Aerosmith – Rocks [1976]
Por Fernando Bueno
Hoje em dia, quando falamos no nome Aerosmith, logo vem às nossas cabeças a imagem de Steven Tyler cantando uma das inúmeras baladas mela-cueca que foram gravadas pela banda nesses últimos vinte anos. É inegável que essas músicas são as principais responsáveis pela popularidade do quinteto, principalmente aqui no Brasil, depois do lançamento de Get a Grip (1993) e da popular coletânea Big Ones, de 1994. Muita gente, inclusive eu, apenas ficou sabendo da existência do grupo após o lançamento desses dois discos. Essa coletânea, uma das mais vendidas de todos os tempos, foi composta praticamente apenas com as músicas de seus, até então, últimos três álbuns: Permanent Vacation (1987), Pump (1989) e o já citado Get a Grip. Claro que refiro-me à sua edição normal, já que houve um lançamento especial contando com um segundo disco, tornando-a mais abrangente em relação à carreira do Aerosmith. Desse modo, para quem conheceu a banda naquela época, a impressão que se tinha era a de que o grupo era relativamente novo.
Com o enorme sucesso das canções “Crying” e “Crazy”, presentes em Get a Grip, a banda percebeu que o nicho representado pelas baladas era rentável e baseou a sequência de sua carreira nesse tipo de música. Outras bandas na época fizeram o mesmo, como é o caso do Bon Jovi. Já disse em uma matéria a respeito das baladas que o fato de canções mais românticas normalmente caírem no gosto das garotas fazia com que os rapazes se afastassem desse tipo de música. O mesmo aconteceu comigo. Sempre adorei os discos já citados, mas acabei perdendo o interesse em conhecer o resto da carreira da banda, mesmo depois de saber que eles não eram mais um fruto da década de 80 e sim de muito tempo atrás, da prolífica década de 70.
O Aerosmith é citado como influência de dez entre dez bandas que praticam todos os subestilos daquilo que se convencionou chamar de hard rock. Bandas como Guns n’ Roses e Skid Row nunca esconderam sua admiração pela banda e o próprio Slash sempre se apresentou com um visual muito parecido ao de Joe Perry.
Uma das coisas que mais impressiona quando nos aprofundamos na carreira do Aerosmith é o fato de ser uma das únicas a manter a formação original desde o primeiro disco, lançado em 1973. Porém, é preciso citar o disco Rock in a Hard Place (1982), que foi o único que não contou com os dois guitarristas originais, Joe Perry e Brad Whitford. A saber, completam a banda o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer, além, é claro, do jurado cheio de botox do programa American Idol, o super astro Steven Tyler.
Quem já conhece o álbum Rocks, lançado em 1976, tem ideia do que será dito nas próximas linhas. Trata-se do quarto disco de estúdio do Aerosmith, ganhador de diversos discos de platina e sequência de um álbum que também teve muito sucesso, Toys in the Attic (1975). Muitas vezes estive na iminência de adquirir esse álbum, mas, como escrevi acima, não tinha muitas esperanças de que ele fosse bom. Até porque, frequentemente, o encontrava com preços promocionais, o que de certa forma poderia significar que o interesse do público em geral também não era muito grande, fato que aumentava minha desconfiança. Claro que existem inúmeros exemplos para contrariar esse tipo de pensamento, mas foi o que aconteceu. No entanto, após a audição do disco, mudei meu pensamento e também meu interesse em relação à banda.
“We were doing a lot of drugs by then, but you can hear that whatever we were doing, it wasstill working for us.”
(Joe Perry)
Depois de um tempão sem ouvir Rocks, voltei a retirá-lo da prateleira após o lançamento do livro “Eddie Trunk’s Essential Hard Rock and Heavy Metal”. Para quem não ligou o nome à pessoa, Eddie Trunk é apresentador em uma rádio norte-americana e também é um dos âncoras do programa That Metal Show, veiculado pelo canal VH1. Também li a respeito do álbum na edição especial da Roadie Crew que lista 200 hinos do Heavy Metal e do Classic Rock, editada por Bento Araújo, responsável pela revista Poeira Zine. Nessa última publicação, Bento Araújo incluiu “Lick and a Promisse” entre os 200 selecionados e comentou o fato de que Slash, ex-guitarrista do Guns n’ Roses, sempre alega que Rocks é sua cartilha musical. Já Eddie Trunk colocou o disco, junto a Toys in the Attic, como os melhores lançamentos do quinteto. Devido à minha memória afetiva, não tenho como considerá-los dessa forma, mas é inegável que são excelentes discos, dignos de figurar na prateleira de qualquer amante de rock.
O álbum inicia com “Back in the Saddle”, que apresenta a voz raivosa de Steven Tyler, além de Joe Perry tocando um baixo de seis cordas. É curiosa essa troca de funções nesse que é talvez o disco mais experimental do Aerosmith, já que Tom Hamilton toca a guitarra e Perry faz as vezes de baixista em “Sick As a Dog”. Para corroborar essa questão da experimentação também é preciso citar o uso de loops de fitas em “Rats in the Cellar”. Há também o vocal de Joe Perry acompanhando durante toda a extensão da faixa em “Combination”. Ao vivo existem vídeos de Perry cantando sozinho a canção inclusive com Steven Tyler nas baquetas.
“Last Child” traz um riff memorável e apresenta um groove certamente muito influenciado pelo funk, que experimentava enorme sucesso na época. Whitford também apresenta um ótimo solo nessa faixa, contrariando a idéia dele constituir apenas um guitarrista base. Talvez o maior destaque do disco seja “Nobody’s Fault”, uma das mais pesadas músicas da carreira do quinteto, que já foi regravada por muitas outras bandas (Testament, Vince Neil, L.A. Guns…). Joey Kramer já afirmou que essa canção traz o melhor trabalho de bateria de sua carreira.
O álbum como um todo é enérgico e, principalmente, bastante cru. Sinto falta de um pouco mais de peso a fim de realçar algumas músicas, mas temos que lembrar que a sonoridade praticada pelo Aerosmith aproximava-se da linha executada por Rolling Stones e Yardbirds, que não tinham o peso como uma de suas principais caraterísticas. Imaginem “Last Child” com timbres de baixo e guitarra mais pesados. Seria ótimo!
Foi na época de Rocks que a dupla Tyler/Perry ganhou a alcunha de toxic twins, devido ao enorme consumo de drogas realizado pela dupla. Esse álbum deve ser ouvido com carinho. Para os que, como eu, têm uma certa aversão ao Aerosmith devido ao excesso de mel presente nos últimos lançamentos, digo que vale a pena dar uma chance à carreira setentista da banda. Para os que já o conhecem, mas não o consideram um bom álbum, sugiro que dêem a ele mais uma chance. E para aqueles que já gostam do disco, que esse artigo sirva como um estímulo para ouvi-lo novamente.
não gostei muito deste album justamente pelo q vc escreveu, nenhum peso..
gosto bastante do groove, mas se fosse mais pesado ele seria muito bom..
do jeito q é eu não gostei muito não..
Eu acho um classico, um dos melhores discos dos anos 70. E as guitarras base desse disco sao sensacionais!!
Pra mim esse disco não tem nada errado quanto a seu peso, vide uma pedrada como "Nobody's Fault". É petardo atrás de petardo, com uma maravilhosa sonoridade analógica no limite entre o tosco e o esmerado. Rola uma briga feia com o "Toys in the Attic", mas sim, o elejo como meu favorito do grupo.
Eu discordo de uma opinião do Fernando. Não acho que o Bon Jovi baseou a sequência de sua carreira em baladas. Quem conhece o grupo sabe que elas existiram desde o primeiro álbum, vide "She Don't Know Me" e "Love Lies", e se permearam pelos discos subsequentes. A diferença é que, com o passar do tempo, elas se tornaram melhores e obtiveram mais êxito. Ironicamente, o disco mais recente não conta sequer com uma power ballad típica.
Sou um grande fã do Aerosmith, muito por causa de Rocks e do Hollywood Rock de 94. Até o citado Rock in a Hard Place eu acho um baita disco (apesar de muitos torcerem o nariz). Depois do Permanent Vacation é q a coisa degringolou, mas mesmo assim, é melhor do que muita bandinha nova que surgiu por ai.
O rocks é um baita disco, mas eu prefiro o Toys in the Attic e as aulas musicais os dois primeiros (Aerosmith e Get Your Wings), até pq a versão de Train Kept A Rollin que esta nesse LP e demais
O show deles ano passado foi um dos melhores q porto alegre ja viu. Pena que choveu (e muito), e a gurizada parecia "nao conhecer" as antigas, mas para mim, tava otimo.
Ah, e se quer ouvir balada de fundamento, ouça "Dream On" na versão original!
discaço,muita música crua e nervosa,um cheiro de perigo natural(talvez o que falte hoje em dia em algumas bandas).
pau a pau com o Toys,get your wings,e o primeiro,dificil eleger um melhor.
Discaço! Aerosmith não é exatamente uma banda pesada e nem tem essa proposta. O peso nesse disco está no heavy de “Nobody’s Fault”, que é uma música sensacional. Quer ouvir um Aerosmith pesado? Ouça o disco Rock in a Hard Place. É subestimado por não ter os dois guitarristas originais, mas é um discaço!
Engraçado associarem o Aero às baladas, visto que até o fim dos anos 80 eles só lançavam uma por álbum, geralmente como encerramento do disco.
Muito bom! O Aerosmith nunca mais conseguiu repetir a mesma excelência!
ô loco Eudes!!!
Voltando no tempo para ler essa matéria do Bueno, e ver como a escriba dele permanece intacta e atemporal. Não mudo minha opinião sobre Rocks, mas em compensação, Draw the line cresceu muito em admiração desde essa matéria. Que o Aerosmith desembarque no Brasil com mais um grande show!
E aquela trinca que eu comentei Mairon (Pump, Permanent Vacation e Get a Grip)???
Vamos dizer que é a “trinca coxinha” do Aerosmith. Quem gosta são os que ouviram a banda a partir disso, mas o povão mortadela só quer os anos 70
Banda longeva é sempre a mesma merda: tiveram a fase mortadela, a fase coxinha e desembarca no Brasil logo mais a fase repolho, músicos que não conseguem mais segurar os gases. Vou pedir ao Sr. Fora Temer que aproveite a reforma da Previdência pra instituir INSS pra todos os músicos com fã-clube na CR.
Pra mim o Aerosmith acabou depois de Pump. Do Get a Grip pra frente é só ladeira abaixo…
Na minha opinião, o Aerosmith de Toys in the Attic (1975) até Pump (1989) foi simplesmente espetacular, mesmo em seus momentos de ostracismo nessa época, a banda mandava muito bem em tudo o que fazia. Mas acho que eles começaram a sair do trilho em 1993, com o lançamento de Get a Grip (volto a insistir que sua capa é um plágio do Atom Heart Mother) e seus clipes melosos. Pra dizer a verdade, considero Rocks um trabalho inferior ao Toys in the Attic, mas mesmo assim é um ótimo trabalho do Aerosmith. Parabéns a Consultoria por mais esta resenha.
Excelente texto! “Rocks” é um dos meus discos preferidos do Aerosmith. Cresceu demais na minha preferência com o passar dos anos e hoje acho ele melhor que o “Toys In The Attic” e qualquer um dos que foram lançados após “Permanent Vacation.” Tanto que ele foi um dos que entraram na minha lista de 5 discos essenciais do Aerosmith! https://gavetadebaguncas.com.br/aerosmith-5-discos/
Pois para mim, “Rocks” é inferior ao “Toys in the Attic” por conta de duas músicas que considero como as mais fracas do álbum: “Combination” escrita por Tyler e Perry e cantada inteiramente pelos dois em dueto, e a balada horrorosa “Home Tonight” posta no encerramento de “Rocks” e totalmente fora do padrão geral do disco. No mais, “Rocks” só tem para mim apenas uma música boa, que é “Lick and a Promise”. O resto, sei não, acho que não me desce redondo ao contrário do disco anterior…