Opeth – Damnation [2003]
Por Fernando Bueno
O Opeth é normalmente tido como uma banda de death metal, e seu primeiro álbum, Orchid (1995), arrebatou muitos fãs dessa vertente. Porém, ao longo de sua carreira, a evolução musical da banda foi evidente, e, quando digo evolução, não quero dizer que os músicos aprenderam a tocar melhor e por isso se desligaram do death metal. O que houve foi uma adição de novos elementos ao som da banda, o que lhes trouxe abrangência, um leque musical, muito maior.
Hoje podemos encontrar a banda não só em meio a listas de death, doom e heavy metal, mas também nas listas de prog metal ou simplesmente de progressivo. No site Prog Archives, talvez o maior site do gênero da web, por exemplo, os suecos são classificados como tech/extreme prog metal. Porém, independente do estilo em que você possa enquadrá-los, é impossível não reconhecer o valor do trabalho desses caras.
Confesso que nas primeiras audições de seus discos não fiquei muito impressionado, já que os vocais guturais ficaram muito marcados para mim. Como não sou tão fã desse tipo de voz, não me interessei e nunca mais ouvi a banda. Após a insistência de alguns amigos, voltei a ouvi-la, mas dessa vez através de discos diferentes dos que tinha escutado anteriormente. O álbum que mudou minha opinião sobre a banda foi justamente Damnation, de 2003.
Deliverance: o álbum “irmão” |
O registro é uma espécie de “irmão” do pesado Deliverance (2002), que havia sido lançado cinco meses antes. Ambos foram gravados simultaneamente, e a idéia inicial seria que os dois discos fossem apenas um álbum duplo. Até na capa os dois se parecem, já que ambos possuem imagens um tanto borradas. Porém, por serem musicalmente diferentes entre si, a decisão de lançá-los separados foi acertada. Quem ouvi-los sem saber que são da mesma banda pode imaginar estar ouvindo grupos distintos.
O que mais chama a atenção em Damnation, para aqueles que já conhecem o Opeth, é a completa ausência de vocais guturais e o total direcionamento voltado para o progressivo. As influências setentistas são evidentes, mas recebendo uma cara atual. Podemos compará-lo a algum disco do Porcupine Tree ou a 12:5 (2004), do Pain of Salvation, em que Daniel Gildenlöw resolveu apresentar todas as músicas sem peso e de forma acústica. Lembrar de Porcupine Tree é até óbvio quando ficamos sabendo que Steve Wilson, o cabeça da banda, fez a produção tanto para Deliverance como para Damnation. Nesse último, ele ainda atuou como músico convidado, pilotando o mellotron, sendo co-autor de “Death Whispered a Lullaby” (um dos destaques) e fazendo alguns backing vocals.
A formação da épca de Damnation, com Mikael Akerfeldt ao centro |
Na minha opinião, a melancólica e carregada de acompanhamento de mellotron, “In My Time of Need” contém o melhor refrão e resume muito bem o álbum. Mas é muito difícil citar destaques em um disco tão coeso. O riff principal de “Windowpane”, as diferentes camadas de guitarras de “Death Whispered a Lullaby”, o lindo solo de introdução de “Ending Credits” e os dedilhados em quase todas as músicas vão chamar atenção logo de cara.
Apesar da característica progressiva do álbum como um todo, ele não possui longas canções. A mais longa é a faixa que abre o álbum, “Windowpane” com quase oito minutos de duração. Nos anteriores, Blackwater Park (2001) e Deliverance, e no seguinte, Ghost Reveries (2005), são várias as que passam dos dez minutos.
Mikael Åkerfeldt |
Com respeito à falta de vocais guturais, não posso deixar de comentar o ótimo trabalho que Mikael Åkerfeldt fez nesse quesito. Na época, ele afirmou ser um iniciante nesses vocais limpos, mesmo já tendo cantado assim em algumas passagens dos discos anteriores. Claro que, se o resultado não fosse reconhecidamente bom já de antemão, o disco certamente não seria feito dessa maneira.
O Opeth arriscou e obteve êxito. Conseguiu novos fãs de outras vertentes, que não tinham interesse pela banda, e não se queimou com os fãs antigos. Outra coisa que pesa positivamente nessa balança é que, apesar do sucesso, o grupo não virou as costas para sua história, já que no álbum seguinte, Ghost Reveries, voltaram para a fúria sonora a que estavam acostumados. Damnation é altamente indicado para quem gosta de todas as vertentes do rock.
NÃO OUVI E NÃO GOSTEI, hehehe!
Falando sério, ouvi os links postados. Não vou dizer que é ruim, mas ainda me dá desgosto ver essas bandas de Extreme-Melodic Prog Metal-Related dividindo as primeiras posições com os medalhões do prog lá no ranking do ProgArchives!
Concordo com vc que os clássicos feitos pelos medalhões dos anos 70 são incomparáveis. Mas vejo algo positivo nessa boa cotação que algumas dessas bandas têm hoje, que é a comprovação que o público do progressivo vem se renovando de uns anos para cá. A "música de velho e ultrapassada" não está mais sendo vista desse jeito…
Certamente não. Inclusive existem muitas bandas tidas como próximas do rótulo "indie", que alguns parecem enxergar como a antítese do prog, que sofrem muita influência dos antigos grupos de progressivo e a manifestam em sua música. Claro que alguns largariam de mão essas bandas se soubessem, hehehe…
Gostei dos mellotrons de In My Time of Need. Tem um Q de King Crimson nessas canção que realmente é bem interessante. Não gostei do vocal e da sonoridade moderna das outras canções, mas os dedilhados são bem legais. Deve ser bom ouvir esse disco na integra, então, vamos baixá-lo.
Valeu a dica Fernando
Eu curto bastante Opeth, e o que mais me chama a atenção é esse lado "Jekyl & Hyde" do grupo, hora bastante atmosférico, hora pesadaço… Eu prefiro as mais calmas com vocais limpos, mas as "porradas" também são excelentes!
Foi depois da entrada do Per Wiberg nos teclados (também Spiritual Beggars, banda da qual sou fã inconteste) que o Opeth entrou no minha "alça" musical. E não me arrependi de ter corrido atrás do som do grupo. Recomendo!
E o vocalista dos caras se chama Mikael ainda por cima, ou seja, só pode ser competente, hahaha!
Excelente post, Bueno!