Discografias Comentadas: Quaterna Requiém
Por Mairon Machado
Fundado em 1987, o Quaterna Réquiem é um dos nomes mais importantes do rock progressivo nacional pós-geração anos 70. Em seus três discos solos, todos instrumentais, prevalecem composições dignas de estarem no topo mais alto das melhores do estilo. Tanto que o grupo foi eleito um dos melhores grupos do rock progressivo na década de 90 por diversas revistas mundo afora.
Liderados pela tecladista Elisa Wiermann e pelo violino de Kleber Vogel, o quinteto carioca mistura barroco, rock pesado, passagens extremamente complicadas em canções/suítes geniais.
A estreia dessa maravilhosa banda foi há exatos vinte e dois anos. Uma sensacional estreia de Elisa, Kleber, Jones Junior (guitarras), Marco Lauria (baixo) e Claudio Dantas (bateria). A abertura com o violão clássico de “Ramoniana”, tendo um belíssimo solo de flauta duelando singelamente com o violino, é a única em que os teclados de Elisa não aparecem com destaque, até por ser a única canção do álbum que não é sua.
Nas demais cinco composições (todas de Elisa), o melhor do progressivo está presente, desde as peças marcadas dos instrumentos em “Aquartha“, com guitarra e teclados unidos em solos intrincados, a delicadeza no órgão de igreja e nos timbres sutis da guitarra na faixa-título, com mais de doze minutos delirantes, repleto de variações, a majestosa “Tempestade”, trazendo um belíssimo solo de violino e diversas variações de andamento, e a rápida “Tocatta“, com os teclados imitando o som de um cravo, e a quebração comendo solta.
Em todas as canções, o acompanhamento preciso de Dantas é um dos momentos centrais do Quaterna Réquiem, além da perfeita técnica de Elisa, uma das maiores tecladistas do planeta. Destaque maior para a maravilha prog “Madrugada“, que, apenas com piano e violino, retrata em seus dez minutos de duração com perfeição uma madrugada onde praticamente nada acontece, somente o segundos passam enquanto os seres dormem, em um arranjo emocionante. A versão em CD veio com duas canções inéditas: “Cárceres” e “Elegia”. Um achado na paupérrima discografia prog nacional da década de 90.
Um projeto audacioso. Assim podemos definir Quasímodo. Desde a imponente abertura de “Fanfarra” (uma homenagem as tradicionais “Fanfare” da música clássica), percebemos que a trupê de Elisa veio com gana para outro álbum espetacular. Apesar da saída de Kleber, a identidade do Quaterna é mantida, e dificilmente você irá sentir falta do violino nas cinco composições de Elisa, que caprichou na implementação de elementos clássicos, bem como o fiel acompanhamento de Claudio está presente.
Outras mudanças foram as entradas de Fábio Fernandez e José Roberto Crivano (baixo e guitarra respectivamente). Sergio Dias (não o dos Mutantes) participa no álbum, tocando flauta doce. “Aquintha” virou uma das preferidas dos fãs, recheada de sintetizadores e efeitos que lembram muito a fase progressiva do Rush, mas o que predomina são canções longas, muito mais trabalhadas.
“Os Reis Malditos” certamente saiu do fundo das criptas de uma Igreja Medieval, tamanha sua profundidade e principalmente pelo seu andamento, além de um solo arrebatador de Crivano na slide guitar, enquanto “Irmãos Grimm” mistura com perfeição a modernidade do baixo e da guitarra com a crueza do cravo e da percussão. E o que dizer dos trinta e nove minutos da faixa-título? Inspirada no romance “Nossa Senhora de Paris” (Victor Hugo), ela é dividida em sete partes, com direito inclusive a cantos gregorianos, que nos remetem à grandiosas bandas do progressivo mundial, como Yes, Camel, PFM entre outros. Uma obra genial, que assim como seu antecessor, está no hall dos melhores lançamentos do prog nacional.
O melhor disco do ano de 2012, e como dito acima, o melhor da discografia do Quaterna. Elisa e Kleber voltam a fazer uma dupla afiada, e superam-se em um álbum que certamente, em poucos anos, aparecerá nas listas de melhores de todos os tempos dentro do rock progressivo nacional encabeçando a primeira posição.
Nele, temos a entrada de Jorge Mathias no lugar de Fábio Fernandez, única mudança na formação. São apenas quatro canções, sendo uma única com menos de dez minutos (no caso, a singela e bela “Mosaicos”, apenas com sintetizadores, piano e violão).
As demais, suítes longas e enlouquecedoramente fantásticas, sendo elas a pesadíssima e intrincada “Preludium“, com guitarra , violino e sintetizadores duelando para ver quem é o centro principal de atenção do ouvinte, “Fantasia Urbana“, na qual o órgão de igreja de Elisa está imponente, enquanto Crivano e Vogel travam batalhas medievais com seus instrumentos, na qual Crivano faz a guitarra chorar, e possuidora de um tema que nos remete a “Ave Maria” (Bach).
O encerramento é soberano: com quase cincoenta minutos de duração, a faixa-título é uma homenagem para diversos arquitetos do mundo. Dividida em cinco partes, cada uma das partes representa uma época e um autor dessa época, saindo desde a Itália Renascentista (“Bramante“) até o Modernismo/Contemporâneo do brasileiro Oscar Niemeyer. Uma suíte incrível, elaborada por uma das maiores gênias da música mundial, Elisa Wiermann, que acompanhada de Cláudio Dantas, Kleber Vogel, Roberto Crivano e Fábio Fernandez, mantém a chama do rock progressivo acesa.
Jorge Mathias, Kleber Vogel, Elisa Wiermann, Roberto Crivano e Claudio Dantas
Tive o privilégio de Assisti-los ao vivo e eles são sensacionais. Além de muito simpáticos.
Velha Gravura é um puta disco! Preciso retornar às minhas audições do Quasímodo, que não considero suficientes, e passar depois pro restante. Será que vc não tá exagerando quanto a'O Arquiteto, Mairon?
Acho q não Groucho. Eu ouvi o Arquiteto inumeras vezes nesses ultimos meses. Discaço com D maiúsculo. E olha que sou fã do Velha Gravura.
Mais uma bela indicação do site. Ótima banda. Valeu, Mairon!