisando surpreendentemente a jazzística “Astral Traveller”, que ganhou uma cara moderna e totalmente instrumental. Esses são disparado os melhores momentos do CD, que no geral, faz uma singela recuperada na carreira do Yes. Prefira o original, mas não renegue a cópia.
Marco: Não adianta: todo músico prog dos anos 80 em diante quis ser Jon Anderson, Stevie Howe, Chris Squire, Rick Wakeman e Bill Bruford ou Alan White. E não adianta: não conseguiram. Que puta disco chato, meu Deus!
Ronaldo: Apesar de figurarem músicos bastante gabaritados neste tributo, nada aqui foi capaz de surpreender em termos de novos arranjos, que faça o ouvinte sequer questionar entre a versão do tributo ou a original. Todas ficam invariavelmente abaixo das originais. Um dos motivos principais é o desbalançamento entre os instrumentos, pendendo muito para as guitarras. O Yes era um conjunto muito equânime na instrumentação, sendo essa uma de suas marcas inconfundíveis. “Siberian Kathru” é um cover nota-a-nota com um timbre mais magrinho de bateria. Dois ex-membros do Yes surgem com suas versões – Patrick Moraz e Peter Banks, tocam respectivamente “Soon” (apenas ao piano) e “Astral Traveller” (apenas instrumental). O melhor que se encontra aqui é a parceria de Steve Howe com Annie Haslam em “Turn of the Century”.
Ulisses: Um tributo acima da média, feito em grande parte pelo cast de um selo prog (Magna Carta). Só tem coisa boa, com destaque para a versão de “Roundabout” (Robert Berry), “Siberian Khatru” (Stanley Snail) e “South Side of the Sky” (Cairo). Mas o prêmio vai mesmo para “Turn of the Century” com Annie Haslam nos vocais, acompanhada do próprio Steve Howe.
The Beatles – Butchering the Beatles: A Headbashing Tribute [2006]
Por Davi Pascale
Tenho bastante álbuns tributos em casa. Alguns são desastrosos, mas outros são surpreendentes, como esse aqui. Vários artistas da cena heavy metal fizeram um disco homenageando os quatro rapazes de Liverpool. Entre os convidados estão gente do porte de Alice Cooper, Lemmy Kilmister, Steve Vai, Yngwie Malmsteen, Chris Slade, Eric Singer, só para citar alguns. Obviamente, os arranjos são mais pesados do que os originais, mas o resultado é bem interessante. Sem contar que esse álbum é um tapa na cara dos headbangers mais ortodoxos que gostam de ficar chamando a banda de Lennon/McCartney de boyband. Aqui, também vai ser interessante porque temos gente de diferentes gerações participando. Vamos ver como a galera vai reagir.
André: Daquela série de discos do “já ouvi falar mas nunca fui atrás”. Pois é, eu deveria ter ido. Esses arranjos metálicos das músicas do Beatles ficaram excepcionais, algumas até achei melhores do que as originais tais como “Back in the USSR” cantada pelo Senhor Verruga Kilmister e “I Feel Fine” na voz de John Bush. O restante do disco mantém um ótimo nível e comprova a energia da música dos besouros caso eles resolvessem pesar a tonalidade das guitarras e acelerar a bateria.
Diogo: Esses tributos produzidos por Bob Kulick geralmente são bons, e este não foge à regra. Um cast estrelado leva a cabo versões seguras, com arranjos em geral previsíveis, mas muito bem executados e produzidos. Apoiado por um Steve Vai inspirado nas seis cordas, Alice Cooper toma “Hey Bulldog” para si e dá à música um jeito irônico e malandro. Billy Idol e seu parceiro de longa data Steve Stevens também fazem um trabalho muito bom em “Tomorrow Never Knows”, com um ar debochado que Billy encarna como ninguém. Na voz de John Bush, “I Feel Fine” não soaria deslocada em um álbum do Anthrax nos anos 1990. Outro grande destaque é “I Saw Her Standing There”, talvez a versão que melhor compreendeu a original, imprimindo uma pegada cinquentista ao mesmo tempo em que despeja agressividade. Mérito para o excelente John Corabi e seus asseclas, incluindo os guitarristas CC Deville (Poison) e Phil Campbell (Motörhead). Menciono ainda “Drive My Car”, na voz de Kip Winger, uma verdadeira obra de fã.
Mairon: Sempre fui daqueles que consideram as versões feitas para músicas dos Beatles melhores que o original. Esse disco, com diversos nomes do heavy metal mundial homenageando o quarteto de Liverpool, corrobora ainda mais meu pensamento. Alice Cooper (“Hey Bulldog”), Lemmy Kilminster (“Back in the USSR”) e John Bush (“I Feel Fine”) fazem interpretações especiais e muito divertidas para as canções citadas, mas por outro lado, não consegui deglutir Geoff Tate (“Lucy in the Sky With Diamonds”), Jeff Scott Soto (“Magical Mistery Tour”) e Kip Winger (“Drive My Car”), até por que essas músicas também nunca me chamaram a atenção nas versões originais. Surpreendente a viajante versão de “Tomorrow Never Knows”, com Billy Idol interpretando de maneira para mim inédita, o desconhecido (entre os grandes) Doug Pinnick, com “Taxman”, o sempre talentoso Tim “Ripper” Owens fazendo valer a audição de “Hey Jude” e a deliciosa e manhosa versão de “Revolution”, comandada pelo genial Billy Gibbons. Jack Blades (“Day Tripper”), John Corabi (“I Saw Her Standing There”) e John Bush (“I Feel Fine”) fecham a conta, com todos esses vocalistas alternando a banda que o acompanha, por onde passam nomes como Steve Vai, Eric Singer, Mike Inez, Bruce Kulick, Aynsley Dunbar, entre outros. Para a proposta metálica, é um disco bem legal e divertido, mas não me atiçou a vontade de comprar.
Marco: Gostei muito. Lógico que não vou engrossar o coro dos modinhas que vão dizer que conseguiram melhorar o repertório da primeira boy band, mas as versões ficaram moderninhas e bem legais. Nem a voz de comedor de churro do Billy Idol ou o serial killer de harpas paraguaias do Malmsteen conseguiram estragar “Tomorrow Never Knows” e “Magical Mistery Tour”, respectivamente. Se tivesse um trocado no bolso é o tributo que eu compraria.
Ronaldo: É de se impressionar a variedade de seleções de músicos que se dignaram a este tributo. Figurões de diversas vertentes do rock pesado prestando justa interpretação homenageando a entidade Beatles. Mais impressionante que isso é notar que mais de uma dezena de guitarristas, de baixistas e bateristas desse estilo conseguem soar muito parecidos uns com os outros, especialmente em termos de timbres (sempre distorcidos) e a abordagem no instrumento. Tudo muito padronizado também na produção sonora, com baixo pouco presente, baterias esporrentas e nada de teclados ou algum instrumento de sopro. Billy Idol e sua trupe conseguiram nas guitarras efeitos bem interessantes para acrescentar “Tomorrow Never Knows”; já Yngwie Malmsteen gasta seu virtuosismo inconveniente em “Magical Mistery Tour”, transformada em um hard rock genérico da Sunset Strip oitentista; Lemmy arranca sua voz dos barris de carvalho onde repousa e faz bem em “Back in the USSR”; “Day Tripper” traz bons vocais e guitarras; o arranjo de “I Feel Fine” transformou os Beatles em Green Day e “Hey Jude” com guitarras distorcidas foi doída de ouvir, parecia um cover de Guns n’ Roses. Destaque para a capa.
Ulisses: Quanto rockstar num canto só, hein? De qualquer forma, só de dar uma “passada de olho” em alguns nomes já dá pra imaginar certas coisas e se surpreender com outras. Malmsteen se empolgou demais em “Magic Mystery Tour”, como já era de se esperar; já Lemmy deixou “Back in the USSR” bem interessante, e é um dos covers mais divertidos junto a “Drive My Car” e “I Feel Fine”, esta última com John Bush nos vocais. Os covers têm um jeitão jam, e não sei se isso pode ser atribuído à diversão que os caras estavam tendo na hora da gravação ou à própria natureza, digamos, “feliz” das obras dos Beatles; de qualquer forma, é um tributo interessante pelo simples fato de fazer uma releitura do Fab Four em outro formato – o do nosso querido METÁU.
Eagles – Common Thread: The Songs of the Eagles [1993]
Por Diogo Bizotto
Melhor que um bom álbum tributo é um disco que acaba fomentando a reunião dos artistas homenageados. Pois foi justamente isso que ocorreu com Common Thread: The Songs of the Eagles, tributo prestado por jovens estrelas da country music norte-americana à banda que melhor sintetizou o “California sound” dos anos 1970, unindo rock, pop e country em proporções semelhantes. O cantor Travis Tritt, que registrou uma ótima versão de “Take It Easy”, teve a ideia de convidar os integrantes do grupo para a gravação do divertido videoclipe da canção, acendendo a fagulha que faltava para que os músicos deixassem suas diferenças de lado e protagonizassem um retorno extremamente bem sucedido às atividades. Em geral, as faixas presentes em Common Thread soam mais polidas que as originais e com grande fidelidade a seus arranjos, fazendo com que o destaque maior seja mesmo a interpretação pessoal de cada vocalista. É dessa maneira que se sobressaem Clint Black, brilhando com a magnífica “Desperado”, e a até então desconhecida para mim Suzy Bogguss, que emociona na difícil “Take It to the Limit”, fazendo mais bonito que gente grande que também já coverizou essa música. Um trunfo de Common Thread é o fato de nenhuma versão presente no disco ter ficado ruim; ainda assim, destaco Trisha Yearwood, com “New Kid in Town”, Lorrie Morgan, com “The Sad Café”, e o jeito mais despojado de Alan Jackson com “Tequila Sunrise”.
André: Talvez o mais “seguro” dos tributos aqui visto que a distância entre o estilo dos músicos deste disco e os Eagles ser bem pequena. Claro que a parte mais country da banda seria evidenciada, mas como o ritmo rock dos Eagles transparece assim mesmo, curte-se facilmente “Take It Easy” com Travis Tritt e “Tequila Sunrise” com Alan Jackson. Ótimo tributo, os águias devem ter ficado orgulhosos.
Davi: Não sabia da existência desse disco. Achei bem bacana. Trata-se de artistas da country music prestando sua homenagem ao grupo de Don Henley. Tem a ver, sempre pesquei umas influências de country nos arranjos dos rapazes. E as versões ficaram muito boas. Os grandes destaques ficam por conta de Travis Tritt (“Take It Easy”), Alan Jackson (“Tequila Sunrise”), Vince Gill (“I Cant Tell You Why”), Brooks & Dunn (“Best of My Love”) e Lorrie Morgan (“The Sad Café”). Curiosamente, ninguém fez uma versão country para o classicão “Hotel California”. Tinha curiosidade de ver como essa canção ficaria na voz desses caras…
Mairon: Eagles é uma banda que tem seus ótimos momentos, e outros que ainda preciso aprender a deglutir. Com esse tributo feito somente por artistas country, os countrys leves predominam, através de “Peaceful Easy Feeling” (Little Texas), “Take It to the Limit” (Suzy Bogguss), “Best of My Love” (Brooks & Dunn), “Lyin’ Eyes” (Diamond Rio), “Tequila Sunrise” (Alan Jackson), “Saturday Night” (Billy Dean) e “Take it Easy” (Travis Tritt), trazendo marcado à ferro todo o orgulho americano que fez desse álbum platina tripla naquele país, e me fez constatar, depois de quase cair no sono, que este é um estilo o qual um dia consegui gostar, mas hoje só admiro de longe. Foi sofrível aguentar “The Sad Café” (Lorrie Morgan) e “New Kid in Town” (Trisha Yearwood), mas me agradou o ritmo de “Heartache Tonight” (John Anderson) e “Already Gone” (Tanya Tucker), bem como as linhas Bee Gees de Vince Gill em “I Can’t Tell You Why” surpreendeu. Esperava mais do hit “Desperado” (Clint Black), e por falar em hits, é interessante que ninguém tenha se arriscado no clássico “Hotel California”, sendo então Common Thread uma boa forma de se conhecer outras canções do grupo, mas confesso que não gostei do resultado final.
Marco: Sei que sou chato. Que não gosto de nada. Mas se Eagles já não me desce puro, quanto mais misturado com esses refrigerantes. E tudo Dolly. É tanto açúcar que esse tributo devia ser condenado pelos Diabéticos Anônimos.
Ronaldo: Um tratado country por cima de um dos grupos com as composições mais bem resolvidas de todo o soft-rock-US-‘70, o Eagles. Ao ouvir esse tributo, você visualiza na mente uma bandeira americana tremulando no horizonte de uma estrada do meio-oeste americano. Todas as interpretações são muito honestas, com bons vocalistas e aquele sotaque sulista inconfundível. Só algumas guitarras que ficam devendo as originais, que tinham uma pegada mais roqueira. Esse não tem muito erro. Se você gosta das originais, o tributo tende a agradar. Não tem nem mais, nem menos.
Ulisses: Eu não sou um grande conhecedor de Eagles, tendo ouvido somente uma coletânea há muito tempo atrás. Este tributo, em geral, traz covers que parecem não se distanciar muito do estilo consagrado do grupo americano, apenas injetando uma dose ainda maior de country music. Gostei do disco inteiro, apesar da estranha falta do hit “Hotel California”.
Black Sabbath – Nativity in Black [1993]
Por Fernando Bueno
Muitos criticam esse lançamento pelo fato de não conter nenhuma música que não faça parte da era na qual Ozzy Osbourne havia lançado um disco ao vivo com a sua banda, Live & Loud, incluindo uma participação dos integrantes originais do Black Sabbath, o que gerou muita expectativa em relação a um possível retorno, e nada melhor do que privilegiar essa fase da carreira da banda em uma homenagem assim. Diferentemente do tributo ao Kiss, onde existem alguns deslizes na escolha ou na execução das faixas, esse é quase perfeito. Digo “quase” pois a inclusão de “War Pigs”, registrada ao vivo pelo Faith No More, já era conhecida na época, o que causou uma pequena decepção. A escolha das bandas foi perfeita. Mesmo o 1000 Homo DJs, com Al Jourgensen (Ministry) no vocal, representando as bandas da vertente industrial, fez uma versão matadora para “Supernaut”. Também causa estranheza para alguns o nome Bullring Brummies. Entretanto, essa foi uma banda formada exclusivamente para gravar “The Wizard”, que tinha entre seus componentes Geezer Butler, Bill Ward e Rob Halford.
André: Dentre todos os discos recomendados, o mais “conhecido” entre os rockeiros. E eu tenho este cd. Entre releituras e covers fiéis aos originais, destacaria a hilária versão de “Paranoid” pelo Megadeth, a grandiosidade que Dickinson imprime em “Sabbath Bloody Sabbath” (que ficou até parecendo música do Maiden) e a versão para “Children of the Grave” do White Zombie que ficou bem legal. Porém, achei que o Ugly Kid Joe poderia melhorar sua versão de”N.I.B.” visto que a banda tem capacidade para muito mais.
Davi: Esse tributo conheço bem. Comprei na época. Grande homenagem à esse que é considerado por muitos o pai do heavy metal. Time estelar com versões matadoras. Therapy? teve a feliz idéia de trazer o madman para gravar o vocal de uma versão mais acelerada do clássico “Iron Man”. Sepultura brilha em sua versão matadora de “Symptom of the Universe”, assim como White Zombie em “Children of the Grave”. Bruce Dickinson arregaça em “Sabbath Bloody Sabbath”. A releitura do Megadeth para “Paranoid” já é clássica. Ugly Kid Joe também se sai muito bem em “N.I.B”. O único senão fica com a sombria releitura de “Black Sabbath” na voz de Type O Negative, que nunca fez minha cabeça, e o trabalho vocal do Biohazard em “After Forever”. Essencial para aqueles que curtem Sabbath.
Diogo: Por mais que seja ótimo conhecer novas e velhas novidades através desta seção, fico feliz que aqueles discos que merecem o carimbo de “confirmado” também deem as caras por aqui. É o caso de Nativity in Black, álbum que deu o que falar em meados dos anos 1990, época em que eu estava começando a formar minha identidade como ouvinte de música, funcionando como uma grande influência. Tive sorte, pois trata-se de um dos melhores tributos que já conheci; mesmo aquelas canções que não deixaram uma impressão tão positiva na época, hoje em dia soam bem. Destaques são muitos, mas lembro de, na época, ter adorado as versões para “After Forever” (Biohazard) – minha favorita -, “Children of the Grave (White Zombie), “Symptom of the Universe” (Sepultura), “Sabbath Bloody Sabbath” (Bruce Dickinson e Godspeed), “N.I.B.” (Ugly Kid Joe) e “War Pigs”, (Faith No More). Grande coleção de músicas, que serviu inclusive para ajudar a referendar a aceitação definitiva do Black Sabbath em alguns setores que ainda enxergavam o grupo negativamente, como boa parte da crítica.
Mairon: Acredito que esse tenha sido o primeiro disco tributo que ouvi em minha vida, e até hoje, é um dos que mais gosto. As bandas que participaram não inventaram em nada, e todas elas se destacam com um trabalho fiel ao original, mas dando uma cara pessoal em cada canção. Nesse ponto, Biohazard (“After Forever”), Bullring Brummies (“The Wizard”), Ugly Kid Joe (“N. I. B.”) e o Cathedral (com a linda “Solitude”, lançada somente na versão europeia) fizeram versões entusiasmantes e com pitadas de diferenças sutis perante o que o Black Sabbath fez, mas que deram um gosto sensacional, enquanto “Children of the Grave” (White Zombie), “Supernaut” (1000 Homo DJs & Al Jourgensen) “Lord of This World” (Corrosion of Conformity) ficaram inventadas além da conta, e não me agradam muito (principalmente a barulheira eletrônica de “Supernaurt”). Megadeth (“Paranoid”), a participação de Ozzy abrilhantando “Iron Man” ao lado do Therapy?, o Sepultura dando show em “Symptom of the Universe”, Bruce Dickinson mostrando seu característico gogó junto do Godspeed em “Sabbath Bloody Sabbath” e a magnífica versão de “War Pigs” apresentada pelo Faith No More no álbum Live at Brixton Academy (1992) são os grandes nomes de um grande disco, que ainda teve uma segunda versão um tanto quanto fajuta lançada anos depois, mas também de alto nível.
Marco: Que me desculpem os franceses, mas prefiro mil vezes feijoada a cassoulet. E Black Sabbath é feijoada enquanto que essas bandas prestando tributo são whitesabbath, ou cassoulet. Salvam-se alguns pertences, lógico: o White Zombie, o Ozzy (claro!), o Sepultura (com aquela voz de torresmo) e o Faith No More (por ser ao vivo). Não significa que eu esteja menosprezando as demais bandas, mas parece que ficou faltando uma pimentinha.
Ronaldo: O Black Sabbath é uma das bandas mais influentes do mundo, principalmente para a geração dos anos 1990-2000, com a ascensão do estilo stoner rock. Mas esse tributo não capta muito essa fatia, e sim se concentra em grupos que emergiram antes, em diversas vertentes do metal. Contudo, o Black Sabbath tem discípulos indisciplinados, que aprenderam apenas uma parte dos seus ensinamentos – só tiraram nota boa em matéria de peso. As sutilezas e nuances da música do Black Sabbath foram jogadas pela janela, como esse tributo atesta. Algumas versões são honestas e a mais fiel e cavernosa delas é a do grupo Corrosion of Conformity, com “Lord of this World”. “The Wizard” foi oxigenada pela interpretação do Bullring Brummies. Ponto positivo também para os vocais do grupo Cathedral que aprimoram a belíssima “Solitude”. Bruce Dickinson arrega e não consegue cantar “Sabbath Bloody Sabbath” no tom original, mata os violões e transforma um clássico do rock em mais um heavy-metal genérico. Em se tratando de constrangimento, um grupo de DJs se encarregou de destruir a inatingível “Supernaut”.
Ulisses: Muito bom tributo, com algumas versões que eu já conhecia (“Paranoid”, pelo Megadeth, aparece no EP de 1995, Hidden Treasures – o ‘Nick. Nick! NICK!!’ no final nunca deixa de ser engraçado) e algumas ótimas surpresas, como Rob Halford cantando “The Wizard” acompanhado de Ward e Butler, e da versão do Type O Negative para “Black Sabbath”, que ganhou um clima ainda mais aterrorizante do que a da original!
Arnaldo Baptista – Sanguinho Novo… Arnaldo Baptista Revisitado [1989]
Por Mairon Machado
O final dos anos 80 viu a gravadora Baratos Afins resgatar duas obras-primas de Arnaldo Baptista (O Elo Perdido e …Faremos Uma Noitada Excelente), uma justa homenagem ao eterno ex-Mutante, que havia sofrido um acidente gravíssimo quando caiu / se atirou do terceiro andar de um manicômio onde estava internado, no ano de 1982. Porém, foi com o tributo lançado pela Eldorado que os jovens da Geração Coca-Cola souberam da existência do maior ícone do rock brasileiro na década de 80. Sanguinho Novo traz a pancadaria de Sepultura e Ratos de Porão interpretando clássicos dos Mutantes (“A Hora E A Vez do Cabelo Nascer” e “Jardim Elétrico” respectivamente) com nomes do segundo escalão do BRock, dos quais destacam-se 3 hombres, com a terceira e última canção Mutante no LP (“36”), e Paulo Miklos, com a Maravilha “Superfície do Planeta”, lançada no álbum Hoje É O Primeiro Dia do Resto da Sua Vida, de Rita Lee. Mas o principal mérito de Sanguinho Novo é a revisão aprofundada na carreira solo de Arnaldo, com músicas desconhecidas do grande público, em versões exclusivas atribuídas para Sexo Explícito (“O Sol”), Vzyadoq Moe (“Bomba H Sobre São Paulo”), Último Número (“I Feel in Love One Day”), Akira S & As Garotas que Erraram (“Sanguinho novo”), Fellini (“Cê tá Pensando Que Eu Sou Lóki”), Atahualpa Y Us Panquis (“Sitting on the Road Side”), Skowa (“É fácil”) e Maria Angélica (“Te Amo Podes Crer”). Portanto, um belíssimo álbum para se conhecer a obra de um Gênio, e também diversas bandas importantes para a consolidação do rock nacional da década de 80.
André: Infelizmente, achei que muitas bandas aqui ficaram devendo em termos de performance. Algumas aqui ficaram tão estranhas que eu mesmo não saberia que são músicas de Arnaldo Baptista caso tocassem em algum bar por aí. Bem, posso dizer que curti o Fellini com “É Fácil’ com aquele jeitão new wave oitentista com alguma experimentação que ultimamente vem me agradando bastante e as versões do Sepultura e do Ratos ficaram OK. As outras acabaram passando batido por mim. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi essa capa tão legal. Adoro esse tipo de desenho. Compraria esse disco só por causa dessa capa, ficaria bonitona na minha coleção.
Davi: Tinha prometido para mim mesmo que jamais iria ouvir esse disco, mesmo gostando do trabalho de Arnaldo Baptista e do trabalho de alguns dos envolvidos, afinal tenho péssimas recordações de um dos cabeças desse projeto, mas o que não fazemos em respeito aos nossos amigos? Em Sanguinho Novo, eles mantiveram o espírito de experimentação do nosso amiguinho loki. Os artistas ficaram livres para imprimirem sua própria personalidade nas interpretações. Infelizmente, não conseguiram manter outras características do mutante que são qualidade e genialidade. Um LP não mais do que curioso. As melhores versões ficam por conta de Fellini em uma versão meio bossa de “Ce Ta Pensando Que Eu Sou Loki?” e a porradaria costumeira do Sepultura em “A Hora e a Vez do Cabelo Crescer”. Valeu a intenção.
Diogo: Ah, Arnaldo Baptista… Entendo a adoração que muitos nutrem por sua obra, mas não deixo de achar o culto deveras exagerado, especialmente se ele está mais relacionado à persona Arnaldo, não ao artista Arnaldo e sua obra. Um tributo com diversas bandas brasileiras oitentistas das quais nunca havia ouvido falar, então, pode ser um pequeno desafio a ser desbravado. Mencionar que minha versão favorita é “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer”, levada a cabo pelo Sepultura, é meio previsível para quem me conhece, mas “Dia 36”, executada pelo 3 Hombres, e “É Fácil”, pelo Skowa, têm méritos. E, obviamente, o Ratos de Porão transformando “Jardim Elétrico” em uma porrada crossover é divertidíssimo. Não sei se vale a menção, pois se trata de uma faixa bônus, mas Lobão tocando “Sexy Sua” só não é melhor que o mencionado Sepultura.
Marco: Talvez seja o meu sanguinho velho, mas gostava mais desse disco quando saiu. Fellini, Vzyadoq Moe, Ratos de Porão… bandas que eu gostava muito. Sei lá, revisitei o disco por esses dias e o encanto se foi. Não sei se fico triste ou se compro uma bicicleta.
Ronaldo: Qualidade de gravação precária, versões pouco inspiradas que objetivaram empobrecer, sob a ótica do pós-punk ou do heavy-metal, a obra plural de Arnaldo Baptista e dos Mutantes é o que você encontra ao longo de todo esse disco. Os momentos mais pesados acabam salvando um pouco, por contar com Sepultura e Ratos de Porão, que pelo menos entendem do riscado quando o assunto é guitarra distorcida. A versão de Paulo Miklos para “Superfície do Planeta” é de causar vergonha alheia, seja pela qualidade de fita cassete e pelo tecladinho solitário e preguiçoso. E seria repetitivo inumerar todos os outros momentos toscos desse tributo. “Dia 36” é bem mais crua que a original, com uma interpretação até interessante, mas sem uma finura do impacto original.
Ulisses: Já tinha ouvido a versão do Sepultura para “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer” em algum outro lugar; tirando isso, Arnaldo Baptista não me interessa muito. Mas como tive que ouvir tudo, destaco que gostei também da faixa-título, além de um ou outro momento.
Can – Sacrilege – The Remixes [1987]
Por Marco Gaspari
Frank Zappa já deixou bem claro ainda nos anos 60: “We’re only in it for the money”. Então que ninguém se iluda a respeito de bandas homenageando outras bandas pela simples homenagem. Picas. Discos tributo nada mais são do que discos para fãs da banda homenageada. Caça níqueis travestidos de cavalo do mocinho. E como por aqui ninguém é mais fã da banda alemã CAN do que eu, vou indicar o disco Sacrilege, com remixes de músicas do CAN cometidos por gente muito legal, como Sonic Youth, Brian Eno, The Orb, U.N.K.L.E e mais algumas. Tá certo que nenhuma delas chega aos pés do original, mas estão longe de ser um sacrilégio.
André: O disco tem um jeitão bem futurista e espacial com alguns momentos meio technodance de dj de balada. Bem diferente do que se espera de músicas do Can, embora a experimentação característica dos alemães se fazem presentes. Eu até curto esses discos eletrônicos espaciais, mas acho que quarenta minutos de remixagens estaria de bom tamanho.
Davi: A idéia é bacana. Os artistas convidados aqui não regravaram as músicas do Can, eles criaram mixagens para as músicas do grupo. Deram uma atualizada na sonoridade. A idéia era trazer o som do grupo para o, até então, presente (esse disco é dos anos 90). Para facilitar a compreensão. Lembram-se daquele remix de “A Little Less Conversation” do Elvis Presley que o DJ Tom Holkenborg, mais conhecido como JXL, fez no inicio dos anos 2000? Aquele espírito, só que com umas remixagens bem viajadas. E esse é o problema. O disco é bem cansativo, ainda mais que é duplo. Para piorar ainda mais, nunca fui um fã do Can, então, para mim, a audição se torna ainda mais sofrida, mas se você curte o grupo e tem uma mente mais aberta, dê uma chance. Talvez você curta…
Diogo: Sinceramente, não creio que um disco de remixes, por mais que feitos por outros artistas, e que inclusive consta na discografia oficial do grupo homenageado, encaixe-se nos pré-requisitos desta edição da seção. Mas ok, já que a citação foi feita, não deixarei de comentar. O Can ainda permanece uma bela de uma incógnita para mim, apesar de ter escutado aquela que é tida por muitos como sua obra-prima, Tago Mago (1971). Isso dificulta bastante a compreensão de um disco como este Sacrilege, pois conhecer as originais é um requisito importante para avaliar versões posteriores. Devo admitir, os arranjos eletrônicos presentes nas faixas, sejam eles totais novidades ou referências íntimas às originais, não caíram no meu gosto. Confesso inclusive que, em alguns momentos, foi torturante aturar músicas que chegavam a nove minutos. Mas a percussiva “Vitamin C” até que é interessante, e “Father Cannot Yell” não deixou de lado o senso melódico.
Mairon: Confesso que não consegui compreender a ideia desse disco. É um álbum de mixagens em cima de canções do Can que foram gravadas por outros artistas? Por exemplo, quando temos (Moon Up mix) by Brian Eno, isso significa que o Moon Up regravou “PNOOM” e depois o Brian Eno remixou? Não entendi, mas de qualquer forma, depois de reouvir as grandiosas faixas do Can com uma mixagem oitentista, poucas se escaparam, como a versão de “Spoon” (Sonic Youth Mix), que foi a que mais me chamou a atenção, e as boas “Yoo Doo Right” (3P mix) e “Future Days” (Blade Runner mix) by Carl Craig. Por outro lado, “TV Spot” (Bruce Gilbert mix) foi um parto de óctuplos à fórceps. Não foi uma boa experiência, e não indico para quem quer conhecer a bela obra do Can.
Ronaldo: Como ouvinte desavisado, achava que este disco era o mesmo esquemão geral dos tributos. E já ia achando que o grande trunfo deste tributo era manter a essência de música exploratória que o Can mantém fresca mesmo após 40 anos de lançamento de seus discos. Todavia, são apenas novas mixagens, com algumas cirurgias plásticas na música, objetivando reembalar sob o rótulo “drum-n-bass” a música do Can. Tive até uma surpresa positiva com o Sonic Youth (um dos arquétipos do barulho-anti-música) retrabalhando “Spoon”. Há outros bons momentos, com timbres inovadores, nos quais é possível fazer um paralelo entre o Can setentista e o que seria um potencial Can pós-2000. Mas ao ver que se tratam de arremedos, impossível não entender esse trabalho como um pastiche, ainda que em um absoluto, muita coisa soa bem. O que reforça como era bom e avançado o som desse grupo alemão.
Ulisses: O Can, por si só, não é uma banda fácil de digerir. O que os remixes fazem é reimaginar as músicas do Can no estilo da techno music, o que, pra mim, relegou o CD inteiro ao status de “trilha sonora de fundo facilmente esquecível”.
Captain Beyond – A Tribute to Captain Beyond: Thousand Days of Yesterdays [1999]
Por Ronaldo Rodrigues
Tributo a uma banda pouco conhecida e seguida em sua época, mas que ganhou status de cult a partir dos anos 1990. Os arranjos são bem fiéis aos originais (exceto na misteriosa e climática releitura de “Raging River of Fear”, pelo grupo progressivo Flower Kings, em “As the Moon Speaks to the Sea”, e na empobrecida “Thousands days of Yesterdays”, pelo Five Fifteen), o que confere ao título mais o caráter de tributo efetivo do que de alguma pretensão de re-interpretação. Bons arranjadores são escassos nesse éon de músicos preocupados quase que exclusivamente apenas com a técnica em seus instrumentos. O ponto baixo principal é que nem um baterista das bandas relacionadas faz sequer cócegas nos arranjos originais conduzidos pelo (menosprezado) baterista Bobby Caldwell. O grupo The Quill tira “Frozen Over” do espaço sideral e a leva para cavernas profundas, dando um ar sabático e mais potente a música. O mesmo com o Pentagram executando “Dancing Madly Backwards” e o grupo sueco Lotus, em “Mesmerization Eclipse”.
André: Olha, essa audição me surpreendeu mesmo. Não devido as canções do Capitão, banda que foi muito injustiçada, mas sim com relação a qualidade dos covers. Um melhor do que o outro. Que rockaço ficou “Mesmerization Eclipse” por Lotus e Brian Robertson. E como eu imaginei, o Flower Kings que eu gosto muito não me decepcionou em “Raging River of Fear”, deixando a canção bem neo-prog noventista que é o estilo em que a banda se encaixa. Baita disco, vale muito ter ele na estante.
Davi: Já conhecia o Captain Beyond (tenho os dois primeiros LPs em casa), mas não conhecia o tributo. Thousand Days of Yesterdays é praticamente o álbum de estréia dos rapazes regravado por outros artistas. Entre os convidados aqui, os únicos que estava familiarizado com seus trabalhos são o guitarrista Brian Robertson e o grupo Flower Kings. Embora não consigam reproduzir a magia do disco original, o disco é bem feito. Algumas versões são bem fiéis ao LP, como é o caso do Pentagram que trouxe um pouco mais de peso, mas manteve o espírito da canção. Em outros, como no caso do já citado Flower Kings, ganharam novas interpretações. No final do disco, há duas canções do Sufficiently Breathless e duas do Dawn Explosion. Uma delas, a versão de Zommlenz para “Sweet Dreams”, traz a participação do vocalista Willie Daffern, responsável pelos vocais do último trabalho do grupo. Bacana de ouvir, mas se você não conhece nada do grupo, a porta de entrada ainda é o LP de estréia Captain Beyond (1972) na voz dos mesmos.
Diogo: Que o Captain Beyond é uma banda digna de muitos elogios por seu magnífico primeiro álbum, poucos que a conhecem discordam, mas não fazia ideia da existência deste disco, assim como desconheço a maior parte dos músicos envolvidos. É um pouco estranho pensar em bandas diferentes executando em separado canções que originalmente aparecem unidas, praticamente sem intervalos, mas até que a maior parte deste tributo flui bem. Destaque muito evidente para “Dancing Madly Backwards (On a Sea of Air)”, transformada em uma pancada ainda mais violenta pelas mãos do Pentagram. “Mesmerization Eclipse”, tocada pelo Lotus junto ao guitarrista Brian Robertson (ex-Thin Lizzy) também é uma boa pedida, assim como o trabalho do The Quill em “Frozen Over”. Em geral, apesar dos nomes pouco conhecidos, o tributo funciona bem e a execução é satisfatória.
Mairon: Uma das melhores bandas da história, e um dos melhores discos da história, recebendo um belo tributo. Os grupos que homenageiam o Captain Beyond reconstruiram a obra-prima lançada em 1972 na íntegra, e ficou muito legal ouvir o álbum Captain Beyond sendo repassado por bandas tão diferentes, mas que mantiveram toda a potência, ferocidade e psicodelia daquele discaço. Destaque para “Myopic Void” (Standarte), “Mesmerization Eclipse” (Lotus com Brian Robertson), “Dancing Madly Backwards (On A Sea Of Air)” (Pentagram). Porém, as maiores surpresas vão para o belo trabalho do Flower Kings, dando uma cara toda nova para “Raging River Of Fear”, com a adição de sintetizadores, piano e efeitos que mudaram a música completamente, e ficou bem legal, e também o Five Fifteen, que chamou o saxofonista Nik Turner para brilhantemente remontar “Thousand Days Of Yesterdays (Time Since Come And Gone)”. Para melhorar ainda mais minha audição, o que o Zello faz com “As The Moon Speaks (To The Waves Of The Sea)”, “Astral Lady” e “As The Moon Speaks”, com a inclusão de violino, sintetizadores e piano, simplesmente é de arrepiar. De lambuja, o CD traz como bônus quatro canções, sendo duas lançadas nos álbuns pós-Captain Beyond (Starglow Energy, lançada em Sufficiently Breathless e aqui interpretada de forma acústica pelo Orchid Leaves , com uma emocionante interpretação da vocalista Alexandra Otto e “Sweet Dreams”, lançada em Dawn Explosion, e aqui interpretada pelo grupo ZoomlenZ , muito fiel ao original) e versões em sueco para “Mesmerization Eclipse” e “Dancing Madly Backwards”). Melhor das audições aqui escolhidas, disparado, e muito obrigado para quem o escolheu (será que foi nosso Mr. Arcpelago?).
Marco: Tive esse CD e passei pra frente. O que me atraiu nele é que eram bandas desconhecidas (com exceção do The Flower Kings) prestando tributo a um disco mágico. E apesar de cada música ter começo, meio e fim por não estarem grudadas umas nas outras como no disco original, conseguiram a proeza de esperar 27 anos para gravar o mesmo disco. Tudo igualzinho. Puta perda de tempo. Dá vontade de rebaixar essas bandas de capitão para recruta.
Ulisses: Não consegui achar para download ou stream. 🙁
Manowar – Revenge: The Triumph of… Tribute to Manowar [2006]
Por Ulisses Macedo
Sabe-se que uma das melhores maneiras de agradar aos deuses é a entoação de seus hinos. O Manowar, então, certamente ficou felicíssimo com esta homenagem. Algumas das bandas são covers do próprio Manowar, mas a maioria é autoral, incluindo aí duas bandas tupiniquins: Dark Avenger, tocando a canção de mesmo nome, onde o vocalista Mario Linhares dá uma performance absolutamente sensacional, e Liar Symphony tocando “Blood of the King”. Não é nacionalismo barato: os caras mandaram ver mesmo! São os maiores destaques do tributo, junto à “Heart of Steel” do Dark Horizon, “Kill With Power” do Demon’s Whip e “Hail and Kill” do Nameless Crime. Infelizmente, nem tudo é flores: a versão de “Pleasure Slave” pelo Rosae Crucis ficou demasiadamente destoada da original. Além disso, a variação de qualidade de mixagem entre as canções irrita um pouco. No geral, porém, é um ótimo tributo a um dos pilares do Epic Metal.
André: Tirando obviamente o timbre dos vocalistas, as versões ficaram bem próximas das originais (até porque, duvido que um fã de Manowar iria aceitar que mexessem muito nas composições). Sem contar que nem todo mundo tem garganta para os falsettos eunucos de Eric Adams. Mas eu curto Manowar, acho a banda divertida e este tributo também é. Sem muito mais o que falar.
Davi: “Other bands play, Manowar Kill”. Esse é o exato sentimento que temos quando ouvimos as tais homenagens. Embora seja questionado por muitos por toda a excentricidade envolvida em seu trabalho (inúmeras brincadeiras nos shows, o discurso do true metal, o visual exagerado etc), o Manowar sempre prezou por qualidade no seu trabalho. Sempre contou com bons músicos, seus discos são muito bem gravados e os seus shows são (quase) sempre divertidos. Conseguiram fazer alguns álbuns que são clássicos do gênero (como Battle Hymns e Sign Of The Hammer), portanto um álbum tributo é merecido. Porém, não está à altura da banda. Tirando raríssimas exceções, como a magnífica interpretação do grupo italiano Demons Whip, a maioria deixa a desejar. E muito! Bateria quase sempre mal gravada, trabalho vocal bem aquém do esperado. A idéia é boa, o resultado, não. Manowar mata todos eles, em uma rajada só.
Diogo: Rapaz, Manowar é um caso complicado. Ao contrário de uma porrada de gente, e apesar da banda não lançar um disco ótimo de verdade desde 1985, gosto muito do que a turma de Joey DeMaio aprontou no início da carreira. Isso não quer dizer, porém, que ouvir 15 grupos de quarto escalão fazendo covers dos norte-americanos seja uma pedida das melhores. Não me entendam mal: quando falo em quarto escalão, refiro-me à projeção mercadológica das bandas, não à qualidade, pois existem algumas performances bastante empolgantes, como a dos brasileiros do Dark Avenger, tocando a música que dá nome ao grupo brasiliense. Como era de se esperar, as versões são bem “em cima” das originais, e nessa tarefa provavelmente se deram melhor Highlord (“Thor”), Rosae Crucis (“Pleasure Slave”) e Demons Whip (“Kill With Power”). O resto cumpre tabela, mas também há momentos constrangedores, como as baladas “Heart of Steel” e “Courage”, originalmente muito bregas, mas pioradas por Dark Horizon e Kaledon, respectivamente.
Mairon: Ouvir o original já é dose, o cover, pior ainda. Uma hora e vinte perdida, com muita transpiração de testosterona, gritos agudos e nada de música. Claro que as bandas que fizeram essa homenagem possuem músicos talentosos e tal, apesar de só ter ouvido falar do Dark Avenger e Liar Symphony, mas não é para mim. Para não dizer que não gostei de nada, as baladinhas “Heart of Steel”, com o Dark Horizon”, e “Courage”, do Kaledon, foram surpresas agradáveis perto da gritaria geral, mas não me contagiaram, e só a clássica “Battle Hymn”, que é sempre “Battle Hymn”, até cantada pelo Luan Santana, me fez vibrar e tocar um air guitar, já que com o Majesty ficou muito bom. Mas só por uma música boa, não vale a pena, e no geral, passarei longe desse CD daqui pra frente.
Marco: Não sou familiarizado com a discografia do Manowar, então não sei dizer se estamos diante de uma legítima tanga de couro ou uma imitação barata em courvin. A banda italiana Kaledon, por exemplo, é ruim de doer. Passo.
Ronaldo: Tratar de discos tributos torna-se uma tarefa ingrata porque é imperativo conhecer a banda homenageada. Não é o meu caso aqui com o Manowar, banda que conscientemente sempre ignorei. O máximo que posso fazer é falar das músicas e das bandas que prestam o tributo de forma absoluta. Posso dizer que os momentos em que os grupos não estão gastando garganta em uma soberba cruzada épica sonora são até interessantes, apesar de representar apenas uns 15% do tempo do disco.
Grande André. Em breve teremos os antigos consultoria recomenda de volta. Aguarde!!
Oh Mairon, seria uma maravilha!
E sobre as escolhas do consultoria recomenda, creio que essa ladroagem agora acaba, pois chegou a minha vez de escolher, procede?
Faltam eu e você, vai ser no cara ou coroa. 😀
Também falta eu!
Eu também não escolhi ainda
Parabéns pela citação ao Sacrilege, que, por enquanto, desconheço. Se não atende aos requisitos da seção, pior pra seção! O resto é resto. Curioso ver que o velho Gaspari tem a mente mais jovial do site. Correndo baixar esse disco.
Como é bom voltar a ler os comentários ácidos de Marco Gaspari. MEU ÍDOLO!
Só para constar, o último de tributo ao Dio também é muito bom.
Divertido foi ler um disco com elogios e críticas tão exaltadas ao mesmo tempo!
Foi bem o que pensei, Ronaldo. Inclusive até em relação a determinadas faixas: tome por exemplo o Mairon citando a “tinhosa e desnecessária revisão para ‘Roundabout'” e eu afirmando se tratar da melhor música presente no disco.
Lembro que quando o André teve a ideia de fazer essa coluna, pediu aos consultores que fizessem comentários sucintos, pra não cansar o leitor já que são vários os participantes. Pois bem, neguinho está escrevendo verdadeiros tratados, resenhas quilométricas, considerações infindáveis. Gente, isto aqui não é o ENEM. Embora a gente sempre aprenda várias coisas novas com esses pilotos de prova de caneta BIC, e é interessante ver o raciocínio por trás dos comentários, acho que dá pra dar uma enxugada básica. Caso contrário minha vingança será maligna, vou escrever pra cansar mais do que esse disco duplo tributo do CAN.
Gostaria de citar da minha lista pessoal os 4 discos que o pianista francês Richard Clayderman, do qual puxo muito o saco aqui no site desde o ano passado, fez em tributo á um nome específico da música mundial:
“Ein Traüm von Liebe – Richard Clayderman spielt die romantischsten Melodien von Robert Stolz” (1983). Um disco com 16 das melhores músicas do grande compositor alemão (ou austríaco), mas pouco conhecido Robert Stolz, um dos discos que infelizmente a gravadora EPIC (que lançava os discos dele no Brasil na época) não lançou em vinil. A sorte é que consegui baixar este disco e gravar em CD, hoje ele faz parte da minha enorme coleção de LPs, CDs e DVDs do RC.
“The Love Songs of Andrew Lloyd Webber” (1989). Um repertório que traz 12 dos temas mais conhecidos do famoso compositor inglês, autor de musicais e filmes famosos como “Fantasma da Ópera”, “Cats” e “Evita”. Destaque para o tema homônimo de “Fantasma da Ópera”, “Don’t Cry for me Argentina” (Evita), “Memory” (Cats), “Love Changes Everything” (Aspects of Love) e “I Don’t Know how to Love Him” (Jesus Christ Superstar).
“Richard Clayderman plays ABBA – the Hits” (1993). Seleção caprichadíssima do RC com as músicas mais conhecidas do grupo sueco ABBA, um dos maiores fenômenos da música pop. Destaque para “Dancing Queen”, “Mamma Mia”, “Chiquitita” e aquela que eu mais gosto de ouvir e tocar deles, “Fernando”.
“The Carpenters Collection” (1995). Dois anos após homenagear o ABBA, RC gravou um disco com 12 canções gravadas pelos irmãos Carpenters (Karen e Rick), em arranjos excelentes e bem variados. Destaque para “Only Yesterday”, “Top of the World”, “(They Long to be) Close to You” e “I Won’t Last a Day Without You”.
Lembrando que Clayderman fez também vários discos em tributo á música brasileira, latina e italiana, dando uma prova de sua popularidade e de seu vasto repertório.
Devo dizer que fiquei até positivamente surpreso com as opiniões dos meus colegas em relação à minha escolha, “Common Thread”. Claro, aquela previsível esculachada se faz presente, mas até que a chapoletada não foi tão forte quanto eu imaginei que seria.
Eu achei que o Manowar é que seria esculachado. 😀