Datas Especiais: 10 anos de 13
Por Pablo Ribeiro
A importância do Black Sabbath é indiscutível, estando no topo do panteão de bandas fundamentais para o estilo. Sua influência já ultrapassa quatro gerações de bandas dos mais diversos estilos dentro do rock. Produzindo em sua fase inicial oito discos de estúdio seminais (os seis primeiros, obras obrigatórias), os desdobramentos de sua conturbada – mas bem sucedida – primeira década são de conhecimento geral dos apreciadores do heavy metal e do hard rock. Contando, nesses primeiros dez anos, com o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler, o baterista Bill Ward e o vocalista Ozzy Osbourne, todos da cidade industrial de Birmingham (Inglaterra), a banda foi responsável por lançar material de peso incomparável, tanto na música quanto no conteúdo lírico, gerando uma atmosfera quase palpável de tão densa.
O quarteto produziu dezenas de temas obrigatórios, todos clássicos atemporais do rock. No final dos anos 70, Ozzy caiu fora, seguindo uma carreira ora de canções de sucesso, ora de escândalos extramusicais. Já Iommi seguiu com o Black Sabbath, em uma dança das cadeiras de integrantes, em que, por muitas vezes, foi o único integrante original. De 1978 para cá, os quatro músicos se reuniram em breves aparições ao vivo, mas uma verdadeira reunião não se concretizaria até 1997, quando a banda anunciou apresentações com sua formação original, com a possível gravação de material novo.
Em 1998, foi lançado Reunion, disco ao vivo com faixas extraídas de shows gravados no final do ano anterior, contando com apenas duas faixas inéditas de estúdio, “Psycho Man” e “Selling My Soul”. Pouco mais de um ano depois, a banda entrou em contato com o produtor Rick Rubin (Slayer, Red Hot Chili Peppers, Johnny Cash e outros) para a produção de novo material, começando a trabalhar em demos ainda em 2001. Entretanto, Ozzy declinou de continuar com o projeto, preferindo focar-se em material para seu oitavo disco solo, a ser editado ainda em 2001 (Down to Earth). Dessa maneira, não foram lançadas outras faixas inéditas nos anos seguintes, e mesmo com o grupo se mantendo em contato, tocando sets curtos em festivais, não era cogitado novo material de estúdio com a formação original.
Ozzy continuou em carreira solo, assim como Geezer e Ward, em menor intensidade. Iommi desenvolveu também material solo, e o Sabbath continuou sem lançar nenhum álbum de estúdio desde 1995. A partir de 2007, paralelamente aos shows esporádicos do quarteto no festival Ozzfest (bolado por Ozzy e sua esposa/empresária Sharon), Iommi retomou a terceira formação da banda, com Ronnie James Dio nos vocais e Vinny Apicce no lugar de Ward, com a ideia de lançar novo material e excursionar sob o nome de “Heaven & Hell”, título do primeiro disco do Sabbath sem Ozzy e último com Ward. Ronnie – vitimado por câncer – morreria um ano depois de o Heaven & Hell lançar seu único álbum de estúdio, The Devil You Know (2009), e logo novos boatos acerca de uma reunião do Sabbath original com material novo começaram a pipocar. Dessa vez, no entanto, em 11 de novembro de 2011 (11/11/11), a banda foi a público para revelar que estava, sim, se reunindo com sua clássica formação dos anos 70, visando a gravação de um disco e a consequente turnê de divulgação em um futuro próximo.
Trabalhando novamente com Rick Rubin, o lançamento do nono disco do Black Sabbath original começou a ser projetado para 2013, mas antes mesmo de começarem as gravações, problemas com a saúde de Iommi – sofrendo de linfoma – atrasaram um pouco as gravações, sem, no entanto prejudicar demais a data de lançamento do álbum. Ainda em 2012, Bill Ward pulou do barco, devido a circunstâncias até hoje não muito bem explicadas, dando conta da impossibilidade física por sua parte e questões gerenciais e financeiras. Com o relógio correndo, Rubin indicou a contratação de Brad Wilk (Rage Against the Machine, Audioslave), que imediatamente se juntou ao trio em estúdio (a princípio, o baterista da banda solo de Osbourne, Tommy Clufetos, assume as baquetas ao vivo). Assim, os trabalhos daquele que seria o primeiro disco completo do Black Sabbath com Ozzy nos vocais em 35 anos começou a se concretizar. Uma turnê mundial foi anunciada, com os primeiros shows acontecendo na Nova Zelândia e na Austrália, onde a banda tocou quatro músicas do vindouro álbum, que recebeu o título de 13. Datas foram confirmadas para diversos lugares do globo, incluindo apresentações históricas no Brasil.
Finalmente, 13 foi lançado há 10 anos, no dia 10 de junho, recebendo críticas positivas de fãs e da esmagadora maioria das publicações musicais sérias. Não é para menos: o álbum traz, em suas diversas versões, doze composições de extrema qualidade, executadas com tesão ímpar! Tony Iommi e Geezer Butler dispensam apresentações. O primeiro, o maior riffmaker da história, responsável por moldar a face mais pesada e densa do rock, pai – e avô – do que se convencionou chamar de heavy metal. O segundo, assim como Iommi, tem uma importância inigualável para o gênero, seja por suas encorpadíssimas linhas de baixo, seja pelo clima denso e obscuro que imprime nas músicas, tanto liricamente quanto em matéria de atmosfera. Ozzy Osbourne, por sua vez, dispensa maiores comentários. O sujeito pode não ser o mais técnico – e não é, mesmo – dos vocalistas, mas é a voz que define o verdadeiro som do Black Sabbath. E continua sendo. Mesmo com mais de 40 anos de excessos nas costas, o cara ainda tem lenha para queimar e se encaixa perfeitamente com o material de 13, provando o motivo pelo qual ele é considerado o único e real detentor da coroa de dono dos microfones do quarteto bretão. Por fim, temos Brad Wilk, que não chega, de forma nenhuma, a prejudicar o álbum, mas, mesmo assim, deixa brechas para que se sinta a falta de Bill Ward. É difícil apontar destaques em um material tão coeso e impactante quanto o presente na bolacha. Todas as faixas são excelentes e dignas dos gloriosos anos do Black Sabbath original.
Musicalmente, as canções se situam no segmento intermediário da primeira fase da banda. Mais Vol. 4 (1972) e Sabbath Bloody Sabbath (1973) do queParanoid (1970) e Master of Reality (1971), mas com músicas em geral mais longas e com alguns toques progressivos, mas sempre pesadas. MUITO pesadas, conduzidas pela rifferama de Iommi, pelos climões densos do baixo gravíssimo de Butler e pelos vocais mórbidos de Ozzy. Ou seja: o Black Sabbath que nunca deveria ter se separado.
Não há sequer uma música fraca no álbum todo. “Loner”, um semiblues que remete aos primórdios do som da banda; “End of the Beginning”, que tem muito do começo do quarteto, e um pouco da experimentação da época final da era Ozzy; o primeiro single do álbum, “God Is Dead”, com sua letra sarcástica e ao mesmo tempo reflexiva; a arrastada e lenta “Age of Reason” e a bela paulada “Dear Father”, com o baixo trovejante de Butler; “Damaged Soul” e os bends intermitentes de Iommi; e “Live Forever”, mais curta e um pouco mais urgente”, constroem um alicerce sonoro concreto e pesadíssimo, formando uma obra extremamente forte e cativante, que ainda tem a viajandona e etérea “Zeitgeist”, descendente direta de “Planet Caravan”, do megaclássico Paranoid, como um belo contraponto à atmosfera quase claustrofóbica de peso demolidor do disco.
As composições presentes em 13 parecem ter surgido em um momento de grande criatividade dos integrantes, tanto que até mesmo as faixas extras não contidas na edição regular do álbum entrariam tranquilamente em seu track list, tamanha sua qualidade. Exceção feita, talvez à “Naïveté in Black”, que, apesar de ser ótima, não tem o mesmo impacto das outras onze canções. Das outras, destaque para “Methademic”, que não só poderia como DEVERIA fazer parte do álbum, por ser realmente uma excelente música. “Peace of Mind” e “Pariah” são as outras canções extras, ambas no mesmo nível de qualidade do disco todo, e que, assim como “Methademic”, mereciam um lugar no disco principal.
No final das contas, o Black Sabbath entregou até mais do que os fãs esperavam de 13. Muito mais. Um disco de qualidade surpreendente, merecendo honroso lugar na discografia da banda, juntamente com os seus clássicos dos anos 70, em uma posição à frente de praticamente qualquer coisa que o grupo tenha lançado após 1978. Um disco que é praticamente uma aula de rock ‘n’ roll, mostrando que o quarteto foi capaz de produzir material melhor, mais empolgante e mais impactante do que a maioria do que foi lançado por todas as gerações de seus seguidores. 13 foi um capítulo final muitíssimo bem escrito, e um testamento da maior banda de heavy metal da história.
Track list
1. End of the Beginning
2. God Is Dead?
3. Loner
4. Zeitgeist
5. Age of Reason
6. Live Forevcer
7. Damaged Soul
8. Dear Father
9. Methademic
10. Peace of Mind
11. Pariah
Lembro muito bem da expectativa até chegar em casa quando comprei o disco. Afinal de contas, vinha adquirindo todos os lançamentos do Sabbath assim que pintavam nas lojas desde o “Seventh Star”, e pela primeira vez teria a chance de ter um disco novo da banda com o Ozzy. Gostei tanto que ouvi duas vezes em sequência no primeiro dia, coisa que raramente faço; ao longo do tempo o entusiasmo diminuiu um pouco, mas “13” continuou sendo um ótimo disco, em especial na versão com as três bonus tracks. Tive a sorte de assistir a banda nessa turnê e depois na “The End”. Recentemente li que Tony Iommi está compondo bastante; oremos!
Nas primeiras vezes que ouvi adorei. Nas seguintes o entusiasmo caiu um pouco, mas hoje acho um belo disco e muito digno. Não faz feio junto dos discos lá do início e é até melhor que algumas coisas lançadas sob o nome Black Sabbath