Alice in Chains: uma análise da letra de “All Secrets Known”
Por Micael Machado
Quando Layne Staley, o antigo vocalista do Alice In Chains, faleceu vítima de overdose em 2002, a banda já estava separada, mas ainda havia no coração dos fãs a esperança de um retorno do grupo à ativa. A morte do vocalista sepultou este sonho, e parecia que jamais veríamos a “Alice Acorrentada” em um palco novamente, ainda mais com Jerry Cantrell, guitarrista e principal compositor do quarteto de Seattle, mergulhado em uma carreira solo que, se não rendeu o mesmo sucesso que seu antigo grupo alcançou, vinha se mantendo bem, tendo o respeito da mídia e dos fãs.
Mas, então, o trio remanescente (Cantrell, Mike Inez no baixo e Sean Kinney na bateria) resolveu voltar a tocar juntos sob o nome Alice In Chains. Com a entrada do vocalista e guitarrista William DuVall em 2005, a formação estava novamente completa, e, após vários shows pelos Estados Unidos e Europa, era hora de entrar no estúdio e gravar um disco que marcasse o retorno definitivo da banda.
Black Gives Way to Blue viu a luz do dia em 2009, sendo muito bem recebido pelos saudosos fãs, que encontraram no álbum melodias e timbres que remetiam ao passado glorioso da banda.
Layne Staley: sua morte obrigou o grupo a um novo começo |
Junto com as melodias (criadas em sua maioria por Cantrell), chama a atenção também os temas das letras de algumas composições. A própria faixa-título (cuja tradução poderia ser feita como “o luto dá lugar à tristeza”) parece tratar da morte de Layne, de como ela foi sentida e assimilada por seus ex-companheiros, e da falta que o amigo faz a seus parceiros. Outras letras tratam do período entre a morte de Layne e a volta do grupo, de como os remanescentes reagiram a esta perda, e do que se passou em suas vidas até assimilarem o fato de que Staley não estava mais entre nós.
Mas nenhuma outra letra é tão significativa do momento de recomeço pelo qual o Alice in Chains passava com o lançamento do disco quanto a faixa de abertura, “Alll Secrets Known“. Com muita honestidade e sem temer expor seus sentimentos, Cantrell escreveu um texto que retrata com perfeição a situação do grupo e a esperança depositada neste retorno à ativa.
O que se segue é uma tradução livre da mesma, junto a alguns comentários que mostram como este que lhes escreve interpreta a letra e suas implicações. Claro que a minha visão pode não ser a correta, bem como a minha interpretação não é a única, e pode ser que Jerry nem estivesse pensando assim quando compôs esta canção. Mas será que eu não posso estar correto?
A letra começa com a frase “Esperança, um novo começo”. Para mim, este novo começo é a volta do grupo com Duvall, e a esperança é o sentimento que os músicos readquiriram, e que haviam perdido quando da morte de Staley. A esperança em um novo despertar, em um futuro glorioso, que parecia não ter condições de existir.
Depois vem “Tempo, tempo de começar a viver, como logo antes de nós morrermos”. Bem, a banda havia morrido, e era hora de voltar a viver, viver as experiências e o sucesso que uma vez ela experimentou, e que morreu junto com seu antigo vocalista.
Formação clássica do Alice in Chains: Starr, Cantrell, Staley e Kinney |
A próxima frase é “Não há retorno para o lugar de onde viemos”. Apesar de a banda estar viva novamente, os músicos sabem que nada mais será como antes, seja pelo longo tempo ausente dos holofotes, seja pela mudança no line-up. Então, não há como voltar ao ponto de partida, sendo preciso fazer uma nova história, a qual está apenas começando.
A segunda estrofe começa com “Dor, escapando pelos dedos”. A dor da perda de Layne, que mais adiante será citada novamente (quando a letra fala das feridas se curando), está escapando pelos dedos dos músicos, numa metáfora que significa que ela está passando, embora ainda machuque.
Segue-se “Confiança, confiança no sentimento de que há algo guardado por dentro”. Este algo é a vontade de tocar, que ainda está presente nos membros remanescentes, e que ainda pode gerar vários frutos musicais. Há a confiança de que, apesar de tudo de ruim pelo qual eles passaram, a vontade de seguir tocando (que poderia ter morrido junto com Layne) continua firme e forte.
Repete-se a frase “Não há retorno para o lugar de onde viemos”, e então vem o refrão, o qual é o título da música: “Todos os segredos são conhecidos”. A banda já passou por diversas experiências, como o início difícil, o sucesso, o ostracismo, a troca de integrantes (o baixista original, Mike Starr, foi substituído por Mike Inez logo após o lançamento do segundo disco, Dirt), viagens ao redor do mundo, problemas com drogas, aventuras com groupies, morte de um dos integrantes, enfim, aquelas situações típicas do show business pelas quais bandas bem sucedidas muitas vezes passam. Neste retorno, não há mais novidades a descobrir, apenas a vontade de tocar e levar o legado do Alice In Chains adiante.
Após o refrão, a música muda o seu andamento, com um novo riff e uma vocalização diferente da métrica dos versos que lhe antecedem. É como se a banda estivesse apresentando seu novo som, diferente do anterior, embora ainda parecido.
Segue-se o solo de Cantrell, com muitas notas longas e sombrias, mostrando que nem tudo é alegria neste retorno, ainda havendo lugar para o luto.
Luto que aparece na próxima frase (quando a música já retomou seu andamento inicial): “Lentamente as feridas vão se curando”. Parece óbvio que estas feridas são a morte de Staley e suas muitas consequências, ainda sentidas, mas aos poucos sendo assimiladas. A dor permanece, mas já não impede os membros do grupo de seguir em frente, tocando e cantando as melodias que ainda existem neles.
Em seguida vem “Força, a verdade vale a pena ser guardada, eu quero me sentir vivo”. Aqui, o grupo reafirma mais uma vez o seu compromisso com esta volta à ativa, à vida, sentindo-se vivo novamente ao tocar e compor para seus fãs, sendo que esta intenção é verdadeira, e não baseada em motivos torpes, como, por exemplo, as questões financeiras.
Novamente surge a frase “Não há retorno para o lugar de onde viemos”, e a canção termina afirmando mais uma vez que “Todos os segredos são conhecidos”.
Nos shows de divulgação do disco, “All Secrets Known” era a primeira música do repertório, introduzida por batimentos cardíacos, que reforçavam que a banda estava viva, e novamente ativa, como você pode conferir aqui.
Formação atual: Cantrell, Inez, Kinney e DuVall |
Black Gives Way to Blue ainda é o único fruto deste retorno ao mundo dos vivos, mas a banda continua na ativa, excursionando e preparando canções para um futuro álbum. Resta torcer para que este possível lançamento tenha tanta qualidade quanto seu antecessor, e a banda venha apresentar as músicas deste disco (e de todos os outros) aqui no nosso Brasil varonil.
“Trust, trust in the feeling“.
Gosto bastante desse tipo de matéria. Muitas vezes esses poemas de músicas são muito difícil de compreender e como o Micael disse cada um tem uma interpretação. Na verdade prestar atenção na letras nunca foram meu foco e também sabemos que muitas músicas boas têm letras que são bobagens..
Apesar de duas músicas do Alice in Chains ("Them Bones" e "Man in the Box") terem sido parte essencial da trilha sonora da minha adolescência, eu ainda não realizei o devido aprofundamento na obra dos caras. Meu gosto mudou muito, mas ainda acho essas músicas foda!
Massa! Eu sempre acho legal quando a banda homenageia um dos integrantes que faleceu. A homenagem para mim mais marcante é a dos Stones para Brian Jones, mas não da para negar que essa homenagem do AIC pro Staley é muito bonita. Parabéns pelo texto Micael!
O fim prematuro do Jones é triste, mas eu só falto chorar é com a stória do Barrett e do Floyd, Wish You Were Here e coisa e tal..
Bem lembrado Grocho. Shine On é uma maravilha prog, lindissima, só que o Syd ainda tava vivo na época. Mas sua beleza realmente é incomparavel
O Brian tb tá vivo.. Nos corações dos que ainda o amam! hauhauha
Falando sério, a stória de ambos é triste já antes da morte.
Alice in Chains nunca vai ser como era antes eles não tem a paixão que o Layne Staley transmitia quando cantava acabou,acabou…