Maravilhas do Mundo Prog: Socrates Drank the Conium – Wild Satisfaction [1975]
Por Mairon Machado
Mas a rivalidade era sadia, e ambas assistiam uma a outra, com todas pagando geral para o Socrates, que era considerada a melhor banda da Grécia (batendo o famoso Aphrodite’s Child, na época ainda instalado na França). As apresentações no Kyttaro tornavam-se cada vez mais atrativas, com o grupo interpretando covers e composições próprias, levando o dono do local a gravar vários shows, que foram compilados no raríssimo LP Η ποπ στην Αθήνα: Ζωντανοί στο Κύτταρο (“O Pop de Atenas: Ao Vivo no Kyttaro”), lançado em 1971.
Álbum de estreia do Socrates Drank the Conium |
Logo após o lançamento de Η ποπ στην Αθήνα, o guitarrista Johnny Lambizzi entrou para ampliar a formação do Socrates, ficando até meados daquele ano. Lambizzi acabou saindo pouco antes da gravação do primeiro LP do grupo.
Esse segundo LP não é tão hard quanto o álbum de estreia, e às vezes nos faz pensar que não estamos ouvindo a mesma banda, o que podemos comprovar na faixa que abre o LP, exatamente a maravilha dessa semana. O grupo transformou o clássico dos Stones, adicionando solos ácidos, virtuosismo exacerbado e improvisações alucinantes que obrigatoriamente transformaram o nome da canção, que dos Stones tem apenas a letra e o riff original.
O grupo injetou o veneno de seu nome em treze minutos de insanidade instrumental, começando com o tradicional riff da guitarra, seguido pelo baixão estourando nas caixas e a bateria punk de Boukovalas. Tourkogiorgis começa a cantar a letra dos Stones, e os primeiros minutos são muito parecidos com a versão original, apenas mais pesada.
É com dois minutos que o bicho começa a pegar. Com Tourkogiorgis cantando “just a little satisfaction, can you give me satisfaction”, a velocidade da canção aumenta, até diminuir o ritmo para o riff cavalgante de baixo e guitarra. A bateria passa a ser executada apenas nos tons, e Tourkogiorgis cria uma nova letra para a canção, com muitos gemidos e gritos, que levam para o solo de Spathas, com muitos bends, arpejos e a distorção que caracteriza o som do Socrates nessa época.
Estamos saindo de algum álbum psicodélico dos anos 60, com baixo e bateria sendo os cães de guarda para as viajantes escalas da guitarra, em um longo solo que culmina com o solo de baixo, sem muita criatividade, mas destacando a forte distorção aplicada no instrumento. Tourkogiorgis cria um ritmo próprio, solando sozinho, e depois deixando espaço para o belíssimo solo de Boukovalas.
Depois da loucura feita por Boukovalas, a barulheira toma conta com Tourkogiorgis destruindo as cordas do baixo em uma brutal batalha com a bateria de Boukovalas enquanto um alucinado Spathas arranca as cordas de sua guitarra em alavancadas, bends, longas notas e o wah-wah rasgando notas apavorantes, no êxtase da música, que atinge seu orgasmo com um melodioso solo de guitarra em um ritmo suave de baixo e bateria, que vai ganhando ritmo com o passar do lindo solo de Spathas, encerrando essa maravilha em uma lisérgica retomada do riff principal e o entoamento do nome da canção por Torkogiorgis.
Último LP como Socrates Drank the Conium |
Excelente álbum com Vangelis |
Em 1976, mudaram novamente seu estilo e também o nome do grupo, agora batizado apenas como Socrates, no maravilhoso álbum Phos, talvez o melhor trabalho do grupo, que com uma forte incursão pelo progressivo, contava com Spathas, Torkogiorgis, Tradalidis e também o renomeado Vangelis nos teclados. Ali, pérolas como “Every Dream Comes to an End” e a excepcional “Mountains” aguardam suas oportunidades de brilharem aqui na Consultoria do Rock. Mas eu não podia falar dessas maravilhas sem antes comentar a maravilhosa “Wild Satisfaction”, principalmente pelo fato de o nome da banda já ser outro na época de Phos.
Socrates em 1980 |
Depois de quatro anos no retiro, voltaram em 1980 como um quinteto, tendo Spathas, Torkogiorgis, Yiorgos Zikoyiannis (baixo), Pavlos Alexiou (teclados) e Nikos Antypas (bateria), ainda no progressivo, mais próximo ao progressivo da cortina de ferro, lançado o LP Waiting for Something (1980). Zikoyiannis e Alexiou saíram, e o trio remanescente gravou Breaking Through (1981), além do ao vivo Plaza (1983), tendo também o guitarrista Louis Bertigmar. Uma rápida pesquisada em lojas on line pode ser feita para avaliar quão raro são os valores desses LPs, em média acima dos 60 dólares.
Socrates em 1999 |
O grupo se reuniu em 1999 como quinteto, tendo Spathas, Tourkoyorgis, Makis Gioulis (bateria), Asteris Papastamatakis (teclados) e Markela Panagiotou (vocais), gravando o ótimo ao vivo Live ’99, e se mantém nos dias de hoje fazendo shows e excursionanando pelo sul da Grécia e também pela Macedônia, Bulgária e Romênia, aplicando uma sonoridade pesada ao mais denso e inovador progressivo da terra do filósofo Socrates.
Cara, eu conheço apenas o primeiro disco do grupo (e curto bastante)…ainda tenho que ir atrás desses materiais! Sua descrição é bastante instigante!
Valeu, abraço!!
Ronaldo
Muito bom o texto, curti mais essa descrição do que as demais! Eu já tinha lido sobre essa banda em uma matéria do Gaspari pra pZ (sobre o Phos) e algum dia eu ia acabar baixando, mas se os caras fizeram cover dos Stones ganharam total prioridade aqui na fila! haha
Quando tiver ouvido os caras, volto aqui pra comentar. Quem sabe se não termino minha mono em Filosofia mais rápido ao som desses gregos? Horkheimer era bem socrático!
Ronaldo, valeu pelo comment. Eu te aconselho a ouvir o Phos depois de ouvir este e o On the Wings, pois enquanto Drank the Conium, os três discos soam similares, mas o Phos é bem diferente
Groucho, espero ter saciado tua sede por um grupo próximo ao Egeu, hehehe. Se curtes hard/prog, vai direto que não irás te arrepender, e valeu o comment as well!!
Opa, é too, não as well, foi malz!!