Além da cortina de ferro, surgiu um dos maiores grupos de rock progressivo da história da Polônia. Estamos falando do trio SBB. Durante os anos de 1975 e 1980, esse grupo revolucionou o rock polonês, se tornando o principal representante do estilo vindo daquele país e sendo eleito como a melhor banda polonesa de todos os tempos.
Sua história divide-se em duas partes: a primeira, enquanto ainda estavam escondidos atrás da cortina-de-ferro; e a segunda, quando a Alemanha ocidental revelou o grupo para o mundo.
Foi exatamente no período de transição entre as duas partes que o grupo lançou uma verdadeira maravilha. Até chegar lá, o grupo caminhou um bocado pelas estradas da Polônia e também da Alemanha.
A origem do grupo está no início de 1971, na região histórica da Sillésia, localizada entre a Polônia e a República Tcheca (antiga Tchecoslováquia), mais precisamente na cidade polonesa de Siemianowice Slaskie. Lá, o sensacional músico Józef Skrzek (teclados, baixo, harmônica e voz), começou a ganhar notoriedade graças a uma passagem pelo grupo Breakout, onde gravou o álbum 70A (1970).
Depois de sair do Breakout, Józef decidiu que iria ampliar seus horizontes, investindo nos consagrados power-trios e tendo como inspiração o Experience de Jimi Hendrix, Cream e Taste. Eis que surge um garoto de apenas 17 anos chamado Apostolis Anthimos, e que tocava guitarra com uma técnica impecável. Através de Apostolis, o baterista Jerzy Piotrowski é apresentado a Józef, nascendo então o Silesian Blues Band, cujo nome era uma homenagem à região onde o trio morava.
Piotrowski, Apostolis e Józef |
O trio passou a participar com regularidade em shows pela Região da Silésia, tocando na Alemanha Oriental, Polônia e Tchecoslováquia, além de apresentar-se em rádios da região. Próximo ao fim de 1971, passam a acompanhar Czesław Niemen, com quem gravam quatro álbuns em apenas 18 meses: Strange In This World (1972), Ode To Venus (1973), Niemen Vol. 1 e Niemen Vol. 2 (ambos de 1973), aumentando ainda mais a popularidade do grupo, com destaque total para o baixista Józef. Ao lado de Niemen, a Silesian Blues Band fez uma excursão pela europa, tendo como auge uma apresentação no Rock and Jazz Now Festival de Munique (Alemanha).
Fundamental álbum de estreia do SBB |
No verão de 1973, a Silesian Blues Band separa-se de Niemen, mudando de nome. Como SBB (sigla para Szukaj, Burz, Buduj – Busque, Quebre e Construa), estreiam oficialmente em 4 de fevereiro de 1974, partindo então para uma série de shows pela Polônia. Os shows de 18 e 19 de abril no Stodoal Club, em Varsóvia, foram registrados, e acabaram se tornando o primeiro álbum da banda, um dos mais incríveis álbuns de estreia de todos os tempos. SBB, lançado ainda em 1974, é uma paulada sonora, com Józef sendo a principal atração tocando baixo com distorções e como se fosse uma guitarra. As três faixas do álbum exalam suor, técnica e sentimento raros de se encontrar, sendo que os duelos de baixo e guitarra são de se perguntar: “como eles conseguem fazer isso??”
Depois de SBB, o grupo seguiu com vários shows pela europa oriental, tocando na Alemanha Oriental, Tchecoslóváquia e Hungria e tendo como marca registrada o baixo distorcido de Józef. Mas, o baixista começou a estudar e admirar um novo instrumento, o moog, e com ele, começou a criar canções que mudariam toda a sonoridade do SBB, como podemos comprovar nos álbuns Nowy Horizont (1975), Pamięć (1976) e Ze Słowem Biegnę Do Ciebie, além do raríssimo cassete Jerzyk, onde está apresentado um SBB concentrado em longas suítes, tendo sequências computadorizadas como uma das atrações, e com Apostolis e Piotrowski ganhando mais espaço junto dos sintetizadores de Józef.
Nessa mesma época, o grupo atravessou a cortina de ferro e passou a fazer gravações na Alemanha. O primeiro álbum “ocidental” foi Follow My Dream, que é bem diferente dos álbuns “orientais”, com canções mais curtas e também sem tantas explorações instrumentais. Isso desagradou aos fãs poloneses e dos demais países da europa oriental, que exigiam o SBB das longas suítes e delirantes duelos entre Apostolis e Józef.
O trio de ferro polonês |
O grupo então decidiu manter duas carreiras distintas: uma somente para a europa ocidental, lançando o álbum SBB (não confundir com o primeiro álbum do grupo lançado em 1974 e com o mesmo nome), o qual também é conhecido como Amiga Album, somente para o mercado alemão, inglês e italiano, e que foi gravado na Alemanha, e Wołanie o Brzęk Szkła, gravado na Tchecoslováquia e seguindo a linha tradicional dos seus antecessores orientais.
Tendo ganho espaço no ocidente, o trio estava muito mais maduro para fazer composições longas e ao mesmo tempo extremamente versáteis. Apenas duas canções estão em Wołanie o Brzęk Szkła, cada uma ocupando um lado do vinil. É difícil dizer qual das duas é a mais maravilhosa, mas eu arriscarei minhas fichas na faixa-título.
Essa composição é belíssima, sendo daquelas raras canções que você ouve e, passados seus vinte minutos de duração, você não acredita, e fica pensando “como se passaram vinte minutos se você parece ter ouvido apenas cinco?”.
“Wołanie o Brzęk Szkła” (algo como “Um Grito para Tilintar com um Vidro”) começa apenas com o dedilhado de Apostolis e os teclados de Józef sendo adicionado aos poucos, em um suave crescendo. Piotrowski surge com uma lenta marcação, enquando o moog faz algumas notas perdidas.
A canção vai crescendo, agora com a adição de vocalizações que levam a letra, a qual é cantada em polonês. As vocalizações dão um charme especial para a canção, que vai aumentando o pique com as batidas de Piotrowski, que comanda uma cadência repleta de viradas. Józef rasga a voz, cercado pelas vocalizações e intervenções do moog, chegando então na viajante sessão instrumental, onde no ritmo único do SBB, Apostolis começa a solar em um magnífico arranjo progressivo. As viradas de Piotrowski são o principal destaque nessa sessão, e uma delas leva para o segundo solo de guitarra, com uma levada muito rápida, onde o baterista mostra toda a sua técnica.
As intervenções do moog criam um clima de filme de ficção, que se torna mais evidente com o uso de sintetizadores que simulam uma tempestade de ventos. O ritmo da bateria muda para uma sequência de batidas apenas na caixa, para acompanhar o longo solo de harmônica de Józef, voltando as origens bluesísticas da banda, e as várias intervenções de sintetizadores mantém o viajante clima no ar. As batidas vão aumentando, com o moog tomando conta das caixas de som, sendo o destaque na sequência de encerramento da faixa, com um solo dinâmico e veloz, onde as sequências de viradas de Piotrowski junto aos temas marcados de Józef e Apostolis são trabalhados extremamente, mostrando aos fãs orientais que o grupo ainda tinha muito para dar em termos de instrumentação e também inovação musical.
A outra maravilha desse álbum é “Odejście”, um grande petardo criado pelo trio, mas que talvez por não conter tantas variações quanto sua parceira do lado A, ficará para uma próxima sua apresentação.
Wołanie o Brzęk Szkła ainda saiu no mercado da Alemanha Ocidental em 1979, batizado agora como Slovenian Girls, e alterando também o nome das faixas para “Julia” e “Anna”, logo após o terceiro disco “ocidental” ser lançado no mesmo país, no caso Welcome.
Em 1980 foi lançado o último LP do SBB em ambos os mercados. Memento Z Banalnym Tryptykiem apresenta uma longa suíte em seu lado B e diversas pequenas faixas em seu lado A, fazendo a mescla de despedida das composições de Józef, Piotrowsky e Apostolis, que agora contavam com a participação do guitarrista Sławomir Piwowar.
Os três membros fundadores do SBB voltariam a se reunir posteriormente nos anos 90, lançando diversos álbuns (em sua maioria ao vivo), mantendo o nome do grupo na ativa e matando a sede dos fanáticos seguidores da década de 70, ávidos por ouvir as experiências sonoras feitas por este que é o principal nome do rock progressivo polônes, e que possui uma das histórias mais ricas da música do leste europeu, a qual está sendo escrita até os dias de hoje, com o mesmo vigor, criatividade e dedicação de seus anos primordiais, sempre procurando, quebrando e construindo.
Não conheço NADA do prog feito nesses países, mas já ouço falar há algum tempo, principalmente via Gaspari. Lendo a matéria fiquei bem mais interessado, pois pelo que entendi não é apenas uma cópia bem feita, mas parece ter algo novo.. Bem, em breve eu vejo se escuto algo e tiro minhas próprias impressões!
Grouchom eu te recomendo começar pelo primeiro, SBB, e depois pegar esse aqui. Tu vais perceber a pesada mudança que a banda sofreu com a entrada dos teclados, dai vais poder julgar como era melhor
Outra banda que te recomendo, agora da Hungria, é o Syrius, com o LP Devil's Masquerade, que rolará por aqui em breve
Abraço