Discografias Comentadas: Bruce Springsteen – Parte I
De jovem promissor a “futuro do rock”, passando por momentos difíceis e pela confirmação de seu gigantesco sucesso, Bruce manteve uma constância invejável tanto em se tratando de álbuns de estúdio quanto de performances ao vivo, configurando um caso raro de aprovação de crítica e público, fato que continua crescendo ano após ano. Fica difícil definir para os leigos no que constitui sua música e estabelecer rótulos. Mais que buscar diferenças e estabelecer descrições através de riffs, solos e melodias, sua música precisa ser sentida, esquecendo performances individuais e concentrando-se no resultado final.
Nesta primeira parte abordarei os discos lançados nas décadas de 70 e 80, coincidindo com o período de maior produtividade em sua carreira, e também de qualidade, segundo este que vos escreve, que tem Born to Run como disco favorito em todos os tempos.
Greetings From Asbury Park, N.J. [1973]
“Esse homem põe mais pensamentos, mais ideias e imagens em uma música do que a maioria das pessoas põe em um álbum”. Essa frase, retirada de um anúncio impresso da gravadora Columbia promovendo o primeiro disco de Springsteen, lança um panorama inicial da música aqui encontrada, abordando muito daquilo que rodeava o compositor em sua New Jersey natal. Greetings mostra um jovem cheio de ideias frescas, mas ainda em busca de identidade própria, deixando bastante explícitas suas influências, em especial de artistas como Bob Dylan e The Band, além dos roqueiros dos anos 50 e artistas negros de soul e rhythm ‘n’ blues, em especial da gravadora Motown. As dylanescas “Mary Queen of Arkansas” e “Does This Bus Stop at 82nd Street”, além de “The Angel”, não negam a fonte da qual Bruce bebeu, revelando-se folks urbanos de qualidade, mas sem a mesma empolgação de duas faixas que, apesar da pouca repercussão na época, foram posteriormente regravadas por músicos de peso. “Blinded By the Light”, primeiro single da carreira de Springsteen, não obteve repercussão alguma quando de seu lançamento, mas ao ser gravada em 1977 pela Manfred Mann’s Earth Band, atingiu o primeiro posto das paradas norte-americanas. A outra foi “Growin’ Up”, conto adolescente conduzido pelo piano de David Sancious, gravada por David Bowie nas sessões para seu álbum Diamond Dogs (1974), mas lançada apenas em 1990 como bônus no disco de covers Pin Ups, original de 1973. O segundo single, “Spirit in the Night”, também não causou comoção alguma na época, mas com o passar dos anos transformou-se em um dos ápices dos concertos de Bruce e sua E Street Band, destacando o bom trabalho do saxofonista Clarence Clemons, integrante do grupo até hoje. “For You” e “It’s Hard to Be a Saint in the City” mostram todo um swing herdado da música negra, mérito do baterista Vini “Mad Dog” Lopez. Apesar de todas as qualidades ressaltadas nas faixas anteriores, “Lost in the Flood” revela-se o maior destaque, apresentando o primeiro épico dramático na discografia de Springsteen, abordando o ainda efervescente tema da Guerra do Vietnã, mas sem uma ótica generalista, focando em um personagem, no caso um soldado que voltara da guerra; e cantando sobre uma boa base construída no piano, com belas intervenções do órgão, ambos tocados por David Sancious. A produção ruim não fez jus a esse ótimo álbum, que vendeu apenas 25 mil cópias no primeiro ano de seu lançamento. Mas as coisas estavam por melhorar…
The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle [1973]
Contando com uma produção um pouco mais esmerada e com a entrada do organista Danny Federici para reforçar o time (que, além dos músicos descritos mais acima, contava também com o baixista Garry Tallent), nesse álbum há um atenuamento forte das influências dylanescas, ressaltando as bases rhythm ‘n’ blues e alguns aspectos jazzísticos, que podem ser percebidos logo na primeira faixa, “The E Street Shuffle”, em especial em sua grooveada seção final. “4th of July, Asbury Park (Sandy)” retrata, através da ode a uma garota, um panorama romantizado da vida praiana de New Jersey. Seus vocais sussurrados e o acordeão tocado por Danny Federici lhe emprestam uma identidade toda especial. A jazzística “Kitty’s Back” traz linhas vocais exóticas e o órgão em primeiro plano, enquanto “Wild Billy’s Circus Story” faz uma conexão com o álbum anterior na forma de uma canção trovadoresca, contando com Garry Tallent na tuba. Mas o filé do álbum foi reservado para as três últimas canções: “Rosalita (Come Home Tonight)” é uma apoteose roqueira com tempero latino que, contando com um dos melhores trabalhos de saxofone na carreira de Bruce, não à toa se transformou, ou na música a fechar o show, ou na última a ser tocada antes do bis, sendo executada em centenas de concertos dali em diante. Já “Incident in 57th Street” e “New York City Serenade” demonstram que Springsteen era muito mais que um artista solo, e contava com uma banda talentosíssima, destacando nestas duas o trabalho do pianista David Sancious. Duas devastadoras baladas épicas, formato no qual as composições de Bruce tomaram contornos mais exuberantes. The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle foi ignorado na época de seu lançamento e não rendeu sequer um single, mas representa o que de mais fantástico Springsteen já produziu, devendo somente a um álbum que logo estava por vir…
Born to Run [1975]
Se nos dois discos anteriores o pouco tempo disponível em estúdio e o orçamento reduzido resultaram em uma sonoridade um tanto magra, em Born to Run Bruce resolveu arriscar. Apesar do fraco desempenho nas paradas, o músico conseguiu um orçamento substancial da gravadora Columbia, o que permitiu um esmero muito maior na produção do álbum. Em um processo que incluiu mudanças na formação do grupo, a obsessão em registrar uma sonoridade grandiosa chegou a raias quase insuportáveis, resultando em uma maratona que durou 14 meses, sendo seis apenas na gravação da faixa-título. Infinitos overdubs de guitarra, instrumentos exóticos, solos de saxofone repetidos dezenas de vezes, atenção aos mínimos detalhes… Mas tudo valeu a pena quando o disco foi lançado. Única a contar com o baterista Ernest “Boom” Carter, que substituiu Vini Lopez mas logo cederia lugar para Max Weinberg, “Born to Run” constitui o extremo ápice de uma carreira recheada de pontos altos. Sua urgência, análoga à temática cheia de referências a automóveis, uma constante na carreira de Springsteen, pode também se relacionar à sua gana por fazer as coisas acontecerem em sua carreira, dado que o álbum era sua última chance de atingir algum sucesso comercial. A canção também foi a última a contar com os préstimos de David Sancious, substituído por Roy Bittan, e, talvez mais importante ainda, a derradeira colaboração do empresário e produtor Mike Appel com Bruce, sinalizando a chegada de Jon Landau, ex-crítico musical que, extasiado com suas performances ao vivo, ofereceu-se para ocupar os cargos. Uma característica importante de Born to Run é como as músicas ganharam concisão sem jamais perder a pujança e a exuberância, vide as épicas “Backstreets”, um dramático conto sobre amizade conduzido pelo piano, instrumento onde todas as músicas do disco foram compostas, e “Jungleland”, que possui uma belíssima introdução ao violino e um dos mais reconhecíveis solos de saxofone de Clarence Clemons, além de uma performance vocal extasiante. “Night” revela uma urgência semelhante à da faixa-título, em um ritmo acelerado impresso pelo piano e pelo baixo, enquanto “She’s the One” possui um andamento atípico, dominado também pelas fantásticas linhas tocadas ao piano, além de demonstrar com propriedade as sobreposições vocais presentes nesse disco. A jazzística “Meeting Across the River” conta com a participação especial de Randy Brecker no trompete e de Richard Davis no contrabaixo, e traz, além desses instrumentos, apenas piano e voz. A faixa de abertura do disco, “Thunder Road”, honra a citação a Roy Orbison em sua letra e ressalta a magnífica interpretação de Springsteen em mais um grande clássico perpetuado. Outra mudança na formação da E Street Band foi a entrada do guitarrista Steven Van Zandt, antigo conhecido, que chegou a tempo de gravar “Tenth Avenue Freeze-Out”, canção orientada pelos metais, que versa a respeito da formação da própria E Street Band de uma maneira bem humorada. Born to Run atingiu a terceira posição na Billboard e recebeu um trabalho de promoção massivo por parte da Columbia. A crítica o exaltou como o “futuro do rock”, enchendo-o de elogios e estampando seu rosto na capa das importantes revistas Time e Newsweek na mesma semana. Bruce finalmente atingira o estrelato. Mas ele sobreviveria ao hype?
Darkness on the Edge of Town [1978]
Quando as coisas estavam começando a ir bem, Bruce teve que passar mais de um ano entrando e saindo de tribunais resolvendo pendengas contratuais com seu antigo empresário, Mike Appel. Isso atrasou o processo de composição e o lançamento de Darkness on the Edge of Town, e refletiu diretamente em sua sonoridade, que demonstra aqui um tom mais sombrio e menos comercial que seu antecessor. As letras, mais compactas, começaram a abordar aspectos mais negativos da vida sofrida dos personagens retratados, pessoas com poucas alternativas, a não ser trabalhar e buscar algum escapismo nas ruas, principalmente atrás de um volante de automóvel. Esse pessimismo é especialmente ilustrado em “Something in the Night”, na faixa-título e mais ainda em “Racing in the Street”, que remete aos épicos de Born to Run, mas com um tom muito mais depressivo, em especial nos segmentos onde a voz de Springsteen é acompanhada apenas pelo piano e pelo órgão. Mesmo os rocks mais tradicionais demonstram uma agressividade sem precedentes em sua carreira, vide a raivosa “Adam Raised a Cain”. Em “Streets of Fire” Bruce sola como se sangrando pelos dedos, e em “Candy’s Room” canta com uma urgência digna de “Born to Run”. Nesse álbum, alguns refrões em formato mais tradicional aparecem com força, contrapondo-se ao estilo adotado no início da carreira, em músicas como “Badlands” e “The Promised Land”. Mas a que possui o mais viciante entre todos, que funciona à perfeição ao vivo, é “Prove It All Night”, que, com sua memorável introdução feita ao piano junto do glockenspiel (um tipo de xilofone), tem o poder de cravar na mente do ouvinte e jamais sair. Darkness on the Edge of Town pode não ter obtido a mesma repercussão de Born to Run, mas serviu para afirmar que Bruce Springsteen não era apenas uma sensação passageira, mas um artista com aspirações de grandeza buscando provar seu valor através de sua música, sem qualquer outro artifício.
The River [1980]
Com seu amadurecimento como compositor e letrista, também amadureceram os personagens aqui retratados, enfrentando problemas ligados à vida adulta, em especial ligados a relacionamentos, como a relação pai e filho e o casamento, ilustrados, respectivamente, nas melancólicas “Independence Day” e na faixa-título, talvez as mais emblemáticas do álbum. A primeira, praticamente autobiográfica, toca na relação delicada entre Bruce e seu pai durante sua juventude. A faixa-título, com sua antológica introdução na harmônica, é um lamento na forma de uma balada sombria, que se tornaria uma das mais antológicas canções de sua carreira. Mesmo assim, The River não possui o tom angustiado de Darkness on the Edge of Town em todo seu track list. LP duplo, trata-se provavelmente do mais variado em sua discografia, contrastando faixas como as descritas anteriormente com rocks energéticos como “The Ties that Bind”, “Two Hearts”, “Out in the Street” e “Cadillac Ranch”, além de “Ramrod” e “You Can Look (But You Better Not Touch)”, que demonstram influências do rock dos anos 50. A confirmação do status de Springsteen como muito mais que um hype passageiro veio na forma de seu primeiro hit single, “Hungry Heart”. Escrita originalmente para o Ramones e dotada de cativantes linhas vocais, a faixa atingiu a quinta posição na Billboard. Refinada e dotada de belas linhas de piano, “Point Blank” é um dos destaques do disco, assim como as baladas “Fade Away” e “The Price You Pay”. O lado mais épico do álbum fica por conta de “Drive All Night”, destacando novamente o ato de dirigir um automóvel como uma alternativa de fuga aos problemas triviais. Essa canção, junto a “Stolen Car” e “Wreck on the Highway”, já adiantariam o estilo apresentado no álbum seguinte, marcando um movimento ousado na carreira de Springsteen.
Nebraska [1982]
Conquistando cada vez mais a credibilidade de público e crítica e tornando-se uma das mais disputadas atrações ao vivo nos EUA, o esperado seria mais um disco na linha dos anteriores, contrastando baladas melancólicas com rocks energéticos, mas nunca deve-se esperar o óbvio de Springsteen. Ao invés de apresentar as demos das músicas compostas para a E Street Band e dar corpo às canções, o vocalista e guitarrista resolveu lançar as próprias demos, que, contando na maioria dos casos apenas com voz e violão, algumas com harmônica, guitarra ou mandolim, além de pouquíssimos overdubs, apresentam um repertório que, de longe, é seu mais pessimista até então. Histórias de renegados, assassinos… Pessoas que enfrentam desafios e não têm perspectiva de redenção em suas vidas. É muito difícil apontar destaques, pois o disco possui uma grande uniformidade, mas as obscuras “Nebraska”, baseada em uma série de assassinatos cometidos por dois adolescentes em 1958, e “Highway Patrolman”, dona de uma das melhores letras de Springsteen, que viria a inspirar o filme “The Indian Runner” (1991), são dignas de menção. A multiplamente coverizada “Atlantic City”, assim como as folks “Mansion on the Hill” e “Johnny 99” também se destacam, tornando-se dali em diante bastante comuns nos set lists, geralmente em versões diferentes, contando com banda completa. Os únicos momentos menos desoladores encontram-se na rockabilly “Open All Night” e em “Reason to Believe”, mesmo de uma maneira um tanto irônica. O impacto de um trabalho desafiador como Nebraska não refletiu apenas em gerações posteriores, mas influenciou músicos consagrados, como Johnny Cash e The Band, que registraram versões de algumas canções. Além disso, Nebraska também recebeu um álbum-tributo especial, onde todo seu track list foi coverizado.
Born in the USA [1984]
Não houve turnê para promover Nebraska. Ao invés disso, Bruce juntou-se à E Street Band e começou a trabalhar incessantemente em novas composições e em algumas que não haviam entrado no álbum anterior. Se desde o processo de criação para Darkness on the Edge of Town Springsteen havia criado o hábito de compor dezenas de canções a mais que o necessário, dessa vez a cifra foi ainda mais assombrosa: cerca de 80 músicas foram não apenas apresentadas, mas trabalhadas com o resto dos músicos. O resultado disso foi uma grande dificuldade em definir quais entrariam em Born in the USA. De qualquer maneira, a decisão final se mostrou mais que acertada quando, após seu lançamento, o álbum atingiu a primeira posição na Billboard, e o primeiro single, “Dancing in the Dark”, galgou o segundo posto, marcando a primeira aparição proeminente de sintetizadores em sua carreira, que conduzem essa dançante faixa, maior êxito de sua longa carreira. No entanto, o sucesso não se limitou a isso: sete das 12 músicas presentes no álbum atingiram o Top 10 da parada de singles, igualando o desempenho de Thriller (1982), de Michael Jackson. Da abertura com a mal-interpretada faixa-título, versando sobre as dificuldades encontradas pelos veteranos da Guerra do Vietnã em seu retorno para casa, até a finalização com a nostálgica “My Hometown”, conduzida por suaves arranjos de órgão, trata-se de um disco nivelado por cima. Liricamente, os personagens presentes nos discos anteriores parecem encontrar, em meio às dificuldades, alento nos ombros amigos e alguma saída através da determinação. Isso influiu diretamente no direcionamento musical do álbum, resultando em um tom mais otimista, exemplificado em músicas como “Cover Me”, “Darlington County”, “No Surrender” e “Glory Days”. Apesar do grande número de faixas que obtiveram destaque nas paradas, destaco justamente duas canções não lançadas em single como minhas favoritas: uma delas é “Downbound Train”, composta originalmente para Nebraska, e que conta com o mesmo feeling melancólico desse disco, com a diferença de apresentar-se aqui com banda completa, destacando o órgão de Danny Federici. Arrisco dizer que, apesar de existirem diversos clássicos subestimados na discografia de Springsteen, “Downbound Train” é o maior deles, delimitando a diferença entre fãs e verdadeiros aficionados por sua música. O outro destaque evidente é “Bobby Jean”, homenagem ao guitarrista Steven Van Zandt, que estava deixando a E Street Band, cedendo o posto para Nils Lofgren. Seu solo de saxofone só não é mais memorável que sua introdução ao piano e ao glockenspiel, que estabelecem o ritmo da canção. Born in the USA pode não ser meu favorito, honra pertencente a Born to Run, mas certamente é tão bom quanto. Além disso, marcou a entrada da vocalista de apoio e violonista Patti Scialfa, que viria a se tornar esposa de Bruce alguns anos depois.
Tunnel of Love [1987]
Em uma atitude semelhante à ocorrida com Nebraska, mas não tão extrema, Bruce gravou Tunnel of Love praticamente como um álbum solo, contando com participações esparsas dos músicos da E Street Band. Dessa maneira, músicas com um tom mais introspectivo dominam o track list, refletindo a realidade de Springsteen na época, em vias de encerrar seu casamento com a atriz Julianne Phillips e iniciar um relacionamento com Patti Scialfa, tema recorrente direta e indiretamente nas letras, versando especialmente sobre relacionamentos de um ponto de vista realista (ou pessimista, dependendo de quem julgar). Essa tensão está especialmente presente no videoclipe para “Tougher Than the Rest”, minha faixa favorita. Outro indubitável destaque é “Brilliant Disguise”, que, além de Springsteen ao violão, traz apenas piano, órgão e percussão, soando contudo grandiosa, além de ser dona de um videoclipe inovador, filmado em uma única tomada. Em Tunnel of Love há um especial atenção às sutis texturas, denotando bom gosto no uso dos sintetizadores, além de preciosas intervenções do organista Danny Federici. Muitas das canções expressam melancolia semelhante à de Nebraska, mas abordando aspectos menos amargos da vida, como em “Cautious Man”, “Walk Like a Man”, “Two Faces”, “When You’re Alone” e, em especial, na magnífica “One Step Up”. O único momento rock ‘n’ roll mais cru está em “Spare Parts”, mas ele também aparece, com mais parcimônia, na acústica “Ain’t Got You”, em “All that Heaven Will Allow” e na faixa-título. “Valentine’s Day” encerra o disco com Springsteen cuidando de toda a instrumentação, sem participação alguma da E Street Band, em um prenúncio do que ocorreria na década seguinte.
Bruce Springsteen nunca me disse nada e ponto. Lógico que o problema sou eu e a minha falta de refinamento musical. No entanto, conheço um par de fãs doentes pelo The Boss e sua paixão, sua convicção em relação à genialidade e sua defesa quase patriótica pela obra e legado desse artista, chegam a comover. Por isso li com muito interesse o texto do Diogo, mais um apaixonado que se revela a mim. E me deu vontade de conferir mais uma vez, quem sabe já amadureci o suficiente. Talvez o Bruce seja americano demais, sei lá. E vi lá no comecinho que ele citou o Manfred Mann. Esse cara é curioso, parece-me uma espécie de alien inglês que usou compositores americanos como hospedeiros e fez suas músicas alcançarem posições nas paradas que os próprios não conseguiram. Fez isso com o Boss nos anos 70 e com Bob Dylan nos 60. Foi um aproveitador, na mais pura tradição inglesa. Mas pelo menos tinha bom gosto o camarada. Valeu, Diogo!
Marco, ao contrário de tantos artistas que, após obterem fama, reconhecimento e dinheiro tornam-se praticamente "entes do mundo", onipresentes, circulando nas mais diferentes rodas, Springsteen manteve seus pés firmemente fincados em sua New Jersey natal, jamais esquecendo suas origens e sempre versando sobre a vida daqueles com quem cresceu se relacionando, pessoas que não são porta-vozes de nada, a não ser de suas próprias vidas, seja um trabalhador da construção civil de Nova York ou um estudante de Vacaria, no Rio Grande do Sul, dez mil quilômetros distante.
Quanto ao Manfred, não foi apenas ele que aproveitou o talento de Springsteen, vide o fato de que, antes mesmo de obter um single de sucesso em sua carreira, já havia composto músicas que atingiram grande exposição com outros artistas, vide "Because the Night" com Patti Smith e "Fire", com as Pointer Sisters. Aliás, se ele não houvesse segurado "Hungry Heart" para si, adoraria ver como ela soaria com os Ramones!
Conheço apenas a "bilogia Born" (hehe) do Springsteen, então vim conferir aqui o que mais posso buscar conhecer do Boss. Tentei ver os videos, mas, como diriam Claudinho & Buchecha, o youtube tá de mal comigo, então tenho que apostar todas as minhas fichas no texto do Diogo. Resolvi, obviamente, ir atrás dos discos em que ele mais usou as palavras "pessimista" e "sombrio"! xD Valeu pelo texto, Diogo! No aguardo da segunda parte! õ/
Muito bom review sobre essa primeira fase do Boss. Não sou um conhecedor assíduo da carreira do Bruce, mas admiro duas coisas nele: primeiro as letras, e segundo a presente sensibilidade em citar seus ídolos. A forte influência que o Diogo exalta no texto de vários ídolos, eu vejo como um mérito que muitos tem, mas não admitem. O lado dylanesco de Sprigsteen é comovente. Nebraska parece sair de um John Wesley Harding, e Prove it all night é o dylan romantico do inicio dos 70. Enfim, eu acho o melhor trabalho do Bruce o Nebraska, com todo o climao sombrio que envolve, mas as coisas que o Boss fez dos anos 90 em diante me soam mais "digestiveis", apesar de meio repetitivas. Não é um cara que eu compraria a coleção inteira (até pq já tiv 5 cds do mesmo e acabei passando adiante por não conseguir me adaptar ao som do mesmo), mas tem créditos sim.
Diogo, apenas uma duvidas: "War" só saiu em single e na caixa de 5 LPs?
Sim, "War" está presenta na caixa "Live: 1975-85" e foi o primeiro single retirado da mesma. Aliás, que versão arrasadora, trabalhadíssima nos backing vocals!
Li certa vez que havia uma associação involuntária (ou não) entre o Springsteen e o governo Reagan. Procede isso, Diogo?
Li também que o rapaz agora anda se amigando com o Barack Osama. Isso é decepcionante vindo de um cara que baseou toda a sua carreira em "Street Fighting Man" dos Stones! xD
Apesar de que o cara que canta Street Fighting Man é chapa do Bill Clinton..
O que ocorreu foi uma associação errônea da música "Born in the USA" com a campanha de reeleição do republicano Ronald Reagan. Muitos viram seus versos, cantados de forma exclamativa, como um chamado ao patriotismo, quando na verdade sua letra aborda a amarga visão de uma pessoa que, após ter lutado na Guerra do Vietnã, retorna para seu país e encontra a rejeição, o desemprego… Mas o que marcou foi a maneira quase heróica com que Bruce bradava "boooorn, in the U-S-A!", fazendo com que muitos engolissem essa história sem questionamento algum.
Quanto a Obama… não apenas ele, mas outros candidatos democratas já receberam apoio formal de Springsteen, incluindo performances em comícios.
Peguei o Darkness on the Edge of Town e o Nebraska e tô ouvindo. Realmente a atmosfera é mais pesada, mas não foge ao estilo dos discos que eu já conhecia, principalmente do Born to Run, que é menos "tô na balada". xD
O legal, que eu notei, é que o cara faz até uma quase-citação a "Street Fighting Man" em "Racing in the Street", com os versos "The summer's here/ And the time is right/ For racing in the street". Mais um argumento pra essa minha fixação! Hehehe.
Diogo, eu fiquei curioso. O que te fez gostar de Springsteen, realmente, se, como vc disse no começo, vc era um "metaleiro acéfalo"?! E mais: vc se apaixonou pelo Bruce antes ou depois de se tornar um cowboy texano ouvinte do Billy Ray Cyrus?
Pera lá, o "Nebraska" não foge do estilo do "Boprn to Run"??? Tá nas dorgas, é?
Comecei com Springsteen meio que por curiosidade mesmo. Ninguém chegou pra mim e disse "olha só, escuta esse cara que é legal". O máximo que eu fiz nos primórdios foi pedir uma coletânea emprestada, pois, tirando esse caso, nenhum amigo meu possui álbuns dele. Aí fui correndo atrás dos discos e apreciando mais e mais.
Hehe, o lado country começou um tempo depois, não muito, mas ainda não recebeu a devida atenção ainda, preciso conhecer muito mais coisa… e nunca ouvi um disco do Billy Ray Cyrus por inteiro! Desse pessoal mais country/pop rock eu prefiro o Garth Brooks mesmo. Seus primeiros discos são recheados de composições fantásticas.
Sou extremamente apaixonado pelo trabalho do Boss. Suas músicas marcaram minha vida. Me deliciei com cada comentário e descrição das músicas, relembrando os momentos da minha vida em que elas estavam presentes.
Obrigado por proporcionar mais esse deleite da obra fantástica de Springsteen…
Bruce é um atemporal artista e uma pena que no Brasil, ele seja pouco debatido e conhecido.
Mas, PARABENS pelo post.
tb sou muito fã de sprigsteen , e infelismente ele é meio rejeitado por aqui . coisa que sempre reparei , foi uma certa obsessão dele com a palavra street , vide as musicas , out in the street , racing in the street , streets of philadelphia , backstreet , streets of fire , etc. fora o nome da banda street band , é só coincidencia ou o boss é fãzão das ruas ?
Ah, certamente não é coincidência… no universo de Springsteen, andar pelas ruas (preferencialmente motorizado) é o principal escapismo de seus personagens que muitas vezes vêem-se presos a um cotidiano monótono da vida "blue collar"…