Discografias Comentadas: A-ha
Por Micael Machado
Formado em 1982 na cidade de Oslo, na Noruega, o trio A-ha foi uma das mais importantes bandas dos anos 80, vendendo milhões de discos e atingindo o topo das paradas mundiais por diversas vezes. Composto pelo vocalista Morten Harket, pelo guitarrista Pål Waaktaar-Savoy e pelo tecladista Magne Furuholmen (os dois últimos haviam pertencido antes ao grupo progressivo The Bridges, que lançou apenas um single em 1980), a banda manteve-se em evidência no cenário mundial até o começo dos anos 90, quando decidiu dar uma parada, retornando no começo dos anos 2000 ao mundo da música, porém sem o mesmo brilho que obtivera no passado.
Confesso que, quando me convidaram a fazer a discografia comentada do grupo, fiquei com um pé atrás. Apesar de ser fã da fase oitentista (a qual conheci e aprendi a gostar lá pelos meus 12 anos, graças ao rádio), não conhecia praticamente nada dos discos lançados após a volta. Mas topei o desafio, e encarei os “novos” discos com a mente aberta, além de fazer uma verdadeira viagem no tempo ao tirar a poeira dos vinis e ouvir novamente os primeiros lançamentos da discografia. O resultado de minha jornada você confere a seguir:
Hunting High and Low [1985]
O que falar de um disco que abre com “Take On Me”, música que conquistou o posto de clássico no pop mundial pela sua qualidade e também pelo (então) inovador videoclipe, que misturava animação com personagens “reais”? Essa música fez o nome do grupo ser conhecido em todo o globo, e levou o A-ha ao topo das paradas de diversos países. Além dela, o álbum tem a linda faixa título, a primeira música do grupo que ouvi, e que também foi um sucesso mundial. “Hunting High and Low” é uma das melhores baladas já gravadas, e também rendeu um belíssimo videoclipe, além de ter servido de trilha sonora para muitos romances ao longo dos anos. É também na estreia do grupo que se encontra aquela que, para mim, é a melhor música da longa discografia do A-ha: “The Sun Always Shines on TV”, música que mostra que o pop feito para tocar no rádio não precisa necessariamente ter falta de qualidade, como às vezes parece. Esta canção chegou a ser regravada por bandas de heavy metal, como o Atrocity e o Susperia, mostrando que mesmo o pop mais comercial também pode fornecer belas músicas para nossos ouvidos. Já neste disco se pode conferir duas características que marcariam a carreira da banda: os belos e grudentos refrões (que muitas vezes soavam melhor do que as músicas nos quais estavam inseridos) e a presença marcante das baladas, estilo no qual o grupo sempre investiu, e com muita qualidade. Em 2010, o disco recebeu uma deluxe edition, com diversos bônus, como faixas demos, lados b e músicas anteriormente lançadas apenas na Noruega. Um item interessantíssimo para os fãs. Passados mais de 25 anos de seu lançamento, os timbres de teclado e bateria eletrônica de Hunting High and Low soam hoje datados, como quase tudo gravado naquela época, tornando impossível não associarmos o álbum ao período de seu lançamento. Quem conseguir superar este “problema”, irá se deparar com um belo e honesto disco pop, acima da média do que seus conterrâneos faziam em meados dos anos 80. Divirta-se!
Scoundrel Days [1986]
O segundo álbum do A-ha veio com um clima menos alegre do que o anterior. A presença de baixo e bateria “humanos” em algumas músicas trouxe uma sonoridade diferente para o grupo, e as próprias composições estão mais obscuras e sombrias. A faixa-título é um belo exemplo disso, além do grande sucesso do disco, a canção “Cry Wolf”, que mais uma vez levou os noruegueses às primeiras posições das paradas pelo mundo. “I’ve Been Losing You” foi o único single do disco a alcançar o primeiro lugar (na parada norueguesa), e a balada “Manhattan Skyline” também teve boa execução nas rádios. No resto das faixas, várias baladas e músicas que mostram mais uma vez que podem existir boas composições dentro do pop, apesar de muitos não acreditarem nisso. Em 2010, o disco também recebeu uma deluxe edition, com os obrigatórios montes de bônus. Mais um item para que os apreciadores da banda corram atrás. Scoundrel Days envelheceu melhor que o seu antecessor, e, ouvido hoje em dia, ainda se mostra um disco forte e importante, com diversas músicas que podem agradar a quem não tem preconceito contra um pop bem feito e inteligente!
Stay on These Roads [1988]
O terceiro disco é mais alegre que o anterior, e também foi um grande sucesso ao redor do mundo. A faixa-título, que abre os trabalhos, é o maior destaque deste play, uma lindíssima balada que tocou muito nas rádios mundiais, mantendo o nome do A-ha no topo das paradas em grande parte do globo. Com belos arranjos orquestrais, um refrão marcante e um belo trabalho vocal de Morten, essa é uma canção que virou um clássico, passados mais de 20 anos de seu lançamento. A “chiclete” “Touchy” tem uma melodia e um refrão que grudam na primeira audição, e junto com a dançante “You Are the One” são os momentos mais pop do disco, e as que melhor repercussão tiveram nas rádios depois da já citada “Stay On These Roads”. Outra que tocou bastante foi a sombria “The Living Daylights”, que inclusive foi trilha sonora para um dos muitos filmes do espião 007, que no original tinha o mesmo nome da canção, e no Brasil se chamou “007 – Marcado Para Morrer”. É claro que as baladas não foram esquecidas, e neste disco a melhor é “There’s Never a Forever Thing”, com um clima muito bonito e uma letra de fazer qualquer garotinha chorar. Stay on These Roads é um disco mais pop que o anterior, mas outra “bola dentro” da carreira da banda.
East of the Sun, West of the Moon [1990]
Este para mim é o melhor disco da banda. Com suas músicas um pouco mais “adultas” e bem arranjadas que os trabalhos anteriores, suas letras tratando de relacionamentos que não deram certo, e o uso de teclados analógicos como o mellotron e o hammond em algumas músicas, o disco não tem nenhum ponto baixo, e equilibra bem lindas baladas com músicas mais pop, ora alegres, ora sombrias. “Crying in the Rain”, a faixa de abertura, um cover para a original dos Everly Brothers de 1962, inegavelmente é o grande sucesso do álbum, mas não o representa de forma alguma. A faixa título e “(Seemingly) Nonstop July” representam bem melhor o lado baladeiro do play, enquanto a excelente “I Call Your Name” e “Sycamore Leaves” mostram o lado pop, esta última com um certo sentimento sombrio em sua melodia. Mesmo “Waiting For Her”, a mais deslavadamente pop do álbum, apesar do excesso de sacarina que possui, não chega a desandar a receita do conjunto, se deixando ouvir numa boa. A curta “The Way We Talk” tem um certo ar jazzístico, talvez pela presença marcante do baixo acústico, que junto com o piano e a percussão fazem uma música diferente dentro da carreira da banda, em um caminho que não seria explorado novamente pelo trio. East of the Sun, West of the Moon é, para mim, o ultimo grande momento da discografia do A-ha, marcando o final de uma era de grandes e marcantes discos, que deixaram a sua indelével importância na música mundial, para o bem ou para o mal, conforme o gosto de quem ouve.
Memorial Beach [1993]
O sexto álbum da banda foi mais uma tentativa de se afastar do pop comercial ao qual o nome do grupo estava ligado (sendo que este caminho já havia começado a ser trilhado no disco anterior). Mais focado nas guitarras e nos pianos ao invés do teclado, o disco não teve uma boa recepção por parte das rádios e dos fãs, e acabou levando à separação do trio durante a turnê de promoção. A melhor faixa do play é a de abertura, “Dark Is the Night for All”, cujo single chegou a fazer um mediano sucesso na Inglaterra e nos Estados Unidos. A longa “Cold As Stone”, a insinuante “Lamb to the Slaughter” e a dançante “How Sweet It Was” também podem ser apontadas como destaques a ser conferidos, mas o fato é que o disco como um todo deixa bastante a dever em relação aos anteriores. Como já foi dito, o grupo se separou durante a turnê de promoção, com seus integrantes seguindo carreiras solo que não conseguiram repetir o sucesso que o A-ha conquistou. Mas nem tudo estava acabado…
Minor Earth Major Sky [2000]
Sete anos depois o A-ha estava de volta aos estúdios. Após uma bem sucedida apresentação em um programa de TV da Noruega, o trio decidiu retornar a tocar junto, e o resultado foi este disco, lançado no último ano do século XX. Apostando na eletrônica para guiar o seu som, o grupo abusa neste CD de baterias eletrônicas repetitivas e de timbres de teclado que não chegam a se destacar. Os belos refrões e as baladas açucaradas continuam lá, mas o grupo parece ter perdido o dom de compor melodias que marcam no ouvido depois de sua audição. À exceção de “Summer Moved On”, que mistura bem partes eletrônicas com outras orquestradas, da bela balada “You’ll Never Get Over Me” e da faixa-título, o resto do disco não faz jus ao passado do trio, e, apesar da boa recepção que teve entre os fãs (principalmente os da Europa), é para mim um dos pontos mais baixos da carreira da banda. Mas ainda dava para piorar…
Lifelines [2002]
O disco segue a mesma linha do anterior, dando a impressão de ter sido composto por sobras de estúdio do disco de 2000, sendo a sequência lógica do mesmo, o que quase sempre é uma boa notícia, mas não nesse caso… No geral o álbum tem algumas boas ideias perdidas em uma produção que não soube timbrar bem a bateria eletrônica, em arranjos vocais que poderiam ter sido mais bem arranjados, e em um amontoado de efeitos eletrônicos que acabam enchendo o saco de quem ouve o disco, que, aliás, tem mais de uma hora de duração, o que só faz aumentar o drama… O álbum traz um monte de baladas açucaradas e músicas pop inofensivas nas quais é bastante difícil apontar algum destaque que mereça ser ouvido com maior atenção. Mesmo assim, a faixa-título e “Time & Again” não machucam tanto os ouvidos quanto outras coisas que se ouvem por aí, e os vários refrões que você fica cantarolando depois da primeira audição mostram que o A-ha ainda sabia compor boas músicas, só estava faltando alguém que os ajudasse a arranjar melhor aquilo que escreviam…
Analogue [2005]
Como o nome já indica, a banda deixou um pouco de lado a eletrônica que predominou nos discos anteriores a favor de um som mais orgânico, com muito violão e piano, e bateria “humana” ao invés de eletrônica, o que deixou o CD com uma sonoridade bem mais agradável que seus dois antecessores imediatos. O álbum começa muito bem, com a animada “Celice”, para mim a melhor música do grupo desde o disco East of the Sun, West of the Moon. Depois cai um pouco de qualidade, perdido entre baladas comuns e o pop tradicional do conjunto, mas ainda assim consegue se manter atraente durante sua audição. Além da faixa de abertura, destaco “Over the Treetops”, balada acústica com um toque “anos 50” e um belo arranjo orquestral, diferente do padrão do grupo, e “Make It Soon”, que tem um começo fraco, com a volta da bateria eletrônica, fazendo com que pareça uma sobra dos discos anteriores, com a canção levada ao violão e com leves intervenções de teclado. Mas, do meio para o fim, após a entrada de uma bateria orgânica e de umas guitarras “pesadas” (para o A-ha, bem entendido…), a música ganha outra cara, e fica muito legal, terminando com a retomada da levada ao violão do início. Analogue não é um disco essencial na discografia do grupo, mas é o melhor lançamento dos noruegueses desde sua volta.
Foot of the Mountain [2009]
Na contramão de Analogue, Foot of the Mountain traz a banda de volta aos ritmos eletrônicos, porém com timbres e sonoridades mais modernas do que nos dois primeiros discos após a volta. O grupo parece tentar resgatar o seu próprio passado, apostando forte em melodias grudentas e nas sempre presentes baladas. O resultado é irregular, mas em certos momentos o grupo acerta no alvo. Os destaques do álbum vão para “Nothing Is Keeping You Here”, a melhor faixa do disco (apesar da bateria eletrônica atrapalhar um pouco no início), para a bela faixa-título (outra que sofre com a bateria eletrônica), para a pop “Riding the Crest” e para a balada “Shadowside”. Mesmo assim, nem todas conseguem atingir o nível do que o trio já fez no passado, soando ok, mas sem deixar a sua marca na história como tantos outros hits que o A-ha já eternizou. No dia 8 de outubro de 2009, os integrantes do grupo anunciaram o fim das atividades do A-ha ao final de 2010, para que os mesmos pudessem se dedicar a projetos pessoais. O último show do trio foi na sua cidade natal, Oslo, a 4 de dezembro de 2010, apresentação esta que está sendo lançada agora em 2011 em CD e DVD com o nome Ending on a High Note (The Final Concert). O jeito agora é aguardar para saber se esta separação será definitiva ou se o grupo ainda voltará a tocar junto novamente.
Salve Micael.
Os 3 primeiros albuns formam a trilogia do pop perfeito.
Vale a pena tê-los na discografia.
Abrçs.
Eu adoro a volta do A-ha e do afastamento ao pop antigo que faziam quando mais jovens. Acho que em muitos momentos a banda amadureceu e deixou de lado canções infantis como "Touchy" e a própria "Take On Me". Não que eu não goste da última.
Fui em 3 shows do A-ha e ao vivo eles são ótimos, apesar da expectativa do público centrar sempre nos sucessos. O Lifelines peca em muitas coisas, mas pra mim existem alguns clássicos ali como a faixa-título, "Forever Not Yours" e "Did Anyone Approach You?". Um álbum que mostra o A-ha ao vivo nessa época é o How Can I Sleep With Your Voice In My Head (2003), com guitarra pesada e um show marcante com um ótimo set list.
É uma pena a banda ter acabado.
Lira
Tô contigo… o ao vivo How Can I Sleep With Your Voice In My Head é uma ótima escolha para apresentar um a-ha além de Take on Me…
Eu fui um dos incentivadores do Micael fazer esse discografia comentada. Ele é o cara que mais entende de A-ha que eu conheço. Os anos 80 e inicio dos 90, enquanto eu ouvia Possessed e Slayer, ele delirava com Crying in the rain e Take on Me. Mas o lado pop do Micael deu suas influencias pop para mim, como por exemplo, Madonna e Erasure, para não citar mais.
Admito que o A-ha talvez tenha sido a melhor banda do pop oitentista, mas eu não consigo gostar do grupo (tirando o lado nostálgico de ouvir as musicas e se lembrar do passado, não consigo passar disso).
Agora, me chamou a atenção o micael ter colocado o "longa-faixa" e fui ouvir a versão que foi disponibilizada para "cold as stone". Até que é bem interessante em se tratando de A-ha, e se existir algo mais nessa linha, talvez um dia eu monte uma coletanea de 30 minutos com o The Best of do grupo, heheheh
Boa introdução, que baixou o pau quando tinha que baixar, e fica a duvida: Micael, tu ouviste o vinil do Memorial Beach ou o CD?
Lou, eu estendo essa lista até o quarto disco, que, como bem explicitado pelo Micael, traz um ar mais maduro através de suas composições e da instrumentação analógica.
Concordo com o Lira, gosto da volta do grupo, e concordo especialmente com a lembrança de "Forever Not Yours", ótima canção. A bateria eletrônica não é um problema para mim, dado que não se trata de algo inesperado em um disco do A-ha, que nunca teve oficialmente um baterista em sua formação.
O Micael é um grande fanfarrão por não ter dado ênfase ao grandioso talento vocal de Morten Harket, dono de uma classe raras vezes observada na música pop, um timbre único, capaz de alternar diferentes maneiras de cantar em uma mesma música com naturalidade.
Diogo, para um vocalista de pop music, o Morten é excelente, mas não entra na minha lista de "10 mais de todos os tempos" nem a pau… sei lá se fica entre os 20…
Eu também acho que os quatro primeiros discos que deviam estar na lista do Lou, sendo que eles parecem uma cartilha de "como fazer música pop bem feita". Eu não curti os mais recentes (tirando o Analogue), talvez pelo meu próprio gosto musical ter mudado muito nestes mais de 25 anos em que volta e meia ando ouvindo a banda… de repente com mais algumas audições eu me adapte a eles, mas, nas vezes em que ouvi, não curti…
Mairon, ouvi em mp3 mesmo, que hoje em dia e com o prazo que eu estava ficou mais prático…