Podcast Grandes Nomes do Rock #18: Robert Johnson

Podcast Grandes Nomes do Rock #18: Robert Johnson

Por Mairon Machado

O Podcast Grandes Nomes do Rock dessa semana é mais que especial, comemorando os 100 anos de nascimento do avô do rock, Robert Johnson. Para homenagear essa figura mais que especial não só na história do rock, como do blues e da música em geral, apresentamos um especial de uma hora e meia narrando a história de Johnson, bem como canções interpretadas por ele e diversos artistas famosos o homenageando através de recriações de seus clássicos do blues. Separe o uísque e saboreie cada canção.

Robert Leroy Johnson supostamente nasceu no dia 08 de maio de 1911, na cidade de Hazlehurst, Mississippi. Pouco se sabe sobre a vida de Robert Johnson, mas das informações registradas, essa parece realmente ter sido a data em que ele veio ao mundo, filho de Julia Major Dodds e de Noah Johnson. Julia era esposa de Charles Dodds, um próspero propietário de terras e também especialista em fabricação de móveis, com quem ela teve 10 filhos.

Problemas de terras entre brancos e negros acabaram fazendo com que Dodds fosse forçado a abandonar Hazlehurst com medo de ser linchado por outros proprietários de terra e também pelos seus funcionários, e assim, partir com seus filhos e a esposa, que já estava grávida de Noah Johnson, um dos empregados de Dodds.
Julia acabou saindo primeiro, pouco depois de dar a luz a Robert Johnson. Quando o garoto completou dois anos, foi enviado para viver com Dodds, que mudou de nome para Charles Spencer, em Memphis.
Por volta de 1919, Robert re-encontrou sua mãe entre as cidades de Tunica e Robinsonville, ambas no Mississippi. O novo marido de Julia era um jovem conhecido como Dusty Willis, e logo os moradores do local passaram a chamar Robert de “Pequeno Robert Dusty”, mas seu nome de batismo (até então) era Robert Spencer, vivendo por um curto tempo do ano de 1920 na cidade de Lucas, Arkansas. Depois, Robert ingressou nos estudos, e entre 1924 e 1927, desenvolveu uma boa educação para um garoto que nasceu nos subúrbios do país. Foi nesse período que começou a se interessar por música, aprendendo gaita harmônica e também um estranho instrumento conhecido como jaw harp.
Após sair da escola, com 16 anos, Robert adotou o sobrenome de seu pai biológico, e assim, passou a ser conhecido como Robert Johnson, que é quando casa-se com uma jovem de 16 anos chamada Virginia Travis. Essa garota estava grávida de Robert, e acabou falecendo logo após dar a luz ao bebê.

 

A morte de Virginia é um dos primeiros fatos que são associados a um importante momento que, segundo os que acompanharam a carreira de Robert, modificou a vida do cantor, e tornou ele o primeiro astro da história da música moderna, vindo posteriormente a ser considerado o avô do rock. Em busca do sucesso através da música, Robert teria ido para uma encruzilhada, e nela, feito um pacto com o demônio, vendendo a alma de sua esposa e posteriormente a sua. Esse mito foi adotado também por Robert, que via na história uma boa oportunidade para tornar-se famoso.

 

Uma das raras fotos de Johnson
O fato é que depois da morte de sua esposa, um conhecido cantor de blues, chamado Eddie James Son House Jr, ou apenas Son House, chegava em Robinsonville para viver ao lado do parceiro musical Willie Brown. Son registrou que Robert chamava a atenção tocando harmônica pelas ruas da cidade, e tentando tocar violão, era terrível.
Robert deixou Robinsonville e foi para Martinsville, próximo a sua cidade natal, possivelmente em busca de seu pai-biológico. Lá, começou a aperfeiçoar-se no violão, tendo aula com os irmãos Ike e Herman Zimmerman. Segundo Ike, Robert aprendeu a tocar violão naturalmente, principalmente quando visitava cemitérios exatamente à meia-noite. Robert voltou para Robinsonville e miraculosamente havia se tornando um virtuose no instrumento, o que foi confirmado em  uma famosa entrevista de House contando seus dias ao lado de Johnson.
Ainda em Martinsville, Johnson teve outro filho, agora com Vergie Mae Smith. Em maio de 1931, casou-se com Caletta Craft, e o casal mudou-se para Clarksdale em 1932, onde Robert abandonou a esposa para seguir carreira como músico itinerante.
A partir de então, Robert passou a mudar de cidade como que mudava de roupa, passando por Memphis, Helena, Arkansas e pequenas cidades do Delta do Mississippi. Um dos músicos que acompanhou um pouco da trajetória de Johnson nessa época foi Johnny Shines, que esteve com o blueseiro em Chicago, Texas, Nova Iorque, Kentucky, Indiana e cidades do Canadá. Em muitos lugares,  Johnson encontrava algum parente (lembrando que tinha 10 irmãos), e acabava ficando instalado na casa do cidadão por algumas semanas. Outro músico que também esteve constante foi Robert Lockwood. Porém, as histórias contadas por cada músico as vezes soam contraditórias, ficando a dúvida se o que aconteceu é real ou apenas invenções para aumentar ainda mais o mito em cima do nome Robert Johnson.
Apesar de nunca mais ter se casado, foi nessas andanças que suas relações sexuais se tornaram famosas, principalmente “consolando” esposas frustradas. Dentre elas, a mais famosa é Estella Coleman, mãe do músico Robert Lockwood Jr. Outro fato marcante desse período é que Johnson adotava sempre um nome diferente quando chegava em uma nova cidade, fazendo com que depois, quem o procurasse pelo nome que ele dava, dificilmente o encontraria.

 

Selo do LP 78 rpm com “32-20 Blues”

Além disso, a primeira coisa que fazia era procurar uma barbearia ou restaurante, indo para a frente do mesmo e tocando blues através de sua gaita e violão. Muitos são os que viram Johnson se apresentando nas esquinas de diferentes cidades, entoando não suas complexas e sombrias letras que hoje muitos admiram, mas sim, satisfazendo a audiência com pedidos de canções clássicas da época, não necessariamente apenas blues.

A incrível habilidade de tocar canções que nunca tinha ouvido na primeira audição dava a possibilidade de Johnson tocar qualquer estilo, aumentando a fama do blueseiro, que assim como conquistava seguidores, afastava-se rapidamente da cidade, geralmente por estar envolvido com alguma esposa infiel.

Por volta de 1936, Robert procurou H. C. Speir, um famoso produtor de Jackson, no Mississippi, que possuia uma loja e também contatos com gravadoras. Através dele, Johnson chegou a Ernie Oertle. Oertle ofereceu algumas horas de gravação na cidade de San Antonio, no Texas, o que ocorreu nodia 23 de novembro de 1936, no quarto 414 do Hotel Gunter, local onde a Brunswick Records possuía um pequeno estúdio. Neste dia, foram registradas as seguintes canções: “Kind Hearted Woman Blues”, “I Believe I’ll Dust My Broom”, “Sweet Home Chicago”, “Ramblin’ on My Mind”, “When You Got a Good Friend” e “Come On in My Kitchen”.

LP 78 rpm de “Sweet Home Chicago”

Como era a primeira vez de Johnson em um estúdio de gravação, ele mostrou-se surpreendentemente envergonhado, recusando-se a cantar de frente para os assistentes de gravação. A solução encontrada foi Robert virar-se com a face voltada para a parada, e assim cantar suas canções.

Depois, outras duas sessões foram realizadas, nos dias 26 e 27 de novembro, com Johnson gravando no total 16 canções e alguns takes extras para determinadas canções.

Selo do LP 78 rpm de “Terraplane Blues”

“Terraplane Blues” e “Last Fair Deal Gone Down” foram lançadas em um compacto de 78 rpm, com a primeira vendendo mais de cinco mil cópias. Em 37, Johnson viajou para Dallas para mais uma sessão de gravações para a Brunswick, agora no prédio da gravadora, na 508 Park Avenue, onde foram registradas mais 11 canções e dois takes extras. 6 dessas canções saíram em vinis de 78 rpm batizados de Race Records, através do selo Vocalion, os quais apresentavam apenas músicos negros tocando jazz, gospel, blues e canções africanas. Essas gravações podem, por exemplo, serem encontradas na incrível caixa Complete Masters, lançada recentemente em tiragem limitada de 1.000 cópias, em comemoração aos 100 anos de Johnson, e que traz 12 LPs réplicas dos originais da Vocalion, mais 1 DVD e 1 CD.

 

Incrível caixa Complete Masters

Johnson faleceu em 16 de agosto de 1938, com apenas 27 anos, na cidade de Greenwood, Mississippi. Nos últimos dias de vida, ele manteve-se tocando em um bar localizado a 24 km de Greenwood. A causa de sua morte é repleta de mistério e teorias diferentes. A mais aceita é a de que Robert começou a flertar com a esposa do proprietário do local onde estava trabalhando. Insatisfeito com a paixão da esposa pelo músico, o marido traído ofereceu uma garrafa de uísque para Johnson. A garrafa além do uísque, continha também veneno. Após beber o uísque, Johnson começou a passar mal, e ficou em estado deplorável durante três dias, falecendo com convulsões e muitas dores, uma característica forte de envenenamento por estriquinina. Mesmo assim, não é senso comum se a morte de Robert ocorreu por envenenamento, ainda mais depois de diversos médicos e especialistas provarem que se isso fosse para ocorrer, teria que ter sido horas depois, e não três dias como foi no caso de Johnson.

Sonny Boy Williamson, outro grande nome do blues que conviveu com Johnson, alertava-o de “jamais beber algo de uma garrafa que já estivesse aberta”, mas Johnson respondia com a frase “nunca coloque uma garrafa na minha mão”.

A encruzilhada onde o pacto com o demônio teria ocorrido.

Se não foi envenenamento, a morte de Johnson só pode ter sido provocada por outra coisa. No caso, a primeira e mais famosa teoria conspiratória da história do rock, o pacto com o demônio feito pelo músico ainda jovem. Vivendo nas plantações rurais do Mississippi, Johnson começou a despertar o interesse por conseguir fama, dinheiro e sucesso através da música.

Através de alguns contatos com pessoas mais experientes, ele foi instruído para ir a uma encruzilhada próximo a plantação de Dockery, exatamente a meia-noite. Lá, ele encontraria um grande homem negro, o coisa-ruim, que pegaria o violão do garoto e o afinaria, tocando algumas canções e devolvendo o instrumento para Robert, passando assim maestria e excelência ao violão para o ainda principiante músico. Em consequência, Johnson doava a sua alma e de alguns entes mais próximos ao coisa-ruim, fazendo então, um pacto com o demônio.

Cenotáfio na Igreja de Mount Zion

Com o passar dos anos, essa lenda foi ganhando ainda mais força, sendo narrada ainda quando Johnson estava vivo e também por amigos próximos. Existe uma forte incerteza de qual encruzilhada o pacto ter sido firmado, e se é que fora em uma encruzilhada, não em um cemitério, como outros alegam, lembrando o fato de que Johnson ia exatamente à meia-noite para os cemitérios para aprender seu instrumento (o que é consenso geral ser verdadeiro).

A localização precisa de seu túmulo também é algo de grande incerteza. Três marcadores foram construídos nos locais onde alega-se que o corpo foi enterrado: o primeiro deles no cemitério Mount Zion da Igreja Batista Missionária, próximo a cidade de Morgan City, onde existe um cenotáfio de uma tonelada erguido na forma de um obelisco, listando todas as canções gravadas por Johnson, sendo colocado lá através da Columbia Records.

Um pequeno marcador com o epitáfio “Descanse no Blues” foi colocado no cemitério da capela Payne, em Quito, Mississippi, pelo próprio proprietário do local e mais recentemente, fontes indicam que Johnson está enterrado em um cemitério na Igreja Little Zion, no norte de Greenwood.

Pedra na capela Payne

O fato é que Robert Johnson acabou se tornando a primeira lenda do rock, já que suas raízes bluesísticas influenciaram diversos artistas como Muddy Waters, Samuel Charters, Buddy Guy, Albert Collins, Willie Dixon, B. B. King entre outros, tinham no nome do músico como O CARA dentre todos os músicos. Todos esses cantores de blues acabaram sendo a fonte de inspiração para o nascimento de bandas como Yardbirds, Rolling Stones, Beatles, Animals e ainda Led Zeppelin, Cream, Bluesbreakers, Black Sabbath, Jimi Hendrix Experience, Allman Brothers, Canned Heat, Grateful Dead, The Who, Deep Purple entre outros, além de músicos famosos como Elvis Presley, Little Richard, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis. Sendo os últimos considerados os “pais do rock”, logo o título de “avô do rock” foi dado para Robert Johnson.

Através dos anos, diversas foram as coletâneas que relançaram o material gravado por Johnson em diversos formatos, contando a história do músico e também adicionando depoimentos de artistas famosos em homenagem a ele, destacando-se King of the Delta Blues Singers (1961), King of the Delta Blues Singers vol. II  (1970) e a caixa The Complete Recordings (1990), com o nome Robert Johnson sendo hoje reconhecido mundialmente como um dos mais importantes músicos da história, eleito o quinto melhor guitarrista de todos os tempos pela revista Rolling Stone, ficando atrás apenas de Jimi Hendrix, Duane Allman, B. B. King e Eric Clapton, todos os quais, de uma forma ou outra, prestaram sua homeagem a este incrível e talentoso músico, que deixou a terra cedo, mas ainda vive entre nós até os dias de hoje.

 

Três importantes registros trazendo a obra de Robert Johnson
Track list Podcast # 17: Mutantes
Bloco 01
Abertura: Saravah [do álbum Tecnicolor – 2000]
“Trem Fantasma” [do álbum Os Mutantes – 1968]
“Qualquer Bobagem” [do álbum Mutantes – 1969]
“O Meu Refrigerador Não Funciona” [do álbum A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado – 1970]
“It’s Very Nice pra Xuxu” [do álbum Jardim Elétrico – 1971]
Bloco 02
Abertura: “Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde que Eu Tenha o Meu Rock and Roll” [do álbum Mutantes e seus Cometas no País dos Bauretz – 1972]
“O Suicida” [do compacto O Suicida / Apocalypse – 1966 (O’Seis)]
“Domingo no Parque” [da apresentação no III Festival da Música Popular Brasileira – 1967 (Gilberto Gil)]
“Marcianita” [do compacto A Voz do Morto/Baby/Marcianita/Saudosismo – 1968 (Caetano Veloso)]
“Superfície do Planeta” [do álbum Hoje é o Primeiro Dia do Resto das Suas Vidas – 1972 (Rita Lee)]
Bloco 03
Abertura: “Panis et Circensis” [da apresentação na TV Cultura – 1969]
“Mutantes e seus Cometas no País dos Bauretz” [do álbum Mutantes e seus Cometas no País dos Bauretz – 1972]
“Mande um Abraço pra Velha” [do álbum Os Grandes Sucessos do FIC – 1972]
“Hey Joe” [do álbum O A E O Z – 1992]
“Arena” [do bootleg Ribeirão Preto – 1978]
Bloco 04
Abertura: “Rock ‘n’ Roll City” [do álbum Ao Vivo – 1976]
“Veludeando” [do álbum Veludo Ao Vivo – 1975 (Veludo Elétrico)]
“Czardas” [do compacto Era um Garoto que Como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones / Czardas – 1966 (Os Incríveis)]
“O Beco” [do álbum Ao Vivo – 1989 (Ney Matogrosso)]
“Brazilian New Wave” [do álbum Jazz Mania Live – 1986 (Sérgio Dias)]
“(Tico-Tico) Com a Boca no Mundo” [do álbum Entradas & Bandeiras – 1976 (Rita Lee)]
“Imagino a Minha Morte” [do bootleg Vice-Versa Studio – 1977 (Arnaldo Baptista)]
Encerramento: “Gopala Khrishna Om” [do álbum Haih … or Amortecedor – 2009]

3 comentários sobre “Podcast Grandes Nomes do Rock #18: Robert Johnson

  1. Fico imaginando o valor dessa caixa. No podcast da Poeira Zine eles descreveram tudo o que nela. MUITA COISA!!! Fora que é limitadíssima!!!

    A versão do Rush para Croosroads ficou fodônica!!!

  2. Fernando, no ebay a caixa esta por barbadas 430 dolares (lacrada). O CD já é mais acessivel: em media 10 doletas.

    Eu curto tb a versão do Cream para crossroads, mas essa do rush é perfeita. Outra que tb fiquei em duvida foi a versão para when you gotta a good friend. O Johnny Winter tocou ela por diversas vezes, e a que esta no woodstock é muito boa, só que essa apresentação dele em 80 e poucos é muito fodástica, então, perdoem pelos 16 minutos, mas essa é a melhor versão para uma canção do Johnson que eu conheço

  3. Deixei de acompanhar os podcasts por conta da minha conexão, mas tive de abrir exceção hoje! Pena que eu conheço basicamente NADA dessa época do blues. Não dá pra ter uma noção do quanto o Johnson tava à frente [se é que ele tava] dos músicos do seu tempo. Só o que não se pode negar é a influência dele nas gerações posteriores.
    Parabéns, Mairon!

    P.S.: Caralho, não sabia que o Rush tinha gravado "Crossroads". Ficou legal!

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